quinta-feira, 30 de outubro de 2014

PAS390. Nunca voltes a pronunciar esse nome!

Escurecia depressa. Charly chegou onde o aguardava «Alud», e de um salto colocou-se na sela.
— O que te disse, Jenny. Pergunta a teu avô. E em último caso, ao velho Row... Até outro dia, «Orgulho a cavalo»!
E com a sensação de que deixava o mote com uma flecha cravada no coração cheio de soberba daquela criatura, Charly partiu disparado, e encaminhou-se para o rio para o mesmo sitio onde um dia tinha atirado a espingarda dum desconhecido...
Quando um momento mais tarde, já completamente de noite, Jenny enfrentou o seu avô, este acolheu-a dando mostras de enfado:
— Que diabo tens nas mãos? Fazes que fale com esse repugnante Rodgers. Indicas-me que prolongue a conversa, sem comprometer nada, ate que tu apareças, e passa o tempo sem acudires. Pode saber-se o que pensas? O avô mudou em seguida a expressão ao ver a atitude em que permanecia a jovem.
— Que tens, Jenny ?
Os grandes olhos da rapariga pareceram ainda maiores, por se aproximar o momento de dizer:
— Avô, quem era Noska Ghadock?
Primeiro, James Keyes pareceu não ter ouvido. Depois, refletindo no seu rosto uma poderosa fúria procurou a saída, estendendo os braços e colhendo fortemente os ombros da rapariga, disse-lhe com incontida dureza:
— Nunca na tua vida voltes a mencionar esse nome!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

PAS389. O segredo da colina

Jenny sentia-se furiosa contra si mesma, vendo que não tinha tido o poder suficiente para fazer falar aquele homem. Estava convencida de que com um pouco menos de altivez, por um pouco que as tivesse esforçado por ser amável, Charly teria dito pela certa o que ia fazer no refúgio do velho Row.
Havia outro meio para retê-lo. Era mais perigoso, mas ia melhor com o seu carácter. Esse recurso era irritá-lo, feri-lo no mais profundo. Não lhe seria difícil. Apesar da serenidade que Charly tinha demonstrado, a jovem tinha-se dado conta de que picava-o em vivo.
— Falhou-lhe a manobra, senhor Garner. Sinto muito.
Quando Jenny disse isto, Charly já estava metendo o alazão pelo caminho cercado de rochas. Não se voltou sequer.
— Depois de tudo, talvez seja melhor — prosseguiu a rapariga, em tom de cómica compulsão. — O meu avô, se chega ao caso, também sabe castigar, talvez com mais dureza que os Rodgers.
Um rugido escapou-se da garganta de Charly. Jenny viu que tinha conseguido o seu propósito mais depressa do que esperava. Mas nesse momento arrependeu-se daquele triunfo. Foi ao ver voltar-se o homem.
O rosto de Charly tinha-se transformado. Louco de fúria, os seus olhos despediam centelhas. O seu peito permanecia ofegante, como se necessitasse de maior quantidade de ar para livrar-se duma ameaçadora asfixia.
— Sabes o que fizeste, boneca?
 Não lhe deu tempo a que ela respondesse. Quando a rapariga se deu conta, viu-se no ar, arrancada da sela por um dos poderosos braços de Charly.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

PAS388. A chicote e a murro

Antes que pudesse evitá-lo, aquele anel obrigou-o a andar de costas uns passos. Estrangulava-o. Com ambas as mãos quis tirar a argola, mas nesse momento o laço desapareceu. Ouviu-se outro barulho, e a estranha cobra enrolou-se-lhe nas pernas e derrubou-o.
Ao mesmo tempo que rolava no chão dava-se conta do que acontecia. No centro da ampla rua, um indivíduo de brilhantes polainas de couro e trajo de veludo azul, com uma fivela de prata, manejava um chicote. O seu rosto, intensamente moreno, mostrava uma dentadura branquíssima, um bigode negro, cuidadosamente tratado. Ouviram-se alguns risos. A Charly pareceu-lhe que era a dona dos cães que exclamava:
— Muito bem, Rodgers! Obrigado!...
O indivíduo vestido de veludo azul pareceu erguer-se mais na sua esbelta figura. De novo, com um sinal lânguido, cheio de segurança, levantou o chicote e descarregou-o sobre o corpo caído de Charly. Este parecia aturdido. Não obstante, observava atentamente, o seu agressor. Viu que não levava revólver, e não quis saber mais. Fazendo como se intentasse cobrir-se, curvou o corpo, adotando uma atitude quase grotesca. Os risos aumentaram. Uma vez mais caiu o chicote, confiado... E, subitamente, como impulsionado por uma mola, Garner saltou, apreendeu no ar aquela inquietante serpente, e puxou-a.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

