quinta-feira, 13 de setembro de 2018

CLF026.09 Massacre!

Dan deteve-se à esquina da escura viela, olhando para o mortiço lampião que iluminava a porta da «The Retreat», a casa de jogo onde entrara na primeira tarde que passara em São Francisco.
Atrás dele, os homens do seu grupo juntavam-se silenciosos e expectantes. De dentro do estabelecimento chegava-lhes o surdo vozeario de uma enorme afluência.
—Bem, rapazes, parece que está tudo muito animado. Vamos a isto!
Doze homens avançaram então resolutamente, e sacando das armas irromperam bruscamente no local.
— Quietos! Que ninguém se mexa! — gritou Dan abarcando toda a sala com o penetrante olhar dos seus olhos cinzentos.
A brusca aparição daqueles homens armados produziu grande barafunda entre a cosmopolita clientela do tugúrio e procurando confundir-se com ela, Winter notou que um dos criados estava tentando puxar por uma arma. O seu pulso manteve-se firme enquanto apertada o gatilho, e o homem caiu no solo com um gemido.
Aquele disparo foi o princípio de uma sangrenta batalha entre os vigilantes e a gente do porto, que só podia acabar com o extermínio de uma das partes. Criados, moços, jogadores e alguns dos paroquianos, empunharam os seus revólveres para combater os improvisados polícias, e o rebentar das detonações sucedeu-se com vertiginosa rapidez.
Entre aquele amálgama humano, Dan descobriu o tipo do casaco a quem vira matar um homem naquele mesmo lugar. Estava agachado atrás de uma pesada roleta e empunhava a sua prateada «Derringer» apontada a um dos vigilantes.
Disparou, sem ter tempo para fazer pontaria, mas mesmo assim o tiro foi certeiro, alcançando o velhaco a meio da cara e estendendo-o de costas. O jovem lançou-se então para a frente, abatendo com uma tremenda pancada, dada com a culatra do revólver, um indivíduo de estatura avantajada. Disparou depois à queima-roupa sobre um mineiro que procurava apunhalá-lo, fazendo-o dobrar-se em dois com o ventre perfurado, e abriu passagem até ao mostrador.
Ainda se prolongou o combate durante alguns minutos, mas a sua própria violência fez com que fosse de curta duração. Dois vigilantes trouxeram um indivíduo obeso que tremia como um pedaço de geleia.
— Este é o dono —disse um deles.
— Ah, sim. Enforquem-no no candeeiro da entrada —ordenou Dan, resolutamente.
Tinham vindo preparados com cordas, e o taberneiro que se enriquecera proporcionando aos barcos surtos na baía, marinheiros narcotizados, não tardou em espernear à porta do seu estabelecimento.
— Este já está limpo — informou alguém.
—Saiamos. Vamos a outro — disse Winter.
Embora os grupos de vigilantes fossem muitos, havia trabalho de sobra para todos, pois praticamente toda a «Barbary Coast» era um imenso antro infetado destes tugúrios e lupanares.
Ao sair para a rua, chegou até Dan o abafado crepitar do tiroteio que parecia estender-se por toda a faixa costeira. Tinha começado a grande limpeza, e já não cessaria até que tivesse morrido ou fugido o último meliante.
— Cuidado! — advertiu Dan—. Já estão todos de sobreaviso e agora oferecerão maior resistência.
Com efeito, os que conseguiram sair para a rua escapando pelas malhas da rede, correram a dar alar-me, e todo o bairro do porto se tinha convertido já num imenso campo de batalha.
A viela iluminou-se bruscamente com o deslumbrante fogacho de um disparo. Alguém atirava com uma espingarda, de cima do telhado de uma das casas. Erguendo o revólver, Dan, esperou que o furtivo atirador descarregasse o outro cano da arma. Produziu-se um vivo clarão, e então nessa altura Winter apertou o gatilho. Estrondeava ainda a detonação do «Colt», quando se ouviu um gemido, e quase no mesmo instante algo pesado se veio estatelar contra o solo.
— Este «passarão» já não volta a piar mais — disse alguém.
O grupo dirigiu-se para o próximo «saloon», mas ao encontrarem-se em frente dele foram saudados por um tiroteio cerrado.
