Chester aproximou-se dos homens da equipa de Joan. Seu tio encaminhou-se para a mesa do júri. Os exercícios iam começar. Nesse momento, Pete apareceu ao pé de Chester.
— Também vieste ver o que fazem os vaqueiros desta terra? — disse Pete.
— Vim e estou certo de que nós lhes ganharíamos facilmente.
Joan, ao ouvir isto, olhou para eles.
— Não me atrevo a dizer tanto — retorquiu Pete — mas dar-lhe-íamos que fazer.
Ela dirigiu-lhes um olhar de desafio. O capataz disse-lhe:
— Vamos arrancar a primeira fita. Não podemos deixar de ganhá-la. A partir de agora, começarás a ser a Rainha...
— Alegrar-me-á muito que não se deixem derrotar por «ninguém» — respondeu, olhando sempre para os dois amigos. — Podes estar certa de que todas as fitas serão tuas... Estas palavras fizeram-na sorrir.
— Esta rapariga está agressiva e, no entanto, parece-me ser a melhor pessoa do grupo — disse Pete.
— Ouvi-a pedir ao seu capataz que não deixem de ganhar os exercícios — disse Chester. — Veremos o que eles fazem.
O capataz voltou-se de novo para Joan:
— Estás disposta a ostentar a primeira fita?
— Bem sabes quanto isso me agradará! — respondeu orgulhosa.
Muitos vaqueiros aplaudiram-na. Os elegantes rodearam-na.
— Vemos que estás disposta a saborear a vitória dos teus homens — disse um deles.
— Pelo que ouvimos dizer entre os assistentes, todos são concordes em que só eles podem ganhar — disse outro.
— Silêncio! -- exclamou ela — Vão começar.
Realizaram um exercício muito superior aos que já tinham efetuado e os assistentes, amantes dessas habilidades, aplaudiram-nos entusiasmados.
— Reparem! — observou um dos elegantes — Estes dois rapazes altos são os que mais aplaudem.
— Fazem-no para lisonjear Joan.
— Não estou de acordo — declarou ela — São entusiastas, como eu. Nem uma só vez olharam para mim e parece-me que não se preocupam em lisonjear-me.
Tracy apareceu orgulhoso, dizendo em voz alta:
— Já ganhámos o primeiro exercício. Agora, podes contar com a primeira fita... E todas serão para ti...
— Estou convencida disso...
Todos estavam certos desse triunfo.
Nesse momento, fez-se um silêncio. Todos procuraram saber a causa disso.
Chester estava ante a mesa do júri, a discutir. Ele queria intervir no torneio, mas as condições eram que os concorrentes tinham de fazer isso por parelhas.
Em vista disso, Chester fez um sinal a Pete, pondo-se ambos de acordo.
Joan olhava-os, intrigada.
— Esses dois tolos vão tomar parte no torneio —disse Tracy — Devem julgar que é simples...
Joan não respondeu. Estava concentrada no que se passava. Mas seu pai e os elegantes distraíram-na no momento preciso.
De súbito, ouviu-se uma estrondosa ovação. Não era preciso perguntar o que se passara. Tracy estava furioso. E praguejava.
— Com que, então, foram dois tolos! — disse Joan, trocista — A primeira fita... foi-se!...
Tracy não sabia que dizer. Só praguejava e amaldiçoava.
— Agora, já não tem remédio... — disse Joan — Foram todos derrotados... E já saboreavas a vitória...
O xerife, como um garoto, atirava o chapéu ao ar, de prazer. Pete deixou que Chester fosse entregar a fita. Este, saltando sobre o seu cavalo, ante o assombro de todos, aproximou-se de Joan para lhe dizer:
— Eu ouvi que tinha interesse em conseguir a primeira fita. Não importa que os seus vaqueiros, um pouco nervosos, não tivessem podido ganhá-la. Aí a tem!
E deixou-a cair nos joelhos da rapariga. Os vaqueiros, entusiasmados, soltavam gritos e vivas à Rainha.
— Não podes aceitar essa fita — gritava Tracy, furioso.
Mas os gritos dos vaqueiros eram para ela mais fortes do que o seu orgulho e do que todas as palavras de Tracy e dos que a rodeavam.
