sexta-feira, 14 de abril de 2023

CLT026.09 Duelo desigual com inesperada ajuda

As balas pareciam respeitar o jovem. Laura Smiles fechou os olhos horrorizada. Depois da emoção de ver Norman vivo, sentiu o horror de saber que a sua morte era quase certa.

Norman saltou contra a parede, debaixo da janela. Ainda que não tivesse tido tempo de se certificar da cena que lhe tinham preparado no quarto de Laura Smiles, os «pistoleiros» comandados por Blackfield, as balas que lhe roçaram a carne foram suficientemente significativas para o animar a responder ao chumbo com chumbo.

Mesmo sem ter visto os seus rostos sabia com quem se tinha de haver. Levava dois revólveres, um de cada lado; tinha-se preparado bem antes de ir ao saloon. A sua luta não se limitava a um homem perigoso, mas a vários.

Agora tinha chegado o momento decisivo. Era uma luta terrível e desigual da qual seria impossível sair vivo.

Laura Smiles abriu os olhos. Retorcia as mãos angustiada. A cena que estava presenciando não a esqueceria mais em toda a sua vida.

O corpo de Norman tinha uma elasticidade felina. Do choque contra a parede ressaltou como se tivesse molas. Quatro balas cravaram-se ao seu lado. Eram quatro mortes para um homem só. Norman escapou-se.

No momento de cair no chão já empunhava os seus revólveres que tinha preparado com matemática precisão enquanto se rebolava. Disparou contra Jules Blackfield. Os quatro «pistoleiros», ao disparar, julgaram que tinham acabado com Norman. O facto de que este tivesse escapado por um décimo de segundo impressionou-os vivamente. Parecia impossível!

Apenas refeitos, voltaram-se enquanto carregavam os seus revólveres. Jules Blackfield deixou-se cair, enquanto Pat Owner se adiantava. O «pistoleiro» Pat Owner recebeu um tiro no peito. O projétil incrustou-se na sua carne, vibrando sinistramente, causando-lhe morte instantânea. Pat dobrou-se sobre si mesmo e caiu de bruços.

Jules Blackfield, no chão, e Rufus Blood e Ernie Skill, de pé, ainda que um pouco atrasados por terem retrocedido em direção da janela, dispararam contra Norman. Mas este tinha já mudado de lugar.

Era necessário mover-se continuamente se queria evitar as balas dos seus inimigos, os quais por sua vez não paravam nem um segundo. Todos eram bons atiradores e disparavam a matar. Se permanecessem quietos, a morte seria certa, principalmente para Norman que lutava sozinho.

O jovem apontou novamente o seu revólver contra a atlética figura de Jules Blackfield.

— Matar-te-ei como a um cão! — gritou para desabafar o seu furor.

Norman levantou o revólver com mão firme. Ia a apertar o gatilho quando reparou num rápido movimento de Ernie Skill. Então dedicou a mão esquerda a Skill, cruzando os braços com uma rapidez estonteante.

Blackfield correu à sua esquerda com grande ligeireza. Os revólveres de Norman ladraram como cães raivosos. Entretanto Rufus Blood apontava cuidadosamente à cabeça de Norman, enquanto nos seus olhos aparecia um fulgor de bestialidade. Skill recebeu duas balas: urna atravessou-lhe o braço e a outra furou-lhe a testa. Bamboleou-se como um boneco e caiu sem vida.

Jules Blackfield estava louco de furor. Estavam todos desorientados. Enfurecia-os ver que um homem só lhes fizesse frente. Todos pareciam possuídos dum estranho frenesi.

Laura Smiles tinha-se escondido a um canto. As balas cruzavam em todas as direções. O odor acre da pólvora excitava os sentidos. Em Jules Blackfield e em Rufus Blood crescia a ânsia de vingança e pareciam ter-se esquecido do perigo que representava a pontaria certeira de Norman.

Os dois «pistoleiros», como que obedecendo a uma ordem misteriosa, estacaram e apontaram cuidadosa e rapidamente. Naquele momento arriscavam a sua vida ao máximo para assegurar-se da morte do seu inimigo.

