segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

PAS709. Um «Furacão» chega ao local da ação

Mannpyn era, na época em que decorre este episódio, um povoado progressivo, com as suas casas de tijolo, algumas com um encantador jardim florido a colorir a singeleza da fachada.
Winston Orwell, homem possante e musculoso, que respondia pela manutenção da Lei naquela terra e era dos poucos que ostentavam, suspensos em coldres de couro lavrado, dois enormes 45, encostou-se à porta do seu gabinete e, enquanto fazia, pacientemente, um cigarro ficou a olhar o movimento que se verificava na rua principal.
O rosto redondo do velho armeiro Alfred Wolf, emoldurado por uma farta barbicha branca, abriu-se num sorriso e acenou-lhe, amigavelmente, com a mão. Sentado nos degraus de madeira à porta do seu estabelecimento, Alfred limpava o cano de uma carabina com uma vareta comprida. Wolf amava as armas, tanto quanto os poetas amam as aves.
Mais abaixo, duas portas abertas davam entrada para o armazém de víveres de Guy Standish, onde se vendia de tudo, desde o bom fato para o rancheiro abastado, já feito, até aos arreios para as montadas. Não havia homem mais alegre no povoado que se igualasse a Standish. Nunca aquele rosto se ensombrava por uma tristeza, ou a língua se calava sem um dito chistoso para largar no momento oportuno. Da mesma idade que Wolf, Guy pertencia ao número já restrito dos pioneiros de Mannpyn que, graças ao suor e abnegação destes, se projetava, radiosamente, no futuro.
Seguia-se o hotel de Helena Debenham. Os cento e dois quilos de Helena não impediam que ela fosse a mulher diligente e canseirosa que administrava o seu hotel, providenciando para que nada faltasse aos hóspedes que, temporariamente, se acolhiam no seu teto. O falecimento de Debenham tinha fortalecido o ânimo forte daquela senhora, que fora obrigada a lutar, pessoalmente, pela sua subsistência na vida.
Do outro lado da rua, o saloon de John Knight era ponto obrigatório de reunião para os homens do povoado. Especialmente, aos sábados, o estabelecimento era acanhado para comportar a multidão de vaqueiros, cow-boys e rancheiros, que faziam uma algazarra insuportável. O fim de semana não passava sem que o xerife não fosse chamado a intervir por causa de uma briga e um grupo acabava por ser metido do outro lado das grades, a curtir a bebedeira daquela noite. No dia seguinte, já arrependidos e conscientes, seguiam para os seus trabalhos.
Mais próximo do escritório do agente da Lei, ficava uma filial do Banco. Construído de tijolo e com as jane-las protegidas por gradeamentos de ferro, o edifício garantia a segurança dos valores lá depositados. Christopher Kersh, o gerente, que viera propositadamente da cidade para ocupar aquele cargo e que vivia numa luxuosa residência nos limites do povoado, era, sem dúvida, o homem mais bem vestido do lugar. Sem ser de todo antipático, não se misturava, todavia, com o vulgo.
Winston via-o passar, diariamente, sentado na sua pequena carruagem, tirada por um cavalicoque, que ele próprio conduzia.
O xerife interrompeu as suas congeminações para reparar no forasteiro que acabava de entrar no lugarejo. Montava um cavalo malhado e usava armas. Vestia roupa vulgar de cow-boy, calças escuras e surradas, camisa axadrezada e tapava a cabeça com um chapéu de abas--de-corvo que lhe encobria quase por completo as feições. Apesar de este pormenor, Winston Orwell verificou que ainda era novo, trinta e alguns anos, calculou.
Do outro lado da rua, o armeiro Alfred Wolf parara igualmente o serviço que executava e levantara os olhos para seguir o estranho, até que este desmontou à porta do hotel de Helena Debenham.

Sem comentários:

Enviar um comentário