Internou-se pela rua, aproximando-se do muro. Era feito de pedras, e para uma pessoa muito ágil e de fortes dedos, não era impossível trepar por ele. O jovem ficou indeciso durante uns segundos. Não conhecia aqueles sítios, ignorava onde se encontravam os seus inimigos e quem eram estes, pelo que não se podia prevenir contra eles, e ser-lhe-ia igualmente perigoso continuar deambulando pelas sombras ou voltar para o hotel.
Necessitava urgentemente um refúgio, um lugar onde pudesse deixar passar algumas horas que desconcertassem e até fizessem desistir os assassinos. Não tinha a menor ideia de onde poderia esconder-se.
Resolutamente, iniciou a subida do muro, e depois de um par de infrutuosas tentativas pôde assomar por cima do muro.
Este dava para um formoso e bem cuidado jardim, profusamente adornado, em torno da casa, ainda que não se visse dali.
Do seu alto observatório podia ver uma grande animação. Dançava-se no amplo terraço e também no jardim, e à simples vista resultava fácil calcular que se reuniam ali mais de meia centena de pessoas.
A casa era ampla, branca, de dois andares e vermelho telhado, adornada com esbeltas colunas. Se uma casa podia definir a personalidade e procedência dos seus donos, aquela fazia-o sem a menor dúvida. Aristocratas procedentes da Louisiana. Ou pelo menos, tal era a ideia que Martin tinha sobre as casas dos grandes plantadores do Mississípi.
Rapidamente passou para o outro lado, deixando-se cair agilmente no chão e, ainda agachado, olhou em seu redor.
Tinha produzido algum barulho ao roçar pelos ramos de uma árvore trepadeira que ocultava a fealdade do muro por aquele lado, mas dificilmente podiam tê-lo ouvido, mesmo que se encontrasse muito próximo, pois a música e as vozes teriam afogado qualquer som mais forte.
Em seguida, ficou tenso ao descobrir, meio oculto entre alguns arbustos, um banco muito próximo, onde se sentavam duas pessoas.
O seu sobressalto durou soente uns instantes, até reparar de que se tratava de um par muito enamorado, que não tinha ouvido nada, tão absortos estavam nas suas conversas amorosas.
Martin esperou um momento e, na altura em que se beijaram, saiu de entre as plantas, afastando-se por um estreito caminho, com um sorriso malicioso nos lábios.
Não tomou muitas precauções. Limpou as mãos e, sacudindo a roupa, fez um cigarro e escondeu o chapéu entre uns arbustos. Depois encaminhou-se decididamente para a casa.
Dada a quantidade de gente que dançava e se movia em torno do terraço, chamaria muito menos a atenção confundindo-se entre elas do que passeando solitário pelos sítios escuros.
A sua ideia, ainda que audaz, era boa, indubitavelmente. Mas houve algo com o que não tinha contado e no que nem sequer pensou.
Corretamente vestido e de boa presença, nada o diferenciava dos homens que dançavam ou conversavam por ali, uma vez próximo do terraço, pois também se viam alguns com revólveres pendentes do cinto. Ninguém lhe prestou atenção.
Mais calmo, quando olhava em seu redor, levemente sorridente, pensando na possibilidade de divertir-se dançando com alguma rapariga bonita, os seus olhos encontraram a jovem da estação.
Viu-a no momento em que, rindo, com a cabeça voltada, se separava de um grupo de homens já maduros, com os quais parecia ter estado brincando. A sua atenção foi ainda mais despertada pelo recorte gracioso e esbelto da sua figura, envolta numa nuvem de tule branco, e pelo doirado da sua cabeleira, que lhe caía sobre os ombros em enormes ondas, artisticamente penteadas.
Estava ainda um pouco indeciso, quando ela se voltou, quase tropeçando nele.
Gail levantou a cabeça, ainda sorridente, e daí a pouco abriu imensamente os olhos, levando a mão direita à garganta, tão sedutora como toda ela.
— Oh!
Os seus lábios, cheios, encarnados, formaram um pequeno e delicioso círculo. Estava muito bonita.
Martin ocultou como pôde o seu sobressalto e, ampliando o sorriso que se tornara um pouco rígido, inclinou-se galantemente.
— Levei séculos procurando-a para lhe apresentar as minhas desculpas pelo incidente desta tarde — disse, recorrendo a toda a desfaçatez de que dispunha.
Ela nem sequer pareceu ouvi-lo.
— Você! — exclamou, muito aflita.
