quinta-feira, 9 de junho de 2016

PAS632. Terra para o meu filho trabalhar

A quatro milhas do acampamento, a vanguarda do «Run» continuava como um gigantesco rolo, galgando pela pradaria levantando uma enorme nuvem de pó.
As parcelas imediatas à linha de partida, pela sua proximidade da futura cidade que ali se levantaria, foram as mais cobiçadas e aquelas que causaram maior número de contendas. Os cavaleiros mais rápidos foram os primeiros a reclamar essas terras.
Levando vantagem aos carros e mais ainda aos homens que corriam a pé, os cavaleiros foram avançando e tomando as estacas brancas à medida que estas iam aparecendo. Detrás dos cavaleiros, os carros davam tombos sobre as desigualdades do terreno, chocando por vezes, voltando-se outras, mas seguindo em frente a maioria deles.
A fila de cavaleiros que Ed Parker levava na sua frente ia perdendo terreno à medida que a corrida se prolongava. Parker levava um bom cavalo e o seu carro ligeiro estava condicionado com molas muito flexíveis.
Quase de repente, a nuvem de pó desapareceu à frente do seu cavalo e Ed Parker viu-se isolado na vanguarda daquela tromba humana com todo o caminho livre à sua frente.
Parker não percebia nada de terras. Nunca tinha empunhado um arado, e tudo o que percebia do campo era que este produzia trigo, milho e muitos outros cereais e legumes que ele consumia diariamente. Mas tinha tido a preocupação de se informar. Tinham-lhe dito que as melhores terras eram as contíguas ao rio, donde devido à ação do tempo se tinha formado uma grossa camada de terra mole.
Parker voltou a cabeça. O competidor mais próximo era um cavaleiro que galopava um quarto de milha atrás dele. Parker conduziu a sua carruagem em direção do rio.
Não tardou em ver um pitoresco panorama onde as colinas, em suave declive, desciam até ao rio. Parker sabia que as terras um pouco altas eram preferíveis às que ficavam próximo do rio, pois em caso de cheia, estaria a salvo de possíveis e ruinosas inundações. O local era muito agradável, com algumas árvores o que facilitaria o trabalho de construir ali uma casa de madeira. Parker tomou resolutamente aquele caminho.
Quando Ed Parker passava junto das pedras com cal que marcavam o limite da parcela, apareceu um cavaleiro por entre as árvores e correu atalhando caminho em direção da estaca central.
Ed ficou surpreendido, por que a direção em que o cavaleiro vinha era contrária à que tinham tomado os participantes do «Run».
Naturalmente, Parker compreendeu que aquele indivíduo era um dos madrugadores que segundo as referências e conversas escutadas no seu «saloon», se tinham adiantado ao sinal de partida correndo a ocupar as terras indo assim contra as regras do «Run».
Ed Parker que como jogador profissional tinha orgulho em jogar honestamente, ficou indignado perante a audácia daquele sujeito. A parcela, ao fim e ao cabo, não lhe importava muito. Talvez houvesse outras tão boas como aquela em direção do rio, mas não estava disposto a que um malandrim como aquele lhe arrebatasse aquela terra que ele tinha conquistado lutando lealmente.
O homem, um jovem alto e loiro que levava pistola e um «rifle» na mão, gritou-lhe qualquer coisa que Ed não conseguiu entender. Os dois iam direitos à estaca e Ed chegou primeiro. O seu cavalo chocou com o do outro.
O cavalo do jovem caiu arrastando na sua queda o cavaleiro. Ed tinha ganho a corrida e saltou da carruagem para o chão correndo em direção da estaca. Mas quando chegou junto desta viu com raiva que já tinha uma tabuleta atada com um cordel. Era uma tabuleta com as letras gravadas a fogo e na qual se lia:

«PERTENCE A HARRIS DOOLIN»