PAS387. Um «cow-boy» que domava cães

Charly acabava de fazer um cigarro e acendeu-o. Foi ao levantar a cara para lançar uma nuvem de fumo, que reparou nos cães.
Na carruagem havia dois soberbos mastins cruzados de lobo. Ali estavam com o seu corpo macio e gordo, peito largo, e pelo comprido e macio, e umas patas magníficas. Tinham a boca entreaberta, um bocado de língua de fora, que estremecia, como uma bandeira flutuando. Os seus olhos húmidos, cheios de luz, olhavam um pouco adormecidos, ausentes.
Ali estava a armadilha do azar que Charly não soube ver. O Destino tinha jogado limpo. Tinha-lhe dado dois avisos. Sabia o que tinha acontecido ao «Patas». Não ignorava o que sucedeu a um tal Karker.
Também podia ser que o azar lhe tivesse dado o incentivo do perigo para que Charly se sentisse tentado a provar a sorte. Na realidade, ele conhecia demasiado os cães para saber como devia atuar. Mas o que Row lhe disse depois: «E aos seres de duas «patas», conhece-los bastante?»
Quando Garner se aproximou do «buggy», deteve-se, e sem vacilar, estendeu uma mão e aproximou-a da cabeça dum dos mastins. Alguém gritou detrás deles:
— Cuidado!
Mas Charly continuou avançando a mão, com segurança, enquanto murmurava:
— Olá, amigos! Belos! Belos!

domingo, 26 de outubro de 2014

PAS386. A campa duma mulher que amou os cães

Afastou os arbustos que cobriam a pedra e leu:

«Aqui descansa
NOSKA GHADOCK
Amou os cães
e aos homens, nem sequer os odiou»

Charly Garner, depois de ficar quieto uns momentos, pensativo olhando a inscrição, soltou os arbustos e estes voltaram a cobrir a pedra. Ao levantar-se, puxou o coldre que se tinha desviado para trás, pondo-o mais ao alcance da sua mão. Voltou-se com os olhos secos, a olhar o vale. Além, ao longe, os pastos verdejantes e amarelos. A planície parda, com o raio de prata de um rio... Por um momento, sentiu-se aturdido por uma avalanche de recordações que lhe caíam em cima. Encontrava--se no alto duma colina, donde se dominava uma imensa paisagem.
Voltou-se rápido para a pedra, e afastou de novo os arbustos. Mas agora fê-lo tão violentamente, que alguns troncos quebraram. As letras daquela inscrição estavam gravadas com bastante profundidade, e todas tinham um traço seguro.
 «As mãos do velho Row eram duras e seguras — pensou. — Talvez já não o sejam. Os anos passaram sobre ele».
Só havia uma inscrição muito débil. A última linha, situada quase na base da pedra. Era só um risco feito com a ponta dum machado.
«Ano mil oitocentos e oitenta e...»
Nem sequer estava terminada. Charly sabia porque faltava a última cifra. Olhou para a sua mão esquerda. Ainda se notava a cicatriz. Uma escapadela do machado fez com que a sua mão de menino derramasse bastante sangue sobre aquela inscrição. Vendo-o, o velho Row ficou pensativo; mas bastante preocupado. Ele, cuja atitude habitual parecia indiferente a tudo.
«Já o vês, Charly, até para gravar se necessita a vista limpa. Seca essas lágrimas. Vou ligar-te a mão.»
Instantes depois, empurrava a pedra, de forma que ficasse à cabeça donde estava enterrada Noska Ghadock, a mulher chegada da cidade com um cão tão enfraquecido como ela. Agora, sim, definitivamente soltou os arbustos. Alguns, partidos, não puderam voltar à sua posição vertical. Ficou outra vez olhando o vale, mas agora não tinha os olhos secos.
«Para ir com os lobos, é preciso que o olhar não esteja turvo, e o pulso tremente. Vale mais ficar-se em casa.»
Eram palavras do velho Row. O homem solitário, selvagem, que tinha voltado as costas aos homens para construir uma cabana num lugar afastado de toda a comunidade.

sábado, 25 de outubro de 2014

CLT023. A colina da morte


(Coleção Colt, nº 23)
 
 
Que segredo escondia aquela sepultura e qual a sua relação com a mais poderosa proprietária daquela terra?
Recém-chegado à terra natal, de onde se tinha ausentado alguns anos antes, Charly Garner deparou-se com uma jovem arrogante, proprietária de dois mastins que não hesitava em lançar às pessoas quando se sentia incomodada por estas.
Mas na vida da jovem havia algo no passado que a obrigou a reconsiderar a sua atitude e a alterar o comportamento. Isso foi o segredo que aquele local, pela voz de Charly, um dia lhe deu a conhecer. Eis uma novela com honras de primeira publicação na Coleção Bisonte e, alguns anos depois, na Coleção Colt. A sua qualidade é igual à de tantas outras, por isso, a esta distância não percebemos a razão, dada a proliferação de novelas da Bruguera e do senhor Rolcest por esta altura.
A capa, assinada por Bernal, é bem menos significativa que a da Bisonte, em clara sintonia com a novela. Aliás, a presente até é bem esquisita com os diferentes elementos numa escala que não parece a mais própria.
Vamos apresentar algumas passagens desta novela. Se preferir lê-la totalmente, eis uma versão para download

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PAS385. Um punhal a enterrar-se num corpo de mulher

