Com as feições alteradas, sem dar crédito ao que via, a rapariga observou a queda de Turner. O pistoleiro tinha dois orifícios na fronte e nem sequer lograra disparar. Moira contemplou assombrada o seu próprio revólver que não pôde segurar com a devida firmeza e do qual nem sequer saíra uma bala.
Turner caiu da entrada onde estava para o pó do chão, que se tingiu de sangue do pistoleiro.
Moira, atónita, guardou o revólver no coldre, sem saber bem o que fazia.
Ted salvara-a! Ted Curtis tinha velado por ela! Portanto era certo o que pensava ter visto nos seus olhos! Era certo que a amava!
A ponto de lançar um grito de alegria, sentindo que voltava a nascer, girou sobre o chão da porta.
Então, viu Sibyl.
Sibyl, com o revólver ainda fumegante, olhava-a brejeiramente.
— Obrigada — disse Sibyl.
— Obrigada? Por... porquê?
— Turner ia matar-me.
—A... ti?
—Tinham-no contratado para isso e eu tentei encontrar um pistoleiro que me defendesse, mas esse imbecil do Ted Curtis não quis entrar em combinação comigo. Esta noite Turner ia realizar o seu trabalho. Mas saímos quase ao mesmo tempo para a rua, pelo que, ele distraiu-se olhando para as duas. Ao ver que tu também «sacavas», teve um momento de hesitação, o que lhe custou a vida. Morreu, sem dúvida, sem compreender muito bem o que se passava. Por isso te disse «obrigada».
Moira mal a escutava.
Estava mortalmente pálida, sentindo que o sangue se negava a subir ao seu rosto.
Turner não estava incumbido de a matar.
Então quem seria que a tinha de matar? Em nome do céu! Quem?
Desconjuntada, sentindo sacudidelas nervosas à flor da pele, regressou ao seu quarto.
Ali, esperaria Ted, cumprindo o desejo deste. Esperaria...
Entrou no quarto.
De repente, mal tinha fechado a porta, ficou paralisada, atónita, porque Ted Curtis estava ali. E apontava-lhe um revólver.
— Surpreendida?
Moira sentia que qualquer coisa se rompia na sua alma, que qualquer coisa mais formosa e forte que a própria vida, caía em pedaços a seus pés.
— Tu?... — balbuciou.
—Não acabaste de compreender, pois não, Moira?
Ela contemplava aqueles olhos pouco humanos, O revólver que lhe apontava ao centro da cabeça.
—Ted...
—Não é preciso chamares-me com essa voz — disse ele friamente. — Mandaram-me matar-te e matar-te-ei. Ou melhor, pelo menos tentarei fazê-lo.
—Ted... não entendo...
— Quando aceitei o cargo de verdugo de Tombstone, soube que Boskam procurava um pistoleiro para matar uma mulher que vivia aqui. Soube que mulher era e ofereci-me. Boskam deu-me cem dólares por conta, dizendo-me que o resto me seria entregue por uma pessoa que vivia na cidade, a qual se poria em contacto comigo. A noite passada tinha que dar-me o restante do preço… mas não compareceu. No lugar do encontro deparei com um papel que dizia que nos veríamos esta noite, depois de te liquidar.
Ela estava de boca aberta. A sua respiração, embora nem desse por tal, era ruidosa.
—Ted... continuo a não perceber… Vais fazer isso... por dinheiro?
— Por dinheiro, não. Todo o que vier será gasto na mais bela sepultura de Tombstone.
— Então...
—Mas ainda o perguntas? — disse ele, lentamente, deixando as palavras saírem uma a uma.— Perguntas isso depois de teres cavalgado ao lado de Boskam? Quem, senão tu, pode ter sido a mulher que dirigia o grupo quando o meu rancho foi assaltado? Quem, senão tu? — e a sua voz era rouca, sibilante.— Perguntaste-me, quando te beijei, o que era que tinha na minha algibeira e te magoara. Pois era isto! Olha!
Puxou, por um cordão que tinha ao pescoço e do qual pendia, como se fosse uma medalha, um objeto alongado.
— Que é isto? — rugiu, pondo aquilo junto dos olhos de Moira. —O que é? Diz!
Moira arquejou.
—Uma bala de prata...
—Esta bala tirei-a eu do peito de minha mulher quando ela já estava morta. Boskam tinha mandado fundir umas tantas balas destas no México e só eram usadas por ele e pelos seus sicários de maior confiança. O meu pequeno rancho, aquela humilde casa onde, não obstante, residia toda a minha felicidade, foi assaltada por alguns homens do Boskam... e por uma mulher! Quem, senão tu, Moira? Em nome do céu! Quem?
Procurava manter-se sereno, mas os seus olhos brilhavam. Moira viu que a mão que mantinha o revólver, lhe tremia.
Entreabriu os lábios, enquanto lhe suplicava com olhos meio suplicantes meio serenos.
