sábado, 6 de julho de 2019

COL025.05 O indigitado chefe da expedição vê o afastamento da bela Dolores

Virgínia Pulver encontrava-se à porta de Enrique Garcia. Mas não estava só. A seu lado encontrava-se Harry Coley.
Joe caminhou para eles enterrando as botas na poeira. Isso era algo que fazia parte de Forte Diabo. O pó vermelho que o ar do deserto depositava naquele lugar onde brancos, índios e mestiços tinham construído as suas casas em volta do destacamento militar.
Quando Joe se deteve, Harry Coley fez uma careta.
— A menina Pulver contou-me tudo e tive esperança que algum desses tipos lhe desse um tiro.
— Obrigado, Pulver. Não esperava menos de si.
A menina Pulver disse com voz seca:
—É preferível que não comecem a lutar antes que tenham cumprido tudo para comigo.
Os dois homens olharam-se em ar de desafio e depois Joe moveu a cabeça.
—É difícil que possa suportar este tipo, menina Pulver, mas tentarei conter-me se ele não quiser ganhar uma bala antes de tempo.
Harry Coley soltou uma risada.
—Eu penso o mesmo que Brand, menina Pulver. Ficarei quieto enquanto ele se comportar como é devido.
Os dois homens continuaram olhando-se e então a ruiva disse, quase com tom jovial:
— Alegro-me muito que tenham chegado a um acordo — fez uma pausa. —E agora diga-me, senhor Brand. Como conseguiu livrar-se do grupo de Randall?
— Preferiram dar-nos corda.


— Não o compreendo.
—Eles pensam que se me matam, você poderia desistir de ir a Supay. Esses rapazes pensam que lhes será fácil roubarem-lhe esse condenado mapa quando estivermos longe de Forte Diabo. A umas quantas milhas daqui, não terão de responder diante do comandante McSeween pela morte de quem seja.
— Você não nos oferece umas perspetivas muito alegres, senhor Brand.
— Sinto não lhe dar melhores notícias.
Harry Coley distendeu os lábios num sorriso irónico.
—Ficarei muito contente quando esses tipos se ponham no nosso caminho — tocou a culatra do revólver com a mão esquerda.
— Você ficará quieto, Coley — disse Joe com voz seca.
—Como diz? — Que ficará quieto e que terá de obedecer às minhas ordens.
Harry Coley pôs os braços cruzados soltando um riso.
— Ouviu isto, menina Pulver? É o que lhe ouvi. Se o contratava querer-se-ia fazer o chefe. Mas isso é algo que não vou consentir.
Virgínia olhou com olhos frios para Joe.
—Harry tem uma vantagem sobre si, senhor Brand.
— Sim?
—Contratei-o antes e, portanto, é o chefe da expedição.
Brand fez um movimento negativo com a cabeça.
—Não, menina Pulver. Ele não vai ser o chefe e existe uma razão muito clara para que isso aconteça. Coley mandou desde Santa Fé até Forte Diabo, mas, a partir daqui vocês necessitam de alguém que conheça bem o deserto e é por isso que eu fui contratado.
Joe apontou para o Deserto Pintado, o caminho que deviam seguir para chegar a Supay, no Gran Cailon.
—Como já a adverti antes, menina Pulver, pode contratar outro homem, mas se insiste que seja eu que vá com vocês, terão de obedecer-me no caminho de ida e de volta. Quando chegarmos a Forte Diabo, Harry Coley voltará a ser o chefe.
Houve uma nova pausa.
— Decida agora, menina Pulver — terminou Brand.
A formosa ruiva apertou os lábios com firmeza. Olhou Harry que tinha os olhos fixos no seu rosto.
— Penso que o que ele diz é sensato, Harry. Contratei-o como guia, e se nos serve para algo, temos de obedecer-lhe.
Harry fez uma careta observando Joe.
—Sabe arranjá-las bem, hem, Brand?
—É o que dizem todos os que me conhecem.
—Está bem, menina Pulver. Não tenho de opor... de momento. Não quero que por mim se quebre a harmonia do nosso grupo.
