terça-feira, 16 de agosto de 2016

PAS657. Acordo nupcial com o pistoleiro

Lassiter abandonou o escritório e dirigiu-se para o alpendre.
Não se foi deitar. Encostado a uma das traves do alpendre, contemplou as estrelas, os arredores, as colinas atrás das quais estava o rancho do seu inimigo, enrolou um cigarro empregando para isso a mão esquerda e acendeu-o enquanto desta vez, duas mulheres, qual delas a mais formosa, dançavam no interior do seu cérebro.
Os seus pensamentos foram interrompidos por Ethel que disse a seu lado:
— Ella é uma rapariga muito bonita, não é verdade, Lass?
Lassiter voltou-se para a olhar, calculando quais seriam as intenções daquela pergunta e, olhando-a de frente.
— Sim, muito. Quase tanto ou mais que você, Ethel — disse, sem notar que, com aquelas palavras ou outras semelhantes havia respondido a Ella quando lhe fizera pergunta parecida em relação a Ethel.
Ato contínuo, como se não desejasse continuar a conversa, Lassiter desencostou-se da trave, desceu os três degraus do alpendre e, lentamente, dirigiu-se para as árvores próximas que circundavam o rancho, trinta e cinco metros para lá da cerca de arame farpado.
Não parou antes de chegar à margem do pequeno regato que por ali passava e então tirou o chapéu e aproximou-se de um tronco grosso, recostando-se contra o mesmo.
Fechou os olhos.
Quando, segundos mais tarde, os abriu, Ethel St. Loman estava parada em frente dele, com os olhos rasgados e grandes fitos no seu rosto, com uma pergunta muda estampada neles e também com uma estranha e misteriosa promessa.
Foi Lassiter quem falou primeiro e fê-lo com uma pergunta:
— Que procura aqui, Ethel?
Durante alguns segundos o rosto formoso de Ethel St. Loman ruborizou-se um tanto, mas depois, olhando-o firmemente, replicou:
— Procuro-te, Lass. Desejo saber se o primeiro homem que me beijou e que não me quer agora...
Ele interrompeu-a com um gesto e, ao responder, tratou-a por tu:
— Agora o quê, Ethel? Se recordo bem, foste tu que desejaste que não se repetisse o que se passou entre nós. Não é assim?
— Sim, mas... — hesitou e Lassiter não a ajudou e por isso ela continuou, desviando os olhos daqueles olhos frios e cinzentos que pareciam esquadrinhar-lhe a alma até aos pontos mais recônditos: — Que há entre ti e essa mulher, Lass?
Lassiter fez um gesto de assombro bem fingido.
— Referes-te a Ella, Ethel? perguntou por sua vez. — Se assim é, confesso-te que não te compreendo.
Ethel deu alguns passos aproximando-se dele e não parou enquanto Lassiter não sentiu o calor do corpo dela junto do seu e o fino e estranho perfume que usava e lhe enervava os sentidos.
— Que razão há para não responderes, Lass? Onde a conheceste? Responde, por favor.
Ele respondeu, mas não da forma que ela esperava:
— Creio que laboras num erro, Ethel. Quem meteu essa ideia debaixo dos teus cabelos louros?
— Ninguém. Eu própria. Basta ver como te trata. A confiança que tem contigo. Basta uma indicação tua para fazer o que tu decides. Tex não vai gostar disso, da mesma forma que eu não gosto. Que há entre ti e ela, Lass?
— Haver? Nada, querida. Creio que são ideias tuas e nada mais. Ella apenas pode sentir por mim, se assim é, uma amizade sincera. Sou amigo do seu noivo e nada mais.
— Não sei se deva acreditar-te ou não, Lass querido. Mas é estranho, muito estranho, que Ella esteja pendente das tuas palavras desde que começas a falar até que terminas. Enfim, Lass, nem eu própria sei o motivo, mas tenho uns ciúmes horríveis da noiva de Tex.
Lassiter sorriu.
— Pois nada tens a recear de momento, Ethel. Não há outra mulher. Mas, mesmo que a houvesse, não esqueças que foste tu a expressar o desejo de que, aquilo que se passou entre nós não se repetisse.
Ethel recuou alguns passos e, durante alguns instantes, ambos se olharam silenciosamente, como se se estudassem, até que ela, com um grito, se lançou nos seus braços.
