quarta-feira, 10 de abril de 2019

BUF004.05 Encontro com o terrível «Grand Fox»

De acordo com as informações do velho «Mus-tache», o rancho devia encontrar-se apenas a uma milha de distância. Vê-lo-ia após a próxima elevação. Barry permitiu que o cavalo, já fatigado, andasse a passo lento.
— É este!...
Barry ouviu a exclamação, ao mesmo tempo que três homens surgiam diante dele, obstruindo-lhe o caminho. Os três apontavam-lhe os revólveres.
A reação do nosso jovem foi instantânea e resultou inesperada para os três indivíduos que o ameaçavam. Deitou-se para a frente abraçando--se ao pescoço do animal, enquanto fincava as esporas bruscamente no animal. Surpreendido pelo castigo, ergueu-se nas patas traseiras formando com o seu corpo uma barreira protetora para o cavaleiro.
Barry havia reconhecido dois daqueles homens: eram, dos quatro assassinos do jovem Catesby, os que haviam escapado ilesos. O terceiro era um indivíduo de mísera estrutura física, minguado de estatura e fraco até parecer que os seus membros eram feitos de arame. No entanto, era o mais perigoso dos três, aos olhos de Barry. Desprendia-se da sua pessoa uma aura de vibrante ameaça. O arame dos seus membros devia ser de aço... As suas mãos eram garras, e os seus braços, molas. Vestia totalmente de negro, dos pés à cabeça como um coveiro... ou um carrasco.


