quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PAS411. Proposta inaceitável

«Ting» começou a ladrar.
— Vem aí alguém — disse o velho Shonts.
Não tinha nenhum motivo para se inquietar; no entanto, não estava tranquilo. A seu filho acontecia o mesmo. Levantou-se da mesa e assomou-se à porta. Viu aproximar-se um homem, montado num cavalo, a galope.
— É Colwer — murmurou. — E traz consigo quatro dos seus homens.
Na esplanada que se abria entre a casa e a alameda havia um jardim. Era muito grande. Os cavaleiros avançaram de frente com a intenção manifesta de pisarem as plantas e os canteiros de verdura que o pai de Buck tratava com tanto gosto. O velho saiu para fora de casa, com o rosto, lívido de fúria, e deitou a mão à espingarda para jogar pelo, seguro:
— É melhor que saiam já do jardim — avisou-os.
Tinha fama de pôr a bala onde pusesse o olho e Colwer sabia-o. Dominou o seu cavalo e afastou-o do caminho proibido. Os seus homens seguiram-lhe o exemplo. Chegaram a casa e detiveram-se com o mesmo ar arrogante, como se fossem os donos de tudo aquilo.
Colwer desmontou. As suas maneiras eram ofensivas e vexatórias.
— Não precisa da espingarda, Roy — declarou. — Viemos em boa paz. A minha única intenção é tratar de negócios.
— Deveras? — replicou o velho, com visível hostilidade. — Para virem em boa paz, procedes de maneira bastante violenta, Colwer.
Este fez pouco caso da observação, encolheu OS ombros e dirigiu-se a Buck.
— Gostava de que nos sentássemos um bocado para falarmos acerca de uns assuntos.
— Muito bem.
Colwer voltou-se para os seus homens e ordenou-lhes que se afastassem.
— Se pensas falar-me da vedação, estás a perder o teu tempo.
— Não. Aquilo não tem importância. O que aqui me traz é mais importante. O velho — referia-se a Curty — ordenou-me que falasse contigo e procurasse chegar a um acordo.
Buck contemplou-o um momento, curiosamente intrigado por saber onde queria chegar.
— Ignoro qual O assunto que trazes entre mãos, Colwer, mas não tenho nada que discutir contigo.
— Sempre vale a pena discutir quando o dinheiro anda pelo meio— replicou o superintendente da Cur Company, sorrindo, cinicamente. — Durante toda a Primavera, tens estado a ir e vir, rio acima, rio abaixo, levantando os ânimos contra nós. Tens trabalhado bem. Mas que benefício tens conseguido com isso? Não será já tempo de que penses um pouco em ti? Em melhorar a tua situação financeira?
— Não desperdices a tua comiseração comigo — respondeu Buck, levemente irritado. — Estou plenamente satisfeito com a minha sorte.
— Não acredito. És demasiado esperto para te contentares com tão pouco e sabes que acabarás por perder. Todos os vaqueiros da margem do rio estão do teu lado. Tu dirige-los e eles pensam que vais conduzi-los à vitória. Mas, espera que as coisas mudem. Em Julho, já ninguém te dará ouvidos. Pôr-te-ão de lado.
— Julgas que tudo vai correr a teu gosto, hem? — interveio, irónico, o velho Shonts. — Se vês tudo tão fácil, porque te incomodaste a vir aqui?
Colwer não se desconcertou. Fez um cigarro, calmamente, e acendeu-o, antes de prosseguir:
— Não trabalho por minha conta. A ideia foi do velho, como disse. As lutas custam dinheiro e ele prefere prevenir-se a ter de se lamentar.
— Que experimente — resmungou Shonts. — Esse miserável...
— Um momento, pai — interrompeu Buck. — Deixa-o falar. Sinto curiosidade por saber o que pretendem com isto.
— Vou já dizer-te — respondeu Colwer. — Tu conheces o velho rancho Mason, a leste de Dikinson. Foi posto à venda e o velho comprou-o ontem, O rancho e o gado. Toda a gente sabe que é um belo rancho, o dobro do vosso, e tem muita água. A casa está em boas condições. O chefe diz que podem levar de aqui animais; ferramentas, apetrechos e tudo o que quiserem, e ainda lhes dará cinco mil dólares... — Fitou alternadamente um e outro e acrescentou: — Nunca mais vocês hão de ter uma proposta tão vantajosa como esta.
A oferta era realmente generosa, superior a tudo que pai e filho poderiam sonhar. Estavam impressionados. A proposta de Curty era clara: oferecia a Buck o equivalente a dez mil dólares, para sair dali e deixar--lhe o terreno livre.
