sábado, 22 de fevereiro de 2014

PAS257. Sem memória e com a identidade do bandido


Tyson só acordou oito horas depois quando o sol já se aproximava do ocaso. Estevão e os seus companheiros estavam sentados em redor da foqueira, porque do rio vinha um ar fresco que se metia na pele. As chamas recortavamas faces duras e bronzeadas de todos eles.
- Julgas que esse Tyson nos ajudará?... – perguntou Craig.
- Com certeza que sim, homem… - respondeu Leight. – Conheço-o bem e sei que fará o que puder por mim. Fomos muito amigos noutros tempos e agora que ele é rico e poderoso, segundo dizem, graças ao dinheiro que lhe deixei para vir para a Califórnia, tenho a certeza de que se recordará de mim, apesar de terem decorrido muitos anos.
- Deus te oiça… - suspirou Fel. – Esse homem é a nossa última oportunidade.
Leight ia dizer qualquer coisa, mas Lilian aproximou-se do grupo.
- Acordou… - disse ela. – Quer comer.
- Então não deve estar muito mal… - comentou Craig.

- Leva-lhe o que quiseres, e avisa-me quando ele tiver acabado de comer… - disse Estevão.
Lilian encaminhou-se para o carro, levando um prato com comida e um copo de vinho. A luz de uma lanterna iluminava o interior do carro, e a jovem ficou surpreendida ao ver que o ferido se tinha sentado.
- Tome… - disse ela, estendendo-lhe o prato e o copo.
A sua surpresa aumentou ao ver a rapidez com que Tyson devorava os alimentos.
- Escute,,, - disse ela. – Será feito de ferro? Há poucas horas estava meio morto e agora…
- Repouso e comida eram o que eu precisava… - respondeu Tyson sorrindo. Mas logo o sorriso desapareceu e ele olhou em volta. Depois tocou com a mão no peito e perguntou: - Onde estou eu? Quem é você?
Dava a impressão de estar desorientado.
- Chamo-me Lilian Leith… - respondeu ela. - … e este é o meu carro. Vamos para a Califórnia…
- Califórnia… - murmurou Tyson, como se aquela palavra despertasse nele alguma recordação. Ficou durante alguns momentos com os olhos fitos na lona do carro, e voltou a murmurar: - --------- Califórnia… Lilian… não a conheço.
- Nem eu a si… - sorriu a jovem. – Meu pai encontrou-o a flutuar no rio.
- No rio? Como fui lá parar?
- Você deve saber, Spade
Se esperava causar algum efeito em Tyson, enganou-se. Ele parecia estar ausente dali, como se o espírito se encontrasse noutro lugar.
- Quem é Spade?... – perguntou.
- Você… - respondeu ela, com estranheza. – Quem o feriu?
- Não sei… - disse ele, franzindo o sobrolho, como se estivesse a fazer um grande esforço mental. – Não posso lembrar-me de nada… Como sabe que me chamo Spade?
- O seu nome é esse?
- Suponho que sim… Não sei… - respondeu o rapaz, desconcertado. – Se diz que é…
- Não sou eu que o digo, são os papéis que tinha na algibeira.4
- Então devo ser Spade… - murmurou Tyson. – Spade…
Voltou a fitar os olhos na lona do carro. Depois deixou-se escorregar lentamente, até ficar estendido, calado. Lilian olhou-o, notando que ele tinha os olhos estranhamente abertos e abanou a cabeça.
O ruído dos passos do pai, ao aproximar-se, fê-la voltar-se.
- Podemos falar com ele?... – perguntou Estêvam.
- Sim… - respondeu Lilian - …mas receio que não possa dizer-lhes nada, pai. Ou muito me engano ou este homem perdeu a memória.
Leight olhou-a, de boca aberta, e depois lançou uma interjeição que exprimia o seu estado de espírito.
(Coleção Pólvora, nº 53)

Sem comentários:

Enviar um comentário