segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

PAS838. Duas mulheres montam a armadilha

A Eleonor chegou a notícia de que Richard morrera e o homem que ocupava o seu lugar era um impostor. A jovem ficou mergulhada numa estranha confusão, parecendo-lhe impossível que isso pudesse ser verdade; se assim era, não havia dúvidas de que o jovem era exatamente igual a Richard.
Não obstante, havia qualquer coisa que a induzia a dar crédito a tão extraordinário rumor. Ela amara Richard Graham, mas ao ver que ele se afastava atraído pela beleza exuberante de Linda Morgan, deixara de o fazer, acreditando na firmeza desta decisão. Não aconteceu assim, o' encontro com o desconhecido voltou a agitar-lhe o coração. Tornara a amá-lo, desta vez com uma força irresistível, superior à sua vontade. Era este motivo que a induzia a acreditar que não era Richard o homem que a beijara no meio da rua da povoação. Reprovava a si mesma o facto de se alegrar porque o homem que amava não fosse Richard, embora deplorasse a morte deste.
Recebeu a visita de Ruth e as duas jovens abraçaram--se. Ruth não pôde reprimir as lágrimas quando explicou à amiga a forma como se informara de que Richard tinha morrido. Eleonor tentou consolá-la e quando ela acalmou, perguntou-lhe:
— Então quem é esse homem?
— Chama-se Harry Milton, é um vaqueiro valente e generoso.
— Como sabes?
— São os factos que o demonstram. Acedeu aos pedidos de Frankie e Benne para me ajudar; apesar dos perigos que teria de enfrentar aceitou a disparatada proposta desinteressadamente. Isso, só por si, já é um facto a seu favor. Continuo a querer-lhe como se fosse meu irmão.
— Sim, não há dúvida de que é merecedor da tua amizade.
Ruth olhou-a, antes de responder:
— E tu, ama-lo?
Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça, ao mesmo tempo que dava a si mesma uma resposta definitiva.
— Não te critico, Eleonor, pelo contrário. É merecedor do teu amor. Richard portou-se muito mal para contigo e com todos, embora ultimamente se tenha redimido ao enfrentar Bipsho, negando-se a vender o rancho.
— Pobre Richard!
— Harry ama-te — afirmou Ruth, depois de uma breve pausa.
— Como sabes? — perguntou a jovem, ansiosa.
— Compreendi-o pela maneira como te olha e por m pormenores difíceis de explicar.
— Se fosse verdade...
E Eleonor não terminou a frase, mas a sua atitude foi suficientemente eloquente. Todavia, reagiu com violência.
— Não, não me ama, é um miserável!
A jovem olhou-a assombrada por causa daquele repentino impulso.
— Por que dizes isso?
— Vi-o a beijar Linda Morgan.
Ruth começou a rir. Foi então Eleonor quem a olhou assombrada.
— Não sejas ciumenta. Viu-se obrigado a fazê-lo, pois essa mulher suspeitava da verdade, vendo-se na necessidade de a prender numa cabana do rancho.
— Obrigada, meu Deus — murmurou a jovem com fervor.
— Alegro-me de que assim seja — disse Ruth com gravidade. — Harry é um grande rapaz, tens de ter cuidado para que não te escape.
— Que queres dizer? -- perguntou Eleonor alarmada.
— Conheço Harry, é generoso e valente, com um coração de ouro, mas tem um grande defeito: é orgulhoso. Se sair vitorioso da luta que iniciou fará o possível por desaparecer sem que dêmos por isso, para evitar que suspeitemos que foi guiado por algum interesse. Ama-te, mas é capaz de partir sem te ver, embora o coração se lhe despedaçasse de dor.
-- Tu achas?
— Estou convencida.
Os belos olhos de Eleonor relampejaram. Ergueu a cabeça e afirmou com decisão:
— Eu também estou convencida de que não o conseguirá.
Ruth começou a rir e apertou com afeto a mão da amiga.

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