Roy preparava calmamente o seu cavalo. Custava-lhe deixar Tonopah, mas era melhor assim. Iria a Carson City e aceitaria ali novo trabalho. Avisar Bart não seria difícil, pois o amigo observava-o a todo o instante, dos sítios. mais ocultos possível e iria ter com ele ao notar que se afastava dali.
Acabou de apertar bem as cilhas do cavalo, junto da porta da cocheira onde o tinha guardado. Foi então que sentiu qualquer coisa nos rins.
— Preparas-te para a viagem, Roy?
O rapaz não se mexeu. Voltou apenas um pouco a cabeça, pois pensava que aquela voz não lhe era desconhecida. O tipo que se encontrava atrás dele também o conhecia. Era um indivíduo de meia-idade, vestido de negro.
— Quem és?
— Chamam-me o «Colt».
— Bonita alcunha E que queres?
— Trabalho para a «Amalgamated». O chefe quer ver-te.
— Que horror! Vai pedir-me que case com a filha dele?
— Poucas brincadeiras e segue-me.
— Que acontecerá se eu não quiser? Liquido-te aqui mesmo.
— Bom... o convite é tão amável... Suponho que queiras que levante os braços, não?
— Não é preciso. De qualquer modo assim sentir-te-ás mais tranquilo...
Ergueu os braços. E de repente todo o seu corpo se contorceu. O truque que estava a empregar já o empregara mais de cinquenta vezes e sempre se saíra bem.
Enquanto se virava baixou violentamente o braço esquerdo, desarmando o adversário. Antes disso «Colt» disparou, mas o corpo. de Roy já não se encontrava ao alcance da bala.
Em seguida Roy atingiu-o com um soco violento no baixo-ventre fazendo com que «Colt» se dobrasse sobre si, com um gemido de dor. Mas Roy não o deixou. Agarrando-o por um braço fê-lo saltar por cima da sua cabeça.
Antes de poder pensar no que lhe acontecia, «Colt» encontrou-se estendido no chão. Para terminar, Roy deu-lhe um pontapé na cabeça que o deixou atordoado. Tudo aquilo se tinha passado em menos de dez segundos. Os poucos espectadores da cena estavam de boca aberta.
Roy pegou então no revólver do adversário e meteu-o no cinto, entre a camisa e as calças. «Colt» arrastava-se pelo chão, meio inconsciente.
— Vais... matar-me? Oh, não... pelo contrário, amigo. Convidaste-me a ir ver o teu chefe e é isso que eu vou fazer. Mas agora quem convida sou eu. Para cima!
Ergueu o homem com um repelão e abrigou-o a caminhar à sua frente até aos escritórios da «Amalgamated». Estes ocupavam um edifício inteiro fora das portas da cidade, mas a verdade é que aquilo dececionava um pouco, pois não parecia muito próspero.
— Julguei que fossem mais ricos. Isto está a cair... — disse Roy. — Isto é apenas uma sucursal. A sede está em Carson City. E o chefe que aqui está quem é? O chefe grande ou o chefe pequeno?
— É o chefe grande respondeu o outro. —É ele que manda em tudo. Ainda bem!
Fez entrar o seu prisioneiro. O homem que se encontrava atrás da porta, armado de uma espingarda, ficou imóvel como uma estátua.
— Já vejo que me preparam uma boa receção -- disse Roy. — Quem mais me espera?
O homem da espingarda apontou tremulamente para uma porta que se encontrava ao fundo. Não se atrevia a disparar nem a fazer o, menor gesto por uma simples razão: Roy tinha-o apanhado de surpresa e apontava a arma alternadamente a «Colt» e a ele.
— Deita a tua arma fora — disse Roy.
O homem deixou cair a arma ao chão.
— Agora segue à minha frente e abre aquela porta.
O outro obedeceu. Foram os dois pistoleiros os primeiros a entrarem no escritório, seguidos pelo olhar atento de Roy... e pelo revólver que ele empunhava na mão direita. O homem gordo e calvo que se encontrava sentado à secretária, acompanhado de dois guarda-costas, esteve prestes a soltar um grito.
— Mas... — começou a dizer.
— Cale a boca, irmão. E ponha as mãos sobre a mesa.
O outro obedeceu. Um dos pistoleiros foi a tirar o revólver, mas Roy atingiu-o na cabeça, com uma bala. O homem caiu para a frente, com a cabeça cheia de sangue sobre a secretária, fazendo com que o diretor da «Amalgamated» estremecesse de horror.
— Já vê que vim aqui «falar amistosamente» — disse Roy. — E acho que também se nota que sou uma pessoa compreensiva, tolerante e simpática. E agora que deseja? Foi o senhor que me convidou a vir aqui; não?
O queixo do calvo começou a tremer.
— Não esteja assim. Queria apenas fazer lhe uma proposta... razoável.
— Tenho a impressão é de que queria matar-me aqui mesmo e por isso me enviou os seus cães de fila, mas, enfim acredito no que diz. Que tem a dizer?