—Obrigado, senhor Coley —disse Virgínia. —E agora vou pedir-vos uma coisa.
Os dois homens olharam-se e ela, depois de aspirar profundamente, disse:
— Apertem as mãos.
Os dois homens olharam-se. Foi Joe quem estendeu a sua mão direita.
— Não vejo inconveniente —murmurou.
Harry Coley olhou a mão, mas murmurou alguma coisa durante uns instantes e finalmente estendeu-a trocando um apertão com Brand.
***
Eram dez horas da noite. Joe Brand estava a fazer guarda em frente da porta do quarto de dormir de Virgínia Pulver.
Harry Coley também se tinha deitado, mas Joe tinha de o chamar às três da madrugada para que fizesse o segundo turno de vigilância.
Tudo estava tranquilo. Naquela casa fazia demasiado calor e Joe decidiu respirar um pouco de ar puro lá fora, debaixo do tecto de estrelas. Apesar de tudo, tinha a segurança de que os Randall não se atreveriam a fazer nada enquanto se encontrassem em Forte Diabo.
Uma vez fora, apoiou-se no muro, junto da porta, e fez tranquilamente um cigarro.
Uma vez mais a imagem da mulher que o tinha contratado passou pela sua mente. Infernos, Virgínia Pulver era justamente a mulher que tinha pensado não existir no mundo. Mas ele tinha-a visto prodigiosamente formosa e desejável, com os seus lábios húmidos e vermelhos. De repente ouviu uni ruído à direita e voltou-se com a pistola na mão pronta a atirar.
— Quem está aí? —perguntou para a escuridão.
— Sou eu, Joe—disse a voz de Dolores.
A jovem aproximou-se lentamente e Joe perguntou-lhe:
—Que fazes só a estas horas da noite?
—Passa-se o mesmo contigo. Joe. Não pude dormir.
—Deveras? E porque não podes dormir?
— Por tua culpa.
—Ë uma boa piada.
— Não te rias que sou capaz de fazer qualquer barbaridade.
—Vamos, serena, rapariga. Muito depressa poderei comprar esse vestido.
— Esperas que o acredite?... Não me enganarás duas vezes, Joe Brand.
— Agora será a sério porque vou ter muito dinheiro.
— Salb disse-me algo, mas não o entendi muito bem. Esse dinheiro tem algo a ver com a ruiva?
— Sim, Dolores. A ruiva contratou-me. Tenho de levá-la até ao Gran Cailon e, naturalmente, depois temos de voltar a Forte Diabo. Acredita-me, querida. Vou ganhar vinte e cinco dólares diários... A viagem durará seis a sete semanas, de modo que ficarei com mais de mil dólares — Joe estava sorridente enquanto olhava a mexicana. —Ficaste sem fala, hem, rapariga? Vamos, diz algo.
—Queres que te diga a verdade?
—Claro que sim.
—És o homem mais estúpido que conheci em toda a minha vida.
—Hem, foi para isso que vieste?
—Ê que não compreendeste, grandíssimo parvo? Ninguém oferece nada. Quem te disse que me vão oferecer mil dólares? Vou ganhá-los a suar.
—Ela vai oferecer-te uma fortuna para que a acompanhes a dar uma volta pelo deserto. Que classe de ingénuo és, Joe Brand? Tinha-te na conta de um tipo mais esperto. A única coisa que acontece é que lhe agradaste e ela só pretende conquistar-te. Essa ruiva, como todas as mulheres das grandes cidades, sabem bem como conquistar um homem.
— Quando vais aprender a falar com um pouco mais de finura, Dolores?
— Deixa-te de finuras. Estou dizendo-te a pura verdade.
— Ouve, rapariga. Ela fez um bom negócio contratando-me para a levar ao Gran Cailon e a mim agradou--me a sua oferta. Compreendes? Os nossos interesses completam-se.
— Ela agrada-te?
— De que estás falando?
—Não te faças tolo. Vi como a olhavas no escritório do comandante. Iam-te os olhos atrás dela.
