— Receio que me vigiem, e não quero levar esses homens a sua casa. Vá, tenha cuidado. Eu irei quando anoitecer.
— E uma imprudência, podem atacá-lo novamente...
— Vou estar sempre rodeado de gente, num lugar público; além disso, sei defender-me. Vá para casa e prepare a Lena. Calculo que, para a pequena, seja uma grande emoção ter notícias do pai.
Benjamin repetiu as instruções para encontrar a casa. Jim foi para o maior «saloon» de Green River, onde atou o cavalo a uma figura de índio que servia de barra, e entrou no estabelecimento com a sua maleta negra. Colocou-se num ponto onde tinha as costas protegidas e de onde via a porta e as janelas. Pediu uma refeição, dispondo-se a esperar.
— Quando anoitecer, poderei desaparecer entre as ruelas.
Benjamin Andella chegou a casa muito excitado. A mulher lavava a roupa das suas clientes na cozinha. Surpreendeu-se ao vê-lo em casa àquela hora.
— Benjamin! Aconteceu alguma coisa?
— Sim, despediram-me.
A mulher deixou a roupa que lavava, exclamando:
— Por Deus, Benjamin! Isso é uma tragédia, e tu di-lo a sorrir!
— Não é uma tragédia. Deixa isso, seca as mãos! Não levarás mais roupa para essas bruxas!
Margaret estava assustada.
— Estás doente, Benjamin? Que te aconteceu?
—Prepara-te para uma grande surpresa. Veio um homem, do Texas, à nossa procura. Um homem enviado pelo... Matt Coleman.
— Meus Deus! Esse homem... Agora será preciso dizer-lhe que a Lena morreu há muitos anos! Que tem isso de maravilhoso?
— O Matt Coleman é um homem riquíssimo. E enviou R. para a Lena milhares de dólares, creio que muitos. O homem que os traz virá esta noite dá-los à Lena.
— Mas, Benjamin... A Lena morreu, não compreendo...
Benjamin segurou-a pelos ombros.
—Tu o disseste muitas vezes: a Lena foi a culpada da morte da nossa Virgínia, trouxe-nos a desgraça, temos o direito de cobrar agora tudo o que o Coleman nos ficou a dever! Não compreendes? Quando o Matt' nos trouxe a Lena, tínhamos duas filhas. Ele não sabe que depois nasceram outras duas. Agora também há três raparigas nesta casa. Porque não pode uma delas ser a Lena? Nem o próprio Coleman seria capaz de a reconhecer. Está decidido. Não diremos a esse mensageiro que a Lena. morreu. A Maria será a Lena! Chama-a, é preciso prepará-la! Margaret encolheu-se, assustada.
— Oh, não, não é honrado, seria um engano, um cruel engano. Nem sequer um homem como o Coleman merece ser enganado assim!
— Margaret, olha para o que nos rodeia, vivemos na mais completa miséria, temos três filhas, é justo que tentemos melhorar a sua situação, eu já não sou novo. Por Deus, não desperdicemos esta ocasião! O Coleman é tão rico que não se importará de perder esse dinheiro.
— Quererá que a filha vá para junto dele. Pensas que não o notaria quando a visse? Eu não quero perder a Maria!
Benjamin hesitou.
— Esse jovem não falou em levá-la. Só traz muito dinheiro para ela. Se depois quiser que ela vá para junto do Matt, logo se verá. O Matt ficou a dever-nos muito dinheiro, Margaret tu o disseste muitas vezes, agora vamos recebê-lo. Chama a Maria!
Margaret ainda se defendia.
— Todos os vizinhos sabem que nesta casa não vive nenhuma Lena, que a nossa filha mais velha se chama Maria. Seremos descobertos, Benjamin!
O ferreiro encolheu os ombros.
— Não me importo. Olha, quando nos derem o dinheiro, partiremos daqui. Esse homem não falará com ninguém, e também não contará o que veio cá fazer. Dar-nos-á o dinheiro, dá-lo-á à Lena Coleman, e partirá. Isso é tudo. Chama a Maria!
*
Dos dois homens do Llano Estacado que tinham seguido o doutor Grosvenor, só um vivia. O facto de ter sobrevivido ao seu companheiro, morto em frente do curral da «Denver-Great Lake, Diligências» não lhe tinha melhorado o carácter.
Sentado frente a uma mesa, num escuro canto de uma taberna, bebia cerveja com aguardente, que despejava as canecas de uma garrafa, generosamente. Estava sozinha, e de vez em quando pegava no revólver, fazia girar o tambor e voltava a guardá-lo. Era evidente que estava nervoso. Quando três homens entraram na taberna, pôs-se de pé.
— Estou aqui! — chamou.
Aproximaram-se dele, sorrindo.
— Está feito, chefe,
— Seguiram o homem?
— Sim, e sabemos onde se encontra agora.
O homem do Llano Estacado pôs algumas moedas sobre a mesa, dizendo:
— Então, vamos, Saíram para a rua.
O homem do Llano, a quem os outros chamavam Harold, nome que evidentemente não era o seu e pelo qual, por vezes, nem respondia, ordenou:
—Não façam ruído. Será um assunto simples. Vocês vão à frente e indiquem o caminho.
Quando Harold se encontrou em frente da porta, disse aos seus homens:
— Dois de vocês ficam aqui, escondidos aí e aí. O outro vem comigo.
Bateu à porta com força. Benjamin Andella abriu, Iniciando um sorriso, julgando que se tratava de Jim Grosvenor. O cano de um revólver apoiou-se na sua cara e uma voz dura e seca ordenou:
— Acalme-se, ferreiro, isto não é consigo. Tenha calma. Entra, rapaz.