— Soube que... Bem, primeiro quero apresentar-me. Chamo-me Rawson e sou o presidente da «Amalgamated».
— Tenho um grande desgosto em conhecê-lo.
O outro não se mostrou ofendido.
— Soube que foi contratado para defender os interesses de Flanagan e da esposa.
— Sim.
— Faz um disparate.
— Porquê?
—É uma causa perdida, asseguro-lhe. O futuro das minas de Nevada está nas grandes companhias mineiras e não na de simples particulares como Flanagan e a esposa. Não têm meios para explorarem às suas propriedades e por isso não obtêm proveitos. Nós oferecemos-lhes colaboração.
— Ah, sim?
—Uma colaboração razoável.
— Sim, claro. Compreendo... Para vocês a mina e para eles a tumba. Ao fim e ao cabo tudo fica debaixo da terra.
Rawson empalideceu.
— Pode ser. As vezes sou um bocado estúpido. Na demanda que temos com esse casal, podíamos chegar a acordo. Mas chamando-o, eles estragaram tudo.
— Então que sugere?
— Passe-se para o nosso lado. Terá um bom soldo, viverá bem e não precisará de estar à espera; que o contratem outra vez... Todos os homens de que agora disponho ficarão às suas ordens.
— E que acontecerá a Flanagan e à esposa?
— Esqueça esse par de românticos que julgam que em Nevada ainda se vive na época dos pioneiros. Terão o que merecem.
Os lábios de Roy apertaram-se por um momento e um sorriso glacial apareceu neles.
— Como acabou de dizer, Rawson, a sua oferta é muito «razoável». Tão razoável que me dá asco. E saiba que me ia embora de Tonopah, porque, por razões muito particulares já não me interessa defender Flanagan. Mas agora, depois de falar consigo, vou ficar aqui e aguentar com todas as consequências. E se quer guerra terá guerra, Rawson. Terá guerra que chegue para encher um carro de mortos...
Falando, Roy tinha-se excitado. Não reparou que outro pistoleiro, colocado junto de Rawson, levava pouco a pouco, habilmente, a mão ao coldre.
De repente agarrou-o, soltando uma espécie de grita. Dessa vez Roy esteve quase a ser apanhado de surpresa. Mas conseguiu disparar no último momento, cravando a bala entre as sobrancelhas do inimigo. Este pareceu ficar pregado contra a parede, enquanto ia aparecendo no seu rosto uma incrível expressão de horror.
Os outros dois, isto é, «Colt» e o companheiro, tentaram aproveitar-se daquela momentânea distração de Roy. Porém este adivinhou a manobra deles. Saltando para trás, de maneira a que as suas costas chocassem com a porta, disparou duas vezes, simultaneamente, com a mão esquerda e a mão direita.
«Colt» e o seu amigo caíram pesadamente. As suas caras fizeram-se brancas, mas mais branca ainda estava a cara de Rawson, que olhava Roy, aterrado, sem se atrever a tirar as mãos de cima da secretária.
Roy esteve prestes a matá-lo friamente, como a um cão, mas no último momento pensou melhor e resolveu não o fazer.
— Não quero dar motivos ao xerife para que me possa prender — disse. — Tenho a certeza de que não está armado e isso poderia complicar as coisas para mim. Mas aviso-o de uma coisa, Rawson: os homens não têm sete vidas, como os gatos, mas apenas uma. Conserve a sua, porque não lhe perdoarei outra vez. Se não dissolve imediatamente a «Amalgamated» e não se dedica a criar cordeiros na Austrália, vai passar um mau bocado. E agora já pode mexer as mãos. Meta-as na boca, porque senão vai começar a gritar, como uma mulher.
Com efeito, Rawson parecia prestes a sofrer um ataque de nervos. O seu pavor era tão grande que nem podia respirar. Parecia que ia rebentar de um momento para o outro. Roy saiu fechando a porta do escritório sobre si. Ouviu então um suspiro de Rawson que devia ter-se deixado cair sobre a secretária sem poder acreditar que se encontrava vivo.
Roy saiu para a rua.
Fê-lo sem tomar nenhuma precaução e isso foi fatal. Logicamente devia ter-lhe custado a vida.
Um dos homens que se encontravam colocados sobre o telhado, com suas espingardas a postos, tinha-o visto entrar, ameaçando «Coit». Mas nessa altura não interviera porque pensava que Roy iria «receber a sua conta», uma vez lá dentro. Agora viam-no sair. Vivo, despreocupado, de costas voltadas.
Os dois homens prepararam-se para disparar, mas nenhum deles chegou a fazê-lo. As balas, disparadas não se sabe de onde, acertaram-lhes na parte inferior da coluna vertebral, imobilizando-os instantaneamente.
Momentos depois, um após outro, os dois rolaram para o chão. Roy, no primeiro momento, ficou como que petrificado. Percebeu como tinha estado perto da morte, sem sequer dar por isso.
Mas Bart não se distraía e cumprira a sua parte do trabalho. Roy sorriu, se bem que soubesse que o amigo não o podia ver e começou a caminhar para o centro de Tonopah.
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