E então Moira fez aquela pergunta inverosímil.
— Depois da morte de tua esposa não voltaste a amar nenhuma outra mulher, não é verdade?
— Por que perguntas isso?
— Por nada... Supus que serias capaz de voltar a amar.
Ted Curtis passou a língua pelos lábios ressequidos.
—No caso de ter amado alguém, seria a ti, Moira. Entre todas as mulheres do mundo, incluindo a falecida, és a mais bela e excitante que tenho conhecido, a mais estranha e enlouquecedora. Mas o meu coração está seco para ti, Moira, porque não passas duma assassina.
—Então para que me ensinaste a disparar? Para que adestraste de novo a minha mão direita?.
A voz de Ted Curtis era um rouco estertor, quando disse:
— Não sou um assassino, Moira. Repugna-me matar uma mulher que não seja capaz de defender-se. Por isso tratei de te tornar uma nova «Miss Morte», na mulher temida que sempre foste, naquela que abateu tantos homens. E agora, digo-te: defende-te! Agora, embora não tenhas a antiga rapidez, tornas a ser alguém perante a qual ninguém se pode descuidar nem uma fração de segundo, especialmente a tiro a curta distância onde não é quase necessária pontaria. Ninguém te dará tantas possibilidades para defenderes a tua pele, Moira, e quero que a defendas. Acaba os teus dias como «Miss Morte». Saca!
Ela não se moveu.
—Terás de matar-me assim, Ted.
— Defende a tua vida! Sabes que podes fazê-lo! Sabes que neste duelo não temos a vitória segura; nem tu, nem eu!
—Terás de matar-me assim, Ted. Se realmente crês que sou quem assassinou uma mulher e uma criança inocentes, não deves vacilar. Dispara a esta distância e atravessa-me os olhos.
A voz de Moira era clara, tranquila, serena. Nem sequer os olhos lhe pestanejavam. Ted engoliu saliva e a sua garganta produziu como que um estalido.
Moveu a mão direita lentamente e sacou revólver.
Olhava para Moira e pensava já no seu cadáver. Aquele cadáver que em breve veria a seus pés, sangrante, com os olhos varados pelas balas.
Os seus olhos...
Ted teve um estremecimento. Os olhos de Moira, que nunca mais tornariam a ver, que já não teriam vida...
—Não posso disparar assim — sussurrou. — Nunca o fiz. E eu ensinei-te a defenderes-te, Moira. Fá-lo! Defende-te!
—Não, Ted. Dispara.
E naquele preciso momento, alguém fez fogo.
Turner caiu da entrada onde estava para o pó do chão, que se tingiu de sangue do pistoleiro.
Moira, atónita, guardou o revólver no coldre, sem saber bem o que fazia.
Ted salvara-a! Ted Curtis tinha velado por ela! Portanto era certo o que pensava ter visto nos seus olhos! Era certo que a amava!
A ponto de lançar um grito de alegria, sentindo que voltava a nascer, girou sobre o chão da porta.
Então, viu Sibyl.
Sibyl, com o revólver ainda fumegante, olhava-a brejeiramente.
— Obrigada — disse Sibyl.
— Obrigada? Por... porquê?
— Turner ia matar-me.
—A... ti?
—Tinham-no contratado para isso e eu tentei encontrar um pistoleiro que me defendesse, mas esse imbecil do Ted Curtis não quis entrar em combinação comigo. Esta noite Turner ia realizar o seu trabalho. Mas saímos quase ao mesmo tempo para a rua, pelo que, ele distraiu-se olhando para as duas. Ao ver que tu também «sacavas», teve um momento de hesitação, o que lhe custou a vida. Morreu, sem dúvida, sem compreender muito bem o que se passava. Por isso te disse «obrigada».
Moira mal a escutava.
Estava mortalmente pálida, sentindo que o sangue se negava a subir ao seu rosto.
Turner não estava incumbido de a matar.
Então quem seria que a tinha de matar? Em nome do céu! Quem?
Desconjuntada, sentindo sacudidelas nervosas à flor da pele, regressou ao seu quarto.
Ali, esperaria Ted, cumprindo o desejo deste. Esperaria...
Entrou no quarto.
De repente, mal tinha fechado a porta, ficou paralisada, atónita, porque Ted Curtis estava ali. E apontava-lhe um revólver.
— Surpreendida?
Moira sentia que qualquer coisa se rompia na sua alma, que qualquer coisa mais formosa e forte que a própria vida, caía em pedaços a seus pés.
— Tu?... — balbuciou.
—Não acabaste de compreender, pois não, Moira?
Ela contemplava aqueles olhos pouco humanos, O revólver que lhe apontava ao centro da cabeça.
—Ted...
—Não é preciso chamares-me com essa voz — disse ele friamente. — Mandaram-me matar-te e matar-te-ei. Ou melhor, pelo menos tentarei fazê-lo.