Sorridente, pôs-se de pé e colocou-a ao peito, o que indicava que a aceitara.
Seu pai acercou-se dela:
— Isso é uma loucura. Não devias ter aceitado...
— Tu bem sabes que me agrada bastante ser a Rainha da festa... Amanhã é preciso consegui-la com a equipa.
Os vaqueiros assim prometeram. Tracy acrescentou:
— Pode estar certo, patrão...
— Também me disseram isso há pouco — disse Milnor, com um ar de troça.
— O que não compreendo é sua filha... Foi ofendida por esse rapaz e agora recebe a fita das mãos dele... O que ela devia fazer era dar-lhe uma chicotada e dizer-lhe que a fosse oferecer a outra.
— Seja o que for, agrada-me ostentá-la, pois vejo que foi oferecida com sinceridade...
Os que a acompanhavam não insistiram, para que Joan não zombasse deles.
Uma vez entregue a fita, Chester e Pete foram juntar-se ao xerife.
— Agrada-me que tivessem ganho a essa equipa que se considerava invencível. Mas no que não posso estar de acordo é na entrega da fita a essa orgulhosa estúpida.
— Fomos nós que a ganhámos e Pete estava de acordo nisso. O resto não importa.
O xerife tranquilizou-se.
Joan, com seu pai e os seus amigos, ia contente, por se ver aclamada pelas ruas. Encaminharam-se para o «Saloon» de Fairmont. Ao vê-la entrar, com a fita cruzada ao peito, Oliva disse-lhe:
— Não é necessário perguntar que os teus homens ganharam mais uma vez...
— Pois estás enganada — retorquiu Joan. — Quem ganhou foi esse rapaz alto... do outro dia, juntamente com o seu amigo.
— Confesso que me surpreendes. Nunca julguei que aceitasses nada dele, depois do que se passou.
— Olívia! — gritou Fairmont — Atende os clientes.
— Esta rapariga também é cliente — replicou Olívia.
— Bem sabes que sou eu que a atende!
A rapariga afastou-se. Tracy, a quem não passara ainda o mau-humor, disse a Joan:
— Não devias ter contado nada à Olivia. Agora, toda a gente vai saber...
— Julgas que os outros estavam cegos? Tu é que devias ter ganho, com a tua equipa. E já nada disto acontecia...
Entretanto, os vaqueiros tinham rodeado a Rainha, como lhe chamavam, e fizeram-na dançar com eles. Um deles comentou: — É estranho que os triunfadores não estejam aqui...
A rapariga não comentou nada. E o curioso era que tão-pouco pensava nisso, porque realmente nada podia dizer no meio dos contraditórios pensamentos que acudiam em tropel à sua mente. Já não sabia se lhe agradava a oferta da fita ou se a tinha aceitado, impelida pelos aplausos daqueles que a tinham considerado antecipadamente a sua «rainha».
Reagiu ao ouvir um vaqueiro do rancho de seu pai. Preparavam aos triunfadores uma receção que não podiam esquecer. Não soube mais que dizer senão que tivessem cuidado, visto que esses dois rapazes se tinham convertido nuns ídolos para os vaqueiros. Na realidade, era uma oposição balbuciante contra esses propósitos. E dava-se nela de uma maneira espontânea.
— Pode estar tranquila, patroa. Há-de correr tudo bem e não darão conta de nada. Bowler encarregar-se-á de pôr em dúvida o triunfo deles, culpando o xerife de parcialidade. Isto há-de ser uma provocação para eles e quando quiserem mover as mãos... já não terão tempo...
— Não reparam então de que há muitas testemunhas do triunfo e que não admitirão que se ponha em dúvida a justiça da decisão do júri, que os deu por vencedores?
— Eu lhe digo que Bowler saberá fazê-lo. Ele é especialista nisso!
Joan não se sentia tão tranquila como deveria estar, se pensava que os seus homens, com Tracy à cabeça, o que queriam era castigar quem a tinha humilhado. Mas também não teve a coragem para se opor corajosamente a isso.
E as horas passaram, sem que nenhum dos vencedores aparecessem no «bar». Considerando isso, como uma ofensa, pôs-se de mau--humor. E quando regressaram a casa, já não ia tão faladora, como nos outros dias.
