segunda-feira, 23 de outubro de 2017

PAS795. A noite negra

Os homens estavam absolutamente exaustos depois de violenta marcha sob aquele sol arrasador. Vagas de intenso calor brotavam da ardente terra do deserto.
O sargento Miller, da Cavalaria dos Estados Unidos, estava furioso. Furioso com o comandante Spencer, de «Fort Combie», que o nomeara chefe da escolta. Furioso com os três professores da universidade de Pensilvânia que incorreram na estupidez de penetrar em território «apache». Furioso com o sol, o calor, a areia, o suor e a imundície.
Estava, igualmente, furioso consigo mesmo por ter obedecido à absurda ordem do comandante Spencer. Seria, na verdade, sensato se não acatasse a referida ordem. Na pior das hipóteses, compareceria num conselho de guerra a fim de ser julgado pelo crime de desobediência ou por insubordinação, e seria condenado a cinco anos de prisão militar — o que não era agradável.
Por outro lado, obedecendo como um carneiro à disparatada ordem de proteger a expedição dos três professores da universidade, tinha amarrado uma corda em volta do pescoço.
Uma corda que os índios se encarregariam de apertar e puxar. O sargento Miller sabia que, ao acatar a ordem do comandante Spencer, lavrara a sua sentença de morte e, também, a dos oito soldados do pequeno destacamento.
O sol do meio-dia caía a prumo sobre os cavalos e os pesados carros, fazendo ranger os toldos de lona. As camisas dos soldados pareciam engomadas, tanta quantidade de suor e pó se aderiu a elas.
— Estou farto deste sujo deserto! — resmungou um homem chamado Lee.
— Isto não se pode chamar deserto. É o inferno sem tirar nem pôr. Estamos rodeados de areia, poeira, terra seca, desfiladeiros, canhões, nascentes de água quase inacessíveis... e serpentes da raça cascavel! — acrescentou outro de apelido Jackson.
— Compreendo, agora, por que ninguém descobre os esconderijos dos índios — disse um terceiro soldado, de nome Marks.
— É melhor estarem calados! — advertiu, secamente, o sargento que ia à frente da pequena coluna.
Os oito soldados de cavalaria e o sargento abriam a marcha. Atrás, seguiam os dois carros, conduzidos por mestiços que os professores contrataram na aldeia de Dodge. Eram quatro homens que o sargento, se pudesse, teria enforcado imediatamente, ou, não encontrando árvores, fuzilado com o maior prazer.
Quatro mestiços cuja presença o diabo não queria no inferno e, contudo, os professores da universidade de Pensilvânia pagavam-lhes cento e cinquenta dólares mensais, além da alimentação e das bebidas... e eles bebiam mais do que comiam.
O sargento Miller estava plenamente convencido de que os mestiços eram assassinos e aguardavam, apena-, oportunidade de os matar a todos.
Confessara as suas suspeitas ao professor Herbert Wigmore, chefe da expedição. O professor não tomou o caso a sério, e riu.
— Não seja pessimista, sargento. Contratámos os mestiços em Denver e atravessámos com eles parte do Kansas, o território índio e todo o Novo México. Se quisessem, já nos tinham assassinado — disse o professor Walter Chambers, que se encontrava ao lado do colega.
O sargento Miller não se atreveu a dizer que havia um deus especial a proteger os loucos, os bêbados e os apaixonados... mas ele decidiu ter os índios sob a mais estreita vigilância.
O terceiro professor da expedição chamava-se Ronald Murrow e, como Wigmore e Chambers, só abandonava o carro não havendo outra solução.
Wigmore era professor de História; Chambers, de Arqueologia e Murrow, de Literatura.
Tinham já todos cinquenta anos e realizavam, nessa altura, a primeira expedição... Segundo Miller, também a última.
Apesar do calor selvagem, os professores continuavam a vestir-se como na cidade, incluindo os chapéus altos, dos chamados «tubo de chaminé».
Herbert Wigmore usava óculos de arcos de metal e sempre os colocava na ponta do nariz. Quando falava com os colegas ou com Miller, olhava por cima dos vidros. Chambers era um homem pequeno, magro, de barba esbranquiçada que acariciava continuamente. Murrow, alto e excessivamente escanzelado, causava sempre a impressão de passar fome.