— Eh, veem atrás de nós! — gritou o jovem lançando-se a correr para a frente, arrojadamente.
Os do antro ficaram desorientados durante um momento, duvidando se estavam perante os vigilantes ou fugitivos dos seus que acudissem a refugiar-se ali, mas Dan não lhes deu tempo para sair da sua indecisão colocando-se em frente da porta no mesmo instante e barrando-a com o fogo continuo do seu «Colt».
Esgotada a carga postou-se a um dos lados para recarregar o revólver, mas tinha aberto passagem aos seus homens que chegavam atrás dele, a correr, e se lançavam para o interior, disparando como demónios, em todas as direções.
Um minuto bastou ao jovem para encher o tambor do revólver, e seguidamente transpor a entrada encontrando-se em plena batalha, que atingia naquele momento o auge.
Algumas mulheres todas pintadas fugiam gritando, e mais de um homem as seguiu tão assustados como elas. Alguns moços e criados tinham-se refugiado atrás do mostrador, onde se defendiam desesperadamente dando imenso trabalho.
Por detrás de uma espécie de segundo balcão interior encostado à parede, onde havia várias filas de copos limpos e garrafas de mais uso, encontrava-se um alto candeeiro de vidro, e Winter desfê-lo com um tiro, confiando assim desalojar pelo fogo os que ali se tinham refugiado. Efetivamente, o petróleo quente espalhou-se com grande rapidez, ao rebentar o depósito, inflamando-se com facilidade, e num momento, as chamas atingiram extraordinária altura, aumentando rapidamente. Garrafas com licores e vinhos começaram a rebentar, dada a intensidade do calor, e lençóis ardentes escorriam até ao solo como um líquido combustível, que se espalhava com pavorosa celeridade.
Dez minutos mais tarde no deserto «saloon» não restavam mais do que cadáveres ensanguentados, enquanto que aqueles que não tinham ainda caído sob os projéteis, apareciam depois pendurados em sólidas cordas, como pêndulos macabros. E iluminando tudo com um resplendor vermelho, as chamas erguiam--se até ao teto, lambendo paredes e subindo pelos pés dos móveis.
A luta espalhava-se como um rastilho de pólvora por toda a zona portuária, cada vez com maior intensidade. O fragoroso estrondo do tiroteio ouvia-se' por todo o lado e por cima das explosões elevavam-se as vozes dos homens e os histéricos gritos das mulheres.
Pelas ruas corriam os fugitivos aterrados, fugindo dos desapiedados vigilantes que não davam nem pediam quartel, acossando sem tréguas os indesejáveis que durante tanto tempo tinham sido os senhores da cidade, perseguindo-os até às suas guaridas, crivando-os de balas se resistissem, ou enforcando-os quando não tinham coragem para se defenderem.
Assassinos, bandoleiros, donos de lupanares, batoteiros e toda a espécie de meliantes, caíam pouco a pouco sob o chumbo ou as cordas dos vingadores.
Dan e os homens que o seguiam tinham chegado já até aos cais de madeira, no seu trabalho de limpeza, perseguindo alguns meliantes a quem procuravam por entre os fardos e a neblina noturna apenas rompida pela débil luz de escassos lampiões de óleo, quando um mensageiro chegou até eles pedindo ajuda.
— Que aconteceu? — perguntou Winter quando lhe apresentaram o homem.
—Estamos em má situação no «Ingot of Gold», e precisamos de ajuda.
— Quem é que vos comanda?
— Andrés Montalvo. Mandou-me buscá-lo.
— Alguém conhece este homem? — perguntou Dan ao seu grupo, pouco disposto a deixar-se cair numa cilada.
Três ou quatro reconheceram-no.
—É dos nossos, senhor, Winter— disse um magro comerciante que tinha subministrado quase todas as cordas de que dispunham.
—Está bem. Vamos até lá.
Antes de chegarem ao saloon já ouviam o estrepitoso fragor da batalha.
— Parece que a coisa está má— comentou Dan.
—Fizeram-se fortes erguendo barricadas nas portas e janelas —informou o homem.
— São muitos?
—É difícil de calcular, mas mais de vinte são, com toda a certeza. Além disso, as malditas mulheres ajudam-nos, carregando as armas, com o que fazem fogo sem interrupção.
