— Oh!
Gail deteve-se, sobressaltada, levando a mão direita à garganta e olhando para Martin com os olhos muito abertos.
Cada vez que a via, Martin surpreendia-se por achá-la mais bonita. Não se tratava só da sua perfeição física. Existia algo mais que não se via, que não podia definir-se. Eram a sua expressão e viveza, o brilho dos seus olhos e dos seus cabelos; eram mil coisas encantadoras que a faziam irresistivelmente sedutora.
O jovem dedicou à rapariga o melhor dos seus sorrisos, ao mesmo tempo que tirava o chapéu. — Que surpresa tão agradável, menina Culver!
Gail sobrepôs-se quase imediatamente ao seu assombro e, levantando a cabeça altivamente, olhou-o com frieza.
-- Vejo que lhe entregaram a minha nota, pois tem o chapéu.
— Entregaram-mo, com efeito. Um cavalheiro, se sabe o que isso significa, não desobedeceria jamais aos desejos de uma dama. É muito injusta, menina. Não fui a sua casa nem lhe impeço que feche os olhos, se não deseja ver-me. Eram os únicos desejos que expressava, e ainda que fosse uma autêntica lástima ocultar essa glória que tem nos olhos, eu s6 pretendo que me escute. Gail corou.
— Não quero ouvi-lo, nem vê-lo, nem tê-lo próximo. Está agora suficientemente claro? Faça-me o favor de ser ir embora imediatamente.
— Nada desejo tanto como agradar-lhe, menina. Mas posto que já expressou claramente que não acredita que sou um cavalheiro, correrei o risco de que se afirme na sua opinião.
— Isso já o fez — replicou Gail, secamente.
E em seguida começou a andar, muito erguida. Martin foi uns momentos atrás dela, pondo o chapéu.
— Não foi minha a culpa que seu pai me julgasse um federal. Nada fiz para induzi-lo nesse erro.
A rapariga continuou andando, sem dar a menor mostra de tê-lo ouvido nem de advertir a sua presença.
— Por outro lado, fui o mais prejudicado. Estivera várias vezes a ponto de me matar.
Tão-pouco aquilo a comoveu. Martin tentou, então, deliberadamente' enfurecê-la compreendendo que seria a única maneira de romper a sua reserva.
— Quando você... me ajudou, a minha vida estava real mente em perigo.
Naquele momento viu como ela corava, e um instante depois tinha parado, enfrentando-o com os seus formosos olhos fulgurantes de indignação.
— Você é um... um... — mas não pareceu encontrar a palavra adequada, dentro das limitações impostas a urna menina de bons princípios. — Como se atreve a recordar o seu descaramento? Abusou imperdoavelmente de que o pensasse em perigo mortal. Não é mais do que um malandro. Um... — de novo não encontrou o vocábulo apropriado, e calou-se.
— Aquilo foi algo que perdurará no meu coração e na minha memória no resto dos meus dias — disse ele, com intenção, sorrindo alegremente.
— Oh! — Gail olhou-o com as faces coradas e os olhos lançando chamas. — Vá-se embora! Não quero vê-lo! — gritou a rapariga, que pôde ler nos olhos do texano quanto ele a desejava.
— Se fosse um homem ou tivesse pelo menos uma arma...
— Se você fosse um homem não estaria agora tão zangada comigo e eu não teria corrido perigo algum nem iria jogar a vida dentro de uma hora.
Martin procurava irritar e desconcertar a rapariga, mas surpreendeu-se ao advertir o efeito das suas palavras. Assombrado, viu como o calor desaparecia das faces da jovem, passando de encarnado a urna palidez, e também como a indignação que relampejava nos seus olhos era substituída pelo escuro temor que os tornava quase negros.
A sua surpresa impediu-o de juntar mais alguma coisa, e produziu-se um silêncio de admiração e descontentamento. Gail depressa baixou a cabeça e começou a andar de novo, quase precipitadamente. No entanto, não foi muito longe.
— Você... lutou com Henry? — perguntou inesperadamente, detendo-se, de novo, ainda que sem olhá-lo.
Então foi Martin quem sentiu um estranho receio. Toda a sua alegre fanfarronice e segurança em si mesmo não bastavam para fazê-lo supor que ela temesse pela sua vida, e a única alternativa produzia-lhe uma profunda e dolorosa opressão no peito. Seria possível que Gail amasse Henry?
— Desafiou-me — murmurou roucamente.
