quinta-feira, 21 de setembro de 2017

PAS789. Um colar feito de balas de prata

Era uma voz de mulher.
Ted pensou: «Moira, ela tem agora de ganhar. Sabe que eu não tenho comigo nem uma bala e tirou a máscara.»
Voltou lentamente o rosto até ao quarto.
Mas não viu Moira.
Deu-se conta de que a voz não vinha dali, mas das escadas. Reconheceu que só o nervosismo e a tensão dramática daquele momento, o tinham induzido em erro.
E voltou o rosto mais uma vez, silenciosamente.
Sibyl estava ali.
Sibyl, que lhe apontava um revólver.
— Que queres? — disse Ted, enquanto ela punha a ponta dos pés no último degrau das escadas que conduziam diretamente àquele ponto do corredor do hotel. — Para que é toda essa comédia?
— Calculo que tudo isto te surpreenda, Ted Curtis —sibilou Sibyl.
— Não é que me surpreenda. É que, simplesmente, não te compreendo. Que tenho eu a ver contigo?
Ela sorriu entre jocosa e cruel.
— Eu — declarou —, sou irmã de Boskam.
— O quê... tu... eras... a irmã desse bandido?
Ted estava aturdido com a surpresa. Se neste momento lhe tivessem metido uma bala no peito, nem teria dado por isso.
— Sim, sua irmã — ciciou tranquilamente Sibyl.
—Acompanhámo-nos durante algum tempo, quando ele ainda não estava enamorado dessa imbecil Moira. Mas ultimamente tivemos uma séria discussão por causa duma partilha de roubo, e ele temeu que eu o atraísse. Por isso enviou aqui Turner, um pistoleiro profissional, para me liquidar. A ti, encarregou-te de eliminar Moira por odiá-la devido ao desprezo dela.
E com um suave sorriso, acrescentou, enquanto levantava o revólver:
— Não penses que o quero agora vingar, Ted Curtis. Não... Boskam era um patife que devia ter morrido há muito. Mas só poderei reabilitar-me perante os do bando e assumir a chefia, se demonstrar que o vinguei. Já sabes... Até os bandidos têm em conta essas coisas. De modo que, querido, dispõe-te a morrer.
Ted tinha os olhos indiferentes e frios. Conseguiu esboçar um sorriso, enquanto dizia:
--Podes disparar. És pérfida e cruel como o teu irmão, mas isso não importa agora. Vamos, dispara... Não tenho nenhuma bala no revólver.
Sibyl sussurrou:
—Agora...
E nesse preciso momento em que ela ia apertar o gatilho, foi quando outra voz de mulher se ouviu:
— Retira essa arma, Sibyl, se queres salvar a tua vida. E se o que queres é luta... defende-te!
Ted Curtis voltou a cabeça, atónito, a tempo de ver Moira junto da porta do quarto. A rapariga não tinha ainda sacado, mas balanceava junto da anca a mão defeituosa. Conscientemente, dava a Sibyl todas as vantagens.
— Moira! —gritou Ted. — Não necessito que me defendas! Tu, não!
Foi-lhe impossível dizer mais.
Sibyl tinha considerado que do seu lado havia só vantagens, decidindo não perder aquela oportunidade. Desviou o revólver e, nesse momento, as ancas de Moira moveram-se, aquelas ancas redondas e harmoniosas que haviam entusiasmado os olhos de tantos homens. O revólver pareceu saltar magicamente e tal como Ted lhe tinha ensinado. Moira segurou-o o melhor que pôde. Duas balas saíram do cano, antes que Sibyl pudesse apertar o gatilho. Ambas foram direitas ao coração de Sibyl, dando-lhe morte rápida. 
Ted amparou-a nos seus braços para evitar que caísse e rolasse escadas abaixo. Foi então, ao tê-la assim, quase sob o seu corpo, que viu o que havia sob o fechado decote de Sibyl. Um colar. Um pequeno e estranho colar feito com balas de prata.
Nos olhos de Ted Curtis, o homem que nunca chorara, brilharam duas lágrimas.

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