quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

PAS420. Testemunha incómoda

O seu pranto de desesperada impotência foi interrompido por leves pancadas na porta do seu quarto.
— Queres dizer que decidiste esquecer tudo, Doris, e que te casas comigo?
 — Quero dizer que não te denunciarei por teres matado Bob. Isso deixa-te tranquilo?
— Sim.
Tentou beijá-la, mas ela repeliu-o com asco.
— Deixa-me agora, Nolan — pediu. — Não é ainda altura para isso. Deixa passar até amanhã, pelo menos.
— Como quiseres.
— Agora tenho de continuar com o almoço.
Merrick estava contente. Sinceramente, não esperava aquela resignação de Doris em tão curto prazo. E compreendeu que era melhor não insistir.
Deixou-a entrar na cozinha e saiu para o alpendre. Rod estava já de volta.
— Encontraste o Ben Farros?
 — Sim. Está nos estábulos. Já lhe disse que não se fosse porque tu querias falar com ele. 
— Continua por aqui.
Afastou-se de Rod e atravessou o pátio de estilo mexicano. O velho Farros esperava-o à porta dos estábulos.
Merrick fê-lo entrar para que ninguém os visse juntos. Quanto menos gente suspeitasse de que guardavam algum segredo, tanto melhor.
— Bem — disse o ganadeiro — Jas Conley seguiu o rasto de Bob até aos cercados, e viu o sangue.
— Hum! — grunhiu o velho, acariciando a barba branca. — É pouca sorte, mas não creio que tenha importância.
— Mas ele agora vai continuar as buscas. E pode dar com o sítio onde enterraste o Dean.
O velho desatou a rir, e afundou ainda mais as desdentadas gengivas.
— Não creio — disse. — Está bem escondido.
Mas Nolan Merrick não estava tranquilo.
— Não me fio — disse. — Convém que alguém esteja lá, de vigia, até que eu consiga tirar-lhe a vontade de andar a meter o nariz nisto.
— Bom, não se perde nada com isso. Eu mesmo posso ficar de guarda ao sítio, para o caso de ele aparecer por lá a farejar.
— Será o melhor — admitiu Merrick. — Não creio que ele possa sair da cidade, mas vale mais prevenir... Toma.
Entregou-lhe umas notas que o velho aceitou muito sorridente.
— Oh, muito obrigado, «mister» Merrick!
— Ganharás muitas mais, se continuares a trabalhar para mim, Ben. Bom, para começar não é mau, hã?
—.Agora vai encarregar-te do que te disse.
— Sim, «mister» Merrick. Assim que deixar isto. pronto
Nolan saiu dos estábulos e foi ter com Rod ao alpendre.
Disse-lhe:
— Segue o velho quando ele sair daqui. Vai postar-se junto de uma tumba. A de Dean.
— Tenho de fazer alguma coisa de especial, patrão?
--- Pouca coisa. Penso que deve ter deixado espaço suficiente para caber outro corpo. Assim só tens de gastar uma bala e tirar um pouco de terra remexida.
— Meto-o lá também?
— Sim. Sabe demais para que eu me sinta tranquilo com ele vivo. Teria de estar sempre a encher-lhe as algibeiras.
— Assim é seguro.
— Ah! E não te esqueças, antes de o enterrar, de lhe tirar os cento e cinquenta dólares que acabo de dar-lhe.
Rod soltou o seu risinho antipático.
— Descanse — disse. — Não me esqueço.
— Depois fica de vigia, num sítio de onde vejas boa parte do rancho. Se Jas Conley conseguir sair de Sakersfield e aparecer por cá, já sabes o que tens que fazer.
— Tentarei arranjar lugar para os três no mesmo buraco — riu-se o cúmplice. — Mesmo que tenha de cavar um pouco mais fundo.
— Então, vamos. Eu fico a vigiar a Doris.

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