Katia Simmons tinha-se acabado de vestir quando Johnny entrou, sem bater.
— Olá, Katia.
A jovem soltou um grito.
— Johnny... Vai-te embora! Vai, por amor de Deus!
— Vim buscar-te, Katia.
Ela deixou-se cair de joelhos, soluçando. Johnny tentou dizer-lhe qualquer coisa que a consolasse, mas não encontrou palavras.
— Katia...
Ela levantou o rosto, com os olhos marejados de lágrimas.
— Porque vieste, Johnny? Sabes que não posso olhar para ti. Que nunca mais poderei olhar para homem nenhum!
— Pelo menos terás que ver três, Katia.
Ela não respondeu.
— A mim e aos Topek, quando estiverem banhados em sangue.
— Johnny, vai-te...
— Sabes? Já encomendei duas campas juntas, no cemitério de Denver.
— Endoideceste, Johnny. Estás sozinho numa cidade maldita, onde todos são teus inimigos.
Johnny sorriu.
 — Melhor, assim, quando disparar não há enganos possíveis.
— Johnny, não queiras morrer aqui. É melhor aquele vale do Arizona, onde bebem água barrenta. Pelo menos, então éramos. éramos...
Não se atreveu a continuar ou não soube encontrar a palavra exata. Rompeu num pranto outra vez.

domingo, 12 de outubro de 2014

PAS384. Violação

Fred Topek disse em voz baixa:
— Por aqui.
Os três cavalos foram habilmente conduzidos pelos seus cavaleiros, e moviam-se na escuridão como autênticos fantasmas, sem que os cascos fizessem o menor ruído sobre a erva húmida. Por indicação de Fred, os seus dois irmãos desviaram o rumo das montadas. O lugar para onde se dirigiam era sem dúvida um bosque cerrado, que ficava a umas dez milhas de Denver, bosque que na escuridão da noite parecia o lugar mais afastado e mais solitário do mundo. Michael riu nervoso.
— A rapariga já nem se mexe, hem?
— Antes assim.
Realmente, Katia estava amarrada, imóvel, como um fardo, à sela de Fred Topek.
Lutara desesperadamente para se libertar antes de sair de Denver, quando ainda tinha esperança de receber auxílio. Mas Fred Topek, depois de lhe tapar a boca com uma mão batera-lhe selvaticamente, com fúria, até quase a fazer perder os sentidos. E agora a dez milhas da cidade, Katia vira a inutilidade de continuar a lutar. Só a esperança que alguém tivesse seguido o rasto dos cavalos a confortava.

sábado, 11 de outubro de 2014

PAS383. Baleado por uma mulher

Era uma mulher absolutamente excecional.
Johnny Temple que estava farto de ver mulheres bonitas, até ficou gago ao ver esta. Não era Katia. Esta era mais jovem, mais elegante. Da mesma maneira que uma pessoa ao ver Katia pensava que ela tinha nascido pobre e agora trabalhava num «saloon», ao ver esta teria a certeza de que tinha nascido princesa e agora era a mulher mais rica do território. Johnny pensou isso, quando abriu a porta. Ela, que tinha estado sentada junto à cama, perto do cadáver de Reynols, pôs-se em pé.
Era alta, muito alta e bem-feita, santo Deus! Com uma mulher assim, todas as coisas deviam ser bisadas... Trazia um vestido negro, sapatos negros e meias da mesma cor. Era uma rapariga a quem ficava bem o luto.
Tinha os cabelos loiros, debaixo dum gracioso e diminuto chapéu. Perguntou a Johnny:
— Senhor Temple ?
— Talvez. Desde que a vi não tenho a certeza de nada...
— Porque não entra?
— Tem razão. Este quarto é meu... Já não me lembrava.
— Deve estar muito admirado de me encontrar aqui, senhor Temple.
— Não sei que dizer... Mas porque não combinamos uma coisa? Primeiro, beijo-a e depois fico admiradíssimo...

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

PAS382. Contemplação

Johnny assomou à varanda.
A mesma coisa de sempre. Denver tinha sido e seria sempre assim. Cavalos, suor, poeira, revólveres e... mulheres bonitas. Sobretudo mulheres bonitas.
Talvez houvesse mais salas de jogos e homens armados também. Dali, Johnny via as cortinas avermelhadas do «saloon» «A BELA MORTE». Por detrás de uma daquelas cortinas estava Katia; devia estar, pelo menos. Envolta em perfumes, sedas, joias e todos os elementos que sempre tinham constituído a sua vida.
— E homens? Talvez um?
Não.
Katia Simmons tinha gostado sempre de coisas caras e os homens são desprezivelmente baratos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

EXTRA001. O diabo visita Denver

Nota Prévia: para além dos volumes normais, a Editorial Íbis organizava para as suas coleções que temos vindo a referenciar, volumes que se pretendia duplos, de início preenchidos por uma novela mais longa ou com letra maior, depois preenchidos por duas novelas. Como não dispomos da maior desses livros, vamos proceder a uma apresentação casuística, referindo esses livros pelo radical EXTRA. Começamos com uma novela Silver Kane.

