Talvez por ser de dia, ou devido a que já fosse conhecido de que não era um polícia, o caso foi que não pôde descobrir nada suspeito, nem que alguém o seguisse.
Ao chegar diante da cancela da casita, o jovem vacilou, indeciso. Pela manhã não era nunca boa a hora para visitas, e realmente não tinha nada que justificasse ir molestar a boa mulher. Instintivamente, levou a mão até ao bolso da jaqueta, onde guardava a nota de Gail, e o leve toque do papel acabou com as suas vacilações.
Resolutamente, abriu a cancela, atravessou o jardim e bateu à porta. Esta foi aberta com tal rapidez que pareceu estarem esperando a sua visita.
—Como se atreve a pôr aqui os pés, jovem desavergonhado?
A frase foi dita com voz gritante, mas nos olhos vivos da anciã havia um riso malicioso, de modo que Martin não se aborreceu e, tirando o chapéu, sorriu também.
— Devo lembrar-lhe que me convidou — disse.
— Mas isso foi antes de saber o malandro que você é.
Martin riu calmamente e respondeu:
— Tem um grande reportório de palavras feias.
— Não se' faça inocente, jovem, que sou demasiado velha para que me possa enganar. Você veio seguindo a minha sobrinha, mas não lhe vai servir de nada fazer-se de novas.
O jovem olhou-a, assombrado.
— Quer dizer que... está aqui?
Tia Sarah piscou-lhe um olho.
—Claro que está! E não finja que não o sabia.
Martin compreendeu perfeitamente que a anciã se estava divertindo à sua custa, mas naquele momento encontrava-se demasiado confuso para saber como raciocinar. Vá-se embora daqui, jovem libertino. Ela estava quase a sair, mas já não o fará até estar bem segura de que você se afastou. Não quer voltar a vê-lo nunca mais.
Depois de dizer aquilo, deu-lhe praticamente com a porta na cara. O jovem ficou olhando a porta de madeira até que o sentido das palavras de tia Sarah se foi infiltrando entre as nuvens do seu aturdimento.
E, de repente, a sua confusão desvaneceu-se por completo, assaltando-o tal alegria, que esteve a ponto de dar uma cambalhota. Gail estava ali, e ia sair de um momento para o outro! Poderia vê-la e falar-lhe! Voltando-se sobre si mesmo, afastou-se a grandes passadas.
Quanto mais depressa o perdessem de vista, mais rapidamente Gail sairia, pois devia estar escondida atrás de qualquer cortina. Este pensamento esteve quase a fazê-lo voltar a cabeça para ver se a descobria, mas pôde conter-se a tempo. Não devia alarmá-la, pois se ela suspeitava das suas intenções, poderia fazer bastante comprida a espera. Era ainda cedo, mas o seu encontro com Henry Spincer não lhe deixava muito tempo.
Resolutamente, meteu-se pela rua que desembocava diante da pequena vila de tia Sarah, e seguiu-a até estar bem seguro de que não podiam vê-lo desde o sítio onde iria esperá-la.
Só então voltou a cabeça e, ao comprovar que não podia ver mais que o muro do jardim, apressou-se a encostar-se à parede e retrocedeu sobre os seus passos. Continuou até ver a borda do marco da primeira janela e deteve-se sem se atrever a continuar, por temer que o pudessem descobrir.
Sem dúvida, não bastava estar ali, pois não via a porta nem a cancela, de modo que se Gail tivesse a menor suspeita de que a estava aguardando, poderia enganá-lo facilmente, indo por outro sítio. Voltou a seguir pela rua com passo cada vez mais apressado, até acabar por correr.
Por aquelas ruas apertadas não se via ninguém, mas de qualquer modo, Martin não lhe importava em absoluto que o vissem correr, e fê-lo com toda a ligeireza de que era capaz, metendo-se pela primeira transversal, saindo novamente para o descampado.
Assomou com cuidado atrás da esquina de um curral e pôde ver a casita e também as duas mulheres, que se despediam carinhosamente diante da cancela. Naquele momento teve que ocultar-se, porque Gail, com a cabeça voltada para o final da rua que acabava de abandonar, vinha diretamente na sua direção.
—És um sol, tia Sarah! —disse para si, pois já não tinha dúvida alguma de que todos os impropérios e desplantes da velha dama, não tiveram outro objetivo do que indicar-lhe a presença da sua sobrinha e de que ela se dispunha a ir-se embora.
