Era já noite quando três vaqueiros irromperam no escritório do xerife. Peter e Chester encontravam-se com ele.
— Xerife! Há pouco fomos assaltados por uns bandidos para se apoderarem das reses que trazíamos para esta cidade. Temos dois feridos e precisamos do doutor. Vimos pedir-lhe para nos acompanhar a casa dele!
— Os assaltantes eram muitos? — perguntou Chester.
— Não, senhor. Uns oito ou nove... Nós vínhamos descuidados. O que vale é que não puderam levar as reses. O que nos preocupa são os feridos!
— Não temos médico. Há dias que esperamos um.
—Porque não trouxeram os feridos com vocês?
— Tivemos medo; talvez seja um perigo movê-los — respondeu um.
— Tenho algumas coisas para certos casos de emergência — disse Chester. — Eu irei vê-los.
— Vêm de longe?
— Vimos, sim.
— Donde? — perguntou Pete. — De Moape.
— Trabalham ali?
— Sim... com Frank Skimer — respondeu um.
— Arnold Weiss continua muito gordo? — perguntou Pete. — Cada vez mais gordo.
— E sua filha Rosa, a ruiva? Eu disse-lhe uma vez que nunca seria bonita.
— E não te enganaste! — disse outro.
— Mãos ao ar, cobardes! — intimou-os Pete — Com que então Arnold Weiss continua gordo e a filha Rosa, feia?!... Prepara três cordas, Chester. Vamos pendurá-los já, para que os seus companheiros, quando vierem procurá-los, os encontrem já sem vida.
— Mas isto é um atropelo...
O xerife ria.
— Fizeste-os cair, com facilidade. Vou já buscar as cordas... Chester desarmou-os. Os três homens estavam certos de que seriam enforcados. Começaram, então, a falar.
— É tudo mentira. Mandaram-nos aqui, para que fossem ver esses doentes. Mas não sabemos mais nada...
— É possível que te lembres depois do resto, quando a corda esticar...
— É uma tolice não falarem... Nada conseguirão com o silêncio...
— É melhor que confessemos a verdade. Mandaram-nos aqui, para os fazer cair numa armadilha.
— Quem? — perguntou o xerife — Milnor?
— Não, Linton.
— Linton? É possível? Não é esse com quem tu trabalhavas? — perguntou.
— É, sim. Custa-me a crer.
— Pois foi ele — disse outro — Eu trabalho no rancho, mas estou na parte da montanha. Por isso, não me conhecem.
— Que surpresa para mim! Mas esclarece-me muitas coisas. Como fui parvo! Por isso, me propuseram para xerife! Julgando-os descuidados, os três meliantes lançaram-se contra Chester e Pete, mas caíram logo varados.
— Agora, vamos buscar esse cobarde — disse Chester.
— Devem ter paciência e ser astutos com eles —disse o xerife. — Façamos de conta que não sabemos de nada...
— É melhor enterrá-los durante a noite, para não os encontrarem e julguem que fugiram com medo... de nós.
No dia seguinte, ninguém falava da desaparição dos três vaqueiros. Os cavalos ficaram na cavalariça de Selby. Hank Linton cumprimentou Selby afavelmente.
— Segundo sei, já se acabaram as complicações. Sabes que tens ali trabalho. Deixa-te de complicações. Já não tens idade para isso.
— Meu filho quer que eu vá para o Texas com meu irmão, para o rancho que lá tem. Tu vais e deixa essa placa. Foste sempre um homem tranquilo. Há dias que não vais visitar-nos.
— Irei amanhã ver os rapazes — prometeu o xerife, sorrindo.
Selby saiu tranquilamente. Havia conseguido enganá-lo com a maior naturalidade. Contou a Pete e a seu sobrinho o que se passara.
— Veio saber se sabias alguma coisa que comprometesse.
— E convenceu-se de que nada sei.
Entretanto, Hank Linton fora para o Saloon de Fairmont, reunindo-se com este e com o pai de Joan.
— Disseram-me que Bowler voltou ao «bar» de Fairmont — contou o xerife a seu sobrinho.
— Então, vou dar-lhe uma boa surpresa.
— Irei contigo.
— Não me convém que o xerife oiça o que eu quero dizer.
— Eu irei com ele — sugeriu Pete. — Pode estar tranquilo. Teremos os olhos muito abertos. «Já vimos que se encontra lá todo o Estado-Maior com os meliantes de Las Vegas. Mas quero perguntar-lhe uma coisa. O senhor conheceu Stickner?