Na manhã seguinte, à hora dos exercícios, tinha de presidir aos mesmos, como Rainha que era, até que houvesse outro vencedor.
Fairmont acercou-se dela, com ar trocista:
— Não dirás que procuras o sobrinho do xerife!
— Pode estar certo de que isso não me preocupa —respondeu ela, sorrindo — Talvez fosse preferível não o ver...
— É possível que não venha. Há-de saber por seu tio que não pode ganhar.
— Não sabemos se pensava tomar parte. — Não creia que resista à tentação, demais a mais, gozando a fama de ser um bom lançador de navalha.
— É um fanfarrão, e não há-de deixar de comparecer, pelo menos para ver como fazem os outros... —disse Fairmont.
— Teria graça que se decidisse e que ganhasse — disse a rapariga. — Ou então, o seu amigo, que me parece tão perigoso como ele.
— Se acontecesse isso, o que não é possível, creio que seria capaz de matá-lo. Mas não pensemos nisso. Bowler encarregar-se-ia de vencê-lo e de matá-lo. Já ontem à noite os esperei, mas os dois cobardes não apareceram.
O pai de Joan e os seus elegantes convidados aproximaram-se deles.
— Mas ninguém o viu — disse Milnor, referindo-se a Chester. — E o outro também não. É muito possível que, assustados pelas consequências daquilo de ontem, tenham partido definitivamente.
— Esta tarde, sim, é que vais colocar a fita com gosto. Será ganha por nós e sem que tenhas que dever nada a esses dois cobardes. Não se atreveram a ir ao Saloon de Fairmont.
— E se os avisaram de que estão urdindo uma traição? — objetou ela — Eu bem dei conta disso... e não é muito o que sei...
— Não foi nenhum deles, porque têm medo — disse Tracy.
— Ah, sim? — replicou Joan — Pois aí vêm os dois.
— Olá! — disse-lhe — Lembras-te de que nos surpreendeste ontem, no Saloon de Fairmont? Serias capaz de fazer o mesmo?
— Há uma coisa que é preciso ter em conta. Em princípio, sou um comissário e estamos em festa. Isto quer dizer que não se pode pelejar. Mas podes estar tranquilo. Assim que acabem as festas, dir-te-ei tantas coisas que não haverá possibilidade de evitar a luta que não é possível agora. Tem paciência, como eu, porque estou ansioso por utilizar o «Colt» e estou certo de que, quando começar, haverá trabalho para o coveiro. E agora, deixa-me tranquilo, para ver o exercício.
Joan ouvira o que Chester dissera e era ela precisamente quem podia autorizar o combate.
— Joan! — disse o elegante — Está na tua mão. Deixa-me lutar com ele.
O pai disse, em voz baixa:
— Autoriza esse combate.
Ela não respondeu nada.
— Tens que autorizar — insistiu o outro.
Os outros amigos insistiram também com ela. Aproveitando o silêncio da rapariga, o provocador disse:
— Tu sabes que é a Rainha quem manda nestes assuntos e estou autorizado por ela a lutar. Assim, já não podes escudar-te na proibição.
— Não creio — retorquiu Chester — que ela seja tão louca que decida contra o que é lei geral destas festas.
— Deixa-te de falas e prepara-te para morrer, pois estou autorizado... a matar-te.
Os vaqueiros rodearam Joan hostilmente. Mas ela queria que Chester se rebaixasse a solicitar-lhe que não autorizasse.
— Sabem que se faz o que a Rainha diz — afirmou o pai — e ela autorizou.
— A Rainha enganou-nos, rapaz — exclamou um vaqueiro. — Vê-se que trata de ajudar os amigos de seu pai. Depois disto, já não temos que obedecer a uma Rainha que não sabe cumprir com mais deveres senão com o seu capricho e o seu orgulho.
— Tu não deves lutar porque és Comissário do xerife... — interveio Pete. — Mas eu, visto que esta estúpida orgulhosa o autorizou, digo-lhe que é um cobarde...
