sábado, 7 de maio de 2016

PAS625. Cavalgada para a morte

Montou de um salto. Hatter, porém, não o conseguiu tão facilmente porque «Veloz» era um cavalo manhoso. Não se habituara ainda ao peso exagerado do seu dono e sempre que este queria montá-lo havia primeiro uma espécie de baile com «Veloz» aos pulos e Danny desfazendo-se em suor e em pragas atrás dele.
— Maldito sejas, «Veloz»! — gritou este, ameaçando-o com o punho.
«Veloz» recuou e aos estirões procurava tirar as rédeas das mãos de Hatter. O público ria a bandeiras despregadas e, por fim, o secretário lá conseguiu acomodar-se na sela.
Empreenderam a marcha, seguidos de muitos olhares e, sem saber porquê, Ronald tomou o caminho que conduzia ao rancho «Verde». Uma força estranha o impelia para aqueles lugares onde, na sua Infância, brincara e dera largas à sua alegria de criança.
E enquanto Hatter resmungava numa algaraviada sem fim, Ronald contemplava extasiado a paisagem maravilhosa que se abria à sua frente. E pela sua mente iam passando, num desfile saudoso, certas cenas e factos da sua meninice.
Danny, percebendo que o seu chefe não ia a ligar-lhe nenhuma, resolveu calar-se mas, por fim, já farto de tão prolongado silêncio, perguntou:
— Pode saber-se para onde vamos?
— Para a morte — respondeu o jovem, como se tivesse despertado dum largo sonho.
Hatter estremeceu todo e o «Veloz» relinchou iracundo.
Ronald riu à gargalhada ao ver o efeito da sua frase.
— Não se apoquente. A minha resposta foi apenas um pouco de filosofia e nada mais. De facto, nós viemos ao mundo apenas para caminhar para a morte. Foi a isso que me referi.
— Uff! Enfim, respiro! Mas, por favor, deixe em sossego a filosofia!
Ronald ia responder quando um facto imprevisto o obrigou a parar. A pequena distância, uma criança loira e linda deixava cair flores nas águas do caudaloso rio.
— Que foi? — quis saber Hiatter, ao vê-lo parado.
— Não o emociona aquele quadro?
— Sim, é digno do pincel dum artista.
Continuaram, muito devagar, o caminho até que a pequenita deu com os olhos neles. Belos olhos azuis os daquela criança!
— Boas tardes, senhor Bradley! — disse, agitando um dos bracitos.
O rapaz ficou estupefacto. Desmontou e aproximou-se dela.
— Conheces-me?
— Claro que sim! Estava no rancho «Verde» quando você vingou a morte do pobre capataz
— Ah! Caramba!
— Chamo-me Vivian Bettham e sou afilhada de Mirtha.
— Mas... estás muito distanciada do rancho. Não tens medo de andar sozinha por aqui?
— Não. Foi aqui que meu pai caiu para sempre e todos os dias venho a este lugar deitar flores no rio para que as águas as levem até onde está o meu pai. 
Ronald e Hatter impressionaram-se profundamente com aquela declaração tão cheia de deliciosa ingenuidade.
— A alma do teu pai ficará muito contente ao ver o teu carinho.
A pequenita alegrou-se:
— Verdade? Penso nisso a todo o momento. Nisso... e também em crescer para matar Frederik Jens, o assassino de meu pai. Verá!
Ronald acariciou-a com ternura e foi-lhe dizendo: 
— Antes que tu sejas uma senhora, pode ser que o teu desejo se cumpra. Até lá sucederão tantas coisas! E tu, Vivian, queres contar-me o que sabes sobre esse crime?
— Pois conto. Já o ouvi centenas de vezes, embora a madrinha não goste que eu oiça.
E contou com pormenores tudo quanto ouvira e sabia acerca daquela morte inglória, causada pelo chefe dos pistoleiros às ordens de Petelbow.
Bradley não fez comentário algum. Limitou-se a afagar a pequenita e a colher um punhado de rosas silvestres que deixou cair no rio.
— São para teu pai — disse, quase num murmúrio.
Danny perguntou:
— Não te importas que eu lhe ofereça também flores?
Vivian sorriu-lhes com doçura e apenas pôde pronunciar: «Obrigada!».

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