quinta-feira, 23 de junho de 2016

PAS639. O juramento do quinto condenado

Com um amargo sabor na boca, «Nevada» Jim recor­dou aquela noite de dois anos antes, em que se juntara a Nielsen e a três dos seus compinchas, para assaltar a diligência de Cheyenne.
Por aquela data, não era conhecido por «Nevada» Jim nem pelo «Risonho», mas sim por «Colorado» Jim... Escolheram-no porque era mister disparar através da escuridão e em determinado momento contra um pequeno cartucho de dinamite colocado sobre uma caixa de explo­sivos. E não havia ninguém, muitas milhas em redor, que fosse capaz de tal façanha com segurança absoluta.
Não se quis desculpar a si mesmo quando pensou que não sabia que aqueles quatro homens projetavam assassinar à traição os ocupantes da diligência. Não, não se quis desculpar: era tão culpado como os demais, embora agora se amaldiçoasse por ter acedido a praticar tão vil Acão.
Tão-pouco sabia, ao ser contratado, que a diligência levaria uma escolta de soldados que também estavam sentenciados de antemão pelos assaltantes.
E menos ainda que uma das pessoas que viajavam no interior do veículo, e que também se encontrava conde­nada à morte, fosse... a sua própria mãe!
«Nevada» Jim apertou os punhos até fazer sangue nas palmas das mãos, ao recordar as palavras de Duke o «Suave», quando se aproximou da caixa da diligência e disse: «É uma velha, chefe!», e a atroz ação que se seguiu depois.
Foi então que se aproximou do veículo, com uma desculpa vulgar, para reconhecer a viajante. Porque aquele gemido que a mulher proferira mal se desfizeram os ecos da explosão, ou talvez a sua vaga silhueta depois, asso­mando pela portinhola entreaberta, fez-lhe vislumbrar a tragédia da sua vida. «Contribuíra para matar a sua própria mãe!».
A primeira coisa que os seus olhos viram, assim que se acercou do veículo virado, foi a cruz de ouro, tão sua conhecida de tempos atrás, quando ela vivia no Oeste. Depois o rosto da anciã, espantosamente destroçado pelas balas do «Suave»...
Ficou imóvel, como que petrificado, com todo o seu ser cheio de horrível angústia. Tinha-a assassinado!...
Não se moveu sequer, tão hipnotizado se achava, quando aquele passageiro que a acompanhava e que permanecera caído em grotesca posição, ergueu lentamente o revólver e lho apontou.
Teria podido antecipar-se-lhe e impedir-lhe o ato, mas nem o seu cérebro nem os músculos do seu corpo obedeceram à débil chamada do seu subconsciente. E o tiro foi desfechado quase à queima-roupa; sentiu o calor da pólvora no rosto e uma forte pontada de dor na garganta. Depois, perdeu os sentidos.
Recordava agora que estivera a um passo da morte. Os seus companheiros de aventura deviam tê-lo dado por morto, visto que, ao voltar a si, se encontrou só no mesmo lugar da tragédia e sangrando ainda. Amanhecia e à luz incerta da aurora divisou melhor os corpos sem vida amontoados em torno da diligência.
O seu instinto por um lado e o terror de ver-se próximo das suas próprias vítimas por outro, levaram-no a fugir daquele local sinistro. Apertando a ferida com o lenço e quase arrastando-se entre as rochas, afastou-se em busca da povoação que existia nas montanhas.
Chegou lá cerca do meio-dia, exausto e desfalecido, e foi tratado pelo médico da terra. Não lhe fizeram perguntas, pois ainda não chegara a notícia do assalto à diligência.
Duas horas mais tarde, «Nevada» Jim já saíra do distrito em direção às montanhas, onde ficou até encontrar-se totalmente curado da sua ferida.
Jurara solenemente então fazer justiça. Haviam sido cinco os homens que mataram a sua mãe: cinco vidas , pagariam por isso, incluindo a sua própria.
