quinta-feira, 21 de abril de 2016

PAS621. O segredo das botas do morto

De repente, a rua ficara deserta. Os curiosos afastaram-se para além das linhas de tiro.
Masterson avançou para Slim, levando na mão direita um longo charuto e só um revólver do mesmo lado. Slim apeara-se e avançou também, atento aos passeios e janelas. Parou a seis metros de Masterson.
— Olá, Bronston — cumprimentou o ganadeiro.
— Quero que, antes de tudo, saiba uma coisa, Masterson. Poderá partir daqui tranquilamente, se mandar buscar a filha de Mara Clinton.
— Você é muito generoso, Bronston. Obrigado. Mas espere. Ouça primeiro, e atentamente. Eu só queria, ao apoderar-me da rapariga, que esse imbecil do Charlie me dissesse onde enterrou o pai. Vou dizer-lhe porquê. O pai de Charlie e eu fizemos parte da mesma quadrilha durante bastantes anos. Éramos amigos. Um dia, demos um golpe, para deixarmos essa vida. Um golpe de duzentos e cinquenta mil dólares. Dinheiro, hem? Sabe o que aconteceu então? Na véspera do dia em que íamos fazer a divisão do roubo, Richard Logan fugiu com ele.
— Boa jogada — comentou Bronston.
— Parece-lhe? O resto da quadrilha separou--se para procurar Richard. Eu localizei-o. Sabia o destino que daria ao dinheiro, como eu faria. Enterrou-o e, depois, fez uma planta do local, que guardou no forro do cano de uma das botas.
— Compreendo. Você quer saber onde está enterrado, para recuperar a planta. E se nao está na bota?
— Está. Eu conhecia bem Richard Logan. Há mais de dois anos que estou nesta nojenta terra, tentando de mil maneiras conseguir que Charlie me diga onde enterrou o pai. Mas ele nem mo disse quando o ameacei de contar a Mara Clinton que ele era filho dum salteador, dum bandido, que foi procurado pela Justiça. Como ele se não assustou, ordenei o rapto da rapariga, para o obrigar a sair da sua teimosa recusa.
— Você é um tipo nojento, Masterson!
— Mais do que supõe, Bronston. Sabe por que caçaram há três anos Richard Logan? Fui eu que o denunciei ao xerife daquela terra. Se o matassem, eu só tinha de esperar que o enterrassem, desenterrá-lo uns dias depois e partir com a planta. Em seguida, iria para o Leste viver uma vida tranquila com aquela fortuna.
— Talvez eu possa impedi-lo de algumas coisas...
— Nenhuma, tenho a certeza. Eu sabia que você viria procurar-me. Sabe porquê? Porque você deve ter, forçosamente, mais interesse ainda do que Charlie, em que nada aconteça à rapariga.
— Nao me diga! — sorriu Slim — E porquê?
— Porque ela é sua filha, Bronston.
— Que diz, Masterson? — perguntou Slim, sobrepondo-se ao choque que sentira no coração.
— Agora sei que Mara lho não disse ontem, quando se encontraram no celeiro. Como adivi-nhei? — riu Masterson—. Boone viu-o sair de lá e pouco depois Mara..
— Não... Não... Nancy não é minha filha...
— Não? Um dia, alguém me fez um comentário sobre Mara Clinton, que me levou a indagar. Sabe quanto tempo depois de realizado o casamento de Mara com o velho Clinton nasceu Nancy? Cinco meses. Isto não lhe diz nada? Além disso, já reparou na boca, no queixo e nos olhos da pequena? São os seus, Brontson. Eu tinha pensado utilizar o conhecimento de que Nancy não é filha de Aaron Clinton, para obrigar Mara a casar comigo. E um bonito rancho. Entregue em boas mãos, poderia viver com o seu rendimento onde me apetecesse...
Slim Bronston não pôde articular uma palavra. Passava em revista o passado, revia as feições de Nancy. Foi a voz de Masterson que o chamou à realidade.
— Vou ser magnânimo consigo, Bronston. Pode ir buscar a sua filha... quando liquidar os meus homens. Se os vencer a todos, espero-o no "saloon" para levá-lo junto dela. Adeus, Bronston. Espero que não se lembre de matar-me agora. A sua filha está...
— Desapareça da minha vista, Masterson.
Não era possível que Slim Bronston saísse daquela situação com vida, em que intervinham cinco homens, todos pistoleiros rápidos: Ted, Boone,Mike, Hartfors e Dennis.
Slim Bronston ficou só na rua, ferido, cansado, moralmente arrasado. Desejaria descansar, dormir...
Mas viu os cinco homens, dividirem-se pelos passeios. Três por um, dois pelo outro. Começaram a avançar...
— Está bem, rapazes — murmurou Slim — Vão conhecer um pistoleiro perigoso — e avançou para eles.

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