—E quantos são vocês?
— Agora somos só dezassete. Tivemos cinco baixas.
—Está feia a coisa.
Encontrou Andrés numa viela que desembocava próximo do saloon, amontoando colchões sobre um carro. Estava sujo de fumo e de pólvora e tinha o negro cabelo todo emaranhado.
— Já chegou a hora de dormir? — perguntou-lhe com voz trocista.
— Olá, Dan, como estás?
—Deixei aquilo mais limpo que uma patena.
— És um homem feliz! Quantos homens trazes?
— Nove, contando comigo. Tive algumas baixas.
— Sim. Também aqui caíram cinco dos meus. Era inevitável — acrescentou com tristeza.
— A maioria há-de restabelecer-se.
— Sem dúvida. Enfim, vamos ao que nos interessa. Não é um grande reforço o teu.
— Que tencionas fazer?
— Aproximar-me desse maldito antro. Atiram como demónios e não há maneira de os fazer sair dali.
— Vou dar uma vista de olhos.
— Tem cuidado, porque há muito bons atiradores entre eles e têm, pelo menos, um par de espingardas. — Não te preocupes.
Dan assomou-se com cuidado a uma das esquinas e estudou atentamente o edifício do «Ingot of Gold».
Tratava-se de uma sólida construção de madeira, de dois andares, muito melhor do que quantas a circundavam, assim como também mais alta sobre o nível do solo, chegando-se ao pórtico principal, por cinco amplos degraus. A varanda e colunas que sustinham o telhado do pórtico eram todas trabalhadas. Apresentavam cinco vãos para baixo e outros tantos para cima, e as amplas janelas eram das chamadas de guilhotina. Tanto o pórtico como telhado e as duas águas--furtadas eram de planos muito inclinados e não apresentavam nada saliente além da chaminé, atrás, e n' ala esquerda do edifício.
—Está bem, Dan, isto já está pronto—disse a voz de Montalvo, a seu lado.
— Escuta Andrés, as forças encontram-se demasiadamente equilibradas e eles excessivamente bem defendidos para que essa barricada móvel dê resultado. Seriam relativamente poucos os que se poderiam resguardar bem, e ao encontrarem-se perante o edifício não poderiam fazer grande coisa, já que lhes será possível chegar até ele devido a esse alto pórtico dos demónios.
—Então ficamos aqui de braços cruzados ou pedimos ajuda ao coronel Fremont?
Dan riu com gosto.
— Não por certo. Se assim fizesse perderia todas as possibilidades de me casar com Virgínia.
— Então?
—Olha. Por este lado todos os edifícios são de andares baixos, e já vês que o telhado da casa contígua é quase da mesma altura que o pórtico do «Ingot of Gold».
—Que propões fazer?
— Levarei os meus homens à procura de outra viela que desemboque mais acima, donde não poderemos ser vistos, e desceremos cosidos com as fachadas dos edifícios da frente, até que possamos subir para os telhados para chegar ao edifício e passar para o tejadilho do pórtico. Não nos poderão ver e será fácil.
—Muito bem, mas...
—Uma vez ali farás avançar o carro, e que todos os teus homens disparem denodadamente com o fim de distrair a atenção dos outros. Com todo esse estrépito não será fácil que nos oiçam enquanto nos arrastamos para ocupar posições junto das janelas. Entretanto, como todo o vosso fogo se dirigirá contra a parte baixa do edifício, ali se concentrará a maior parte dessa gente, e quando nos lançarmos para o interior do edifício é possível que não encontremos grande resistência.
—Dan, eu sempre disse que eras um homem genial! Eu vou com vocês.
—Não. Tu tens de ficar aqui para lançar o verdadeiro ataque no momento oportuno, aproveitando a Inevitável confusão que se produzirá ao irrompermos nós lá para dentro.
—Está bem — resmungou o jovem com evidente má vontade—. A ideia é tua.
Uma vez reunida a sua gente, Dan afastou-se com ela, para sair um pouco mais acima, na mesma rua, onde se encontrava o «Ingot of Gold».
— Agora temos de subir aos telhados — disse Winter ao seu grupo quando se tinham aproximado do saloon—. Vamos lá ver como havemos de fazer.