 
O agente federal Johnny Temple foi convocado pelos superiores para se encarregar de nova missão: matar uma mulher que em Denver comandava uma quadrilha capaz dos maiores crimes, a partir de um saloon de que era detentora. Curiosamente, essa mulher tinha estado noiva de Johnny três anos antes.
A coisa complicou-se com mais uma mulher que resolvera adotar a identidade de outra com quem Johnny se relacionara e tinha sido assassinada.
O agente federal vê-se sozinho rodeado de inimigos pelos mais diversos motivos e em breve demonstra que é um verdadeiro diabo a quem é difícil enfrentar.
A sua ex-noiva, Katia, sujeita a uma grave violação por gente dum bando rival, vem entretanto a revelar toda a sua nobreza e acaba por o salvar oferecendo o seu corpo a um punhal assassino.
Esta novela, um tanto esquisita, com uma Denver em que as quadrilhas coabitam e, de quando em quando, se digladiam acaba por se revelar de agradável leitura pese tratar-se de um volume extra. Sobre a capa, para além de assinada de forma ilegível, nada a dizer, refletindo um pouco do seu conteúdo. Na contracapa, o lugar de estrela é ocupado pela formosa Giorgia Moll

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

KNS020. Ordem de deserção

(Coleção Kansas, nº 20)
 
E quem não desertaria depois de conhecer aquela beleza? Uma interpretação fantástica de Emilio Freixas.

sábado, 4 de outubro de 2014

PAS381. Uma herança pobre mas reveladora

Sterling sentiu uma coisa estranha ao receber o sobrescrito, julgou que o ia deixar escorregar das mãos. Não sabia porquê, mas relacionava-o com o que procurava há tanto tempo e a emoção esteve a ponto de trai-lo. Com um terrível esforço, guardou o envelope na algibeira.
— Muito obrigado pela sua amabilidade. Como o meu pai mandava fotografias a essa revista, deve ser alguma coisa mais valiosa por não ser fácil repeti-las e por isso confiou-as a si.
Desejando estar só para o examinar, despediu-se do banqueiro, e rapidamente, sem se deter na rua, montou a cavalo e afastou-se da povoação. Queria examinar a sós o seu conteúdo, porque podia ser algo que fosse necessário manter secreto.
Quando se viu fora do povoado, sentou-se numa pedra e com muito cuidado rasgou o envelope depois de ter desatado a fita.
Envolta num pedaço de tela que dava várias voltas, descobriu uma chapa. Além disso havia uma carta extensa, e Sterling, a primeira coisa que fez foi expor à luz do Sol o negativo para ver o que continha.
Um terrível estremecimento agitou o seu corpo. A sua intuição tinha-o levado, não só a adivinhar o motivo da morte de seu pai, mas também o que procuravam depois de cometido o crime.
Na negrura do negativo via-se uma cena: a da morte de Bendix.
Via-se a árvore com o corpo pendurado por uma corda que um cavaleiro sustinha, enquanto alguém em baixo agarrava no corpo do enforcado. Em segundo plano um cavaleiro contemplava a cena, montado num catvalo.
Sterling não distinguia os rostos dos três indivíduos, por causa da pequenez das figuras, mas parecia adivinhar de quem se tratava.
E ao apalpar as folhas escritas notou entre elas, uma coisa mais grossa que o papel. Ao virá-la soltou um grito de triunfo.
Era uma fotografia já passada ao papel, podendo ver agora sem nenhuma espécie de dúvidas, as caras los protagonistas.
O cavaleiro que puxava a corda era Stan: o que agarrava o morto pelos pés, era um dos vaqueiros que ele tinha morto na taberna de Wilson e o cavaleiro que contemplava a cena, o próprio Sirvais.
Agora estavam caçados. Não só não podiam negar desconhecerem Bendix como se descobria terem sido eles os autores das mortes do negociante de gado e de eu pai.
Pálido e a tremer por causa da terrível descoberta, agarrou na carta e leu-a febrilmente.
O texto era o seguinte:
«Querido filho Sterling:
«Não, sei se a minha pouca sorte fará com que esta carta te chegue às mãos. Se for assim, é mau para mim, mas espero que será pior para alguém.
«Vai-te causar estranheza o terrível conteúdo desta fotografia. É algo que eu nunca teria acreditado, se não o tivesse surpreendido, eu próprio.
«Como verás, trata-se da morte de Bendix, a qual julgam ter sido suicídio.
«Agora perguntarás como é que eu pude surpreender e fotografar a cena e porque depositei a chapa e a fotografia nas mãos do proprietário do Banco. Vou-te explicar e julga-me-ás.
«Como sabes, estou encarregado de enviar fotos de índios para uma revista de Chicago e para consegui-las, tenho que visitar reservas.