— Foi um desafortunado incidente em que ninguém teve culpa, asseguro-lho — continuou o jovem, com um desembaraço mais fingido do que outra coisa. — Mas não me sentirei tranquilo, enquanto não ouvir dos seus próprios lábios que já o esqueceu.
Ela agarrou-o pelo braço.
— Venha — ouviu-a dizer.
Aquilo era, certamente, a última coisa que Martin esperava ter ouvido. No entanto, deixou-se levar sem opor a mais leve resistência, entrando novamente nos lugares mais escuros do jardim.
Ela parecia conhecer muito bem todos os recantos, e o jovem temeu que o levasse diretamente para o mesmo lugar por onde havia saltado.
Mas, pelos vistos, não era isso que ela desejava, pois ouviu como a jovem deixava escapar uma clara exclamação de contrariedade quando, entre os arbustos, pôde descobrir o banco onde o par de namorados continuava beijando-se, muito apertado.
Martin reparou que a jovem vacilava um instante, mas quase em seguida voltou a puxar por ele e, sempre agarrando-lhe pelo braço, levou-o até outro recanto afastado, onde se encontrava um banco, desta vez vazio.
Gail conduziu-o até lá quase correndo, como se temesse que fosse alguém ocupá-lo. Sentando-se, puxou por ele para o fazer ocupar um lugar a seu lado.
— Viu aquele par? — perguntou-lhe num sussurro.
O jovem não pôde evitar um sorriso divertido.
—Perfeitamente — assentiu, igualmente calmo, tanto para manter o misterioso tom da jovem, como para ocultar o riso que lhe bailava.
— Pois comporte-se como se... se fôssemos também apaixonados — continuou ela, sussurrando. —É a impressão que devemos dar, no caso de alguém nos ver.
Martin olhou-a entre irónico e assombrado, mas a escuridão ali era quase completa, e o rosto dela, apesar de o ter muito próximo, era somente uma pálida mancha.
— Se assim o quer... — murmurou, sufocadamente.
— Só para dar a impressão — apressou-se ela a advertir quando Martin estendia já o braço para enlaçar os seus ombros nus.
— Mas suponho que será necessário fazê-lo ao vivo —disse ele, rodeando os maravilhosos ombros da rapariga.
— Aproxime a sua cara da minha. Com isso bastará. Está demasiado escuro para que alguém consiga reconhecê-lo e, desse modo, poderemos falar ao ouvido.
Martin prestou-se com muito gosto. Tendo-a praticamente abraçada, roçando a sua face com a dela e sentindo a sua perturbadora proximidade, aspirando o seu ténue, ainda que embriagador, perfume, ouvindo o leve e algo agitado sussurro da sua respiração, notando incluso a agitação do seu busto e o levantar e baixar dos seus erguidos seios, desvaneceu o seu sorriso e advertiu que estava ainda em maior perigo que quando os quatro assassinos o perseguiam, disparando contra ele. Então podia defender-se e fugir, mas agora...
Tão absorto estava nas suas sensações, lutando mesmo contra o clamor do seu sangue, que a voz dela, apesar de não ser mais do que um suspiro junto ao seu ouvido, produziu-lhe um sobressalto.
— Como pôde entrar aqui? — perguntou-lhe ela.
Martin necessitou de fazer um esforço para compreendê-la e coordenar os seus pensamentos.
— Sei perfeitamente quem é. Não percamos tempo—disse a jovem.
— Assim o crê? — perguntou Martin, apagadamente, sobrepondo-se aos seus instintos.
— Não, não se afaste.
O jovem, não muito seguro de si mesmo, pois aquela rapariga tinha-lhe produzido uma profunda impressão desde o momento em que a viu, intentava afastar-se um pouco, mas ela conteve-o, puxando-o mais contra o seu peito e encostando suavemente a face contra a dele.
— Confio em que a sua presença aqui não haja sido advertida, mas não estou muito segura, e. poderiam as. piar-nos.
Martin ouvia o seu coração bater no peito de tal modo, que duvidava muito não atraísse quantos se encontrassem na casa, para averiguarem a razão daquele maluco martelar.
— Não sabe bem o perigo que estou correndo — suspirou, sentindo-se completamente perdido. — Honradamente, creio que devia ir-me embora sem perda de tempo.
— Não me explicou como teve o atrevimento de se meter aqui — continuou Gail, trocando completamente o sentido das palavras do jovem. — Meu pai estava seguro de que você intentaria vê-lo, pelo que me advertiu da sua personalidade por se... para que não...
— Não me faria um escândalo — sorriu Martin.