A indecente arrogância da proposta era como uma chicotada em pleno rosto. Buck apertou os lábios para conter a sua fúria. Quando conseguiu dominar-se, disse--lhe:
— Diz ao velho que não me vendo. Não julgava que me tivesse em tão baixo conceito. Não tem dólares suficientes para me convencer a abandonar os meus amigos.
— Teus amigos, hem? — riu sarcasticamente Colwer. — Nomeia-me um só que recuse, esta proposta. Porque não pensas nisso? Lutas pelos outros e vais ver que pouco te agradecem. Desprezar-te-ão, quando se apresentar a oportunidade.
— Já te dei a resposta ao, que me propuseste — replicou prudentemente Buck. — Não, percas mais tempo, Colwer. Chama os teus homens e afasta-te.
O ódio refletia-se no posto 'do outro quando disse:
— Porque não pedes a opinião de teu pai?
— Porque — respondeu secamente o velho — o meu filho sabe que nunca poderia perder um só, momento a considerar a suja proposta de Curty. — Tremia-lhe a voz de indignação. — Tenho passado aqui a minha vida e não sairei daqui por nada deste mundo. Não espero que o compreendas, Colwer. Há tanto tempo que róis o mesmo osso que Curty que já és tal qual como ele. Antes que perca a cabeça, mete esporas ao teu cavalo e sai daqui como te disse Buck.
Levantou a espingarda num gesto ameaçador. Mas, o outro apontou para os seus homens.
— Não te faças valente. Punham-te fora de combate antes que pusesses a espingarda à cara. -- Aproximou-se do seu cavalo e montou. — Lamentarás a tua decisão, Buck — disse ainda. — Não lhes darei uma nova oportunidade.
Picou de esporas, chamou os seus homens e afastou-se.
— Custa-me ter-te metido nisto, pai — murmurou o rapaz. — Queria deixar-te à margem deste assunto.
Antes que anoitecesse, a proposta que Colwer lhes tinha feito em, nome de Curty tinha percorrido, de cima a baixo toda a margem do rio. O próprio Buck se encarregou de a pôr em circulação, com a esperança de que servisse de estímulo para manter todos unidos. Todos fizeram novas promessas de lealdade. Mas, naquela tarde, sentado no pátio de Mc Leed, Buck não pôde evitar de perguntar a si mesmo até que ponto seriam leais aquelas manifestações.
— Isto deve dar-lhes uma ideia de aonde é capaz de chegar Curty para nos ter nas suas mãos — murmurou Buck, contemplando à distância. O sol caía em cheio sobre Horse Creek, -tingindo, de vermelho as colinas. Aquelas montanhas traziam-lhe recordações amargas e voltou a cabeça com ar resoluto. — Não tenho motivos para duvidar de ninguém, mas não posso deixar de me 'perguntar que faria qualquer deles se o velho banqueiro lhes oferecesse esta oportunidade.
— Eu sei o que fariam — respondeu, pensativo, Mc Leed.— São seres humanos. Mas, descansa: a nenhum deles fará a oferta que a ti te fez. A Curty não interessa o rancho, mas sim tu. Pagaria qualquer preço para te arrancar daqui. — Encheu o cachimbo e acendeu-o, saboreando-o com prazer durante um minuto.— Tens tido notícias da cidade, Buck... dela, quero dizer?
— Sim, esta tarde. A mulher do Stevenson está outra vez doente. Encontrei em sua casa o doutor Wrigth. Falámos dela. Não me disse nada que me animasse. Carrie não tem querido voltar ao consultório. Tem a casa à venda.
— Consentes que se vá embora?
— Não sei que fazer. Não tomo muito a sério este rancor que sente por mim. Compreendo o que se passa. Sei que é muito infeliz e é isso que me faz sofrer.
— Parece-me que se estão a mortificar um ao outro sem necessidade. Claro que eu não sou o indicado para falar... Tens de ser tu a voltar para ela. Não pretendes com certeza que se passe o contrário. Porque não vais à cidade?
— No princípio da semana irei vê-la. Suponho que ela não quererá nem olhar para mim. Mas, tenho de saber em que ficam, as coisas. Não posso continuar assim.
Mc Leed acompanhou-o até à estrada e despediu-se.
— Suponho que não faltarás à reunião de Hanks. É sexta-feira — disse Buck.
— Claro que não. Ali come-se e bebe-se muito bem — respondeu o outro.
— Pois, irei contigo — disse Buck, sorrindo.

Sem comentários:

Enviar um comentário