Richard levantou-se um pouco mais tarde do que lhe era habitual.
Saltou da cama e, despojando-se do casaco do pijama, abriu a grande janela do quarto.
Tinha pensado ficar durante algum tempo com os três irmãos e ajudá-los a defenderem o que lhes pertencia.
Já vestido, dispunha-se a abandonar o quarto, quando, pensando melhor, voltou ao seu saco de viagem e tirou dele um cinto completo de munições, e um revólver prateado, calibre «45». Só depois de colocar o cinto e o «colt» em redor das calças, se dispôs a descer.
Assim apetrechado, sentiu-se na disposição de enfrentar fosse quem fosse.
— Bons dias, Richard, — saudou-o alegremente, Carol Rainor, agitando um braço, quando o viu aparecer.
A jovem estava sentada no topo duma paliçada, assistindo às evoluções dum magnífico cavalo que batia com os cascos no solo arenoso, como se quisesse fazer soltar a pequena sela que sentia no dorso.
—Olá Carol! — respondeu o jovem, distraído com o belo quadro que formava a jovem vestida com o seu alegre fato de vaqueiro.
— Vê-se logo que você é um comodista. Corra à cozinha e depois volte cá para me ajudar.
— Estou de facto com uma fome de lobo, mas dentro em breve estou às suas ordens: estou disposto a esquecer os meus hábitos. Como vê, já mudei de roupas.
Algum tempo depois, Richard reuniu-se à jovem, depois de ter dado a «Black» os tradicionais torrões de açúcar.
— Bem, patroa — disse ele, colocando-se à frente e tirando o chapéu numa reverência cómica. — Aqui está o novo elemento do pessoal.
—É mesmo um vaqueiro de novela — o riso da rapariga era alegre e cristalino. — Um chapéu que custa mais do que um mês de ordenado. Uma camisa tão clara que, com um só dia de trabalho, fica uma vergonha. Um cinturão de veludo, e um revólver que custa uma fortuna. Calças de fazenda nova. Botas de polimento com incrustações de prata e pele de castor. Esporas de prata, com incrustações de ouro, que são uma verdadeira fortuna. Esse, é o teu trajo de trabalho?!
—É tudo postiço... tudo postiço! — riu Richard. —Plumas de pavão real. Nada se compara com os seus olhos negros debaixo dessas formosas sobrancelhas de azeviche. Desses cabelos rubros que cintilam à luz do sol; desses lábios rubros e húmidos que brilham como pérolas...
—Por favor, não continue — interrompeu-o a jovem, um pouco ruborizada. — Já acabaram as brincadeiras. Agora vou trabalhar.
— Não são brincadeiras, Carol. São uma pobre expressão da admiração que sinto por você...
—Quer ir ao redondel e prender o bicho pela cabeça? — continuou como se nada tivesse ouvido.
—Mas, você não vai montá-lo?!
— Pois claro que vou.
- Mas isso é um disparate!
— Porquê?
—Ele daria consigo no chão.
— Já o tem feito várias vezes. Há uma semana que Dick o comprou, e por duas vezes, que me atirou de encontro às tábuas da cerca. Mas hei-de conseguir domar o bicho.
— Você é que é uma rapariga doida. — Richard já refeito do susto, principiou a divertir-se. — O seu irmão sabe que tenta montar esse cavalo?
—E porque não havia de saber?
—É um aviso...
—Pois claro que sabe. E você, seu brincalhão, saiba que os meus irmãos montam muito bem, e que eu sou quem monta melhor; portanto, é a mim que cabe o trabalho de domar os cavalos.
— Isso poderá ser com os potros que não tenham ainda quatro anos, mas você não poderá nunca domar esse baio.
— Ah, não?! Já o verá!...
—Olhe, Carol. Logo não poderá sentar-se. Esse animal deve já ter sido levado a vários «rodeos» e derrubado melhores cavaleiros que você.
—Como o sabe?
— Basta olhar para ele, para se saber que não é a primeira vez que se vê nestes «assados». Para mais, não é um animal selvagem e deve ter seis anos, ou talvez mais.
— Sou muito estúpida, Mister Cameron. Quer ter a bondade de me explicar?
— Não costumo perder tempo com alunos pouco aplicados — disse ele, sorrindo divertido. — Mas, atendendo às circunstâncias, farei uma exceção.
— É muita amável!...
— Quando um cavalo não está domado, e apesar dos anos que tem — continuou, sem fazer caso da interrupção, e, não sendo selvagem, é natural que, quem o tentar montar, encontrará muitas dificuldades. Não acredita?