O xerife olhou-o com estranheza.
— Conheci-o, sim. Um bom rapaz. Mas há muito tempo que não o vejo.
— O que aconteceu com o seu rancho?
— Creio que as autoridades de «Grande Canhão» tomaram posse dele, como indemnização pelo mal que ele tinha feito.
— Há quanto tempo não o vê?
— Há meses. E acho estranho. O seu temperamento não era permanecer silencioso depois do que se disse dele. Porque ninguém acreditou aqui nisso de assaltar diligências.
— Mas todos o afirmaram — disse Chester.
— Eu não acredito. Há meses, um vaqueiro que esteve com ele, disse-me que haviam encontrado ouro no Grande Canhão. «Ora, se é assim, ele não se dedicaria a assaltar diligências, para roubar, tendo ali uma riqueza.
— Está certo disso? — perguntou Pete.
— Pelo menos, esse vaqueiro assim disse. Não o vi mais, porque nessa noite, debaixo da embriaguez, envolveu-se numa desordem e mataram-no. Soube no dia seguinte. Tinha fugido do Grande Canhão.
— Não se lembra de quem lutou com ele?
— Não lhe perguntei.
— Gostaria de saber.
— Há bastante tempo que isso foi. Mas talvez Olímpia se lembre, pois foi no Saloon que a desordem se deu. Não falaram Mais no assunto.
Os dois jovens encaminharam-se para o Saloon. O primeiro a entrar foi Chester. Olívia acercou-se dele para lhe dizer:
— Pagas-me alguma coisa? — E em voz baixa, acrescentou: — Cuidado com a mesa de jogo! Estavam à tua espera.
— Porque não te hei-de pagar? — retorquiu em voz alta, a rir. — Suponho que não quererás beber champanhe a estas horas?
— Não. Conformo-me com um «whisky».
Os dois encaminharam-se para o balcão. Minutos depois, entrava Pete, que se aproximou deles.
— Podias ter-me dito que vinhas beber.
Chester disse-lhe em voz baixa o aviso de Olívia.
— Está tranquilo! Eu vigiarei a mesa! — retorquiu Pete, também em voz baixa.
Distraído como parecia estar, Fairmont não deu conta do que eles falavam.
— Olívia! Vem servir-nos!
— Deixa, ao menos, que ela beba o «whisky».
A rapariga afastou-se dos dois rapazes e Fairmont ficou tranquilo. Pete estava atento à mesa onde jogavam o «poker».
De súbito, dois dos jogadores começaram a discutir e puseram-se em pé. Pete e Chester sorriram. Conheciam o ardil.
Um dos que discutiam, disse que não tinha ido ali para lutar, mas o outro seguiu-o.
Quando estavam junto dos dois companheiros a luta azedou-se, procurando Fairmont intervir. Ambos tentaram puxar pelas suas armas. Mas Chester e Peter foram mais rápidos. Os dois desordeiros caíram redondamente no chão.
— Foi muito mal ensaiado! — disse Chester, apontando a sua arma para Fairmont — Um garoto de dois anos teria compreendido o truque. Porque vieram a discutir até aqui?
— Vamos enforcá-lo já!
As pernas de Fairmont tremiam.
— Mas eu não lhes fiz nada. Não deviam ter dado ouvidos a Olivia.
— Não falamos dela — disse Pete — Falamos de ti. Esses dois eram teus empregados. Ordenaste-lhes essa comédia. E agora, acabou tudo para ti.
— Não o mates, Pete — disse Chester —É melhor que se lembrem de que...
— Sinto muito, comissário. Eu disse que vou enforcá-lo e enforcá-lo-ei. Pois não vês que até se atreve a culpar esta rapariga de ter-nos avisado. Ora se nos avisou, indica que é verdade o que disseste. Se não nos avisou, é porque, sendo verdade, receou que o fizesse e, por isso, fê-la afastar daqui. Não pode ser mais claro!
— Não julguem que estou só nesta casa. Não será tão fácil fazer o que indicas.
— Ninguém se atreverá a intervir — disse Pete —Porque não ganham nada em defender quem fica com o benefício, em proveito próprio, enquanto eles se expõem a ser linchados por uns cêntimos.
Fairmont via nos rostos dos seus empregados um sorriso malicioso.