Sentiu perfeitamente o pestanejar dela, pois estavam tão juntos que as pestanas da jovem lhe roçaram pela face.
— Esqueçamos isso — murmurou Gail.
— Asseguro-lhe que não foi intencional. Um golpe de vento arrebatou-me o chapéu e...
— Não tem importância e já o esqueci. E em seguida acrescentou: — Afinal, ainda não me disse como entrou aqui. Isso é para mim muito mais importante. O jovem esboçou um sorriso e respondeu:
— Saltando o muro. Perseguiam-me e, calculando que ninguém me conhece em Dodge, pensei que poderia confundir-me entre os convidados.
A jovem olhou-o, surpreendida.
— Que loucura! Não compreende que neste momento já toda a gente sabe a sua descrição? E que é aqui precisamente onde esperam que venha?
Agora foi a vez dele se mostrar surpreendido.
— Porquê?
De novo sentiu na sua face a carícia das pestanas da jovem. Sobressaltou-se.
— Por favor! — murmurou Gail, com impaciência. —Tem que se ir embora imediatamente. Cada minuto que passa aqui é um constante perigo para a sua vida. Portanto, peço-lhe que parta!
Martin não estava disposto a abandonar a companhia de Gail.
— Que importa? Já não tenho salvação — murmurou.
A jovem tentou animá-lo.
— Não desespere. Ainda que não possa voltar ao hotel, pois seguramente o terão vigiado, eu já lhe arranjei um bom refúgio para si.
Martin acariciou levemente a face dela e aspirou o seu perfume. Naquele instante, um débil raio de prata acabava de atravessar os arbustos, pousando sobre a doirada cabeleira da jovem, pois a Lua começava a assomar, então, por cima do telhado da casa. O jovem notou como a rapariga se punha rígida e, perdendo completamente a cabeça pela sua formosura, pela sua proximidade, pelo influxo da Lua que a acariciava com a sua luz de prata, ia a beijá-la, quando percebeu perfeitamente o som de uns passos que se aproximavam na direção do banco onde se encontravam.
Gail também os deve ter ouvido, pois imobilizou-se quando já tinha apoiado as mãos no peito para rechaçá-lo na sua investida.
Os passos soavam cada vez mais fortes.
A Martin pouco lhe importava que alguém se aproximasse. Alegrou-se, realmente, já que por isso se lhe deparava uma magnífica oportunidade para se aproveitar da situação.
Sem qualquer receio, e sentindo os passos já muito perto do banco, fê-lo em seguida.
Necessitava urgentemente um refúgio, um lugar onde pudesse deixar passar algumas horas que desconcertassem e até fizessem desistir os assassinos. Não tinha a menor ideia de onde poderia esconder-se.
Resolutamente, iniciou a subida do muro, e depois de um par de infrutuosas tentativas pôde assomar por cima do muro.
Este dava para um formoso e bem cuidado jardim, profusamente adornado, em torno da casa, ainda que não se visse dali.
Do seu alto observatório podia ver uma grande animação. Dançava-se no amplo terraço e também no jardim, e à simples vista resultava fácil calcular que se reuniam ali mais de meia centena de pessoas.
A casa era ampla, branca, de dois andares e vermelho telhado, adornada com esbeltas colunas. Se uma casa podia definir a personalidade e procedência dos seus donos, aquela fazia-o sem a menor dúvida. Aristocratas procedentes da Louisiana. Ou pelo menos, tal era a ideia que Martin tinha sobre as casas dos grandes plantadores do Mississípi.
Rapidamente passou para o outro lado, deixando-se cair agilmente no chão e, ainda agachado, olhou em seu redor.
Tinha produzido algum barulho ao roçar pelos ramos de uma árvore trepadeira que ocultava a fealdade do muro por aquele lado, mas dificilmente podiam tê-lo ouvido, mesmo que se encontrasse muito próximo, pois a música e as vozes teriam afogado qualquer som mais forte.
Em seguida, ficou tenso ao descobrir, meio oculto entre alguns arbustos, um banco muito próximo, onde se sentavam duas pessoas.
O seu sobressalto durou soente uns instantes, até reparar de que se tratava de um par muito enamorado, que não tinha ouvido nada, tão absortos estavam nas suas conversas amorosas.
Martin esperou um momento e, na altura em que se beijaram, saiu de entre as plantas, afastando-se por um estreito caminho, com um sorriso malicioso nos lábios.
Não tomou muitas precauções. Limpou as mãos e, sacudindo a roupa, fez um cigarro e escondeu o chapéu entre uns arbustos. Depois encaminhou-se decididamente para a casa.