— Bem, admito que não é uma mulher das que se costumam ver por aqui o que não quer dizer que tu estejas posta de parte.
— Continua falando assim e arrancar-te-ei os olhos.
—Ouve, não podes dizer duas palavras seguidas sem ameaçar?
— Humilhaste-me diante dela. Tu, pelos vistos, pensas que eu não tenho dignidade ou amor-próprio, não é verdade, Joe?
— Ouve, esquece-te disso. Por nada do mundo teria querido fazer-te passar aquele mau bocado.
— Contos.
— Tens de acreditar-me, Dolores. Como ia supor que a dona dos vestidos apareceria?... A minha história foi verdadeira. Tirei-os a um ladrão índio.
—Porque não me disseste a verdade então, quando mos ofereceste?
—Tinha prometido comprar-te um e... bem, pensei que não fazia nenhum dano a ninguém dizendo-te que me tinham custado uns tantos dólares. Produziu-se outro silêncio entre os dois jovens.
— Ouve, Joe...
—Sim?
—Se te pedir algo, fazes-me caso?
—Talvez, sim.
Dolores aproximou-se muito de Joe e este pensou que ela lhe ia pedir um beijo.
— Abandona a ruiva.
— COMO?
— Não quero que vás com ela. Renunciarei ao meu vestido. Não quero que mo compres com esse dinheiro. Prefiro esperar até que tenhas economizado uns tantos dólares com o teu trabalho honrado.
— Ouve, rapariga, este trabalho que vou empreender também é honrado e não sei porque vou renunciar a algo que me vai dar um grande benefício.
— Por tudo o que ames mais, Joe... Não vás!
— Sinto muito, Dolores, mas não posso satisfazer o teu desejo.
A jovem inspirou profundamente.
—Está bem. Vou-te dizer, condenado idiota. Não vim aqui por falta de sono ou porque desejasse simplesmente pagar a dívida contigo... foi outro o motivo.
—Sim? Qual?
—Salb contou-me o que se tinha passado contigo e com aquele grupo que está na sua pensão, com os Randall. Há uma hora passei pelo corredor e ouvi vozes que saíam do quarto onde estavam eles. Pus-me a escutar e inteirei-me do que diziam. Estavam falando de ti e da ruiva e desse Coley.
— Que diziam?
— Que vão à procura de ouro ao Gran Calion e que te armarão uma armadilha quando estiverem no deserto.
— Sinto dececionar-te, rapariga, mas já contava com isso.
— Sabes que te vão estender uma armadilha e tu dás consentimento para ir com essa mulher...?
— Sim, pequena.
—Estás louco, tens de estar, certamente, para fazeres uma coisa assim. E, naturalmente, a causa da tua loucura é tal... anda, nega-o.
—Será melhor que vás dormir — disse Joe e deitou ao chão a ponta do cigarro que pisou com a sua bota.
—Só te ocorre isso? —disse Dolores.
—Quando regressar do deserto é possível que junte outras coisas. Então serei um homem com mil dólares.
—Oh, Joe... Que hei-de fazer para convencer-te que não faças essa viagem?
—Nada, pequena, porque nada conseguirás. Tu já sabes que, quando decido uma coisa, a faço pese a quem pesar.
Dolores ficou um momento sem dizer nada e finalmente moveu a cabeça.
—Sim, Joe. Sei-o. E realmente não tinha nenhuma esperança de convencer-te... Não sei sequer porque vim fazê-lo.
A jovem deu meia volta e começou a afastar-se.
—Eh, Dolores — chamou-a Joe. — Não te vais despedir de mim? Vem cá, rapariga... selemos a paz antes da minha partida.
A rapariga continuou o seu caminho para casa de Salb mas de repente deteve-se, voltando-se bruscamente.
—Não voltes a dizer-me uma palavra, Joe Brand. Ouves? A partir de agora esquece-te que existo — e juntou com voz melodramática —: Morreste para mim.
E depois, muito dignamente, voltou-se para a povoação e não se deteve. Joe viu-a afastar-se enquanto coçava atrás duma orelha.

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