sábado, 6 de agosto de 2016

PAS651. A bela e o pistoleiro (1)

Belle Smith era muito jovem. O seu apelido era vulgar; mas ela era pouco parecida com uma rapariga vulgar. Pouco? Bom. Absolutamente nada parecida. Sabia-o e fazia-o saber aos demais. E os «demais» — os homens de Dodge faziam tudo por ela e dançavam ao som dos seus extravagantes caprichos.
Quando passeou os bonitos olhos pelo animado «saloon» e descobriu aquele homem, não pôde reprimir uma sensação de excitação e prazer.
«Bem parecido, forte e... parece triste», pensou Belle. E sorriu, encantada. — «Talvez seja um destes ganadeiros que não sabem o que fazer e desaproveitam o tempo. Se for tímido... brincarei um pouco com ele.»
E Belle, embaraçada pela sua própria auréola de mulher irresistível, rodeou as mesas e dirigiu-se para o «vaqueiro».
Quando chegou diante dele, disse:
-- Boas noites.
O outro continuou a contemplar o tampo da mesa e não moveu urna pestana.
Belle, boquiaberta, pensou que aquele indivíduo estava surdo. E optou por se sentar defronte dele.
— A que me convidas?
—  A que desapareças.
A rapariga corou como se acabasse de ser esbofeteada.
Levantou-se de um salto, pondo as mãos na cintura.
— Alguém já viu uma coisa destas? — gritou com voz esganiçada. Havia falado alto de propósito, para chamar a atenção. Alguns dos seus admiradores acudiriam e ela gritaria ainda mais. Então ...aquele grosseirão receberia a maior tareia da sua vida. — Quem julgas tu que és?
O outro continuou sem levantar a cabeça.
Belle Smith olhou à sua volta e comprovou que várias caras conhecidas já se haviam fixado nela.
— Desprezar-me deste modo! 7E um insulto!
— Quem te insultou, Belle? — interrogou urna voz escandalizada.
Um homem corpulento surgiu a seu lado. Parecia disposto a muitas coisas e s6 esperava uma oportunidade para o demonstrar a Belle.
A rapariga estendeu o braço.
— Este! — apontou. — Foi este cão!
Então, sim. Então, lentamente, a cabeça do «vaqueiro»... ergueu-se.
«Frisco» contemplou com as suas pupilas claras e frias a rapariga e o seu espontâneo defensor.
A cor fugiu das faces da jovem. Nunca havia visto uns olhos semelhantes. Sentiu-se desnudada, débil e humilhada.
Os homens do «saloon» haviam interrompido as suas diversões e contemplavam a cena com curiosidade.
— O que te disse ele? — perguntou o companheiro de Belle.
— Nada, Tom.
— Disse-lhe que desaparecesse! — informou-o «Frisco». -- Tu... podes fazer o mesmo.
O outro conteve a respiração.
— Creio que não vou sair sem...
Uma voz interrompeu-o.
— Quieto, Tom. Nada de exibições neste momento.
Um homem, vestido com roupas caras, aproximou-se da mesa. Cobria-se com um chapéu de excelente feltro e de copa mole, e segurava entre os dentes um volumoso charuto. — Não há motivo para te zangares com «Frisco».
As pupilas deste desviaram-se para ele... e contraíram-se impercetivelmente.
— Permites que me sente, «Prisco»?
— O que tiver a dizer será recebido de igual forma se ficar de pé.
— Eh, «Frisco»! Não me fales dessa maneira! — riu o outro. — Sou Rufus Altrop! Não te lembras de mim?
O pistoleiro quase não deslocou os lábios ao dizer:
— É precisamente por isso.
O outro voltou-se e fez um sinal aos empregados do «saloon».
— Trazei-me uísque!
Um clarão de alarme atravessou as pupilas de «Frisco».
— Não, Altrop! Sabe que não!
— Que tolice estás a dizer, rapaz?
Deixaram uma garrafa e copos sobre a mesa.
«Frisco» contemplou aquela garrafa como se ela o fascinasse.
— Para ti, «Frisco». Não... não te alteres. Festejemos o encontro...
Tom e Belle aproximaram duas cadeiras.
— Visto que todos somos amigos...
A mesa voou pelos ares. Enquanto dava voltas pelo solo e gritava aterrorizada, Belle apenas viu um homem de cujos flancos brotavam, ininterruptamente, vários fogachos.
Tom caia com a fronte manchada de sangue.
Mas «Frisco», não se ocupou dele.
Rufus Altrop, com o peito destroçado, retrocedia, empurrado por uma chuva de chumbo. E, quando tombou no solo... as balas continuaram a perfurar-lhe o corpo... até que se escutou o ruído característico dos percutores a baterem em seco.
Após o estrondo das armas, brotou um silêncio sepulcral. A atmosfera cheirava intensamente a pólvora queimada. O fumo irritava todas as gargantas.
Belle Smith contemplou «Frisco», que recarregava as armas, e levantou-se. Sentia uns desejos insuportáveis de se esconder e chorar, mas quando quis partir a voz do pistoleiro conteve-a:
— Não te movas!
Passou por cima do cadáver de Tom e aproximou-se do balcão.
Pegou nela e andou até se colocar diante de Belle. Com a mão, segurou-lhe as faces e obrigou-a a fitá-lo.
— Vamos, toca a andar lá para cima.

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