Um momento depois ouvia o rápido bater dos passos da rapariga, que soavam apagadamente ao pisar a dura e seca terra nua.
Ao chegar diante da cancela da casita, o jovem vacilou, indeciso. Pela manhã não era nunca boa a hora para visitas, e realmente não tinha nada que justificasse ir molestar a boa mulher. Instintivamente, levou a mão até ao bolso da jaqueta, onde guardava a nota de Gail, e o leve toque do papel acabou com as suas vacilações.
Resolutamente, abriu a cancela, atravessou o jardim e bateu à porta. Esta foi aberta com tal rapidez que pareceu estarem esperando a sua visita.
—Como se atreve a pôr aqui os pés, jovem desavergonhado?
A frase foi dita com voz gritante, mas nos olhos vivos da anciã havia um riso malicioso, de modo que Martin não se aborreceu e, tirando o chapéu, sorriu também.
— Devo lembrar-lhe que me convidou — disse.
— Mas isso foi antes de saber o malandro que você é.
Martin riu calmamente e respondeu:
— Tem um grande reportório de palavras feias.
— Não se' faça inocente, jovem, que sou demasiado velha para que me possa enganar. Você veio seguindo a minha sobrinha, mas não lhe vai servir de nada fazer-se de novas.
O jovem olhou-a, assombrado.
— Quer dizer que... está aqui?
Tia Sarah piscou-lhe um olho.
—Claro que está! E não finja que não o sabia.
Martin compreendeu perfeitamente que a anciã se estava divertindo à sua custa, mas naquele momento encontrava-se demasiado confuso para saber como raciocinar. Vá-se embora daqui, jovem libertino. Ela estava quase a sair, mas já não o fará até estar bem segura de que você se afastou. Não quer voltar a vê-lo nunca mais.
Depois de dizer aquilo, deu-lhe praticamente com a porta na cara. O jovem ficou olhando a porta de madeira até que o sentido das palavras de tia Sarah se foi infiltrando entre as nuvens do seu aturdimento.
E, de repente, a sua confusão desvaneceu-se por completo, assaltando-o tal alegria, que esteve a ponto de dar uma cambalhota. Gail estava ali, e ia sair de um momento para o outro! Poderia vê-la e falar-lhe! Voltando-se sobre si mesmo, afastou-se a grandes passadas.
Quanto mais depressa o perdessem de vista, mais rapidamente Gail sairia, pois devia estar escondida atrás de qualquer cortina. Este pensamento esteve quase a fazê-lo voltar a cabeça para ver se a descobria, mas pôde conter-se a tempo. Não devia alarmá-la, pois se ela suspeitava das suas intenções, poderia fazer bastante comprida a espera. Era ainda cedo, mas o seu encontro com Henry Spincer não lhe deixava muito tempo.
Resolutamente, meteu-se pela rua que desembocava diante da pequena vila de tia Sarah, e seguiu-a até estar bem seguro de que não podiam vê-lo desde o sítio onde iria esperá-la.
Só então voltou a cabeça e, ao comprovar que não podia ver mais que o muro do jardim, apressou-se a encostar-se à parede e retrocedeu sobre os seus passos. Continuou até ver a borda do marco da primeira janela e deteve-se sem se atrever a continuar, por temer que o pudessem descobrir.
Sem dúvida, não bastava estar ali, pois não via a porta nem a cancela, de modo que se Gail tivesse a menor suspeita de que a estava aguardando, poderia enganá-lo facilmente, indo por outro sítio. Voltou a seguir pela rua com passo cada vez mais apressado, até acabar por correr.
Por aquelas ruas apertadas não se via ninguém, mas de qualquer modo, Martin não lhe importava em absoluto que o vissem correr, e fê-lo com toda a ligeireza de que era capaz, metendo-se pela primeira transversal, saindo novamente para o descampado.
Assomou com cuidado atrás da esquina de um curral e pôde ver a casita e também as duas mulheres, que se despediam carinhosamente diante da cancela. Naquele momento teve que ocultar-se, porque Gail, com a cabeça voltada para o final da rua que acabava de abandonar, vinha diretamente na sua direção.
—És um sol, tia Sarah! —disse para si, pois já não tinha dúvida alguma de que todos os impropérios e desplantes da velha dama, não tiveram outro objetivo do que indicar-lhe a presença da sua sobrinha e de que ela se dispunha a ir-se embora.
Um momento depois ouvia o rápido bater dos passos da rapariga, que soavam apagadamente ao pisar a dura e seca terra nua.
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