— Não! — disse Chester — Se ela o autorizou, terei muito prazer em ser eu quem mate o seu elegante e distinto amigo... O pistoleiro Bristol encontrou desta vez o que procurou durante tanto tempo. «Já vês que te conheço... A ti e aos que te acompanham. Há muito tempo que são carne para pendurar na corda... E é interessante saber que são amigos de Milnor, pai de Joan, que deve também saber quem são os seus amigos, embora eu cometesse a tolice de supor que era inocente.
Os vaqueiros protestaram contra esta falta de respeito àquilo que consideravam lei da festa, e precisamente por parte da Rainha. Joan estava assustada e enraivecida. Não sabia reagir como devia. Em face disso, Pete exclamou:
— Não devem protestar mais, rapazes. A Rainha é que será a responsável pela morte desse cobarde «vantajista», amigo de seu pai.
— Ela ainda não disse nada — replicou Chester. —E é necessário que manifeste, com coragem, qual é a sua posição. Ela não pode alegar ignorância porque já foi duas vezes Rainha e sabe, portanto, que é a responsável por tudo quanto suceder.
— Não repetirá isso! — disse outro amigo do pai.
— Ipsurich! Parece que tens muita confiança no teu amigo e sócio Bristol. Mas não estão na vossa região, nem em Carson City. Aqui, as traições não têm eficácia, a não ser para irem diretamente à corda — acrescentou Chester. — Os jogadores não os podem ajudar, como estão acostumados. São vaqueiros, autênticos vaqueiros, as testemunhas... O que constitui uma surpresa é que sejam amigos de quem era considerado como um honrado granadeiro. E será curioso investigar o passado de mister Milnor... É possível que apareçam coisas muito interessantes!
A rapariga viu seu pai empalidecer. Estava certa de que a ideia de escavar no seu passado o fazia tremer. Tudo isto era o que ela havia muitas vezes pensado, acerca de seu pai.
— Que pensa de tudo isto, Rainha? Perdeu a faculdade de falar?
O xerife saiu da mesa do júri, para dizer que não se podia lutar. — A Rainha autorizou — afirmou Chester.
— Deveras? — O xerife acercou-se dela. — Então, não podes ser a Rainha.
E arrancou-lhe a fita que tinha no peito. E voltando-se para seu sobrinho, acrescentou:
— Eu bem te disse ontem que era uma tolice dar a fita a esta orgulhosa.
— Deixa-a! Ela não compreende a responsabilidade que contraiu — retorquiu Chester.
— Será Rainha porque ganharemos as fitas para ela.
— Está demonstrando que, ainda que tenha todas as fitas juntas, não quer ser a origem de uma catástrofe que a leva, a ela própria, à corda — acrescentou o xerife. — E creio que era o que devia fazer-se primeiro.
— Não te preocupes, tio. Não ganharão as fitas com que sonham! — disse Chester.
— Quem as vai ganhar? Vocês?
— Naturalmente.
— Vocês não podem ganhar, porque eu não...
Não teve tempo de dizer mais nada. Com a fronte desfeita, caiu fulminado, fazendo recuar os seus amigos.
Pete ainda empunhava o «Colt». E disse:
— Creio que foi uma tolice da minha parte não disparar sobre esta imbecil, culpada de tudo. E vocês podem já preparar-se para lutar, frente a frente, comigo.
O pai de Joan, amarelo, tremente e quase chorando, retrocedeu. Joan estava aterrada. Os olhos de Pete e de Chester pareciam brasas.
— Que diz a Rainha que este tonto nomeou ontem? — continuou Pete. — Foi ela que matou o amigo de seu pai, que matará os outros amigos e o cobarde traidor de seu próprio pai. Vou matar todos eles! Estão preparados? Têm de defender-se e demonstrar que são os pistoleiros que em Carson City assustavam os mineiros.
— Deixa-os, Pete!... Temos tempo... É preciso vencê-los primeiro. Não vês como estão aterrados e com vontade de dar sebo nas botas? Não se deve abusar dos que, como eles, confessam que têm medo. Não é verdade, rapazes?
Todos inclinaram a cabeça com um movimento afirmativo.
— Tens razão! — exclamou Pete — Causa náuseas tanta cobardia... E ainda presumiam de valentes!...
E os dois amigos afastaram-se. Os assistentes olhavam Joan e os seus com ódio.
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