Não parecia proeza fácil. Aquelas casas, praticamente toscas cabanas, careciam por completo de algerozes, e tão pouco se viam nos telhados platibandas ou claraboias.
— Tem de se arranjar uma escada — disse Winter ao fim de algum tempo. Mas não foi necessário. Um dos seus homens tinha conseguido atirar o laço para uma chaminé saliente, única construção de pedra que tinham aquelas casas, e pela corda, um a um, foram subindo todos os vigilantes. Uma vez lá em cima, o caminhar não represento sérias dificuldades, e bem depressa se aproximaram do edifício que sobressaía sobre todos os outros. Dan agrupou então a sua gente.
—É preciso descalçar as botas para não fazer barulho quando caminharmos sobre o telhado.
—E esta! — gracejou um com fúnebre humor — Sempre me tinha preocupado a ideia de vir a morrer com as botas calçadas.
Com este e outros parecidos comentários feitos e voz baixa, os homens descalçaram-se, pendurando maioria deles as botas ou os sapatos ao pescoço.
— Estão prontos?
— Estamos.
— Pois então vamos a isto.
Arrastaram-se um após outro até chegar ao fim do telhado da casa contígua ao saloon, e dali, sem grandes dificuldades, mas extremando as precauções para não serem descobertos, pois deles dependia possível êxito da arriscada empresa, passaram para tejadilho do pórtico encostando-se o mais possível à parede.
Nessa altura desencadeou-se com grande violência a ofensiva de Andrés e do seu grupo, enchendo-se noite de relâmpagos vermelhos. O fogo que faziam da barricada era terrível e ininterrupto. Algo parecido com um trovão medonho interminável sacudiu a rua com tão fragorosa intensidade que até as próprias casas pareceram sentir efeitos das sacudidelas e das explosões.
Era totalmente impossível ouvir-se qualquer outra coisa no meio daquele barulho ensurdecedor. Erguendo o braço, Dan fez um amplo gesto de «avançar», e dando ele próprio o exemplo começou a arrastar-se pegado com a parede, em lenta progressão, que o inclinado do telhado tornava ainda mais dificultosa.
As amplas janelas chegavam mesmo até acima do tejadilho, mas felizmente para os defensores os sitiados tinham levantado barricadas para se protegerem melhor, e ficava espaço suficiente para que um homem pudesse deslizar sobre elas sem ser descoberto.
Duas vezes passou o jovem sob os longos canos das espingardas, quase roçando-os com as costas, e inclusivamente chamuscando-lhe o cabelo a pólvora inflamada que cuspiam as armas ao esbrasearem-se em contínuos jatos de fogo. Todavia, conseguiu chegar são e salvo até ao último vão e, cosendo-se com ele, olhou ao longo do telhado para verificar se os seus homens tinham tomado as devidas posições. De ambos os lados das janelas e inclusivamente sob elas, os vigilantes aguardavam, prontos para se lançarem ao ataque. Tinha chegado o momento!
Junto a Dan um negro e curto cano de revólver movia-se lentamente procurando contra quem disparar. O jovem estendeu rapidamente a mão esquerda, apanhando a arma e erguendo-a. A seguir disparou contra o surpreendido rosto de um indivíduo que assomara à janela por um momento. Depois, lançou-se com todo o seu peso contra a barricada, introduzindo-se como uma avalanche na obscura dependência.
A mais violenta tempestade não produziria o deslumbrante relampejar e medonho estampido que se, ouviu durante os instantes seguintes no interior do edifício. Dentro dos quartos não havia outra luz além da dos disparos, e esta era demasiadamente fogaz e deslumbrante para que fosse fácil distinguir o amigo do inimigo, com a devida rapidez. Em tais condições, a luta desencadeou-se num ritmo endemoninhada e cora mortal violência.
Para Dan não existiam dificuldades quanto à possibilidade de vir a ferir um companheiro seu. Eram cinco as janelas e apenas nove homens, pelo que se lançou só ao combate. Matou do primeiro tiro o seu inimigo mais próximo, que se estatelou aparatosamente no solo, levando atrás de si móveis e colchões. Bateu dolorosamente contra o madeiramento— por que tinha dado uma reviravolta no ar —mas sem fazer caso da pancada nem sequer dar por ela, pois julgava-se invulnerável, disparou contra uma obscura silhueta que surgia como um fantasma no meio da chama violácea.
