quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

PAS814. A história de um "dandy"

— Tudo parece tudo um pouco fantástico.
— Talvez sim, embora eu não pense o mesmo e, possivelmente lhe aconteça pensar como eu, mais tarde:  É uma história muito comprida.
— Não a quer contar?
—Tenho medo de a aborrecer e desiludi-la!
— Talvez não! — sorriu, mostrando-se um pouco cética, mas sem ocultar o — Sendo assim... Richard fez uma pausa para enrolar um cigarro antes de principiar o relato.
— Meu pai nasceu no Texas, num bonito rancho, que era do meu avô, mas desde pequeno, demonstrou pouca vocação para essa vida, causando verdadeiro desespero no seu pai, que a todo o transe, queria ministrar-lhe o amor pela terra. Isso continuou durante muito tempo entre eles até que, um dia, embora fosse muito novo, meu pai abandonou a casa paterna e conseguiu chegar a Nova Iorque, onde ganhou dinheiro e posição. colocando-se melhor ainda, quando casou com minha mãe.
«Tudo correu bem durante alguns anos e, certamente eu teria sido convertido num proeminente homem de negócios, se minha mãe não falecesse quando eu tinha somente sete anos. Meu pai, desgostoso, procurou o esquecimento no trabalho que o absorvia por completo e eu corri os melhores liceus durante quatro anos, até que um dia me foi buscar, perguntando-me se eu gostaria de passar uma temporada com o meu avô.
«Teria eu talvez uns onze anos. Fui aceitando a ideia com alvoroço. A partir daquele momento, tudo foi para mim uma formosa aventura, desde a viagem de comboio até à diligência puxada por cavalos.
«O meu avô, homem alto e espadaúdo, apesar dos seus sessenta anos, acolheu-me de braços abertos e tratou de me ensinar todos os segredos existentes na vida dum «rancho», felicitando-me, satisfeito, pelos meus rápidos progressos.
Passaram-se três anos, entre os quais não havia rapaz mais feliz do que eu. Nessa altura, já não havia nada que eu não soubesse fazer, desde fazer voar uma pequena rolha, a cinquenta metros de distância com um só tiro de carabina, a montar um cavalo selvagem.
Numa certa manhã, cheia de sol e tranquilidade, dirigíamo-nos num ligeiro «brekboard» conduzido por mim, quando um tiro os sobressaltou, obrigando-me a empregar todas as energias para os dominar, enquanto a angústia me afogava o peito, pois tinha percebido perfeitamente o leve e sinistro ruído da bala alojar-se corpo do vigoroso sexagenário. Ainda hoje não compreendo como pude manter a suficiente serenidade para manter os cavalos e parar o carro. Porém, quando consegui tudo isso, vi dois cavaleiros que se afastavam todo o galope, e, um deles, o primeiro, ainda empunhava a arma que tinha disparado sobre o meu avô.
— Vamos, filho — ouvi o velho murmurar, quase expirar. — Mostra-lhes como atira um Cameron.
As mãos tremeram-me ao empunhar a Pesada «Winchester», mas, com um violento esforço, pude dominar-me e, apontando cuidadosamente porque a distância já era considerável, apertei o gatilho e, por certo, teria tombado o assassino, se o outro cavaleiro não se metesse de permeio, pagando assim com a vida a sua falta de atenção. O outro fugiu, para nunca mais o ver.
— Bem, Richard — disse-me o avô que tinha presenciado a cena. — A sorte salvou-o desta vez. Estou orgulhoso de ti.
Insisti para que me dissesse o que havia de fazer para o tratar, mas ele disse-me que nada já o poderia salvar. Depois, em breves palavras, explicou-me que aquele homem chamado Randars, tinha pensado liquidá-lo, porque o meu avô o tinha metido na cadeia, quando se sentiu roubado numas cabeças de gado.
Pediu-me que o vingasse e ao ouvir a minha promessa, morreu com um sorriso feliz nos lábios. Tinha eu então somente catorze anos.
— Mas isso era uma barbaridade. Pedir semelhante coisa a um menino dessa idade. — interrompeu Carol.
— Talvez. Mas, mesmo assim, quando voltei ao «Rancho», à frente de vários homens, corri à procura do assassino sem, contudo, o encontrar. Mais tarde, o meu pai voltou, vendeu a propriedade e levou-me de novo para Nova York, negando-se a escutar os meus protestos. Contratou detetives, fez investigações, mas tudo em vão. Nunca mais se soube do paradeiro do homem que se chamava Randars.

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