Durante o tempo que vagueou pelas montanhas, com a sua recente ferida de alma, muito mais dolorosa do que a que trazia no corpo, cinco homens foram condenados à morte. Ele, «Nevada» Jim, se encarregaria de fazer cumprir a sentença dos quatro primeiros. O quinto... morreria também.
Pouco tempo depois dedicou-se a procurar os assassinos.
 Porém a quadrilha tinha-se dissolvido e foi-lhe difícil dar com eles. Não obstante, após pacientes averiguações, acabou por encontrá-los, um atrás de outro.
Max Lowe, o primeiro condenado, fazia a corte, em Nevada, à jovem proprietária de um belo rancho, decerto disposto a casar com ela e de apoderar-se da sua fortuna.
Apesar de se considerar o mais rápido dos quatro, a «Nevada» Jim não lhe foi nada difícil enviá-lo para o outro mundo com duas onças de chumbo cravadas no coração.
Quando caiu morto a seus pés, a feroz gargalhada que brotou da sua garganta pôs os cabelos em pé a todos os que presenciaram o duelo.
A Ted Muldok encontrou-o a caminho da Califórnia, fugindo dos guardas rurais, que o perseguiam por ter degolado uma mulher. Ted e «Nevada» encontraram-se numa povoação fronteiriça e no meio da rua principal se realizou o duelo.
Mas este foi à navalha, que Muldok manejava muito bem e que escolheu para o efeito. «Nevada» Jim saiu da luta com uma profunda ferida nas costas, porém na poeira da rua ficou sem vida o segundo condenado, com a arma espetada no coração até ao cabo.
Perto de Deadwood Gulch, tivera lugar a tragédia que ensombrou a alma do rapaz. E foi na própria Deadwood que encontrou o «Suave», o autor material da morte que se empenhara em vingar.
Duke era perito no manejo das cartas e nenhum sítio melhor existia para si do que aquela terra onde chegava ouro em grandes quantidades, procedentes dos jazigos aurífero Montanhas Negras.
Quando «Nevada» Jim apareceu diante dele, o assassino negou-se a pés juntos a lutar. Conhecia demasiado bem a rapidez do jovem a puxar das armas e não se atrevia a enfrentá-lo. «Nevada», cego de ira, dominando a repugnância que lhe produzia uma morte a sangue frio, e sempre com o pensamento posto na sua vingança, disparou as seis balas do seu revólver contra o corpo do terceiro condenado.
Perto também de Deadwood Gulch, num pequeno outeiro rodeado de altas e frondosas árvores, tinham enterrado a sua mãe. Junto daquela campa, «Nevada» Jim abrira cinco sepulturas mais, da primeira vez que a visitara.
E para ali foi levando, um após outro, os assassinos que cumpriram a sua condenação. Jamais se importou que o lugar ficasse demasiado longe do sítio onde executara a sentença; infatigavelmente, galopava dia e noite, transportando o cadáver, até chegar ao ponto escolhido.
Quando deitou sobre o corpo de Duke o «Suave» a última pazada de terra e se afastou para Deadwood, apenas duas sepulturas restavam abertas: a de Alex Nielsen e a sua própria. A vingança chegava ao fim...
Agora, enquanto descia lentamente a encosta do monte, a caminho do edifício principal do «Três Cruzes», «Nevada» Jim saboreava o triunfo. Sabia que lá em baixo, atrás das paredes da casa, Alex Nielsen, o chefe dos bandidos, ignorava que a bala que lhe segaria a vida se aproximava inexoravelmente.
Aqueles dois tratantes, Grant e Sidney, ignoravam que, sem querer, lhe tinham indicado a pista do homem que lhe faltava descobrir.
Uma vez cumprida a sua vingança, o que pensassem de si ou o que fizessem não lhe dava cuidado.
Então, teria chegado a sua própria vez.

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