quinta-feira, 18 de agosto de 2016

PAS659. Quando o ciúme comanda as nossas mãos

Cinco.
Cinco homens a cavalo, trazendo as espingardas nas mãos.
Cinco pistoleiros ao serviço de Tracy.
Lassiter fez uma careta enquanto levava a coronha da espingarda ao ombro.
Em seguida disparou.
Um dos pistoleiros deu um salto sobre a sela, abriu os braços em cruz e caiu pesadamente. O grupo de quatro desagregou-se, afastando-se um dos outros. Lassiter disparou novamente e outro pistoleiro mordeu o pó do solo sem soltar um gemido sequer. Então correu para o local onde estava o seu cavalo, montou de um salto e, rapidamente, galopou na mesma direção que Ethel havia seguido. Três minutos depois, os três pistoleiros que restavam perseguiam-no, mas Lassiter não voltou a disparar contra eles. Necessitava pelo menos de um vivo. Para isso contava com McNamara e com o pessoal que este tinha às suas ordens.
A sua frente, a grande distância, viu galopar Ethel e, muito mais longe, pareceu-lhe distinguir McNamara, a sua ruiva noiva e mais alguns homens que saíam dos diferentes barracões.
Lassiter reduziu o galope do animal ao ver o brilho das armas e ao observar que se dispersavam em todas as direções dispostos, segundo parecia, a cortarem o avanço dos três pistoleiros que não cessavam de disparar contra ele.
Duzentos metros mais longe, com a espingarda na mão, McNamara viu Lassiter sobre a sela, quase estendido sobre o pescoço do cavalo que montava, galopando aos ziguezagues e, no seu coração, agitaram-se sentimentos contraditórios numa dança quase infernal.
Hesitava.
Sabia que podia disparar contra aqueles três homens que perseguiam Lassiter. Sabia que tinha de ser ele a dar a ordem para que os seus homens varressem num instante os inimigos, mas hesitava em o fazer.
Lassiter havia reduzido a marcha do seu cavalo e os três pistoleiros estavam cada vez mais perto dele.
McNamara compreendia a razão pela qual ele o fazia. Sabia que desejava apanhar algum deles vivo e, contudo, não se decidia a dar aquela ordem. Não se decidia a ajudar o amigo. Porquê?
Como resposta à sua pergunta, ouviu à sua direita a voz angustiada de Ella:
— Tex, vão matá-lo! Por favor, querido, tens de os deter.
McNamara voltou o rosto para ela e viu-a intensamente pálida, com as pupilas fora das órbitas e o busto a acusar o choque da respiração entrecortada.
— Tex! Por favor.
Levantou a espingarda quando Lassiter parava o seu cavalo e o voltava para os seus perseguidores. Depois, esporeando o animal, lançou-se contra os três, levando o «Colt» na mão, apoiado contra o arção da sela. Sempre à sua direita, McNamara ouviu-a dizer:
— Se o matarem, Tex, se o matam por tua culpa, juro que te odiarei toda a minha vida.
Depois, como fascinados, viram os longos riscos de fumo e fogo que irrompiam do lado de Lassiter e, quase no mesmo instante, começaram a acontecer coisas com uma rapidez que desconcertou todos.
A partir da direita para a esquerda de Lassiter, dois dos pistoleiros viram-se arrancados da sela, enquanto o terceiro parava o cavalo, fazia-o dar meia volta erguendo-se sobre as patas traseiras e em seguida o esporeava selvaticamente lançando-se num galope demoníaco na direção das pastagens de Elmer Tracy.
Lassiter parou a sua montada. Permaneceu completamente imóvel sobre a sela durante alguns minutos, recortando-se contra o azul do céu de uma forma mortiferamente sinistra e depois voltou-se para o acampamento. Fez então avançar o cavalo a passo até o parar em frente de McNamara, perante a silenciosa expectativa de Ella, Ethel e da não menos silenciosa assistência.
— Devias ter agido, McNamara — disse suavemente. -- Interessava-nos a todos ter um desses tipos vivo.
— Pus-me nervoso. Tu estavas bastante perto, quase na linha de tiro das nossas «Winchester». Não podia fazer outra coi...
Foi então que Ella avançou impetuosamente e o agarrou pela camisa logo que ele desmontou.
— Lass...! Lass, feriram-no? Está bem?
Lassiter esboçou um sorriso, mas este era extremamente duro.
— Estou bem, menina Sherman — replicou friamente. — Não se preocupe comigo.
Lançou um olhar a Ethel e, em seguida, fez o mesmo com McNamara.
— Gostaria de falar contigo, Tex — disse com simplicidade. — Sobre uma ideia que me ocorreu quando vinha para cá.
McNamara olhou-o com uma expressão indefinível, depois voltou-se para os seus homens e exclamou:
— Montem dupla guarda em torno do acampamento — Olhou para Lassiter e acrescentou: — Quando quiseres, Lass.
Este seguiu-o até ao barracão que fazia as vezes de escritório e, quando os dois ficaram sós, frente a frente, Lassiter quebrou o silêncio dizendo: —
Ouve, Tex, a minha ideia é a seguinte...
A conferência entre os dois durou mais de hora e meia, depois do que ambos abandonaram o barracão e se dirigiram para o lugar onde os esperavam as duas mulheres.
Tex despediu-se da sua noiva num tom um tanto frio, estendeu a mão a Ethel e a Lassiter, e em seguida os três empreenderam a caminhada até ao «Silver», fazendo-o no mais completo silêncio.
Já no rancho, pretextando cansaço, Ella foi para o seu quarto e Ethel ficou só com Lassiter. Mas este também não tinha vontade de responder a uma infinidade de perguntas que adivinhava nela e, alegando a mesma razão, dirigiu-se para o seu quarto, para o quarto que lhe fora destinado desde que chegara ao rancho.
Estendido de boca para cima, com o cigarro fumegante entre os lábios, pensava. Em Ella, em Ethel, e, sobretudo, na atitude de McNamara para com ele. Compreendia-o em parte, embora ele tivesse a certeza de não ser capaz de deixar um amigo à mercê dos seus inimigos, e muito menos por causa de uma mulher. Ou estaria enganado, nas suas apreciações?
Quando esta pergunta aflorou à sua mente, Lassiter abandonou o leito sabendo que, naquela altura, se sentia incapaz de conciliar o sono. Portanto saiu para o alpendre a respirar o ar puro e fresco da noite enquanto agora o nome de Elmer Tracy lhe ocupava os pensamentos.

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