segunda-feira, 17 de março de 2014

PAS267. A taberna do polaco


Contexto da passagem: procurado pelo xerife, Bruce pretende demonstrar a sua inocência e esclarecer quem matou o «rei do gado». Decidiu percorrer as tabernas de Tucson à procura de pistas e visitou-as disfarçado com barba crescida e uma corcunda feita com palha.



A «Taberna do Polaco» era, no seu género, quase distinta. Ali entrava gente de todas as categorias, embora predominassem os «cow-boys» e elegantes de escassa categoria. Bruce entrou e, como fizera nas outras, dirigiu-se ao balcão e pediu modestamente cerveja. O «polaco» não lhe ligou importância e foi atendendo, além dos clientes que estavam à frente, mesmo os que iam chegando depois.
- Pedi cerveja – protestou, sem elevar a voz. – Porque não me atende? O meu dinheiro também vale…
Um vaqueiro chamado Brend olhou-o de alto a baixo e soltou uma gargalhada:
- Atende este caracol, «Polaco»! – exigiu irónico. – Falta-lhe a baba e precisa de a fazer!

Os companheiros do gracioso riram à gargalhada também.
- Essa teve graça – aprovou Roy. – Muitos são os que se metem comigo, mas poucos os que dizem alguma coisa com graça.
Brend, receando estar a ser troçado pelo marreco, olhou-o como se o quisesse fulminar.
- Gostou a sério, corcunda?
- Isso de corcunda é mais vulgar. É a primeira coisa que a todos ocorre. Mas isso de me chamar caracol tem certa originalidade. Realmente, parece que trago a casa às costas.
Desatou a rir, dando a impressão de o fazer com vontade. Brend sentiu-se verdadeiramente engenhoso e riu de novo, escandalosamente.
- Folgo que reconheças que faço boas comparações.
Ia para bater nas costas de Bruce, mas este afastou-se, iludindo-o:
- Não me toque na concha! Tenho-a muito fraca e pode partir-se. Venha, «Polaco», dê de beber a estes amigos.
O taberneiro prestara atenção ao diálogo que achou divertido e serviu-os com relativa diligência. A conversa animou-se. O marreco foi-se tornando mais simpático de minuto a minuto. Das troças e brincadeiras passaram a outros assuntos. O nome de Bill Crosbient (principal suspeito para Roy) veio à conversa de «forma natural», e Roy, com dissimulado interesse, fez perguntas e mais perguntas. De repente, notou que Bartir Griffies, cuja entrada na taberna lhe passara despercebida, se aproximava lentamente. Calou-se e olhou para outro lado, mas o pistoleiro colocou-se a meio metro dele e perguntou:
- Que te interessam os assuntos do sr. Crosbien?
- Nada! – respondeu Roy sem o olhar a direito. – O assunto surgiu sem lhe ligar importância…
- Mentira!
O insulto soou como uma explosão. Bruce não lho devia suportar, mas a personagem que representava tinha obrigação de evitar conflitos. Sorriu debilmente e, pondo uns dólares sobre o balcão, disse ao «Polaco»:
- Pague-se. Lembrei-me agora de que tenho aonde ir.
Os que estavam com ele louvaram-lhe o procedimento, mas Griffies não estava de bom humor e ficou longe de se conformar. Sem que Bruce tivesse tempo de o impedir, deu-lhe uma palmada nas costas:
- Respon…!
A surpresa impediu-o de concluir a palavra, ao verificar que a corcova desaparecera, como se fosse feita de ossos miúdos que ele tinha esborrachado.
- Ui! – gritou Roy, simulando uma grande dor. Procurou alcançar a porta. A assistência, divertida, não fez nada para lhe deixar o caminho livre. Quanto a Bartie, refeito do assombro, compreendeu em parte a verdade e gritou:
- Pare aí, seu marreco das dúzias!
Lançou-se sobre Bruce o qual, vendo impossível a fuga, voltou-se a tempo de receber o inimigo com um formidável murro que o fez cair sobre a mesa próxima.
Foi nesse momento que Bartie teve a impressão exata da realidade. A maneira daquele homem ao levantar-se, a forma de bater, os olhos, recordaram-lhe o perigoso antagonista que o vencera e a Galt perante a formosa rapariga.
- Agarrem-no! – gritou. – É Roy Bruce, o assassino!
(Coleção Bisonte, nº 57)

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