— Estamos a perder tempo e eu não preciso de conselhos dum novato, dum vaqueiro de capa de revista. Se não tem muito medo, vá segurar na cabeça do animal para eu o montar. Depois, pode fugir e pôr-se a salvo, não vá o seu fato incomodar o cavalo.
—Não se preocupe com as minhas roupas. O mal é que você vá sujar as suas e ficar incomodada, durante algum tempo.
Havia tanta indignação nos olhos da rapariga, que Richard se afastou para poder rir à vontade.
Não lhe foi difícil sujeitar o animal e ainda sorria levemente, quando ela lhe saltou para cima.
Richard apressou-se a ir para junto da cerca e, durante uns segundos, ainda pôde ver a jovem sobre o arqueado lombo do bicho que, com a cabeça entre as patas, parecia louco nos seus saltos furiosos.
Richard Cameron viu perfeitamente o momento em que a jovem perdia o equilíbrio e, não pôde deixar de rir, ao contemplar a pirueta que ela fez no ar, antes de cair sentada na terra dura.
Era natural que, se Carol Rainor fosse um homem, soltasse um «compêndio» de blasfémias. Mas Carol, levantando-se entre os risos de Richard, cavalgou de novo o poderoso cavalo. Depois de vários esforços feitos por este, Richard pôde ver o corpo franzino, levantar-se no ar e cair, mas, desta vez mais desastradamente do que a primeira. O cow-boy saltou agilmente para o redondel e correu, para a jovem, um pouco preocupado com o resultado de tão espetacular salto.
— Não ri, desta vez? — gritou a rapariga iradamente, ao vê-lo aproximar. — Ria-se se tem vontade, porque nada me aconteceu. Não desisto de montar esse diabo, nem que seja o último.
Tranquilizado já, e provocada de novo a sua hilariedade pela graciosa figura da jovem, sentada no chão em grotesca posição, Richard, parou em frente, na ocasião em que ela se levantava para terceira tentativa.
Mas ele, agarrando-a por um braço não permitiu tal.
—Não faça mais loucuras. Pode partir algum osso!
--Largue-me — pediu ela furiosa, debatendo-se nos seus braços.
Porém, Richard já não ria e, debaixo da sua pele, ocultavam-se músculos de aço cultivados nos ginásios e se a jovem podia debater-se entre eles, era porque ele tinha medo de a magoar, não obstante a ter apertado de encontro ao peito.
Nunca Richard esteve tão perto de perder a cabeça, como quando a jovem levantou o seu rosto para ele, olhando-o iradamente, com os lábios rubros a tremerem--lhe.
—Largue-me! — repetiu, furiosa.
—Largo-a se me prometer que não tenta montar mais esse cavalo.
— Não tenho nada que prometer.
— Pois então, não prometa. Estou muito bem assim — sorriu, apertando-a mais de encontro a si. Mas o resultado foi uma saraivada de pontapés nas pernas. Então ele largou-a, saltando para o lado.
— Esteja quieta. Se não obedece, acabo por metê-lo no estábulo.
—Tenho que domar esse cavalo.
—Eu o farei.
— Você!! — a jovem olhou-o entre incrédula e divertida, interrompendo o gesto de se aproximar de novo do animal.
— Surpreendo-a?
— Não, diverte-me.
—Não acredita que eu possa montá-lo?
—Você?! Vamos, homem. Não digo que não saiba montar, mas uma coisa é cavalgar o seu esplêndido «Black» e outra é estar sobre o lombo deste selvagem
— Pois então, chegou o momento de você rir. Sente-se no sítio onde eu estava... se puder! — atalhou divertido, — Repare na elegância da minha aterragem
—Mas é verdade que pensa montar esse diabo?
— Naturalmente.
— Mas, Richard, eu aprecio-o mesmo sem montar — nas suas palavras havia uma entoação, de desafio.
— Então, posso contar que chore um pouquinho sobre o meu cadáver?
—Pode e é claro, pelo menos uma vez por ano, vou levar flores à sua sepultura.
— Obrigado, Carol. Estou comovido.
— Mas olhe que, como é mais pesado do que eu, ao cair amachuca-se mais.
—Não se preocupe; tenho os ossos duros e posso resistir. Vou pôr a minha sela, porque esta é muito pequena para mim. Promete que, enquanto me retiro, não volta a montar?
— Prometo.
