segunda-feira, 1 de agosto de 2016

PAS648. O fim do Cavaleiro da Noite

Empunhando os revólveres, os cinco bandidos formavam um leque, em cujo vértice estava Jimmy, inalterável, tão imóvel, que parecia uma imagem estampada no vazio pelo resplendor das chamas.
Era uma cena de terrível intensidade, de tanto dramatismo, que parecia ultrapassar o real.
Os cinco bandidos avançavam lentamente, passo a passo, com as feições crispadas ante a serenidade do inimigo.
— Searles! — falou Jimmy, pronunciando as palavras entre os dentes. — Searles! — repetiu. — Ante os mortos que nos rodeiam, ante os homens que podem ainda morrer, acuso-te de seres o «Cavaleiro Negro»!
Antes que a última sílaba se perdesse no ar, falaram as armas. A cena ficou envolta pelo fumo da pólvora.
Ao mesmo tempo que os secos estampidos, rasgarem o ar gritos e maldições; depois, nada; um silêncio pesado, as asas negras da morte pousando na terra.
Cem pares de olhos olharam, como que hipnotizados, a tragédia. Jimmy tinha caldo, segundo parecido crivado de balas, e erguia-se sobre os joelhos.
Três bandidos, Carl, Hartlhey e Stanley, jaziam no solo, mortos, de boca para cima, com as testas atravessadas por balas.
Coberto de sangue, horroroso na sua atitude de besta que repugnava à vista, Searles lutava contra o negro manto da morte que tapava já os seus olhos.
Doe, alcançado em cheio no ventre, revolvia-se no solo, uivando
Nem um só dos espectadores se moveu, fixos na luta. Fazendo um esforço sobre-humano,
Jimmy recarregou os tambores das suas armas.
Conseguiu-o tateando os revólveres, ajudado pela sua grande experiência, enquanto o seu corpo se estremecia, sacudido violentamente pela dor.
Os seus olhos inundados de sangue, viram o rosto de Nelly, sorrindo-lhe na distância, animando-o.
Conseguiu levantar-se ainda mais.
Em frente dele, horrível, bramindo sacudido pelos últimos arrancos da sua ferocidade, o «Cavaleiro Negro» levantava o «Colt» e procurava-o, afastando as trevas que o cegavam com a mão esquerda, que era já uma garra impotente e enclavinhada.
As armas de Jimmy despejaram o seu mortal fogo, regando o corpo do bandido, que se paralisou no ar, para dobrar-se •convulsivamente, morto.
Jimmy tentou recarregar de novo, mas não o conseguiu. Os seus joelhos, subitamente leves, inexistentes, enterraram-se no vazio, arrastando-o para a morte.
Riscas vermelhas de fogo atravessavam-lhe o cérebro, e todo o seu corpo, coberto de sangue, ia ficando pesado como chumbo.
O valente texano, cumprida a sua vingança, dobrou-se sobre si mesmo, deixando de lutar.
Mas não tinha perdido os sentidos. Vagamente, confusamente, ouviu gritos à sua volta, muitos passos.
Conseguiu entreabrir os olhos e viu, envoltas em névoa, fantasmagóricas, muitas pernas que o cercavam, negras bocas de revólver que apontavam para ele. Algumas palavras soltas, irreais, chegaram ao seu cérebro.
— É o «Cavaleiro Negro»... Acabem com ele... Acabem com ele.
Então compreendeu o que se passava: morto Searles, continuavam a pensar que era ele o «Cavaleiro Negro».
Lutou para libertar-se do vazio que o prendia, da imobilidade absoluta que o vencia, e conseguiu apenas enterrara-se mais, como se estivesse preso num pântano.
Viu que uma bota lhe pisava a cara, sem o sentir, e ouviu, longe, muito longe, um estampido que abria na sua carne quase insensível uma marca silenciosa, um escorrer lento.
Tudo o que o rodeava voltou a emudecer. As pernas retrocediam. Ouvia o galope de um cavalo? Não; era silêncio, tudo silêncio.
Os incêndios aumentavam ante os seus olhos, um resplendor enorme, enchendo as suas pupilas, queimando--lhe a respiração débil, cada vez mais débil.
Sim; eram incêndios..., uma cascata de ouro, uma cabeleira. Beijavam-no beijava-o Nelly, distante e presente; Nelly.

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