Desde a partida de «Fort Combie» a cem milhas a oeste de Santa Fé, em Novo México, o sargento Miller perguntava a si mesmo que diabo estariam aqueles três malucos a procurar, pois o sargento havia chegado a esta conclusão: tinham perdido de todo o juízo. Não estavam apaixonados, visto serem já velhos e, durante os dois meses de convivência, nunca os vira beber. Todas essas circunstâncias levavam Miller a afirmar que não podiam deixar de ser loucos, dada a proteção que o deus desconhecido lhes dispensava, dia e noite.
Vira-os a cavar no deserto, sob aquele sol de matar vacas... e eles não sofreram nem sequer ligeira insolação. Também os vira a caminhar por entre serpentes cascavéis e nenhuma delas ousou morder-lhes.
— É o que eu digo... Os loucos, os bêbados e os apaixonados... são sempre especialmente protegidos pelo deus que só eles conhecem — murmurava" Miller.
Naquele meio-dia abrasador, quando os cavalos estavam quase a desfalecer, o professor Wigmore, os óculos a oscilar na ponta do _nariz, saiu do segundo carro e, tirando uns binóculos militares do estojo, examinou atentamente o terreno.
Depois, chamou o sargento que se apressou a voltar o cavalo a fim de se colocar ao lado do carro.
— Às suas ordens, professor — disse, erguendo os dedos até à pala do poeirento boné.
— Acamparemos além. Creio estarmos no local indicado — respondeu o professor, apontando para uma depressão de terreno.
O sargento Miller julgou que o sol estava a pregar--lhe valente partida... pois, a cinco milhas de distância, estendia-se um amplo vale rodeado de altos penhasco, e rochas escarpadas.
Quando se aproximaram, meia milha se tanto, Miller verificou que a zona leste do vale era constituída por alcantilada muralha de pedras avermelhadas, na qual se rasgava longa série de enormes fendas, semelhantes a aberturas de covas.
No vale, havia uma nascente de água, límpida e fresca, algumas árvores e ervas a crescer em redor da nascente. O vale era um oásis no meio do deserto.
Se o sargento Miller fosse entendido em tais questões, saberia que se encontrava numa região limitada pelos rios Salt e Gila, próxima da fronteira entre os territórios, do Arizona e Novo México.
Não podia adivinhá-lo, porque a expedição chegara ao vale procedente do Norte e o que ele chamava deserto, era apenas o vasto planalto do Mogolão.
Encontravam-se no Arizona e a mais de trezentas milhas da aldeia menos distante, em pleno coração do território índio.
Acamparam nas imediações da nascente e o sargento estremeceu ao ouvir o professor Wigmore.
— É necessário procedermos a escavações à volta da muralha situada a leste. Creio que essas aberturas correspondem a casas construídas por algumas tribos de índios.
— Podem informar-me do que estão à procura? perguntou o sargento, enquanto os seus homens examinavam o terreno.
— Um tesouro, Miller, um fabuloso tesouro que todos os museus do mundo gostariam de possuir — afirmou Morrow.
Um tesouro? O mais certo é encontrarem um montão de ossos! — declarou Miller, resmungando.
— Está enganado. Logo à noite, explicar-lhe-ei tudo, pormenorizadamente. Não iniciaremos as escavações hoje — disse Wigmore.
O sargento encolheu os ombros... Se aqueles três maníacos pensavam ficar eternamente no deserto, era uma felicidade terem escolhido esse vale e não um antro de serpentes.
Os mestiços começaram a descarregar os carros e ergueram uma grande tenda de lona para os professores descansarem.
Os soldados de cavalaria desencilharam os cavalos, deram-lhes de beber e prenderam-nos, depois, uns aos outros. O sargento nomeou dois homens para montarem a guarda.
— É preciso ter os olhos abertos, rapazes. Quero regressar a «Fort Combie», o mais depressa possível... e vivo.
— Índios... Índios até debaixo das pedras... Não é verdade, sargento? — perguntou o soldado Lee, conhecedor daquela parte do território.
— Sim, índios «apaches». Amanhã, construiremos uma espécie de fortim, junto da muralha situada a leste. Precisamos de um reduto em condições de repelir o ataque dos índios — retorquiu Miller.
— Mas eles atacarão? — perguntou um dos soldados.