…
E Richard domou o cavalo perante os olhos de Carol…
Saltou da cama e, despojando-se do casaco do pijama, abriu a grande janela do quarto.
Tinha pensado ficar durante algum tempo com os três irmãos e ajudá-los a defenderem o que lhes pertencia.
Já vestido, dispunha-se a abandonar o quarto, quando, pensando melhor, voltou ao seu saco de viagem e tirou dele um cinto completo de munições, e um revólver prateado, calibre «45». Só depois de colocar o cinto e o «colt» em redor das calças, se dispôs a descer.
Assim apetrechado, sentiu-se na disposição de enfrentar fosse quem fosse.
— Bons dias, Richard, — saudou-o alegremente, Carol Rainor, agitando um braço, quando o viu aparecer.
A jovem estava sentada no topo duma paliçada, assistindo às evoluções dum magnífico cavalo que batia com os cascos no solo arenoso, como se quisesse fazer soltar a pequena sela que sentia no dorso.
—Olá Carol! — respondeu o jovem, distraído com o belo quadro que formava a jovem vestida com o seu alegre fato de vaqueiro.
— Vê-se logo que você é um comodista. Corra à cozinha e depois volte cá para me ajudar.
— Estou de facto com uma fome de lobo, mas dentro em breve estou às suas ordens: estou disposto a esquecer os meus hábitos. Como vê, já mudei de roupas.
Algum tempo depois, Richard reuniu-se à jovem, depois de ter dado a «Black» os tradicionais torrões de açúcar.
— Bem, patroa — disse ele, colocando-se à frente e tirando o chapéu numa reverência cómica. — Aqui está o novo elemento do pessoal.
—É mesmo um vaqueiro de novela — o riso da rapariga era alegre e cristalino. — Um chapéu que custa mais do que um mês de ordenado. Uma camisa tão clara que, com um só dia de trabalho, fica uma vergonha. Um cinturão de veludo, e um revólver que custa uma fortuna. Calças de fazenda nova. Botas de polimento com incrustações de prata e pele de castor. Esporas de prata, com incrustações de ouro, que são uma verdadeira fortuna. Esse, é o teu trajo de trabalho?!
—É tudo postiço... tudo postiço! — riu Richard. —Plumas de pavão real. Nada se compara com os seus olhos negros debaixo dessas formosas sobrancelhas de azeviche. Desses cabelos rubros que cintilam à luz do sol; desses lábios rubros e húmidos que brilham como pérolas...
—Por favor, não continue — interrompeu-o a jovem, um pouco ruborizada. — Já acabaram as brincadeiras. Agora vou trabalhar.
— Não são brincadeiras, Carol. São uma pobre expressão da admiração que sinto por você...
—Quer ir ao redondel e prender o bicho pela cabeça? — continuou como se nada tivesse ouvido.
—Mas, você não vai montá-lo?!
— Pois claro que vou.
- Mas isso é um disparate!
— Porquê?
—Ele daria consigo no chão.
— Já o tem feito várias vezes. Há uma semana que Dick o comprou, e por duas vezes, que me atirou de encontro às tábuas da cerca. Mas hei-de conseguir domar o bicho.
— Você é que é uma rapariga doida. — Richard já refeito do susto, principiou a divertir-se. — O seu irmão sabe que tenta montar esse cavalo?
—E porque não havia de saber?
—É um aviso...
—Pois claro que sabe. E você, seu brincalhão, saiba que os meus irmãos montam muito bem, e que eu sou quem monta melhor; portanto, é a mim que cabe o trabalho de domar os cavalos.
— Isso poderá ser com os potros que não tenham ainda quatro anos, mas você não poderá nunca domar esse baio.
— Ah, não?! Já o verá!...
—Olhe, Carol. Logo não poderá sentar-se. Esse animal deve já ter sido levado a vários «rodeos» e derrubado melhores cavaleiros que você.
—Como o sabe?
— Basta olhar para ele, para se saber que não é a primeira vez que se vê nestes «assados». Para mais, não é um animal selvagem e deve ter seis anos, ou talvez mais.
— Sou muito estúpida, Mister Cameron. Quer ter a bondade de me explicar?
— Não costumo perder tempo com alunos pouco aplicados — disse ele, sorrindo divertido. — Mas, atendendo às circunstâncias, farei uma exceção.
— É muita amável!...
— Quando um cavalo não está domado, e apesar dos anos que tem — continuou, sem fazer caso da interrupção, e, não sendo selvagem, é natural que, quem o tentar montar, encontrará muitas dificuldades. Não acredita?
