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Havia outro meio para retê-lo. Era mais perigoso, mas ia melhor com o seu carácter. Esse recurso era irritá-lo, feri-lo no mais profundo. Não lhe seria difícil. Apesar da serenidade que Charly tinha demonstrado, a jovem tinha-se dado conta de que picava-o em vivo.
— Falhou-lhe a manobra, senhor Garner. Sinto muito.
Quando Jenny disse isto, Charly já estava metendo o alazão pelo caminho cercado de rochas. Não se voltou sequer.
— Depois de tudo, talvez seja melhor — prosseguiu a rapariga, em tom de cómica compulsão. — O meu avô, se chega ao caso, também sabe castigar, talvez com mais dureza que os Rodgers.
Um rugido escapou-se da garganta de Charly. Jenny viu que tinha conseguido o seu propósito mais depressa do que esperava. Mas nesse momento arrependeu-se daquele triunfo. Foi ao ver voltar-se o homem.
O rosto de Charly tinha-se transformado. Louco de fúria, os seus olhos despediam centelhas. O seu peito permanecia ofegante, como se necessitasse de maior quantidade de ar para livrar-se duma ameaçadora asfixia.
— Sabes o que fizeste, boneca?
Não lhe deu tempo a que ela respondesse. Quando a rapariga se deu conta, viu-se no ar, arrancada da sela por um dos poderosos braços de Charly.
Viu-se trasladada para a cavalgadura de Garner. Ali ficou, atravessada como um fardo qualquer, entre a sela e o pescoço do animal, sentindo-se apertada por uma mão do homem.
No momento em que ia a gritar, o cavalo arrancou, como que possuído da mesma fúria do dono. Como um vento feroz alcançaram o alto da colina, desceram a vertente contrária, e a todo o galope lançaram-se pela planície para um lugar próximo, do qual se via um rio.
Ali atrás, o poldro de Jenny corria seguindo o outro cavalo, como que tendo asas para voar assim.
Saltou, ou melhor, atirou a rapariga. Depois, saltou ele.
Jenny ficou caída no chão, e parecia que ia a romper em soluços. Mas só foi um instante. Ao olhar em volta e reconhecendo o sítio, teve outro arranque de soberba. Ergueu-se tão alta como era, e com os olhos cheios de ira, gritou:
— Sabe onde se encontra? Na minha fazenda! Olhe para trás.
Ao longe divisava-se um grupo de vaqueiros. Talvez os tivessem visto.
— Agora terá o que merece
— Mas não antes que tu — replicou Charly.
E num rápido movimento, agarrou-lhe o pulso e puxou-a com força.
— Segue-me, se não queres que te leve de rastos! Ao princípio, ela, desconcertada por ver-lhe a mesma atitude, apesar de saber que se encontrava no feudo dos Keyes, seguiu-o. Mas ao meio da colina, parou.
— Além dum malvado, é um louco. Que pretende? Não vê que vêm para aqui?
E era verdade. Agora estava bem claro que o grupo de cavaleiros se dirigia para a colina.
— Não são estas as terras que querem os Rodgers? Não pretende saber porque Row não queria que lhas cedessem? Nesta colina, está a resposta.
— Já não me interessa! Solte-me!
— Já é um pouco tarde.
À força levou-a até acima. Os últimos passos deu-os levando-a nos braços.
--Afaste esses arbustos e olhe o que há por baixo deles. — ordenou Charly, com voz rouca.
Embriagava-a naquele momento. Sabia que a sua pulsação não era como o velho Row queria, mas não lhe importava.
Jenny, como hipnotizada, fez o que ele lhe indicava. Apenas olhou para a pedra, voltou-se para Charly.
— Uma sepultura?
— A de tua mãe.
O dia começava a acabar, Um clarão de tom avermelhado assomava da longínqua cordilheira, e esse tom projetava-se por cinta dos pastos mais distantes, dando à paisagem, dentro da sua policromia, um tom uniforme de cólera ou tristeza. Jenny tinha-se posto de pé.
— Minha mãe? Você está louco!
--Não tenho tempo para discutir. Grava na tua memória esse nome e pergunta a teu avô quem era Noska Ghadock. Talvez se mostre pouco explícito. Então recorre ao velho Row; se é que ainda tens confiança nele.
Começou a descer a vertente. Ela permaneceu uns, momentos como que aturdida.
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