—Ted... não entendo...
— Quando aceitei o cargo de verdugo de Tombstone, soube que Boskam procurava um pistoleiro para matar uma mulher que vivia aqui. Soube que mulher era e ofereci-me. Boskam deu-me cem dólares por conta, dizendo-me que o resto me seria entregue por uma pessoa que vivia na cidade, a qual se poria em contacto comigo. A noite passada tinha que dar-me o restante do preço… mas não compareceu. No lugar do encontro deparei com um papel que dizia que nos veríamos esta noite, depois de te liquidar.
Ela estava de boca aberta. A sua respiração, embora nem desse por tal, era ruidosa.
—Ted... continuo a não perceber… Vais fazer isso... por dinheiro?
— Por dinheiro, não. Todo o que vier será gasto na mais bela sepultura de Tombstone.
— Então...
—Mas ainda o perguntas? — disse ele, lentamente, deixando as palavras saírem uma a uma.— Perguntas isso depois de teres cavalgado ao lado de Boskam? Quem, senão tu, pode ter sido a mulher que dirigia o grupo quando o meu rancho foi assaltado? Quem, senão tu? — e a sua voz era rouca, sibilante.— Perguntaste-me, quando te beijei, o que era que tinha na minha algibeira e te magoara. Pois era isto! Olha!
Puxou, por um cordão que tinha ao pescoço e do qual pendia, como se fosse uma medalha, um objeto alongado.
— Que é isto? — rugiu, pondo aquilo junto dos olhos de Moira. —O que é? Diz!
Moira arquejou.
—Uma bala de prata...
—Esta bala tirei-a eu do peito de minha mulher quando ela já estava morta. Boskam tinha mandado fundir umas tantas balas destas no México e só eram usadas por ele e pelos seus sicários de maior confiança. O meu pequeno rancho, aquela humilde casa onde, não obstante, residia toda a minha felicidade, foi assaltada por alguns homens do Boskam... e por uma mulher! Quem, senão tu, Moira? Em nome do céu! Quem?
Procurava manter-se sereno, mas os seus olhos brilhavam. Moira viu que a mão que mantinha o revólver, lhe tremia.
Entreabriu os lábios, enquanto lhe suplicava com olhos meio suplicantes meio serenos.
E então Moira fez aquela pergunta inverosímil.
— Depois da morte de tua esposa não voltaste a amar nenhuma outra mulher, não é verdade?
— Por que perguntas isso?
— Por nada... Supus que serias capaz de voltar a amar.
Ted Curtis passou a língua pelos lábios ressequidos.
—No caso de ter amado alguém, seria a ti, Moira. Entre todas as mulheres do mundo, incluindo a falecida, és a mais bela e excitante que tenho conhecido, a mais estranha e enlouquecedora. Mas o meu coração está seco para ti, Moira, porque não passas duma assassina.
—Então para que me ensinaste a disparar? Para que adestraste de novo a minha mão direita?.
A voz de Ted Curtis era um rouco estertor, quando disse:
— Não sou um assassino, Moira. Repugna-me matar uma mulher que não seja capaz de defender-se. Por isso tratei de te tornar uma nova «Miss Morte», na mulher temida que sempre foste, naquela que abateu tantos homens. E agora, digo-te: defende-te! Agora, embora não tenhas a antiga rapidez, tornas a ser alguém perante a qual ninguém se pode descuidar nem uma fração de segundo, especialmente a tiro a curta distância onde não é quase necessária pontaria. Ninguém te dará tantas possibilidades para defenderes a tua pele, Moira, e quero que a defendas. Acaba os teus dias como «Miss Morte». Saca!
Ela não se moveu.
—Terás de matar-me assim, Ted.
— Defende a tua vida! Sabes que podes fazê-lo! Sabes que neste duelo não temos a vitória segura; nem tu, nem eu!
—Terás de matar-me assim, Ted. Se realmente crês que sou quem assassinou uma mulher e uma criança inocentes, não deves vacilar. Dispara a esta distância e atravessa-me os olhos.
A voz de Moira era clara, tranquila, serena. Nem sequer os olhos lhe pestanejavam. Ted engoliu saliva e a sua garganta produziu como que um estalido.
Moveu a mão direita lentamente e sacou revólver.
Olhava para Moira e pensava já no seu cadáver. Aquele cadáver que em breve veria a seus pés, sangrante, com os olhos varados pelas balas.
Os seus olhos...
Ted teve um estremecimento. Os olhos de Moira, que nunca mais tornariam a ver, que já não teriam vida...
—Não posso disparar assim — sussurrou. — Nunca o fiz. E eu ensinei-te a defenderes-te, Moira. Fá-lo! Defende-te!
—Não, Ted. Dispara.
E naquele preciso momento, alguém fez fogo.
Alguém, mas não Ted.
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