O sargento olhou para ele demoradamente, como se estivesse na presença de um rematado imbecil. Depois, fixou a sua atenção em Lee e perguntou-lhe:
— Quem é o estúpido que pretende saber se os índios atacam ou não?
— Não o conheço, sargento. Com certeza é algum protegido do comandante. Spencer — respondeu o soldado, muito sério.
— Pois faça favor de lhe explicar a espécie de anjinhos que são os índios... e pergunte-lhe, também, para onde enviaremos as suas roupas e mais coisas quando morrer... porque um indivíduo tão estúpido como ele, será o primeiro a cair morto — disse o sargento, afastando-se a largos passos.
Um dos mestiços principiou a fazer o jantar e, depois de o sol ter desaparecido além dos rochedos avermelhados, foi acesa uma enorme fogueira a seis metros da nascente.
Miller colocara sentinelas à volta do acampamento, embora soubesse perfeitamente que os índios não atacavam de noite, mas pensou na provável existência de outros inimigos naquela desértica solidão, sem contar os peles-vermelhas.
— Depois de andar tanto a cavalo, é agradável descansar e pensar que a sela tem tempo de arrefecer — disse Miller, quando o cozinheiro serviu o café.
— O senhor e os seus homens terão oportunidade de repousar algumas semanas, sargento. Encontrando ou não o que procurámos, procederemos a escavações — asseverou Morrow.
— Bem, Miller. O comandante Spencer foi bastante amável em proporcionar-nos uma escolta e, embora ele conheça a natureza da nossa expedição, o senhor ignora-a. Por isso, vou elucidá-lo a esse respeito e, assim, poderá, também, esclarecer os seus homens — começou Wigmore a dizer, descendo os óculos para a ponta do nariz.
— Estou a ferver de curiosidade! — exclamou Miller, que, de facto, não se interessava nada pelo assunto.
A sua única preocupação eram os índios e os mestiços. Os índios poderiam cair sobre eles inesperadamente e exterminá-los antes de prepararem qualquer defesa.
Toda a fronteira sul, a partir do rio Gila até Laredo, constituía a zona mais perigosa dos Estados Unidos. Os índios tinham empreendido uma guerra de extermínio e eram comandados por homens tão famosos como Cochise, Jerónimo, Manuelzinho, «Mangas Coloridas» e Vítor.
Arizona, Novo México e Texas surgiam como verdadeiros infernos. O destruidor vento da morte varria, frequentemente, extensas superfícies desses territórios, deixando, apenas, ruínas fumegantes, cadáveres estendidos ao sol e campos devastados.
Por causa da revolta das tribos apaches, o comandante Spencer, cumprindo ordens de Washington, dispensara nove dos seus homens e, embora Miller o ignorasse, também ele, comandante, estava furioso com esses três doidos que se metiam, jubilosamente, no centro da região mais temível.
Spencer, contudo, não podia negar-lhes auxílio, pois os citados professores eram personalidades célebres. Quando o comandante lhes expôs a questão, limitaram--se a encolher os ombros e a dizer:
— Iremos sem escolta. Não precisamos de semelhante coisa.
O comandante poderia, se quisesse, fechar os três sábios em qualquer calabouço do forte, mas não ousou fazê-lo. Desejava subir de posto e nomeou o sargento Miller chefe da reduzida escolta, sob' as ordens diretas dos professores. Escolheu três ótimos cavaleiros e, depois, outros cinco menos hábeis, porque não estava disposto a perder nove homens de extraordinárias qualidades. E pensou que bastavam, apenas, quatro.
Seguramente o sargento teria assassinado o comandante, se tivesse podido desvendar os seus pensamentos mais íntimos, porque Spencer, vendo partir a insignificante expedição para o sul, quis chamar o tenente-tesoureiro e dizer-lhe que poderia riscar os nomes daqueles nove homens.
O comandante, na realidade, já os considerava mortos... mortos e enterrados em qualquer lugar do sul. Spencer era um homem duro, mas angustiava-o a ideia de enviar os seus soldados para a morte inevitável, sem possibilidade alguma de sobreviver.
— Já ouviu falar da Noite Triste? — perguntou o professor Wigmore.
— Tenho conhecido muitas noites tristes, professor. Noites de licença, com as algibeiras limpas, porque desbaratei o ordenado a jogar o «poker». Sei o que significa a noite triste asseverou Miller, francamente.