Norman compreendeu que tinha de responder com os seus revólveres, dedicando um a cada dos seus inimigos, procurando antecipar-se a eles. No momento em que intentava fazer o que tinha pensado deu uma meia-volta vertiginosa, mas um pé torceu-se e ele caiu no chão. Neste intervalo, Blackfield e Blood dispararam, mas as suas balas passaram sobre a cabeça de Norman.

Como tinha ficado numa posição desfavorável, os dois «pistoleiros» viram que tinha chegado para eles a oportunidade tão desejada. Apontaram os seus revólveres sobre o corpo inseguro do seu inimigo. Um segundo, uma leve pressão sobre o gatilho e as façanhas de Norman Wright seriam só uma lembrança na turbulenta vida, de Riverside.

— Morre, cão! —gritou Jules Blackfield, louco de alegria pelo triunfo que julgava ao alcance da mão.

O insulto de Rufus Blood foi muito pior. Por mais rápido que fosse Norman já nada tinha a fazer. Laura, do seu canto, julgou chegado o fim. Não tinha podido lutar pois estava desarmada. Esperava um triste desenlace, mas renasceu a sua esperança ao ver a forma incrível como o jovem lutava. Inclusivamente chegou a acreditar que era um milagre e de que ele era um ser invencível; agora, tudo acabaria com dois tiros...

A mulher pareceu revoltar-se perante o impossível. Tinha de fazer qualquer coisa!

Perto de onde ela estava havia uma jarra com flores. Levantou-se impetuosamente, agarrou na jarra e lançou-a com toda a sua força contra Jules Blackfield.

Naquele preciso momento alguém atravessava o que restava da porta.

— Mando para o inferno o primeiro que se mexer! —gritou com voz de trovão. Simultaneamente, Jules Blackfield tinha desviado o seu revólver e disparado contra Laura Smiles, a qual sentiu o embate no ombro e no peito, levou a mão à parte ferida e caiu de joelhos.

O inesperado acontecimento fez com que Rufus Blood se atrasasse e o recém-chegado disparou contra ele, considerando-o mais perigoso. O revólver de Rufus Blood desfez-se na sua mão ao mesmo tempo que a bala lhe arrancava o dedo polegar.

Com raiva selvagem, Rufus apertou a mão ensanguentada contra o estômago, lançando um grito horrível.

Norman apontou os seus revólveres mais uma vez contra Jules Blackfield. Queria vê-lo debater-se espasmodicamente na agonia. Era um cobarde! Acabava de disparar contra uma mulher! Norman acabava de comprovar —demasiado tarde talvez? — que Laura Smiles não era uma inimiga, antes pelo contrário. Mas não poderia auxiliá-la enquanto não ajustasse contas com Jules Blackfield.

Enquanto Rufus parecia desnorteado, Norman não tinha podido ver o seu oportuno colaborador. Julgou que alguém do rancho Davis, mas não tinha tempo para se certificar; a luta ainda não tinha acabado. Precisava concentrar toda a sua atenção se queria aniquilar Jules Blackfield! Este, ainda que aturdido, não viu o resultado da partida favorável. Tinham morrido Ernie Skill, Pat Owner e agora Rufus Blood estava quase inutilizado...

Com fantástica rapidez e agilidade, saltou para trás numa reviravolta que parecia impossível. A janela, entreaberta, abriu-se e Blackfield lançou-se no espaço. A janela não estava situada numa altura muito grande, mas o suficiente para inspirar cuidados a quem não fosse muito forte e ágil. Blackfield caiu de pé, com flexibilidade, apoiando as mãos no chão e começou a correr.

Rufus Blood ficou só com os seus dois inimigos. Viu-se perdido. Tentou imitar o seu chefe. Preferia partir a cabeça a levar um tiro. Norman Wright aproximou-se dele. Como se interpusesse entre este e o atirador, Rufus tentou dar-lhe um soco.

—Cuidado, Norman!