«Urna tarde quando regressava de fotografar um chefe Cheyenne, descobri um grupo ao pé duma árvore isolada e parei, ocultando-me atrás dum tronco de árvore muito grosso. Chocou-me muito o que estava a ver e não me atrevi a aproximar-me.
«Foi então que decidi fotografar a cena apesar da distância, confiando poder reconhecer com precisão os rostos de todos.
«Via perfeitamente o monstro do Sirvais cavalo, observando impávido a cena, enquanto o canalha do Stan puxava pela corda que tinham colocado ao pescoço de Bendix e um dos vaqueiros o agarrava pelos pés.
«Não sei se Bendix já estava morto antes de ser enforcado, mas não parecia mexer-se. Talvez estivesse desmaiado.
«Uma vez enforcado, ataram a corda ao ramo, cortaram o resto e afastaram-se a caminho do rancho.
«Como te digo não me atrevi a deixar-me ver, pois já tinha a fotografia como prova.
«Quando tive a certeza de não ser visto, vim para casa e revelei a foto, tirando uma cópia ampliada. Via-se tudo perfeitamente nela, o que me deixou satisfeito.
«O meu primeiro impulso foi dirigir-me ao comissário e denunciar-lhe o que tinha presenciado, entregando-lhe a foto, mas pensei outra coisa e decidi esperar porque além de tudo tinha pouca confiança no comissário.
«Arranjei mais duas cópias, ficando com o original e entreguei a cópia ao proprietário do Banco, com esta carta em que te explico o motivo porque procedi assim.
«Vou tentar algo bastante arriscado, mas tenho razões para isso.
«Sirvais merece morrer por ter mandado matar Bendix, mas antes quero fazê-lo sofrer aplicando-lhe um castigo preliminar que me dê proveito.
«Querido filho: estou cansado de tanto trabalhar e de tanto sofrer para comer e viver mal. Quero descansar, destruir esta horrorosa cabana que me asfixia e construir outra mais decente, assim como arranjar uma pequena horta que me ajude a viver, sem necessidade de voltar a deambular pelas povoações e quero que isto seja pago por Sirvais.
«Sei que a jogada é arriscada, mas quem quer alguma coisa tem que lutar por ela. Se me sair bem acabarei com esta vida de miséria e se perder a jogada... tu te encarregarás de acabar a minha obra.
«Vou escrever a Sirvais dizendo-lhe que surpreendi o crime e tirei uma fotografia. Mandar-lhe-ei uma cópia e dir-lhe-ei que se quiser resgatar a chapa, terá que me dar cinco mil dólares. Se o fizer, terei resolvido o meu problema, dar-lhe-ei a chapa a troco do dinheiro e quando julgar desaparecidas as provas do crime, irei a Rapid City e entregarei ao «sheriff» o negativo e denunciá-lo-ei. Desta maneira será duplamente castigado pelo seu crime.
«Não sei como apreciarás a minha Acão, mas a miséria é má conselheira e estou farto. Sei que me arrisco, porque Sirvais procurará evitar entregar-me esta quantia, mas tomei as minhas medidas para que, em qualquer caso não fique impune o seu crime e o pague com a forca.
«Se me enganar e Sirvais jogar tudo por tudo e conseguir eliminar-me, ficas tu para o castigar. Prefiro arriscar-me, a continuar a viver assim.
«Por isso deixo no Banco o negativo com esta carta. Disse-lhe ser uma fotografia de índios e creio que não abrirá o envelope. Agora, vou esperar a reação desse sapo. Não sei o quo sentirá Quando receber a minha carta e a cópia, mas faço uma ideia e só com isso gozo como nunca gozei.
«Explicar-te-ei pessoalmente tudo, se o plano sair bem, caso contrário... será sinal que Sirvais foi demasiadamente rápido e que eu desapareci do mundo, mas esperando que ele tome o mesmo comboio para a eternidade.
«Creio ter-te explicado o principal. Talvez ao leres esta carta lamentes a minha decisão e a condenes. Lamentá-lo-ia, mas repito-te que estou disposto a tudo, a continuar nesta miséria.
«Que tudo corra bem e se assim não for... é porque quem tudo pode, entendeu que eu não o devia ter feito e me quis castigar por isso.
«Adeus, meu filho. Se esta carta chegar às tuas mãos é porque morri e errado ou não, espero que me perdoes o não te ter consultado, mas estava certo que o não aprovaria, pois a tua maneira de pensar, a tua idade, com o mundo à tua frente, deve ser diferente da dum pobre velho, cansado, vencido pelo trabalho e farto de passar miséria. «Envia-te o seu último abraço, o teu pai que muito te quer
Ives»
Os olhos de Sterling encheram-se de lágrimas com a leitura da carta. Via a terrível loucura que o seu pai tinha cometido e compreendia o seu motivo, embora o não aprovasse.
(Coleção Kansas, nº 16)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