— Não percebes que minto, que mentia, Lass, amor? Que te amo, que te amo como nunca amei ninguém, visto que tu foste o primeiro homem na minha vida? Oh, Lass, querido! — terminou alguns segundos mais tarde antes de lhe procurar a boca com os seus lábios carinhosos e incitantes.
Ethel apertou-se contra ele com verdadeiro desespero, até que o mundo, e com ele Elmer Tracy, deixou de existir para os dois e só voltaram à realidade quando Lassiter, com um esforço, a afastou dos seus braços, com o busto ofegante e o cabelo e as roupas revoltas.
— Agora sou eu que te peço que deixes as coisas como estão, Ethel.
Ethel abriu os olhos com assombro e, ato contínuo, replicou:
— Deixá-las, Lass, querido...? Nem sonhes com isso, a menos que me digas a verdade.
— E se não o fizer?
O rosto de Ethel St. Loman turbou-se. Depois, as suas palavras lentas, a entoação que lhes deu, abriram brecha no ânimo de Lass Lassiter:
— Ouve, Lass; eu amo-te, sabes? Se assim não fosse, as coisas não teriam acontecido como aconteceram. Agora, apenas quero pedir-te uma coisa: sela o teu cavalo e vamos a Rato. Há lá um juiz que, embora velho, nos pode casar. Um juiz e um hotel onde podemos passar a noite, compreendes? Depois, amanhã, poderemos estar de volta para acompanharmos Ella Sherman até ao lugar onde se encontra Tex.
-- Mas para que é tanta pressa, Ethel?
— E és tu que me fazes essa pergunta, querido?
Lassiter não respondeu de momento. Quando o fez foi com uma pergunta que sobressaltou Ethel:
— E se eu não concordar, querida?
Seguiram-se alguns segundos de angustioso silêncio que Ethel quebrou acentuando cada uma das suas palavras:
— Matá-la-ei, Lass. Se eu averiguar que é por causa dessa mulher, por causa dessa mulher tão formosa, matá-la-ei.
Voltou a reinar um novo silêncio entre os dois, e, desta vez, o encarregado de o quebrar foi Lassiter:
— Não há nenhuma mulher, Ethel, já te disse. Por outro lado também te disse que eu...
— Sei tudo isso, Lass. Sei-o e contudo... Oh, Lass! Eu...
Num repente instintivo correu para os braços dele e escondeu a sua cabeça loura e formosa contra o seu peito.
Acariciando-a, Lass Lassiter pensava em muitas coisas e então cravou os olhos frios nas estrelas longínquas que brilhavam rutilantes no negrume da noite.
Sem a olhar, murmurou suavemente:
— Espero-te junto das cavalariças, Ethel.
Ela levantou os olhos luminosos para ele.
— Lass!
— Vamos, pequena, muda de roupa rapidamente — olhou-a fixamente e acrescentou: — Vai fazer-se como queres, rapariga. Esta noite converter-te-ei em minha esposa.
Sem esperar resposta afastou-se dos seus braços e dirigiu-se para as cavalariças. Ethel foi atrás dele e, junto do cavalo, vendo que a olhava, replicou:
— Não necessito mudar de roupa, Lass. Vamos quando quiseres.
Três minutos mais tarde, levando-a a garupa, Lassiter galopava em direção a Rato.
Mas não ficaram no hotel da povoação, regressaram imediatamente ao rancho onde chegaram quando apenas faltavam umas quatro horas para amanhecer.
Foi Ethel quem o puxou para o andar superior dizendo:
— Lass, querido, desejo mostrar-te uma coisa.
Ele não replicou mas foi com ela.
Ethel parou em frente da porta do seu quarto e abriu-a.
— Entra, Lass — disse, com o semblante um pouco ruborizado —, desejo que vejas isto.
Afastou-se para um lado e Lassiter entrou. Enquanto ela fechava a porta atrás dos dois, ele viu que Ethel havia preparado o quarto para os dois há bastante tempo. Voltou-se para a observar e viu-a com um olhar carregado de promessas sedutoras.
— Ehtel, isto...
— Oh, Lass!... — interrompeu ela. — Sabia que o conseguiria. Sabes...? Eu... amo-te desde o momento em que te vi ferido, às portas da morte, naquela cama e...
Correu para os seus braços, procurando-lhe os lábios com verdadeiro desespero. Talvez pensando naquela outra mulher formosa, de cabelos louros, que o tratava com tanta intimidade.
Lassiter deixou-se abraçar e, minutos mais tarde, o silêncio mais absoluto reinava no quarto nupcial.

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