O pistoleiro de Harold já estava no interior, com um revólver em cada mão, apontando às mulheres que se encontravam na casa. Margaret lançou um grito. Harold rosnou:
— Diga às mulheres que fiquem caladas, ferreiro, ou teremos de o matar. Aviso-o de que tenho mais homens lá fora.
Benjamin tinham retrocedido, empurrado pelo revólver. Harold fechou a porta, sorrindo:
— Qual destas três belas raparigas é a filha do Matt Coleman?
Margaret respondeu rapidamente:
— Nenhuma! Estão enganados: são minhas filhas. Saiam desta casa, aqui não há nada para vocês,
— Claro que não. Ainda. Mas vai haver dentro em breve. O dinheiro do senhor Coleman. Vamos todos esperar por ele. Sim, deve ser essa a filha do velho patife — disse Harold, olhando para Maria. — A idade corresponde, pouco mais ou menos... E parece-se bastante. Sou um homem educado, permita-me que lhe expresse os meus sentimentos pela morte do seu pai, menina. Era um grande homem.
Benjamin exclamou:
— O Coleman morreu?
— Não sabiam? Sentem-se, ponham-se à vontade, pode ser que tenhamos de esperar algumas horas, E não façam barulho. Sentem-se todos! Sim, o senhor Coleman morreu, pouco depois de enviar o dinheiro para a sua querida, filha.
— Não é possível. O doutor...
Harold riu.
— O doutor ainda não o sabe, quando ele saiu do Llano Estacado o velho lobo ainda vivia. Mas morreu, garanto-lho. Como não havia de o saber? Eu mesmo o matei!
O pistoleiro riu. Um dos seus homens disse:
—És uma coisa séria, Harold! Tu mesmo o mataste! De quem estás a falar? Que velho era esse?
— Não te interessa quem fosse, faz o teu trabalho e cala-te, imbecil. Trata de que esta gente não faça o mínimo ruído. Lamento por si, menina, mas não chore o seu pai, não vale a pena. E quanto ao dinheiro que ele lhe mandou... eu dar-lhe-ei um melhor destino do que a menina. Uma rapariga bonita não precisa de dinheiro para se defender na vida. Eu sim. Preciso dele, e por isso vamos esperar pelo doutor Grosvenor. Quando chegar com o dinheiro, eu estarei aqui para o receber.
Benjamin Andella rugiu:
— O dinheiro é dela, da minha filha, canalha!
Harold pôs-lhe novamente o revólver em frente da cara.
— Sente-se! O dinheiro será de quem saiba apanhá-lo! Como julga você que o reuniu o «Senhor do Llano Estacado»? Trabalhando? Tirando-o da terra? Também ele o apanhou. Sua filha? Sim, considera que ela é sua filha. Se herdou algumas das virtudes do seu bom pai, do Matt Coleman, fica a ganhar por ela não ser realmente sua filha.
Benjamin, Margaret e as três jovens, sentados em bancos, esperavam. Harold tinha-se colocado perto de uma janela, sentado no braço do cadeirão, e observava a rua. Uma hora depois pediu água e comida.
— Não, o meu amigo acompanhá-la-á à cozinha, senhora!
Maria Andella, que por fim aceitara, depois de negar-se algum tempo, representar o papel de Lena Coleman, perguntou ao bandido:
— Que farão com... esse cavalheiro que veio do Texas para nos ver?
— Com o doutor? Não faça perguntas impertinentes, menina.
— Vão assassiná-lo! Vão matá-lo logo que entre, ladrões, assassinos!
Benjamin murmurou:
—Cala-te, por favor. Cala-te, Maria!
—Maria? Não se chama Lena?
Ninguém respondeu à pergunta de Harold. O bandido encolheu os ombros.
— Chame-a como quiser, ferreiro. É o mesmo. Sim, mataremos o médico, que não devia ter aceitado um trabalho assim. Matá-lo-emos por ser intrometido e porque os mortos não incomodam!
Maria levantou a cabeça, empalidecendo.
— Matar-nos-ão a todos, porque seremos testemunhas do seu assassínio; matar-nos-ão a todos para não deixar testemunhas!
— Cala-te, filha, por favor! — suplicou a senhora Andella. — Não desafies estes homens!
Harold tinha-se posto de pé, aproximando-se de Maria Andella. Apontou-lhe o revólver.
— Obedeça à senhora! Não nos desafie, menina! E não falem, não quero que ninguém fale! Se alguns de vocês avisar o doutor quando ele chegar a esta casa, rebento--lhe a cabeça!
— O doutor não virá cá. Estão enganados...
— Não lhe entregou o dinheiro. E um homem que chegou até aqui procurando-os, não foge com o dinheiro, tendo podido fazê-lo antes. Virá...
— Depositá-lo-á no Banco, foi o que combinámos! Não vem cá, está a perder o seu tempo. Depositou-o e o Banco de Green Ríver é muito seguro. Vão-se embora antes que o doutor avise o xerife.
Harold pestanejou, surpreendido e alarmado. Porque aquilo podia ser verdade. Abrindo a janela, chamou:
— Boby, vai agora mesmo perguntar ao rapaz que vigia o médico. Quero saber se ele for ao Banco.
Boby regressou depressa, dizendo:
— Não saiu do «saloon». Continua na mesma mesa.
Harold fechou a janela, lançando um olhar trocista ao ferreiro.
— Virá, e com o dinheiro. Esperaremos.
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