— Refiro-me à Noite Triste da História, a noite em que os espanhóis foram expulsos da cidade do México pelos astecas... — elucidou o professor.
Miller atirou o chapéu para a nuca e, depois, de coçar, furioso, a cabeça, redarguiu:
— Não faço a menor ideia. Sucedeu importante?
— Deve saber que há séculos, os espanhóis, comandados por Fernando Cortez, conquistaram o México...
— Hum! — resmungou o sargento, como a afirmar conhecimentos históricos.
— ...Apoderaram-se de enormes quantidades de objetos de ouro, que transportaram para a cidade do México. quando os astecas atacaram, os espanhóis abandonaram a cidade, levando esse tesouro imenso. Todavia, dos mil e trezentos homens, salvaram-se, apenas, quatrocentos e quarenta. Os restantes, pereceram na luta ou foram sacrificados aos deuses astecas. Estes factos ocorreram na noite de um de Julho de mil quinhentos e vinte -- explicou o professor.
— Já há algum tempo — comentou Miller, a perguntar a si mesmo que diabo teria ele com os espanhóis, os factos ocorridos há tantos anos e os seus problemas atuais.
— Um capitão, Álvaro de Bazan, com uns doze homens e um pesado carro, logrou descobrir o caminho do norte, auxiliado por uma índia. Nunca se conseguirá saber como pôde alcançar esta parte do Arizona. A verdade, porém, é que chegou... e no carro ia o tesouro. Volvidos muitos anos e prosseguindo as investigações, os meus colegas e eu reunimos os elementos possíveis, e Morrow fez uma viagem à Espanha para obter mais informações. Resumindo: o tesouro dos astecas encontra--se neste vale... ou nas imediações.
— Há trinta anos, cinco indivíduos assaltaram um banco e levaram lingotes de ouro avaliados em cinquenta mil dólares... e ainda estão à procura do ouro. Se os senhores esperam descobrir o tesouro roubado há trezentos e cinquenta anos...
— Trezentos e cinquenta e seis — corrigiu Chambers, maníaco da exatidão.
— Garanto-lhes: os senhores são os homens mais varridos de juízo que tenho conhecido na minha atormentada vida e se me tivessem esclarecido a esse respeito em «Fort Combie», desertaria ali mesmo, para não mais ser visto. Também devo dizer-lhes que não explicarei nada aos meus homens, pois deixariam de me respeitar. Boas noites — disse o sargento, afastando-se da fogueira.
Dera, apenas, seis passos quando se voltou, e os surpreendidos professores ouviram o sargento Miller dizer:
— E apaguem a fogueira imediatamente, pois não quero que se descubra o nosso acampamento. Os doidos à solta aqui, chegam muito bem para irmos direitinhos ao inferno.
Afastou-se, depois, a fim de se reunir aos seus homens e, enquanto caminhava a largos passos, ia murmurando: _
 — Noite Triste... ouro dos astecas... trezentos e cinquenta e seis anos... doídos varridos... sim, senhor, doidos... Maldito comandante Spencer... Gostaria de o ver metido nesta complicação.
Quando adormeceu, teve inumeráveis pesadelos... mas, já de pé, continuou a tê-los, pois viu logo os professores e os quatro mestiços a escavar junto da muralha situada a leste.
Miller deu uma série de ordens relativas à construção de uma espécie de parapeito no local mais indicado, do qual pudessem dominar, perfeitamente, a maior extensão de terreno em volta.
Decorreram seis dias, sem qualquer novidade. Mas na manhã do sétimo dia, o professor Wigmore chamou o sargento e, mostrando-lhe um capacete cheio de terra, disse:
— Sabe o que é isto?
— Pode ser muitas coisas, desde uma panela até uma armadilha para caçar esquilos — respondeu Miller, examinando, fugidiamente, o objeto que o professor lhe mostrava.
— É um capacete... um capacete igual aos dos homens de Cortez, e essa descoberta demonstra que estamos no bom caminho — explicou o professor, cujos pequenos olhos míopes brilhavam de satisfação.
— Bem, se encontrar mais algum, não venha incomodar-me. Parece-me que os «apaches» andam próximos daqui... tão próximos que não nos podemos sentir em segurança.
