domingo, 14 de julho de 2019

COL025.13 Ovelhas ao matadouro

Desde o alto duma pequena colina divisaram a cabana ao fundo.
— É ali que está Teddy? — perguntou ansiosamente Olga Jackson.
— Sim, é ali — respondeu Frank Coates.
A ruiva esporeou a sua cavalgadura e esta lançou-se numa fulgurante corrida para a cabana. Os outros componentes do grupo seguiram a jovem. Frank Coates disse:
—Tivemos de reparar um pouco a cabana. Seguramente deve ter pertencido a um desses malditos pesquisadores de ouro. — Fez uma pausa, olhando o céu azul donde irradiava um Sol que enviava à terra os seus raios que cegavam. — Maldito país... Maldito deserto... Maldita terra.
Olga saltou do cavalo e precipitou-se para a porta que abriu penetrando no interior da cabana. Frank Coates e os seus compinchas deram-se muita pressa em desmontar. Um deles, Mac, tirou o revólver e ficou olhando para o cano.
Dolores, Joe Brand e Harry Coley também desmontaram. Os dois homens que tinham feito a viagem com Olga Jackson trocaram um olhar.
De repente, Olga reapareceu na porta. Os seus olhos assustados olharam Frank Coates.
— Aqui não está Teddy!
— Revistei toda a casa, senhor, Coates! Teddy não está!
Frank sacudiu a cabeça e dirigiu um olhar de soslaio a seus amigos.
— Que lhes parece isto? Teddy foi-se embora.


Olga deu uns passos para Frank.
— Como se foi embora se estava ferido na clavícula?
Ned soltou um assobio e resmungou:
—Frank j á lhe disse que seu irmão era muito nervoso. Asseguro que se foi enquanto nós acudíamos ao seu encontro, menina Jackson.
Joe Brand perguntou:
—Porque disse era, Ned?
O aludido fez uma careta de perplexidade.
—Não o entendo, caçador de lagartos.
—Você disse que Teddy era muito nervoso. E só se fala assim duma pessoa quando está morta.
Olga Jackson abriu a boca ao mesmo tempo que levantava a mão, mas da sua garganta não se escapou nenhum som articulado. O silêncio foi cortado pelo riso de Frank Coates.
— Ned é um estúpido. Não deve fazer-lhe caso, menina Jackson. O seu irmão deve ter ido por aí. Estava sempre preocupado a ver se nos tinham seguido. Agora proponho-lhe uma coisa. Dê-nos o dinheiro e vá com os seus amigos.
Mac saltou para diante.
— A mexicana fica, Frank.
—Porquê, Mac? Porque vai ficar a mexicana? Ela só nos servirá de moléstia.
— Eu me encarregarei de que não aconteça nada.
Frank Coates olhou a ponta das botas, e nessa posição disse:
—És tão imbecil como Ned. Eu diria mais. E que ainda não deste conta que vamos para o México?
—Sim, Frank. Vamos para o México.
—E em que parte da terra há mais mexicanas? Responde, se é que achas a resposta.
Mac pestanejou, e de repente, soltou uma forte gargalhada.
--É verdade, Frank! No México é onde deve haver mais mexicanas.
Frank Coates levantou o olhar, depositando-o lia cara pálida de Olga Jackson.
— Vê-o, menina Jackson? Não há nenhum problema. É o que todos desejamos. Vocês vão-se embora todos juntos. Teddy ficará muito contente quando lhe disser que você cumpriu com ele.
A ruiva inspirou profundamente.
— Quero ver o meu irmão.
— Porque procura complicações, menina Jackson? Você sabe que a Teddy não lhe agradam as cenas sentimentais. Quer-lhe muito. Passava os dias a recordá-la e o pobre rapaz chorava se lhe pusesse a vista em cima. Vai passar um mau bocado, sim, senhor. Muito mau bocado. É o que eu lhe digo: porque inferno Teddy terá de chorar nesses momentos?
Coates sorriu, fazendo uma pausa.
«Tudo resultará mais sensato, menina Jackson, e Teddy ficará inteirado de que você se foi embora sem esperá-lo. Depois terá notícias dele do México... Infernos, Teddy estar-lhe-á agradecido toda a vida. Você facilitou-lhe o modo de sair deste inferno... E nós também o rebordaremos, menina Jackson. Não é verdade, rapazes, que a recordaremos?
Mac e Ned emitiram um grunhido, acompanhando-o com movimentos afirmativos. Dolores afastou-se do grupo como se o diálogo entabulado não tivesse o menor interesse para ela. Deitou um olhar à parte traseira da cabana e teve a impressão que o sangue lhe gelava nas veias. De repente, ouviu a voz de Frank Coates.
— Que fazes aí, rapariga?
Ela levou uns segundos a voltar a cabeça. Assinalou para o lugar onde tinha detido os seus olhos.