Ela não disse nada. Permaneceu imóvel, com a cabeça baixa, de modo que Martin não podia ver-lhe os olhos. E não soube que juntar. Pela primeira vez em toda a sua vida, o jovem conheceu a cruel mordidela dos ciúmes. Sentiu um ódio tão intenso, que lhe produziu um estremecimento e lhe fez apertar os punhos até cravar as unhas nas palmas das mãos, e a ânsia de matar assaltou-o como uma abrasadora labareda que lhe queimou as entranhas e lhe corou as faces.
— É seu noivo? — perguntou surdamente. Ela levantou a cabeça para olhá-lo. Tinha os olhos cheios de lágrimas e uma perturbadora expressão neles, que Martin não pôde compreender.
— O quê?
O jovem fez um esforço para aclarar a sua voz.
— Perguntava-lhe se Henry é seu noivo.
— Oh, não! — Disse-o com indiferença, como se estivesse muito longe.
— Eu... farei o possível por não o matar. Se tenho uma única oportunidade, procurarei desarmá-lo sem lhe fazer outro mal.
Ela baixou novamente a cabeça, de forma precipitada, e algo como um afogado soluço escapou dos seus lábios.
— Por favor, deixe-me! — disse, ao mesmo tempo que se voltava, e começou a correr, precipitadamente.
O tom em que foi feita aquela súplica conseguiu que Martin ficasse petrificado, olhando-a com um véu húmido nos olhos e um nó na garganta. Vendo-a afastar-se dele, da sua vida, compreendeu perfeitamente o que aquela rapariga tinha chegado a ser para ele. Parecia-lhe impossível que tal coisa tivesse podido acontecer em tão pouco tempo, mas a razão nada tinha que ver com os sentimentos.
— Sou um estúpido romântico — disse, com uma careta —, a quem lhe ocorre saltar dum comboio somente por um bonito palmito de cara.
Deitando o chapéu para trás, meteu as mãos nos bolsos e começou a andar lentamente, assobiando uma canção.
Não podendo chorar, só lhe restavam dois caminhos: aumentar o peso do seu rival em algumas onças ou ir-se embora. E como tinha prometido não matar Henry...
— Dodge, dois minutos — disse em voz alta, imitando a entoação do empregado do caminho de ferro.
Gail deteve-se, sobressaltada, levando a mão direita à garganta e olhando para Martin com os olhos muito abertos.
Cada vez que a via, Martin surpreendia-se por achá-la mais bonita. Não se tratava só da sua perfeição física. Existia algo mais que não se via, que não podia definir-se. Eram a sua expressão e viveza, o brilho dos seus olhos e dos seus cabelos; eram mil coisas encantadoras que a faziam irresistivelmente sedutora.
O jovem dedicou à rapariga o melhor dos seus sorrisos, ao mesmo tempo que tirava o chapéu. — Que surpresa tão agradável, menina Culver!
Gail sobrepôs-se quase imediatamente ao seu assombro e, levantando a cabeça altivamente, olhou-o com frieza.
-- Vejo que lhe entregaram a minha nota, pois tem o chapéu.
— Entregaram-mo, com efeito. Um cavalheiro, se sabe o que isso significa, não desobedeceria jamais aos desejos de uma dama. É muito injusta, menina. Não fui a sua casa nem lhe impeço que feche os olhos, se não deseja ver-me. Eram os únicos desejos que expressava, e ainda que fosse uma autêntica lástima ocultar essa glória que tem nos olhos, eu s6 pretendo que me escute. Gail corou.
— Não quero ouvi-lo, nem vê-lo, nem tê-lo próximo. Está agora suficientemente claro? Faça-me o favor de ser ir embora imediatamente.
— Nada desejo tanto como agradar-lhe, menina. Mas posto que já expressou claramente que não acredita que sou um cavalheiro, correrei o risco de que se afirme na sua opinião.
— Isso já o fez — replicou Gail, secamente.
E em seguida começou a andar, muito erguida. Martin foi uns momentos atrás dela, pondo o chapéu.
— Não foi minha a culpa que seu pai me julgasse um federal. Nada fiz para induzi-lo nesse erro.
A rapariga continuou andando, sem dar a menor mostra de tê-lo ouvido nem de advertir a sua presença.
— Por outro lado, fui o mais prejudicado. Estivera várias vezes a ponto de me matar.
Tão-pouco aquilo a comoveu. Martin tentou, então, deliberadamente' enfurecê-la compreendendo que seria a única maneira de romper a sua reserva.