Depois rodou sobre si próprio, procurando evitar o chumbo que o poderia atingir, nada se passou porque não houve nenhum disparo. Ao que parecia não havia mais nenhum outro inimigo.
A terra parecia rebentar em mil explosões, que s ouviam por todos os lados, e sem dar um momento de tréguas, Winter pôs-se de pé lançando-se para a frente a fim de ir em auxílio dos seus companheiros. No mesmo instante tropeçou violenta e dolorosamente com qualquer coisa, esfolando as canelas, caiu a seguir de bruços sobre um leito nu e saltando depois prontamente passou para o outro lado da ampla cama, para se estatelar em seguida contra a parede.
Apalpou ao longo dela, e um momento depois saía por qualquer parte, mas que não sabia por onde, pois estava escuro e continuava deslumbrado pelos recentes fogachos dos disparos.
— Virgínia! — gritou dando a contrassenha que adotara para o seu grupo. De pontos distintos, do que parecia um poço escuro e sem fundo, chegou-lhe a resposta.
— Um! — gritou então aos vigilantes que deviam numerar-se para se conhecer as suas baixas. Não faltava nenhum.
— Já são nossos! — gritou então uma voz exultante de alegria.
Por entre as estrelas e os círculos brancos que bailavam como caprichosos pirilampos perante os olhos de Dan, este descobriu, de repente, que num ponto fixo se passava qualquer coisa como um débil bruxulear, chegando à conclusão de que não podia ser outra coisa senão a escada, por cujo vão chegavam até ele os clarões dos disparos que se produziam no andar inferior.
Quatro passadas levaram-no até ali, e como os seus olhos começassem a acostumar-se já à obscuridade, no mesmo instante pôde verificar que não se tinha enganado.
— Que se passa aí? — perguntou uma voz alterada do lado de baixo.
Dan pôde ver qualquer coisa que se movia ao pé da escada, e fez fogo atirando-se rapidamente para um lado. O homem soltou um grito mostrando que tinha sido tocado, mas a ferida não devia ter sido importante, porque a seguir pôs-se a gritar dando o alarme. Aquilo desmoralizou os defensores. Um clamor de gritos e vozes aterrorizadas chegou ao andar aonde os vigilantes se estavam reagrupando rapidamente, e de forma quase simultânea redobraram o tiroteio ao mesmo tempo que se ouvia outro estrondo de pancadas e de madeiras estilhaçadas.
— Para a frente! Temo-los nas mãos! — gritou Andrés.
Os instantes seguintes foram de uma terrível confusão. Por detrás das janelas e por entre os móveis derrubados das barricadas, os vigilantes varriam o local com uma verdadeira tempestade de chumbo, sem se adiantarem para se não confundirem com os seus inimigos, enquanto que Dan e os seus lutavam heroicamente no vão da escada e ao fundo desta, colaborando com os seus companheiros, a quem incitavam para os advertir da sua presença.
De repente, um archote a arder voou através de uma janela descrevendo uma curva luminosa para tombar no chão no meio do recinto, e ficar ali ardendo com um leve desprender de faúlhas. Estava impregnado de petróleo e este espalhou-se rapidamente pelas tábuas do chão, tomando o fogo rápido incremento. Então, à incipiente e vermelha chama do incêndio, os vigilantes lançaram-se ao último assalto, avançando por entre uma barreira de fogo até quebrar por completo toda a resistência dos homens do porto. Só umas tantas mulheres desgrenhadas e de olhos esbugalhados, conseguiram escapar àquele inferno.
Terminada ali a sua destruidora, mas necessária tarefa, os homens da legião de vigilância espalharam-se e em pequenos grupos assaltaram as vivendas dos assassinos mais notórios, e se algum deles tinha cometido a imprudência de se deixar ali ficar, confiado de que o não iriam buscar, pagou caro a sua ingenuidade caindo crivado de balas ou ficando pendente de alguma corda. Pouco a pouco foram-se riscando os nomes que figuravam nas longas listas dos vigilantes.

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