— De quem é aquela sepultura? — perguntou.
Durante um momento só se ouviu o murmúrio do vento que gemia ao roçar contra a cabana. Olga Jackson começou a andar rapidamente para a parede. Frank Coates tirou o revólver.
--- Onde vai, menina Jackson?
 Mas a rapariga continuou o seu caminho sem se deter.
— Esteja quieta, menina Jackson! — ordenou Frank.
Joe Brand ia-se a atirar sobre Coates, mas Mac interpôs-se no seu caminho, apontando-lhe ao estômago.
— Calma, caçador.
Olga Jackson deteve-se no ângulo da casa, observando a sepultura que havia na parte traseira. Os homens que tinham enterrado tinham-se limitado a amontoar as pedras em cima da fossa e na cabeceira tinham posto uma tosca cruz. A jovem voltou-se para olhar Frank.
— Teddy?
— Quem lhe disse isso? — sorriu Coates. — Não, não é Teddy, menina Jackson.
— Quem é que está enterrado ali?
—Um dos que vinha connosco.
— Está mentindo, Frank. Está-me mentindo miseravelmente. Teddy só me falou na sua carta de três outros homens.
— Não se ponha nervosa, menina Jackson. Depois de Teddy lhe ter escrito a carta, chegou outro companheiro.
Foi agora Dolores quem interveio.
—É uma suja mentira, menina Jackson. Não o acredite. Só quatro homens conseguiram escapar com vida da batalha que os condenados mantiveram próximo de Tuson.
Frank olhou para a mexicana.
— Que sabes tu disso, rapariga?
Dolores mordeu o lábio inferior, dando conta de que tinha falado mais que a conta.
—Vamos, diz! Maldita sejas! — gritou Frank. — Como sabes que só escaparam quatro?
Dolores continuou calada, e Joe Brand interveio.
— Diz-lho, rapariga.
Dolores molhou os lábios com a língua.
— Fui informada pelo senhor Pickford, o encarregado do governo que está a tentar apanhá-los.
Frank sorriu fazendo uma careta de crueldade.
— Obrigado, rapariga.
Olga Jackson, com os olhos cheios de água, apertou os punhos caminhando para Frank Coates.
— Vocês mataram-no! Vocês assassinaram Teddy!
—Não, menina Jackson. Nós não o matámos. Teddy morreu de doença. Não lhe disse que estava ferido?
— Agora já não posso acreditar em nada. Se tivesse morrido da sua ferida, vocês ter-mo-iam dito logo de princípio.
Ned saltou para diante movendo nervosamente o revólver, apontando a todos os indefesos componentes do grupo.
—Está bem, Frank. Basta de desculpas. Será que vamos ter de aguentá-los mais? Sim, saiba-o duma vez. Nós matámos o seu irmão, menina Jackson, e eu lhe direi porquê. Era um maldito orgulhoso que pensava ser o dono de tudo. Tratava-nos aos pontapés desde que o conhecemos na prisão. Nós éramos para ele seus lacaios. Nós respeitávamo-lo porque era um tipo que nos interessava, para sairmos dali, daquela jaula. Só por isso! E depois, quando saímos, Teddy ficou ferido. O orgulhoso senhor Jackson converteu-se num estorvo. Tê-lo-íamos morto em seguida. Cada um de nós três lhe teria vazado um carregador na cabeça, mas não o fizemos. E sabe porquê, menina Jackson? Por si. Ele tinha uma linda irmãzinha que viria em seu auxílio, que nos traria dinheiro fresco para chegarmos ao México. Teddy jurou que você não faltaria. — O foragido fez uma pausa, respirando com dificuldade. — Nós ficámos à espera, menina Jackson, e o estúpido do seu irmão continuava mandando-nos, entende-o? Era um inútil que não se podia mover e nós tínhamos de caçar para ele e trazer água para ele. E continuava a insultar-nos! Todos os dias! A todas as horas! Até que eu não pude resistir mais e matei-o com este revólver? Entende-o? Com este revólver!
Olga Jackson escondeu o rosto entre as mãos, emitindo um largo soluço. Frank Coates apontava os seus revólveres a Joe Brand e Harry Coley. O homem que assumia a chefia dos evadidos da prisão de Tucson sacudiu a cabeça.
— Vocês estragaram a representação.
— Que quer dizer, Frank? —perguntou Joe.
—Teremos de matá-los.
— Porque razão?
—Já ouviu a mexicana. Esse representante do governo deve estar muito próximo daqui. Não vamos ser tão ingénuos que os deixemos com vida para que vocês se unam a eles.
Dolores disse:
— Não têm de preocupar-se com isso. Disse ao senhor Pickford que Olga Jackson se dirigia a Amarillo.
— Esperas que eu te acredite, rapariga?
— Juro que lho disse.