PAS380. Uma longa declaração ao pôr do Sol

A jovem e o rapaz sentaram-se num rochedo e ficaram silenciosos a contemplar a paisagem árida e solitária que, ao tingir-se com os tons violáceos do pôr-do-sol, adquiria matizes estranhos e fascinantes. Nenhum dos dois parecia decidir-se a falar. Estavam ambos embrenhados em profundos pensamentos.
Foi Devis a primeira a romper o silêncio para dizer:
— Quando isto tudo acabar... se acabar bem... depois voltarás para o teu lugar no rancho e... sem lar e carinhos paternais que te atraíam...
Ele não a deixou terminar:
— Sentirias que eu não voltasse aqui?
— Claro que sim. Vivemos solitárias, sem amigos... conhecemo-nos desde pequenos e brincámos juntos. Foste extraordinário para connosco e sentimo-nos muito gratas. Por que não havíamos de sentir a tua falta?
— Eu também sentiria muito a falta de ti — disse ele — e não seria fácil esquecer-te. Mas por que não haveria de voltar?
— Não sei... as tuas raízes aqui secaram.
— Não poderão nascer outras novas?
-- Onde e como? O deserto não é propício para…
— E apesar disso, costumam nascer nele flores, embora exóticas e escassas.
— Não te entendo... julgo que aqui...
— Sim, Devis. Se me deixares falar, quero dizer-te urna coisa que gostaria te interessasse.
— Espero que seja assim. Tu és um rapaz que nunca disse asneiras. Cresceste sério e grave, sucedeu-te o mesmo que a mim; a aridez da paisagem não nos permitiu muitas alegrias e, desde meninos, fomos um pouco velhos, porque a nossa infância pouco teve de agradável.
— Assim foi, com efeito e, talvez tenha sido um bem para os dois, porque nos fez conhecer a vida, antes do tempo e nos endureceu para o bom e para o mau.
— Bom, mas isso... suponho nada ter com o que me ias dizer a respeito da tua possível visita a estes lugares.
— Tem e tu vais compreender porquê.
«Queria dizer-te, que tu fazes parte das escassas recordações agradáveis que daqui levo, pois foste uma das poucas amizades de infância que tive. Os teus pais eram os nossos vizinhos mais próximos e isso permitiu-nos um maior contacto e um melhor modo de nos compreender, dentro do pouco que nos poderíamos compreender, tão novos éramos.
«Tínhamos os mesmos gostos, vontades idênticas gostávamos de dar de comer aos passarinhos, sem destruir os seus ninhos como as outras crianças e até uma vez chorámos ao descobrir um coelho com uma pata destroçada por uma armadilha e curámo-lo com carinho, conseguindo que se restabelecesse.
«Isto são coisas que jamais se esquecem. Depois, tive que começar a trabalhar com o meu pai pelos povoados, estando bastante tempo afastado e isto diminuiu um pouco o nosso contacto. Mais tarde tive que mudar de vida, entrei para o rancho e como este fica a algumas milhas daqui, separou-nos ainda mais.
«Daí, a evolução lógica dos dois. Eu deixei de ser uma criança e tornei-me um homem e tu transformaste-te não sei como, pois da última vez que te vi para agora, há um abismo. Tudo isto operou pelo menos a mim, uma revolução íntima, agora que estabelecemos contacto de novo, embora numas tristes condições. Tu, por teres ficado órfã, sem mais ajuda que a da tua mãe e eu, por tudo quanto me sucedeu, embora corno homem, tenha mais facilidades do que tu em decidir o meu futuro.
«Tudo isto vem para justificar o que te vou dizer. Til vais pensar e se te interessar, respondes-me.
«As recordações de infância, o afeto juvenil, tornou-se de repente em algo mais forte, talvez porque também acompanhasse a evolução dos nossos corpos, o mais próprio da nossa idade.
«Talvez não tivesse reparado nisso tão cedo se não surgisse esse canalha do capataz. Senti como que uma punhalada quando manifestaste o temor que ele te produzia e quando me deu a entender as pretensões, nada sérias, que tinha quanto a ti. Quando compreendi que o odiavas, que ninguém ocupava um lugar lio teu peito e sabia seres urna mulher ideal para um homem como eu, acalentei esse carinho que se revelara de repente em mim e decidi fazer-to saber na ocasião mais propícia para isso.
«Tu estás na idade de encontrar um homem que te queira como mereces e necessitas, porque esta vida que levas é indigna de ti e eu posso ser esse homem, se sentes por mim o mesmo que eu sinto por ti.
«Se acreditas que a amizade de ontem se pode converter no amor de hoje e de amanhã, quando isso se resolver, derrubamos essa cabana miserável onde vivem, construo outra mais bonita, mais ampla e mais alegre e casamo-nos. Ganho um ordenado modesto, mas bastante para os três, com o pouco que a horta nos ajude e o que caçarmos com as armadilhas e alguns animais domésticos que compraremos. Eu virei passar contigo os sábados e os domingos e seremos felizes. Talvez um dia possa deixar o rancho e ficar aqui para alargar os nossos domínios, semear um bom pedaço de terra e nunca mais te deixar. A cidade e as diversões dos meus companheiros não me atraem, mas sim a paz, o sossego e um amor sereno que me compense da minha infância miserável e me faça feliz. E agora já sabes os meus sentimentos e desejos. Não te forço, não quero que aceites por gratidão, porque o amor deve ser superior a isso tudo. Aceites-me ou não, terás sempre em mim o defensor de que necessitas, porque o mereces e no dia em que Stan deixe de constituir uma ameaça para ti, és livre para escolher o homem que te faça feliz, como mereces.
Devis não o tinha interrompido um só momento, com a cabeça inclinada sobre o peito, sem separar a mão da de Sterling, que a tinha agarrado enquanto falava e escutava-o como se estivesse ausente daquele lugar e o que o jovem dizia com tanta paixão, não fosse com ela.
Sterling emudeceu e procurou os olhos da rapariga, mas esta continuava imóvel.
O rapaz obrigou-a a levantar a cabeça e, agarrando-a pelo queixo. Foi então que descobriu que os bonitos olhos da rapariga estavam marejados de lágrimas ardentes, que queimavam a sua pele morena.
Estremecendo, perguntou:
— Que te aconteceu, Devis? Por que choras?
Eia murmurou, com a voz estrangulada:
— Choro de felicidade, Sterling, porque julguei que nunca ouviria nada como o que acabas de me dizer. Sempre me julguei condenada a viver aqui como uma fera perdida, sem que ninguém reparasse em mim, nem me dissesse coisas lindas, que tão fundo chegassem ao meu coração e muito menos ditas por um homem como tu, a quem eu sempre quis duma maneira estranha e a quem sempre recordava, não sei se por pressentimento, se por nunca se afastar da minha imaginação.
«E agora ao ouvir dizer-te essas coisas, senti algo que não posso explicar e o meu coração parecia estalar. Por isso brotaram lágrimas dos meus olhos, porque a não desabafar assim, creio que teria morrido de felicidade.
«Ofereces-me um amor que não julgo merecer e eu aceito-o e juro-te que saberei corresponder e que jamais te arrependerás de me teres escolhido para esposa. Aceito o que me propões, não por gratidão, mas por algo mais poderoso e para onde quer que vás, ter-me-ás ao teu lado. Nada mais quero que um pedaço de pão, paz e carinho; tu ofereces-me isso e eu quero corresponder... Posso dizer-te mais?
Ele, cheio de alegria, atraiu-a para si e agarrando na sua cabeça, beijou-a suavemente. Naquele momento a mãe de Devis assomava à porta da cabana e ao surpreender a cena, com um doce sorriso, voltou para o interior, para não perturbar a ternura daquele momento.
(Coleção Kansas, nº16)