— Estamos a perder tempo e eu não preciso de conselhos dum novato, dum vaqueiro de capa de revista. Se não tem muito medo, vá segurar na cabeça do animal para eu o montar. Depois, pode fugir e pôr-se a salvo, não vá o seu fato incomodar o cavalo.
—Não se preocupe com as minhas roupas. O mal é que você vá sujar as suas e ficar incomodada, durante algum tempo.
Havia tanta indignação nos olhos da rapariga, que Richard se afastou para poder rir à vontade.
Não lhe foi difícil sujeitar o animal e ainda sorria levemente, quando ela lhe saltou para cima.
Richard apressou-se a ir para junto da cerca e, durante uns segundos, ainda pôde ver a jovem sobre o arqueado lombo do bicho que, com a cabeça entre as patas, parecia louco nos seus saltos furiosos.
Richard Cameron viu perfeitamente o momento em que a jovem perdia o equilíbrio e, não pôde deixar de rir, ao contemplar a pirueta que ela fez no ar, antes de cair sentada na terra dura.
Era natural que, se Carol Rainor fosse um homem, soltasse um «compêndio» de blasfémias. Mas Carol, levantando-se entre os risos de Richard, cavalgou de novo o poderoso cavalo. Depois de vários esforços feitos por este, Richard pôde ver o corpo franzino, levantar-se no ar e cair, mas, desta vez mais desastradamente do que a primeira. O cow-boy saltou agilmente para o redondel e correu, para a jovem, um pouco preocupado com o resultado de tão espetacular salto.
— Não ri, desta vez? — gritou a rapariga iradamente, ao vê-lo aproximar. — Ria-se se tem vontade, porque nada me aconteceu. Não desisto de montar esse diabo, nem que seja o último.
Tranquilizado já, e provocada de novo a sua hilariedade pela graciosa figura da jovem, sentada no chão em grotesca posição, Richard, parou em frente, na ocasião em que ela se levantava para terceira tentativa.
Mas ele, agarrando-a por um braço não permitiu tal.
—Não faça mais loucuras. Pode partir algum osso!
--Largue-me — pediu ela furiosa, debatendo-se nos seus braços.
Porém, Richard já não ria e, debaixo da sua pele, ocultavam-se músculos de aço cultivados nos ginásios e se a jovem podia debater-se entre eles, era porque ele tinha medo de a magoar, não obstante a ter apertado de encontro ao peito.
Nunca Richard esteve tão perto de perder a cabeça, como quando a jovem levantou o seu rosto para ele, olhando-o iradamente, com os lábios rubros a tremerem--lhe.
—Largue-me! — repetiu, furiosa.
—Largo-a se me prometer que não tenta montar mais esse cavalo.
— Não tenho nada que prometer.
— Pois então, não prometa. Estou muito bem assim — sorriu, apertando-a mais de encontro a si. Mas o resultado foi uma saraivada de pontapés nas pernas. Então ele largou-a, saltando para o lado.
— Esteja quieta. Se não obedece, acabo por metê-lo no estábulo.
—Tenho que domar esse cavalo.
—Eu o farei.
— Você!! — a jovem olhou-o entre incrédula e divertida, interrompendo o gesto de se aproximar de novo do animal.
— Surpreendo-a?
— Não, diverte-me.
—Não acredita que eu possa montá-lo?
—Você?! Vamos, homem. Não digo que não saiba montar, mas uma coisa é cavalgar o seu esplêndido «Black» e outra é estar sobre o lombo deste selvagem
— Pois então, chegou o momento de você rir. Sente-se no sítio onde eu estava... se puder! — atalhou divertido, — Repare na elegância da minha aterragem
—Mas é verdade que pensa montar esse diabo?
— Naturalmente.
— Mas, Richard, eu aprecio-o mesmo sem montar — nas suas palavras havia uma entoação, de desafio.
— Então, posso contar que chore um pouquinho sobre o meu cadáver?
—Pode e é claro, pelo menos uma vez por ano, vou levar flores à sua sepultura.
— Obrigado, Carol. Estou comovido.
— Mas olhe que, como é mais pesado do que eu, ao cair amachuca-se mais.
—Não se preocupe; tenho os ossos duros e posso resistir. Vou pôr a minha sela, porque esta é muito pequena para mim. Promete que, enquanto me retiro, não volta a montar?
— Prometo.
…
E Richard domou o cavalo perante os olhos de Carol…
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