Dada a quantidade de gente que dançava e se movia em torno do terraço, chamaria muito menos a atenção confundindo-se entre elas do que passeando solitário pelos sítios escuros.
A sua ideia, ainda que audaz, era boa, indubitavelmente. Mas houve algo com o que não tinha contado e no que nem sequer pensou.
Corretamente vestido e de boa presença, nada o diferenciava dos homens que dançavam ou conversavam por ali, uma vez próximo do terraço, pois também se viam alguns com revólveres pendentes do cinto. Ninguém lhe prestou atenção.
Mais calmo, quando olhava em seu redor, levemente sorridente, pensando na possibilidade de divertir-se dançando com alguma rapariga bonita, os seus olhos encontraram a jovem da estação.
Viu-a no momento em que, rindo, com a cabeça voltada, se separava de um grupo de homens já maduros, com os quais parecia ter estado brincando. A sua atenção foi ainda mais despertada pelo recorte gracioso e esbelto da sua figura, envolta numa nuvem de tule branco, e pelo doirado da sua cabeleira, que lhe caía sobre os ombros em enormes ondas, artisticamente penteadas.
Estava ainda um pouco indeciso, quando ela se voltou, quase tropeçando nele.
Gail levantou a cabeça, ainda sorridente, e daí a pouco abriu imensamente os olhos, levando a mão direita à garganta, tão sedutora como toda ela.
— Oh!
Os seus lábios, cheios, encarnados, formaram um pequeno e delicioso círculo. Estava muito bonita.
Martin ocultou como pôde o seu sobressalto e, ampliando o sorriso que se tornara um pouco rígido, inclinou-se galantemente.
— Levei séculos procurando-a para lhe apresentar as minhas desculpas pelo incidente desta tarde — disse, recorrendo a toda a desfaçatez de que dispunha.
Ela nem sequer pareceu ouvi-lo.
— Você! — exclamou, muito aflita.
— Foi um desafortunado incidente em que ninguém teve culpa, asseguro-lho — continuou o jovem, com um desembaraço mais fingido do que outra coisa. — Mas não me sentirei tranquilo, enquanto não ouvir dos seus próprios lábios que já o esqueceu.
Ela agarrou-o pelo braço.
— Venha — ouviu-a dizer.
Aquilo era, certamente, a última coisa que Martin esperava ter ouvido. No entanto, deixou-se levar sem opor a mais leve resistência, entrando novamente nos lugares mais escuros do jardim.
Ela parecia conhecer muito bem todos os recantos, e o jovem temeu que o levasse diretamente para o mesmo lugar por onde havia saltado.
Mas, pelos vistos, não era isso que ela desejava, pois ouviu como a jovem deixava escapar uma clara exclamação de contrariedade quando, entre os arbustos, pôde descobrir o banco onde o par de namorados continuava beijando-se, muito apertado.
Martin reparou que a jovem vacilava um instante, mas quase em seguida voltou a puxar por ele e, sempre agarrando-lhe pelo braço, levou-o até outro recanto afastado, onde se encontrava um banco, desta vez vazio.
Gail conduziu-o até lá quase correndo, como se temesse que fosse alguém ocupá-lo. Sentando-se, puxou por ele para o fazer ocupar um lugar a seu lado.
— Viu aquele par? — perguntou-lhe num sussurro.
O jovem não pôde evitar um sorriso divertido.
—Perfeitamente — assentiu, igualmente calmo, tanto para manter o misterioso tom da jovem, como para ocultar o riso que lhe bailava.
— Pois comporte-se como se... se fôssemos também apaixonados — continuou ela, sussurrando. —É a impressão que devemos dar, no caso de alguém nos ver.
Martin olhou-a entre irónico e assombrado, mas a escuridão ali era quase completa, e o rosto dela, apesar de o ter muito próximo, era somente uma pálida mancha.
— Se assim o quer... — murmurou, sufocadamente.
— Só para dar a impressão — apressou-se ela a advertir quando Martin estendia já o braço para enlaçar os seus ombros nus.
— Mas suponho que será necessário fazê-lo ao vivo —disse ele, rodeando os maravilhosos ombros da rapariga.
— Aproxime a sua cara da minha. Com isso bastará. Está demasiado escuro para que alguém consiga reconhecê-lo e, desse modo, poderemos falar ao ouvido.