— Se aparecerem, falarei com eles — afirmou o professor, muito sério.
O sargento Miller não lhe quis dizer que, se os índios aparecessem, nem ele, nem qualquer outra pessoa poderia falar muito. A única solução seria combater à maneira de verdadeiros diabos, em defesa das próprias vidas.
Ao entardecer, o professor Morrow encontrou um pequeno ídolo de ouro puro e os três homens deram saltos de alegria. Naquela noite pouco dormiram, passando o tempo a examinar o ídolo e a trocar impressões.
O sargento Miller coçou novamente a cabeça, a pensar... Talvez tivessem razão. Ali poderia estar escondido um tesouro. Por esse motivo, na manhã seguinte, quando recomeçaram as escavações, Miller foi assistir aos trabalhos dos professores.
— Se não me engano, o mestiço disse que o café, o presunto frito e os pães já estão prontos — disse Miller, chamando a atenção dos professores que se tinham levantado de madrugada e, sem se levarem, nem comer nada, principiaram, imediatamente, a escavar.
— Temos de proceder com serenidade. O ídolo encontrado ontem é astecas, mas talvez tenha sido roubado por algum homem de Bazan e o tesouro esteja noutro sítio — afirmou Wigmore, sacudindo a terra das mãos.
— Sim. A verdade, porém, é que seguimos a autêntica pista — comentou Morrow.
— Tenho fome — insistiu Miller.
Os quatro homens regressaram para junto do carro, próximo do qual ardia a fogueira que servira para preparar o café. À volta, encontravam-se os mestiços e os seis soldados livres de serviço, pois os outros montavam a guarda.
Quando o sargento Miller levantava a fumegante caneca de latão cheia de café, ouviu um ruído seu velho conhecido: o peculiar silvo da flecha ao desprender-se do arco, e, depois, o desagradável «chop» produzido ao cravar-se na carne.
Nas costas de um dos mestiços aparecera a flecha. O ferido lançou um arrepiante grito de agonia e caiu de bruços, mesmo em cima da fogueira, espalhando nuvens de faúlhas... Mas ninguém pôde socorrê-lo porque o inferno desencadeou toda a sua fúria no acampamento.
Nenhum homem de Miller conseguiu alcançar o improvisado fortim, junto da muralha situada a leste. Os dois soldados reuniram-se, instintivamente, à volta do chefe e apontaram os revólveres.
— Fogo, rapazes! Fogo sem parar! — ordenou Miller.
Uma flecha atingira o professor Wigmote ao meio do peito e morrera sem poder falar com os índios. Os peles-vermelhas arrastaram-se até às imediações do acampamento, a fim de utilizaram a proteção oferecida pelos acidentes do terreno e os que possuíam arcos serviram-se deles, mas descoberta a presença dos índios, estes mudaram de tática.
Ouviu-se enorme gritaria atrás de um pequeno planalto e Miller compreendeu perfeitamente o que iria acontecer. Mais de trinta «apaches», montados em velozes e resistentes cavalos, atiraram-se contra os brancos.
Os soldados ergueram os revólveres e começaram a disparar. Alguns índios foram arremessados ao chão, mas os restantes caíram sobre eles, como irresistível avalanche.
Uma bala no ventre fez o professor perder o equilíbrio e, ao pretender levantar-se uma lança «apache» atravessou-lhe o peito, cravando-o na terra. Morrow, seu colega, morreu com uma bala na cabeça.
Morreram todos, em poucos minutos. Apenas o sargento Miller, completamente ensanguentado, continuava a disparar o revólver. Apoderara-se, primeiro, da arma de Lee e depois utilizou a de Marks. Mas, ao inclinar-se para apanhar o revólver do homem que lhe perguntara se os índios atacariam, um pele-vermelha destroçou-lhe a cabeça com a coronha da espingarda. Os «apaches» apoderaram-se das armas e de tudo quanto, para eles, tinha algum valor; incendiaram, depois, os dois carros e levaram os cavalos.
Deixaram, apenas, cadáveres e colunas de fumo negro. A destruição e a morte estenderam-se no pequeno acampamento dos homens que procuravam o tesouro. A universidade de Pensilvânia perdera três sábios professores e o comandante Spencer podia eliminar nove homens da folha de pagamentos.

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