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

PAS379. A morte de um fotógrafo errante

Numa mísera cabana, junto ao rio, a umas seis milhas do povoado, habitava um tipo bastante estranho, mas muito conhecido nos arredores, principalmente pelos índios das Reservas mais próximas.
Na sua juventude tinha trabalhado como ajudante de um fotógrafo de feira. Com ele, percorria os povoados, particularmente nas épocas festivas, aproveitando essas oportunidades para tirar fotografias a vaqueiros ricos, a casais de noivos e a grupos de amigos ou de famílias inteiras, que só quando deparavam com fotógrafos ambulantes podiam satisfazer o capricho de se retratarem a sós ou em grupo, para conservarem aquela recordação através dos tempos.
Ives Hyan, que assim se chamava o fotógrafo, tinha conseguido economizar uns dólares e adquirir uma máquina própria, com a qual se tornou independente do seu patrão, e como conhecia bem a região e ofício, decidiu trabalhar por conta própria.
Ives tinha sido casado. Tinha um filho do matrimónio que nada se parecia com o pai, pois enquanto este era baixito e feio, o rapaz era alto, forte, ágil e bem favorecido de feições.
O rapaz, chamado Sterling, não gostava de fotografia e por mais que o seu pai o tivesse feito viajar com ele, quando já tinha cerca de catorze anos, nada conseguiu. O ofício repugnava a Sterling e mais ainda, a miserável vida de nómada que o seu pai levava, saltando de feira em feira, comendo mal e dormindo pior, para ganhar alguns dólares, para sustentar a sua mãe.
Sterling expôs o seu problema ao pai, quando atingiu os dezassete anos. Gostava da vida do campo, ao ar livre e tinha decidido ser «cow-boy».
Seguiria a sua vontade, ganharia um ordenado decente e poderia ajudar a sua mãe entregando-lhe parte do dinheiro, sem prejuízo do que o seu pai lhe desse também.
Ives teve que ceder. O rapaz procurou rancho e não ficou no de Dick Sirvais, nos arredores de Leslie, porque o seu proprietário não queria aprendizes de vaqueiro.
Sterling sentiu uma raiva surda quando ao oferecer-se a Dick, este se riu e o despediu, de maneira depreciativa, recomendando-lhe que seguisse a profissão do seu pai, que seria mais lucrativa. O jovem, que tinha o sangue bastante quente, respondeu-lhe:
— Não vim cá, para que me aconselhe o caminho tomar pois sou, eu, quem o hei-de escolher. Ofereci-me para trabalhar; se não precisa, basta dizê-lo. O resto sou eu quem decide.
— Ferves em pouca água, rapaz — respondeu Dick rindo — mas se é assim, pior para ti. Julguei que te aconselhava o melhor, pois não tens aspeto de pode sequer mungir urna vaca...
— Tenho dezassete anos e estou a desenvolver-me e, apesar do meu aspeto, tenho força suficiente par atirar o laço e completar o trabalho.
— Então vai tirar a prova a outro rancho, porque no meu só há lugar para vaqueiros já feitos.
Sterling experimentou outros ranchos e por fim encontrou um a quinze milhas dali, onde foi admitido e contra o que dissera Dick, demonstrou que acabaria por ser um «cow-boy» forte, valente e conhecedor d seu ofício.
Muito contente, Sterling vinha no princípio d todos os meses a casa, entregar a sua mãe, parte d seu modesto ordenado, passando o dia em sua companhia. Via pouco o seu pai. Viajava muito, tirando foto grafias pelos quatro pontos cardeais do Estado, regressando a casa para descansar, de quatro em quatro meses. Um dia, não pôde empreender a viagem que tinha projetado. A sua mulher, bastante frágil, adoeceu.
Ives receou o pior e avisou o filho. Este chegou quase na altura em que morria a sua mãe.
Depois do enterro, Sterling perguntou ao pai:
— E agora, o que é que vai fazer?
— O mesmo de sempre, meu filho. E agora mais do que nunca, pois servir-me-á de distração para esquecer muitas coisas. Esta mísera profissão obrigou-me a viver afastado da tua mãe, oitenta por cento do tempo. Tive que deixar de olhar por ela e abandoná-la para que mal pudéssemos comer e... creio que morreu mais de tristeza e de miséria moral, que da doença. A vida é assim e há ocasiões em que amaldiçoo o dinheiro e quem o tem de sobra. Era capaz de matar, só para recuperar os anos de miséria que passei, apesar de ser um homem que nunca fugiu ao trabalho.
— Esqueça isso e falemos do futuro... Onde é que vai ficar?
— Aqui. Para recordar. Quando acabar os meus giros, virei passar aqui uns dias e poderei assim, ver-te também. Só tu me restas no mundo e não me posso separar de ti.
