sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

PAS818. Reconciliação

Ao terminar a luta, apareceram alguns curiosos para tirar informes e assistir ao aprisionamento dos bandidos pelos vaqueiros de Slayton para serem entregues ao xerife.
Apenas Virgil abandonara o saloon para se dirigir à praça, Elizabeth teve uma violenta reação. Conhecia Jerry melhor que ninguém e tinha quase a certeza de que, ajudado pelos seus pistoleiros, acabaria por matar Virgil. E enlouquecida com a ideia de que Virgil pudesse ser mais uma vítima dele, tomou uma decisão.
Rapidamente pôs o primeiro vestido que encontrou à mão e, tirando duma gaveta um pequeno revólver, empunhou-o firmemente. Se Jerry matasse Virgil, ela vingá-lo-ia, e depois não se importaria de morrer. E deitou a correr para a praça, empunhando o pequeno revólver. Estava quase a alcançá-la, quando ouviu o ruído dos tiros e dando um grito aterrador, penetrou na praça, clamando:
— Virgil!... Virgil!... Este, ao ouvir a sua angustiosa chamada, separou-se do rancheiro e correu para ela, detendo-o entre os seus potentes braços. Ela não o parecia reconhecer e tentava soltar-se.
— Que fazes, Elizabeth?... Onde vais com esse revólver?
— Matá-lo, quero ser eu quem...
— Calma, querida... Jerry está morto e não necessita de mais cuidados.
Ela, ao ouvir a afirmação, rompeu num pranto histérico e desmaiou. Virgil, voltou-se para o rancheiro e disse:
-- Desculpe, vou levá-la a casa. Mais tarde encontramo-nos. Diga o local.
-- No escritório de Wiscosin, se não estivermos no do xerife.
— Está bem.
E tomando nos braços o corpo da rapariga desmaiada, dirigiu-se para o saloon, para a depositar na sua alcova. O desmaio de Elizabeth foi breve. Pouco mais tarde, acordou para chorar nos braços de Virgil. Por fim, ela serenou e murmurou:
— Tudo terminou, Virgil. Vingaste as patifarias desse bandido, e eu... eu fiquei livre dele, mas, como? A minha vida está destroçada para sempre.
— Não penses nisso. És jovem, valente e não tens nada a temer. Ainda te fica muita vida.
— Chamas vida a isto? Um dia sonhei pôr fim a ela e ser feliz com um homem. A fatalidade veio ao nosso encontro e tudo destroçou. Posso esperar coisa melhor que isto?
— Podes esperar, se estás disposta a isso. Eu também julguei um dia que a mulher em quem depositara o meu amor e a minha confiança me atraiçoara, no entanto, a realidade demonstrou-me que não fora assim. Nós fomos vítimas da fatalidade, sem que tivéssemos culpa e se foi assim, porque não deitamos tudo para detrás das costas e só pensamos no futuro? Nessa altura tinha algum dinheiro. Hoje só tenho a roupa que trago vestida. Mas espero ser reabilitado, e então... então... se tu quiseres.
Ela deitou-lhe os braços ao pescoço dizendo, com os olhos marejados de lágrimas:
— Virgil! Serias capaz de esquecer e... e... não me olhar com desprezo por tudo o que sofreste por minha causa?
— Esqueci tudo e só quero olhar para o futuro. Diz-me se queres voltar ao ponto de partida?
— Quero, sim, querido. Agora amo-te ainda mais pois és o homem melhor do mundo. Não me importa que não tenhas nada. O que tenho é teu. Uma parte ganhei-a, a outra é a que te devia aquele canalha pelo que sofreste por ele. Se quiseres, podes ficar até ao fim da temporada, e depois, venderemos isto, e partiremos para qualquer canto e aí viveremos felizes e esquecidos deste inferno, como se tivesse sido um horrível pesadelo.
Ele não disse nada. Abraçou-a e beijou-a apaixonadamente.
Já era bastante tarde, quando procurou Slayton que o esperava no escritório de Wiscosin.
— Desculpe — disse, radiante de felicidade. — Atrasei-me um pouco, pois estive a tratar dum assunto importante. Há alguma coisa a resolver?
— Absolutamente nada. Contei ao xerife tudo o que se passou e os homens de Jerry confessaram a verdade. A manada está vendida. O senhor Wiscosin adiantou-me o dinheiro para pagar aos vaqueiros e aqui tem os seus cem dólares. Amanhã voltamos ao Texas na diligência; quiser vai connosco.
— Obrigado, mas fico aqui. Resolvi a minha situação com Elizabeth... e não a posso deixar sozinha. Ficarei ao seu lado até ao fim da temporada e... talvez até ao fim da vida.
—Que seja em boa hora.
— Obrigado. Quero despedir-me de vós e dar um abraço muito fraternal a Colorado, pois foi um grande amigo e foi devido a ele que fui contratado e vim a Dodge, e aqui encontrei a mulher do meu coração e saldei as contas com aquele miserável.
— Pois se é assim, aqui estão os meus braços, Kentukyano.
—E eis os meus, texano do diabo.
No dia seguinte, quando a diligência partia para o Texas levando o rancheiro, Colorado e dois dos seus vaqueiros, um par feliz e sorridente dizia-lhes adeus.

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