domingo, 26 de junho de 2016

PAS642. E nem o quinto condenado escapou

O xerife de Deadwood Gulch guardou silêncio, após ouvir as palavras que acabava de proferir o seu ajudante. Percorreu várias vezes e a grandes passadas o pequeno espaço do seu escritório, enquanto o outro permanecia imóvel, junto da secretária, a observá-lo.
— De modo que esse tipo repta-me para um duelo? — disse, de súbito, parando a meio do aponto.
— É verdade, xerife. Anda de taberna em taberna, bebendo e golfando insultos contra o senhor. Diz que se não o enfrenta como um homem, virá aqui arrancar-lhe as orelhas com a sua navalha.
— Maldito assassino!... — bramou o da estrela, começando a passear de novo, como um leão enjaulado. — Devia ter-lhe dado um tiro naquele dia em que matou Duke o «Suavp». Agora...
Calou-se e cuspiu para o chão.
— Tem medo de enfrentá-lo, não é verdade?
— De facto... Com todos os diabos! Como posso eu medir-me com esse pistoleiro profissional, mestre no manejo dos revólveres? Seria um suicídio!
— Está a beber mais do que a conta. Poderíamos esperar que se emborrachasse de todo e prendê-lo — insinuou o ajudante.
— Não adiantaríamos nada. Esse «Colorado», ou «Ne¬vada», ou lá como se chama, dispara tão bem com cinco litros de álcool no estômago como se apenas tivesse bebido água mineral.
— Então, o melhor que pode fazer é sair da terra e voltar depois de lhe passar a mania.
— E fazer figura de cobarde diante de todos?... Não! Que seria da nossa reputação como representantes da Lei? Ninguém nos respeitaria; passariam a rir-se de nós... E esta-terra converter-se-ia num covil de feras.
— De qualquer modo, já o é... Esses pesquisadores de ouro e os bandidos que infestam o distrito estão a tornar a terra em qualquer coisa muito pior.
Naquele momento ouviram-se na rua vários disparos de revólver, acompanhados de gritos estridentes. Depois, uma voz gritou:
— Sai do covil, «Cara de Abutre»! Não sejas cobarde e porta-te como um homem!
O ajudante do xerife correu para a janela e espreitou através dos vidros.
— Aí o tem — murmurou. — Não lhe sai da cabeça a ideia de matá-lo.
O representante da Lei mexeu-se, inquieto. Depois, tomando uma repentina decisão, puxou dos dois revól¬veres, verificou as suas cargas e tornou a metê-los suavemente nos coldres.
Hei-de cumprir o meu dever — disse com voz calma. — Não saias daqui, rapaz, nem intervenhas em nada, aconteça o que acontecer. Até logo.
— Boa sorte — desejou-lhe o outro.
Até que enfim apareces; «Cara de Abutre»! — exclamou o homem que se encontrava na rua. — Chegas a tempo de beber um trago — e agitou a garrafa. — A inda resta algum para te levantar o moral...
— Que desejas de mim?
— Temos tempo de falar nisso, «Cara de Abutre» — disse alegremente. — Não queres beber? Aproxima-te, homem, o «whisky» é do bom...
— Perguntei-te o que desejas de mim — replicou-lhe o xerife, com voz firme.
— Que cara mais comprida trazes, autoridade! — zom¬bou «Nevada». — Qualquer diria que vais assistir a um funeral...
Guardou a arma que tinha na mão e bebeu outro golo, sem olhar para o da estrela. Depois, acrescentou:
— Claro que, para dizer a verdade, em breve haverá um enterro: o teu ou o meu...
Por que queres lutar comigo? Para que voltaste a Deadwood?
— Já não se pode ter saudades das caras conhecidas?
replicou «Nevada». — Verás. Primeiro pensei entre¬gar-me à Lei, pela morte de Duke o «Suave»... Porque Duke o «Suave» não tinha consigo nenhuma navalha, nem coisa parecida, quando o mandei para o inferno. Já sabias, não é verdade?
Riu-se cinicamente. Como o xerife permanecia mudo, continuou:
— Também pensei entregar-me por outro delito que, estou certo, ignoras por quem foi cometido. Recordas-te da diligência que assaltaram há dois anos, perto de Cheycnne? Pois bem: eu era um dos homens do bando.
— Referes-te àquela em que assassinaram quantos levava, para roubarem o ouro?
Exactamente. O teu amigo «Suave» era outro dos assassinos.
— Disseste vir entregar-te por esses delitos?
— Mais devagar, autoridade. Ainda não acabei de falar... Como a dizendo, ao princípio, pensei entregar-me à Lei. Disse para comigo: «E quem melhor do que o amigo «Cara de Abutre», para me prender?» Por isso vim até cá. Mas...
Deteve-se, a fim de beber um novo trago de «whisky», porém o líquido acabara-se. Deitou a garrafa para longe
e disse:
— Que pena! Terei de comprar outra assim que acabar... Depois mudei de opinião — continuou, sorri¬dente. — Disse para comigo: «O teu amigo «Cara de Abutre» enforcar-te-á, se te entregares. Por que não o matas tu a ele por vingança? Tanto mais que, apesar dos teus vinte e dois anos, ainda não liquidaste nenhum xerife! Por que não experimentas com esse, que, ao fim e ao cabo, quer despachar-te a ti para o outro mundo?». Soltou uma gargalhada e terminou:
— Pura lógica, não é verdade?
O representante da Lei cuspiu com desprezo.
— És um miserável! — gritou. — Nunca julguei que um homem pudesse cair tão baixo... •
Houve um silêncio. «Nevada» Jim permaneceu imóvel
e sorridente. Nas uas pupilas notava-se um brilho estranho, que o da estrela não foi capaz de decifrar.
Vamos a isto, autoridade? — perguntou o jovem. — Tenho pressa: preciso de beber outro trago...
O representante da Lei sentiu a boca amarga. Sabia que era uma loucura o que ia fazer. Aquele homem era demasiado rápido... não obstante, acabou de descer os degraus e avançou lentamente ao encontro do rapaz. Por fim parou a dez passos dele, debaixo do ardente sol do meio-dia.
— Podes puxar quando quiseres, «Cara de Abutre» — disse Nevada. — Dou-te vantagem.
Decorreram lentos vários segundos.
De súbito, na mão direita de «Nevada» apareceu, como que por artes magicas, um «Colt» que vomitou chumbo contra o da estrela. O chapéu deste voou pelo ar e da garganta do agressor brotou uma ofensiva garga¬lhada.
Então, não to decides? — gritou-lhe, guardando outra vez a arma. — Contarei ate três, e se entretanto não tirares as armas, dispararei eu. Mas desta vez não será contra o chapéu... Um... — começou a contar «Nevada».
O xerife de Deadwood Gulch disse para consigo que chegara o momento. não esperaria que o seu rival continuasse a contar.
Velozmente, aproximou a mão do quadril, agarrou na coronha do revólver, sacou-o e puxou para tris o percutor. Uma fração de segundo mais tarde, apertava o gatilho, após apontar ao corpo de «Nevada». Soou a detonação e o rapaz levou as mãos ao peito e caiu de joelhos sobre o p6 da calçada.
O xerife abriu os olhos assombrado. não queria dar crédito ao que presenciara. Porque «Nevada» Jim não movera nem um só músculo para defender-se!
Com o «Colt» na mão direita, aproximou-se a grandes passadas do corpo tombado. Mas antes de chegar junto dele, parou. «Nevada» Jim soerguera-se e olhava-o fixamente através do esgar de dor que lhe arrepanhava o rosto.
— Ainda não me... mataste... de todo murmurou. — Por que esperas?
Mas o representante da Lei não lhe ligou importância. Guardou a arma que empunhava e tornou a fazer menção de aproximar-se. Então, na mão do jovem apareceu um revolver, que lhe apontou ao peito.
Dispara outra vez... «Cara de Abutre»...! — exclamou. — Dispara... ou disparo eu...
—.Que tencionavas conseguir com esta comedia, rapaz?
A voz do representante da Lei suavizara-se um pouco.
— Dispara... xerife! — gritou de novo, com raiva.
— Acaba... de uma vez!
— Nunca farei isso — respondeu-lhe o outro. — não sou um assassino.
— Fá-lo-ei eu... então — gaguejou «Nevada», com os olhos brilhantes.
Levantou a arma a altura do peito do xerife, ao mesmo tempo que o percutor saltava para trás. O da estrela, inconscientemente, voltou a tirar o revólver e dirigiu o seu negro orifício para o corpo do caído. Os dois homens olharam-se fixamente, procurando adivinhar os seus pensamentos.
— Larga esse «Colt», «Nevada». não terei outro remedio senão matar-te, se não me obedeceres...
Foi então que apareceram no extremo da praça dois cavalos a galope, que avançaram para o grupo formado por «Nevada» e pelo representante da Lei. Ao chegar perto de ambos, um dos cavaleiros saltou para o solo velozmente e correu direito ao ferido.
O xerife ficou surpreendido por tão estranha aparição. Porque a pessoa que acabava de desmontar era uma rapariga, e o seu companheiro um pele-vermelha de forte musculatura e de aspeto arrogante.
A jovem inclinou-se para o solo, junto do corpo de «Nevada», e abraçou-o convulsivamente.
— Jim! Oh, Jim! — exclamou, com os olhos brilhantes de lágrimas.
— Maria!
— Oh, Jim! Por que fizeste isto? Porquê?
Era... era o meu dever — respondeu-lhe, num fio de voz. — Tinha de fazê-lo... porque... estava condenado...
Uma brusca contração de dor agitou-lhe o corpo. Fechou os olhos e a cabeça pendeu-lhe para trás, exangue.
Maria Nielsen abraçou-o com força e soluçou desesperadamente:
— Jim!... Jim!...
 
 
 
PS: O desespero de Maria Nielsen era total. Teria Jim, o quinto condenado, sido abatido? Para o saber, leia na totalidade «O quinto condenado» que disponibilizamos em Novelas do Oeste Distante

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