Parker, com a sua tabuleta na mão, voltou-se furioso para o homem que nesse momento se levantava.
— Que significa isto? — gritou. — Estou certo de que você não tomou parte na corrida.
— Desapareça, estúpido! – gritou Doolin. — Esta terra é minha. Encontrará outras parcelas livres mais para a frente. Desapareça.
Voltando a cabeça para trás, Parker conseguiu ver o cavaleiro perseguidor que vinha seguido de um tropel de carros correndo ao longo do rio.
A vantagem que Parker tinha conseguido estava a ponto de se perder quando de novo subia para a carruagem e ia recomeçar a correr. Por quê havia de ser ele? Pelo menos legalmente tinha sido ele o primeiro a chegar.
Voltou-se para Doolin.
— Também há oportunidades para você, mais para a frente disse-lhe. Eu parti quando os outros e fui, o primeiro do «Run» a chegar aqui.
— Maldito, desapareça! – rugiu Doolin.
— Não.
Harris Doolin deitou mão à pistola. Ed Parker que, levava a sua na funda sovaqueira, introduziu a mão no casaco.
O tiro disparado por Doolin atingiu-o antes de que pudesse fazer uso da pistola.
Hiram Dugan que tinha vindo a seguir Ed Parker, durante umas quatro milhas, intrigado e curioso para ver o que fazia o seu inimigo, viu Doolin sacar a sua pistola e derrubar o jogador de um tiro quando ele chegava a um canto da parcela marcada por uma pedra coberta de cal.
Atravessando a parcela a galope Dugan chegou junto da carruagem de Ed Parker e desmontou com um salto.
Frente a ele, com os olhos injetados de sangue, estava Harris Doolin. Na mão, empunhava ainda a pistola homicida. Aquela teria sido uma boa ocasião para Doolin matar o polícia, se naquele momento não estivessem a atravessar a curta distância os carros dos colonos que iam em busca das suas terras.
— Está preso, Doolin — disse Dugan, friamente. — Sei que faltaste às regras do «Run» e apanhei-te a disparar contra Ed Parker.
— Maldito sejas, agentezinho — rugiu Doolin, entre dentes. – Para ti seria uma boa solução afastar-me mandando-me uns anos para a cadeia acusado de homicídio, mas isso jamais o conseguirás. Tu mesmo vieste colocar-te no lugar onde eu queria ver-te. Espero que sejas o suficientemente rápido para sacar teu revólver antes de cair morto...
Hiram Dugan advertiu o brilho homicida do olhar do seu inimigo e saltou de lado para a esquerda atirando-se ao chão.
Caiu suavemente sobre a relva alta e o tiro de Doolin levantou pó mesmo à frente da sua cara. Dugan tinha empunhado o revólver enquanto saltava e não concedeu ao seu inimigo uma nova oportunidade para melhorar a sua pontaria.
Dugan disparou do chão e Harris Doolin girou sobre si mesmo soltando a pistola para procurar apoio na estaca.
A estaca cedeu ao peso de Doolin, o qual rolou pelo chão.
Com grande estrondo de rodas um carro passou junto a Hiram deitando fumo pelos eixos. O carro afastou-se e Dugan ficou de novo só com os dois homens estendidos aos seus pés.
Primeiro inclinou-se sobre Harris, estava morto. Endireitando-se aproximou-se de Ed Parker.
O jogador abriu os olhos e cravou nele o seu olhar turvo.
Hiram enfundou o seu revólver, ajoelhou junto do ferido inclinando-se sobre ele. Sobre o colete de cetim branco, Ed Parker tinha uma mancha vermelha sangrenta que se ia alargando lentamente.
— És tu, Dugan — perguntou o ferido.
— Sim, Ed. Sou eu, Dugan. Vim a seguir-te desde a hora de partida. Queres dizer-me porque encontras aqui?
Parker tateou com a mão procurando algo que devia estar no chão perto dali.. Hiram viu uma daquela-, tabuletas, sobre a relva e apanhou-a. Era igual às que os colonos levavam presas ao pescoço.
-- «PERTENCE A ED LANGSTON PARKER» - leu Dugan, em voz alta.
Mostrou-a ao ferido. Será isto o que procuras, Ed? Como demónios te passou pela cabeça vir conquistar um terreno para ti? Não imaginava que tivesses tendência para colono.
— Podes troçar quanto quiseres. Não foi por mim que conquistei estas terras, mas sim por Bird.
— Por Bird?
O ferido fez uma pausa, na qual só se escutava a sua respiração ofegante.
— Na minha movimentada vida de jogador nunca senti a necessidade de ter uma casa própria —disse Ed. — Para mim era o suficiente um tecto, às vezes mesmo uma simples lona, debaixo da qual descansava umas horas sem me preocupar pelo dia de amanhã. Só agora que me sinto velho reconheço a instância da minha vida anterior. Um homem necessita de algo mais do que viver o presente. Um homem necessita possuir algo exclusivamente seu... Algo que o faça sentir-se seguro de si mesmo e lhe permita afrontar com segurança o futuro. Na minha vida de jogador nunca possuí nada que pudesse legar a um filho. Por isso decidi hoje aproveitar esta oportunidade de reclamar estas terras como minhas. Bird é demasiado jovem para as reclamar por si só. Soube, porém, que segundo a lei, eu posso reclamar uma destas parcelas e doá-la a meu filho...
Um ataque de tosse interrompeu Ed Parker. Dugan passou-lhe um braço por trás da cabeça e susteve-o.
— Obrigado, Dugan — murmurou o jogador, fazendo uma careta de dor. — Como vês, esse maldito colono libertou-te da tarefa de me matares. Dugan admitiu que a julgar pela freida de Parker era natural que isso acontecesse. «O mundo, pensou Dugan, dá voltas sem parar e conduz os homens às situações mais estranhas. Ali estava, por exemplo, Ed Langston, mori-bundo sobre a terra que nunca até umas horas antes tinha desejado possuir». Dugan, achas que se eu morrer sem ter feito testamento, Bird poderá ser meu herdeiro no posse desta terra? — perguntou o ferido.
Silenciosamente, Hiram Dugan, depositou a cabeça de Ed na relva, agarrou a tabuleta onde figurava o nome completo de Parker e afastou-se com ela. Hiram arrancou da estaca a tabuleta com a marca de Doolin e utilizando o mesmo cordel pôs no seu lugar a de Ed Langston. Desde o local onde se encontrava, Ed seguiu com os olhos a operação, sentindo um profundo reconhecimento.
— Agora, sim, Langston —disse Hiram. — Esta terra será para Bird.
 

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