Martin prestou-se com muito gosto. Tendo-a praticamente abraçada, roçando a sua face com a dela e sentindo a sua perturbadora proximidade, aspirando o seu ténue, ainda que embriagador, perfume, ouvindo o leve e algo agitado sussurro da sua respiração, notando incluso a agitação do seu busto e o levantar e baixar dos seus erguidos seios, desvaneceu o seu sorriso e advertiu que estava ainda em maior perigo que quando os quatro assassinos o perseguiam, disparando contra ele. Então podia defender-se e fugir, mas agora...
Tão absorto estava nas suas sensações, lutando mesmo contra o clamor do seu sangue, que a voz dela, apesar de não ser mais do que um suspiro junto ao seu ouvido, produziu-lhe um sobressalto.
— Como pôde entrar aqui? — perguntou-lhe ela.
Martin necessitou de fazer um esforço para compreendê-la e coordenar os seus pensamentos.
— Sei perfeitamente quem é. Não percamos tempo—disse a jovem.
— Assim o crê? — perguntou Martin, apagadamente, sobrepondo-se aos seus instintos.
— Não, não se afaste.
O jovem, não muito seguro de si mesmo, pois aquela rapariga tinha-lhe produzido uma profunda impressão desde o momento em que a viu, intentava afastar-se um pouco, mas ela conteve-o, puxando-o mais contra o seu peito e encostando suavemente a face contra a dele.
— Confio em que a sua presença aqui não haja sido advertida, mas não estou muito segura, e. poderiam as. piar-nos.
Martin ouvia o seu coração bater no peito de tal modo, que duvidava muito não atraísse quantos se encontrassem na casa, para averiguarem a razão daquele maluco martelar.
— Não sabe bem o perigo que estou correndo — suspirou, sentindo-se completamente perdido. — Honradamente, creio que devia ir-me embora sem perda de tempo.
— Não me explicou como teve o atrevimento de se meter aqui — continuou Gail, trocando completamente o sentido das palavras do jovem. — Meu pai estava seguro de que você intentaria vê-lo, pelo que me advertiu da sua personalidade por se... para que não...
— Não me faria um escândalo — sorriu Martin.
Sentiu perfeitamente o pestanejar dela, pois estavam tão juntos que as pestanas da jovem lhe roçaram pela face.
— Esqueçamos isso — murmurou Gail.
— Asseguro-lhe que não foi intencional. Um golpe de vento arrebatou-me o chapéu e...
— Não tem importância e já o esqueci. E em seguida acrescentou: — Afinal, ainda não me disse como entrou aqui. Isso é para mim muito mais importante. O jovem esboçou um sorriso e respondeu:
— Saltando o muro. Perseguiam-me e, calculando que ninguém me conhece em Dodge, pensei que poderia confundir-me entre os convidados.
A jovem olhou-o, surpreendida.
— Que loucura! Não compreende que neste momento já toda a gente sabe a sua descrição? E que é aqui precisamente onde esperam que venha?
Agora foi a vez dele se mostrar surpreendido.
— Porquê?
De novo sentiu na sua face a carícia das pestanas da jovem. Sobressaltou-se.
— Por favor! — murmurou Gail, com impaciência. —Tem que se ir embora imediatamente. Cada minuto que passa aqui é um constante perigo para a sua vida. Portanto, peço-lhe que parta!
Martin não estava disposto a abandonar a companhia de Gail.
— Que importa? Já não tenho salvação — murmurou.
A jovem tentou animá-lo.
— Não desespere. Ainda que não possa voltar ao hotel, pois seguramente o terão vigiado, eu já lhe arranjei um bom refúgio para si.
Martin acariciou levemente a face dela e aspirou o seu perfume. Naquele instante, um débil raio de prata acabava de atravessar os arbustos, pousando sobre a doirada cabeleira da jovem, pois a Lua começava a assomar, então, por cima do telhado da casa. O jovem notou como a rapariga se punha rígida e, perdendo completamente a cabeça pela sua formosura, pela sua proximidade, pelo influxo da Lua que a acariciava com a sua luz de prata, ia a beijá-la, quando percebeu perfeitamente o som de uns passos que se aproximavam na direção do banco onde se encontravam.
Gail também os deve ter ouvido, pois imobilizou-se quando já tinha apoiado as mãos no peito para rechaçá-lo na sua investida.
Os passos soavam cada vez mais fortes.
A Martin pouco lhe importava que alguém se aproximasse. Alegrou-se, realmente, já que por isso se lhe deparava uma magnífica oportunidade para se aproveitar da situação.
Sem qualquer receio, e sentindo os passos já muito perto do banco, fê-lo em seguida.
Sem comentários:
Enviar um comentário