—E porque lhe ias mentir?
—Por Joe Brand — disse num murmúrio.
—Por Joe Brand? — repetiu Frank. — Não entendo uma palavra.
A mexicana olhou-o com olhos furiosos.
—Pensei que poderia chegar até Joe e que ele poderia ser detido por ter ajudado Olga Jackson a trazer-lhes o dinheiro. Agora já o sabe!
Frank pôs-se a rir, olhando Joe.
—Tem sorte, caçador de lagartos. A rapariga está pelo beiço…
Dolores gritou:
— Ninguém lhe perguntou a sua opinião, esfarrapado!
Frank continuou rindo enquanto voltava a cabeça.
—Bem, isso não vai aliviar a vossa situação, companheiros. Vão morrer de todas as formas. E mero instinto de conservação, sabem? Daqui ao México é uma boa tirada. Teremos de viajar um par de semanas, e ainda que a coisa agora seja muito fácil porque teremos o punhado de dólares da menina Jackson, temos de tomar todas as precauções. Vocês avisariam de qualquer maneira. E o nosso único perigo, pois que, como acaba de dizer a mexicana, esse fulano do governo pensa que estamos em Amarillo.
Ned riu também.
—Infernos, isso é bom e tal como estão as coisas penso que a viagem ao México vai ser um verdadeiro passeio. Estás a ouvi-los, Mac? Não vamos ter de preocupar-nos muito com o que aconteça nas nossas costas.
Mac fez um gesto afirmativo, o lábio inferior tremia-lhe.
— E no México há muitas mexicanas?
—Espera, Frank — disse Joe Brand.
— O que tenho de esperar?
— Ocorre-me uma solução.
—Não vou acreditar em nenhuma classe de promessas, de modo que economize saliva.
—Não se trata de nada disso, companheiro. Só me ocorreu que vocês podem-nos liquidar tranquilamente a Harry Coley e a mim, mas porque vão fazer o mesmo com as raparigas?
—Como?
— Ao fim e ao cabo a uma delas, Olga Jackson, devem o dinheiro que vai concretizar a vossa fuga. E Dolores agrada a Mac. Levem as duas.
Dolores fez um gesto de espanto, olhando Joe.
— Que estás dizendo, Joe? Tornaste-te louco?
— Cala-te, rapariga.
—Não quero calar-me! Não irei com esse ascoroso monstro, ainda que me leve de rastos.
Mac pôs-se a rir, estremecendo os ombros.
— Estão a vê-la, rapazes? Tem um génio endiabrado. Como me agrada.
Olga apoiou a cabeça na parede da cabana e continuou chorando amargamente. Joe Brand quis rematar a sua proposta, dirigindo-se a Frank Coates, o homem a quem sabia que tinha de convencer.
—Não correrá nenhum perigo com elas, Frank. uma vez no México, podem-nas deixar livres, se é que se cansam da sua companhia.
— Tens um grande espírito de sacrifício, caçador.
— Eu vou morrer de todas as formas, e considero que é absurdo que elas também morram quando podem continuar vivendo sem perigo para vocês.
Mac fez um gesto afirmativo.
— O rapaz fala bem. Eu estou de acordo com ele disse Mac.
— E tu, Ned? — perguntou Frank.
—Bem, a mim tanto se me dá. E se temos de fazer uma comprida viagem, será muito mais agradável com a companhia de um par de fulanas como elas.
Frank acariciou a crescida barba com a mão livre.
—Eu preferia que fôssemos só os três, mas são dois votos contra um. —Fez uma pausa. — Elas virão connosco.
Mac riu, olhando com olhos brilhantes, Dolores e esta enfrentou uma vez Joe.
—É esta a forma de agradecer-me o que fiz por ti? És só um lagarto do deserto! Eu teria mil vezes preferido morrer contigo! Ainda que agora sei que não o mereces!
Depois a mexicana afastou-se de Joe e pôs-se a soluçar junto de Olga Jackson. Frank apontou com um revólver para o lugar onde se encontrava a tumba de Teddy Jackson.
— Bem, rapazes. Acompanhem as duas ovelhas ao matadouro.
— Porque não o fazemos aqui --perguntou Ned.
— Querem dar um espetáculo diante das damas?
— Sim, tens razão — assentiu Ned. — Andando, rapazes. Vens comigo, Mac.
Joe e Harry olharam-se enquanto se punham em movimento para o lugar onde deviam ser executados. Dolores voltou-se bruscamente.
— Joe! — gritou.
E foi a correr para o pé de Brand, mas Frank Coates agarrou -a por um braço. Joe e Harry deram a volta à cabana sempre seguidos por Mac e Ned. Passaram em frente da tumba de Teddy Jackson. Joe perguntou a si mesmo se Harry também estaria disposto, como ele, a defender a sua vida.

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