— Quando você... me ajudou, a minha vida estava real mente em perigo.
Naquele momento viu como ela corava, e um instante depois tinha parado, enfrentando-o com os seus formosos olhos fulgurantes de indignação.
— Você é um... um... — mas não pareceu encontrar a palavra adequada, dentro das limitações impostas a urna menina de bons princípios. — Como se atreve a recordar o seu descaramento? Abusou imperdoavelmente de que o pensasse em perigo mortal. Não é mais do que um malandro. Um... — de novo não encontrou o vocábulo apropriado, e calou-se.
— Aquilo foi algo que perdurará no meu coração e na minha memória no resto dos meus dias — disse ele, com intenção, sorrindo alegremente.
— Oh! — Gail olhou-o com as faces coradas e os olhos lançando chamas. — Vá-se embora! Não quero vê-lo! — gritou a rapariga, que pôde ler nos olhos do texano quanto ele a desejava.
— Se fosse um homem ou tivesse pelo menos uma arma...
— Se você fosse um homem não estaria agora tão zangada comigo e eu não teria corrido perigo algum nem iria jogar a vida dentro de uma hora.
Martin procurava irritar e desconcertar a rapariga, mas surpreendeu-se ao advertir o efeito das suas palavras. Assombrado, viu como o calor desaparecia das faces da jovem, passando de encarnado a urna palidez, e também como a indignação que relampejava nos seus olhos era substituída pelo escuro temor que os tornava quase negros.
A sua surpresa impediu-o de juntar mais alguma coisa, e produziu-se um silêncio de admiração e descontentamento. Gail depressa baixou a cabeça e começou a andar de novo, quase precipitadamente. No entanto, não foi muito longe.
— Você... lutou com Henry? — perguntou inesperadamente, detendo-se, de novo, ainda que sem olhá-lo.
Então foi Martin quem sentiu um estranho receio. Toda a sua alegre fanfarronice e segurança em si mesmo não bastavam para fazê-lo supor que ela temesse pela sua vida, e a única alternativa produzia-lhe uma profunda e dolorosa opressão no peito. Seria possível que Gail amasse Henry?
— Desafiou-me — murmurou roucamente.
Ela não disse nada. Permaneceu imóvel, com a cabeça baixa, de modo que Martin não podia ver-lhe os olhos. E não soube que juntar. Pela primeira vez em toda a sua vida, o jovem conheceu a cruel mordidela dos ciúmes. Sentiu um ódio tão intenso, que lhe produziu um estremecimento e lhe fez apertar os punhos até cravar as unhas nas palmas das mãos, e a ânsia de matar assaltou-o como uma abrasadora labareda que lhe queimou as entranhas e lhe corou as faces.
— É seu noivo? — perguntou surdamente. Ela levantou a cabeça para olhá-lo. Tinha os olhos cheios de lágrimas e uma perturbadora expressão neles, que Martin não pôde compreender.
— O quê?
O jovem fez um esforço para aclarar a sua voz.
— Perguntava-lhe se Henry é seu noivo.
— Oh, não! — Disse-o com indiferença, como se estivesse muito longe.
— Eu... farei o possível por não o matar. Se tenho uma única oportunidade, procurarei desarmá-lo sem lhe fazer outro mal.
Ela baixou novamente a cabeça, de forma precipitada, e algo como um afogado soluço escapou dos seus lábios.
— Por favor, deixe-me! — disse, ao mesmo tempo que se voltava, e começou a correr, precipitadamente.
O tom em que foi feita aquela súplica conseguiu que Martin ficasse petrificado, olhando-a com um véu húmido nos olhos e um nó na garganta. Vendo-a afastar-se dele, da sua vida, compreendeu perfeitamente o que aquela rapariga tinha chegado a ser para ele. Parecia-lhe impossível que tal coisa tivesse podido acontecer em tão pouco tempo, mas a razão nada tinha que ver com os sentimentos.
— Sou um estúpido romântico — disse, com uma careta —, a quem lhe ocorre saltar dum comboio somente por um bonito palmito de cara.
Deitando o chapéu para trás, meteu as mãos nos bolsos e começou a andar lentamente, assobiando uma canção.
Não podendo chorar, só lhe restavam dois caminhos: aumentar o peso do seu rival em algumas onças ou ir-se embora. E como tinha prometido não matar Henry...
— Dodge, dois minutos — disse em voz alta, imitando a entoação do empregado do caminho de ferro.
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