— Mas eu não lhes fiz nada! — exclamou Fairmont — Até estou a suar. E com a maior naturalidade, meteu a mão ao bolso, como se fosse procurar um lenço.
Mas quando sacou o «Colt», que tinha oculto, as armas de Pete vomitaram fogo. Os dois braços de Fairmont ficaram pendentes.
— És muito antiquado, Fairmont — disse Pete — Só conheces truques velhos.
O rosto de Fairmont estava pálido, como o dum morto. Voltando-se para os outros, berrou furioso:
— Vão deixar que me enforquem, cobardes?! Tenho-lhes pago bem e deixam que me matem? Dez mil dólares a 'quem os matar!
A quantia foi tentadora. Mas as armas de Pete e de Chester cortaram logo essas ambições. Ao ver os seis cadáveres na sua frente, Fairmont compreendeu que tinha perdido a partida. Já não lhe restava uma só esperança.
O xerife apareceu de arma em punho.
— Nada receie! — disse-lhe Pete — Foi uma limpeza.
O pai de Joan e Linton haviam desaparecido quando se iniciou a discussão dos jogadores. Tinham procurado distrair os dois rapazes, com a sua saída. Mas estes não fizeram caso. Não se atreveram a voltar, ao ouvirem os primeiros tiros. Mas Linton insistiu e foi espreitar. Ao ver os dois amigos ainda de pé, pôs-se a correr, seguido do outro.
— São dois demónios! — exclamou o pai de Joan, saltando para o cavalo e, partindo a galope.
Não se atrevendo a ficar na cidade, seguiram para o rancho. Fairmont não dizia nada. Contemplava os mortos. Alguns deles tinham sido famosos, longe dali.
— Já vês que não há salvação para ti. Vou enforcar-te. Mas há uma coisa que ainda pode salvar-te de seres pendurado, embora o deseje de toda a minha alma. Conheces Nora?
Pete lembrava-se de que Hal lhe falara de um tal Fairmont, que ela procurava, que era quem podia dar-lhe certos informes. Ao pensar nisso, pôs-se a rir.
— Como fui parvo — disse em voz alta — Tinha-os na minha frente e não dava por isso. Um morreu, mas o outro não. Enforca este cobarde, Chester. Tenho de ver outro personagem.
—Foi Ipsurich quem matou o irmão de Nora! — disse Fairmont—Foi ele quem... abusou da mais pequena. Mas agora já não há remédio!
E pôs-se a rir.
— Monstros! — exclamou Pete, fora de si. E enlouquecido pelo riso e pelas palavras de Fayr-mont, disparou várias vezes, saindo depois a correr.
Ao chegar a casa de Milnor bateu à porta. Mas ninguém lhe respondeu. Depressa se convenceu de que deviam ter ido para o rancho. Precisava de ir essa mesma noite e por caminhos onde não pudessem surpreendê-lo. Procurou então Joan, em casa da amiga.
A rapariga levantou-se assustada, supondo que iam dar-lhe conta de terem matado Chester, de quem estava enamorada. Pete tranquilizou-a, contando-lhe o que se passara no Saloon de Fairmont e o que acontecera, anos antes, com a família de Nora.
— E agora preciso de ir ao teu rancho, para que Ipsurich não consiga escapar-me.
Ela olhava-o com atenção.
— É justo o castigo desse monstro. Eu ajudar-te-ei. Irei contigo ao rancho para ver se ele ainda lá está. Direi a meu pai que resolvi voltar para casa.
— Não faças tal! — disse Pete — Embora me custe dizer-to, teu pai também será enforcado. É outro assassino como esse que procuro. O passado de teu pai é espantoso. Chester conhece-o bem. E se não o matou, foi por tua causa.
Joan tapou o rosto e chorou em silêncio.
— Estou convencida de que é o pior que se pode ser. Mas é meu pai!... Avisá-lo-ei, para que fuja. É possível que mude, por minha causa.
Pete não se atrevia a dizer-lhe que não acreditava no seu arrependimento. Os dois cavalgaram, em direção ao rancho, mas por caminhos desviados. Quando chegaram perto, Joan disse:
— Deves esperar-me escondido entre aquelas árvores. Tem muito cuidado! Não te fies em teu pai!
— Não temas. Não creio que se atreva a disparar sobre mim.
— Julgo-o capaz de tudo — confessou Pete.
Ao entrar em casa, ainda levava estas palavras nos ouvidos. E surpreendeu-se ao encontrar todos levantados, na sala de jantar.
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