— Tem razão e o meu maior desejo seria ser mais velho, ganhar mais e poder-me casar para o ter a meu lado, para deixar de andar como um judeu errante... mas, é impossível. Eu fiz há pouco vinte anos e pouco ganho. Talvez que com o tempo...
— Não te rales. Eu sei defender-me e sou duro. Por outro lado, estou tão acostumado a esta vida, que se me privassem dela, creio que morreria de tédio. Mais tarde, talvez a minha saúde se vá ressentindo e então sinta a necessidade do sossego...
Passados uns dias, Ives voltou à sua vida errante e ficou combinado que Sterling viria, de vez em quando, deitar uma vista de olhos pela cabana.
Ives regressou bastante contente, de uma das suas viagens. Tinha-se tornado amigo dum jornalista, que recolhia material exótico, para uma revista que se publicava no Este e depois de uma grande conversa, Ives mostrou-lhe umas fotografias, que tinha tirado a uns índios das Reservas Cheyennes. Algumas satisfizeram o periodista, que comprou umas cópias e contratou com ele outras, que devia mandar à revista para serem publicadas. Mais tarde mandar-lhe-iam um vale, para Rapid City.
Ives aproveitou a oportunidade e fartou-se de fotografar os índios, dando-lhes cópias, com o que ficavam satisfeitíssimos.
Um dia, pouco antes de Bendix ter sido encontrado morto, Ives regressou à sua cabana e depois de algum descanso, voltou ao seu trabalho, para um pedido que lhe tinham feito da revista. Pretendiam publicar uma ampla reportagem, ilustrada com os retratos dos chefes Cheyenne e pediam-lhe todas as fotografias que pudesse enviar.
Ives cumpriu o contrato, mas desta vez, tardou em empreender o seu habitual giro pelas povoações. Quando o seu filho o visitou, estranhou a sua falta de pressa em partir e perguntou-lhe:
— O que é que tem, pai? Está doente?
—Bem, doente... precisamente não estou, mas muito cansado. Vou ficar uns dias mais aqui, para ver se acalmam os meus nervos, para continuar, de novo, o meu trabalho. Juro-te que estou a começar a ficar farto desta vida e... gostaria de fazer qualquer coisa para a abandonar. Vou ser se consigo o exclusivo dos retratos dos índios para a minha revista e com o que me derem, abandono isto. Se o conseguir, demolirei este covil, construirei uma casa nova e arranjarei uma pequena horta. O tratamento desta distrair-me-á e não me sentirei aborrecido. Sterling achou boa a ideia.
Mas um dia, deixaram de ver Ives na vizinhança e julgaram que tinha partido. Contudo, uma tarde, um cão dum pastor, parou à porta da cabana e pôs-se a uivar lastimosamente. O dono, estranhando a atitude do cão, aproximou-se e ao verificar, que a porta apenas estava encostada, empurrou-a e entrou. Recuou assustado. Estendido no chão, jazia um homem com um tiro na cabeça e outro no peito. Era Ives, o fotógrafo.
O pouco que havia na cabana tinha sido revolvido e lançado para o chão com raiva; a máquina fotográfica partida e pisada e as cópias que o fotógrafo possuía, rasgadas e espalhadas pelo chão. Tudo parecia indicar que o móbil do crime tinha sido uma esperança inverosímil de lucro, pois ninguém o podia supor, com dinheiro escondido. Mas quem tinha cometido o crime, devia ter acreditado, pois não deixara recanto por revistar. O comissário viu-se de novo obrigado a agir, mas tão inutilmente como um mês atrás, com a morte de Bendix e ante o fracasso, comunicou o sucedido ao «sheriff» de Rapid City.
(Coleção Kansas, nº 16)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

KNS016. A morte no deserto

(Coleção Kansas, nº 16)

Um homem que negociava em ranchos e gado apareceu morto, enforcado numa árvore em circunstâncias estranhas que alguns pensaram tratar-se de suicídio. Assim o pensaram as entidades oficiais.
Mas um fotógrafo errante tinha presenciado tudo e decidiu tirar partido da situação e criar condições para o castigo dos criminosos.
A verdade é que algum tempo depois ele apareceu morto com todo o espólio revolvido e parte dele destruído.
O filho, Sterling, resolveu então investigar o que levou à morte do fotógrafo e uma estranha carta depositada no banco acaba por esclarecer toda a situação.
Esta novela de Fidel Prado seria excelente para um filme com escassez de meios, essencialmente, a nível humano. Nela intervêm menos de dez pessoas e o autor consegue preencher as cento e tal páginas da mesma com extensos diálogos entre Sterling e a bela Devis ou com a carta do malogrado fotógrafo. É no entanto agradável de ler, tratando-se de um belo exemplar da Coleção kansas e deste autor.
A capa reflete a formidável luta de Sterling em defesa da honra de Devis, assediada por um capataz sem escrúpulos.