Norman reconheceu a voz imediatamente. Seria possível? Seria possível que no meio de uma gritaria ensurdecedora tivesse ouvido bem? Atirou-se contra Rufus Blood, depois de fazer uma finta, e fez embater o seu punho contra o brutal rosto do bandido. Este que já estava perto da janela viu cumprido o seu desejo de sair por ela, pois o soco foi tão terrível que rolou pelo ar até chocar contra o chão.

Um terrível grito deu a entender a Norman que o esqueleto do seu adversário tinha sofrido sérios danos.

— Sam! Tu aqui? Palavra que não percebo! —correu a abraçar o veterano cuja presença não compreendia.

— Ajudemos a rapariga. É o mais importante. Depois falaremos.

Aproximaram-se de Laura Smiles. Com muito custo tinha conseguido estancar o sangue que lhe jorrava da ferida. Tinha todo o peito manchado de sangue.

—Laura!

— Tive pouca sorte, Norman. Já vês...

—É só um arranhão...

—Tenho a impressão de que vou morrer...

— Não digas isso. Sam — disse voltando-se para o seu camarada — vou lá abaixo. Vou chamar o médico... e trazer os remédios. Trata dela.

— Sim. Toma cautela.

—Tenho de ter, pois Blackfield escapou. Foi o que saltou primeiro.

Com efeito Jules Blackfield estava vivo. O seu corpo atlético e flexível não se ressentiu da queda. Com uma rapidez meteórica, entrou no saloon. Antes, porém, tinha ouvido nas suas costas o choque de um corpo contra o chão e um grito pelo qual reconheceu Rufus Blood. Mas nem mesmo assim voltou a cabeça.

No saloon tinha vários «pistoleiros». Todos os frequentadores tinham ouvido o tiroteio e extavam de pé, na expectativa; alguns tentaram subir, agora que já tinha terminado o tiroteio. Jules Blackfield falou assim:

— Rapazes, lá em cima! Quinhentos dólares para cada um, se acabarem com ele!

Os «pistoleiros» apressaram-se a desenfundar os seus revólveres, animados pelo dinheiro oferecido e também pelo hábito que tinham de obedecer.

— Vocês, venham comigo! É. preciso evitar que fuja pela janela! Matou Laura Smiles! —vociferou Jules Blackfield, apontando para um grupo, os quais se apressaram em segui-lo.

No saloon reinava uma grande confusão. Vários «pistoleiros» corriam pela escada como feras sedentas de sangue. Então aconteceu o inesperado: Norman Wright apareceu ante todos.

Os atacantes, durante uns segundos, ficaram imóveis. Norman apercebeu-se imediatamente das suas intenções agressivas. Viu dois dos mais atrevidos curvarem o dedo índice sobre o gatilho.

Norman, então, moveu-se com impressionante rapidez. Os seus braços desceram em velocidade vertiginosa e os seus revólveres apareceram nas suas mãos como se tivessem voado; mas não dispararam, estavam calados perigosos, nas suas mãos.

De repente disparou com ambos. Uma das balas atravessou a cabeça de um dos «pistoleiros». e a outra o pulso a outro. A um dos «pistoleiros» que estavam presentes pareceu-lhe possível acabar com Norman e tentou a sua sorte. Melhor fora que nunca o tivesse tentado. Norman vivia um momento de luminosa inspiração e o seu revólver fez fogo e a bala incrustou-se nas costelas do «pistoleiro» que caiu por terra como uma saca.

— Não vos temo! O primeiro que se mover mato-o! — gritou Norman, disposto a morrer matando.

Jules Blackfield tinha saído com vários homens. Viram Rufus Blood estendido, com os ossos todos partidos. O bandido animou os seus «pistoleiros» a fazer fogo contra a janela e estes obedeceram.

O cabo Sam, não era homem que se mantivesse indiferente ante um ataque, e Laura, Smiles resignada com a sua sorte, animou-o. Sam repartiu chumbo com todo o gosto. Os foragidos disparavam sem cessar, mas dois deles caíram mortos. A confusão era extraordinária dentro e fora do saloon. Era o momento esperado por Jules Blackfield.

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