Barry, sem hesitar, com o peso do seu corpo e enquanto o animal se encontrava empinado, guiou-o diretamente contra o homenzinho. Este deu um salto fantástico... as suas pernas dir-se-iam flechas. Mas havia-se aproximado demasiado e, embora estivesse a ponto de se livrar, um dos cascos dianteiros do cavalo roçou-lhe o ombro ao cair e o homenzinho caiu violentamente, ficando imóvel.
Com movimento simultâneo, Barry deslizou da sela e, protegido ainda pelo animal, disparou, uma, duas vezes, contra os outros foragidos. Eles ripostaram. Porém, o perigo de serem atropelados pelo animal alterou os seus pulsos e, embora os seus tiros se tivessem adiantado bastante aos do nosso jovem, resultaram menos eficazes,
O cavale saiu correndo, enlouquecido, deixando o seu dono sem proteção; mas os bandidos já haviam sido feridos pelas primeiras balas de Barry e este pôde ganhar-lhes a mão na segunda volta. Atirou novamente, desta vez a matar...
As balas, obedientes à vontade do seu atirador, cravaram-se no corpo de ambos os foragidos, atravessando pontos vitais, e os bandidos caíram no solo, manchado já de sangue, mostrando nas suas grotescas posições o selo definitivo da morte.
O homenzinho vestido de negro continuava por terra, imóvel, dando, no entanto, sinais de que muito em breve sairia da sua inação. Barry arrimou-se a ele, rapidamente, com o revólver preparado.
«Grand Fox»!... Ali tinha «Grand Fox» privado, das suas armas, talvez pela primeira vez na sua vida... «Grand Fox»! A célebre alcunha tinha origem numa frase que alguém fizera sobre o indivíduo, segundo a qual era este «um homem pequeno e uma raposa grande». Mas era pior e mais perigoso que uma raposa. Era um réptil, um réptil diminuto cuja mordedura era mortal. E os répteis devem ser esmagados sem compaixão sempre que se oferece uma ocasião de o poder fazer! 
A Barry repugnava-lhe aquele passo, mas não hesitou. Tinha de terminar com semelhante víbora. Caso contrário, nunca, nunca mais se lhe ofereceria outra oportunidade!... Estava assustado e reconhecia-o lealmente. Assustava-o aquele homem pequenino.
Barry era habilíssimo no manejo do revólver, mas sabia que os braços de arame de «Grand Fox» seriam, em qualquer ocasião, infinitamente mais velozes, mais velozes e mais certeiros. Era uma ameaça potencial, era a própria morte, privada naquele instante da sua capacidade ofensiva... e aquele instante não se repetiria... Barry tinha obrigação de disparar! Matar «Grand Fox» era matar a morte!... Encostou o revólver à cabeça do caído. Acariciou o gatilho com o dedo... E, nesse segundo preciso, deteve-o na sua ação o rápido galope de um cavalo.
Voltou a cabeça alarmado, e viu uma jovem amazona que se aproximava velozmente. Suspirou, estremecendo. Era impossível fazer o que pensava, tendo uma mulher por testemunha. Impossível! Agachou-se e, já que não podia fazer outra coisa, apanhou do solo o revólver de «Grand Fox», caído da mão do pistoleiro devido à pancada, e atirou-o a grande distância. Seguidamente revistou-o, não encontrando nenhuma arma. Um único revólver. Para quê mais, se este nunca falhava na sua mão?
—. Meu Deus! Que se passou aqui?
A jovem havia detido o seu animal e contemplava atónita, no cenário da luta: os corpos de três homens beijando o pó do caminho. Depois olhou para Barry com uma expressão de temor. Este também a olhava e compreendeu imediatamente quem ela era. Algo que se desprendia da sua figura e, singularmente, da sua fisionomia, lhe trouxe a recordação de Milo Kerigan. A jovem Evelyn Glendin, a irmã do seu antigo perseguidor.
Um segundo cavaleiro se aproximava agora. Um homem jovem, de galharda figura, que esporeava o cavalo para chegar mais depressa.
— Por Deus! Que foi isto? — tornou a perguntar Olha, Tex! Mostrava com um gesto, ao segundo cavaleiro, os corpos caídos.
 O homem desmontou de um salto, e a sua atenção dirigiu-se instantaneamente para o homenzinho vestido de negro.
— «Grand Fox» — exclamou surpreendido —. É «Grand Fox»! E está desmaiado!... Como é possível? E mortos estes dois!
Ambos os cavaleiros centravam os seus olhares na silenciosa figura de Barry Meeker, que permanecia imóvel na orla do caminho.
— Foi você? — perguntou Evelyn.
— Sim.
— Você... só você? — perguntou o homem —. Abateu «Grand Fox» e matou, também, os outros dois homens?
Não afastava a vista de Barry, com uma franca expressão de incredulidade.
— Não é possível! Não há homem no mundo capaz de fazer uma coisa assim a «Grand Fox»!
— Para dizer a verdade, «Grand Fox» foi abatido pelo meu cavalo. Depois eu fiz o resto. Tive sorte, realmente. Uma sorte assombrosa.
Evelyn parecia sugestionada, hipnotizada, pela resposta de Barry. Este também estava preso na sua contemplação. Parecia-lhe não ter visto, até aquele momento, tudo o que pode haver de atrativo na figura de uma mulher. O rosto, queimado pelo sol, era um campo de sedução. E os seus olhos... claros e brilhantes, com estranhas reflexos de cor, como essas esferas de cristal raiadas no seu interior de vivas cores.
— Porque o fez? — murmurou ela com voz sufocada.
— Obrigaram-me. Saíram ao caminho ameaçando-me com as suas armas. Tive de o fazer.
A expressão de incredulidade persistia em Tex Glendin, pois outro não podia ser o homem, na opinião de Barry.
— Impossível!... Um homem só!... Repito que é impossível!
— Pois está o ver o resultado. Devia dar-se a conhecer.
Sorrindo amplamente, voltou-se para a jovem.
— Então, Evelyn!... Não esperava encontrar-te em circunstâncias tão espetaculares. Sinto-o.
Ela ergueu-se, olhando-o fixamente, com a alma nos olhos.
— Quem... quem é você? — conseguiu balbuciar.
— Não me conheces'?
— Não, não... Sim... Não sei... Dize-me, por Deus, que não me engano!
— Não te enganas.
— Milo!
— Sim, Milo, o teu irmão.
— Oh, Milo, meu querido irmão!
Atirou-se aos seus braços, estreitando-o cegamente contra o seu peito. Parecia querer fundir-se nele, numa explosão de amor...
Barry encontrou-se possuído duma estranha perturbação. As suaves curvas da rapariga haviam-se subitamente revelado com o abraço... Evelyn manteve--se durante longo tempo abraçada ao homem a quem julgava seu irmão, entregue completamente à delícia do seu carinho fraterno.
— Oh, Milo, Milo! Como não te reconheci?
Tex Glendin assistia à cena, surpreso de início, e logo, com impaciente aborrecimento, que não soube dissimular.
— Tex! — disse sua esposa, desfazendo um pouco o abraço para se voltar para ele —. É Milo! O meu irmão!
Glendin fez um esforço para desenrugar a testa.
— Sim, Evelyn. Já o compreendi.
—'É Milo!... Não podia ser outro!... — Olhava-o com adoração e orgulho —. Ninguém, além dele, seria capaz de defrontar assim três homens... e derrotá-los! Devia tê-lo compreendido!
Estas palavras de Evelyn fizeram com que a atenção de todos recaísse novamente nos vencidos... «Grand Fox» havia já voltado a si... Permanecia imóvel, erguido sobre o braço esquerdo. O seu rosto parecia o de uma múmia e expressava naquele momento o ódio elevado até um grau de paroxismo.
— Tu! — gritou com voz aguda e cortante como um punhal, e Barry Meeker sentiu-se atravessado pelos olhos assombrosamente jovens que havia naquele rosto de múmia —. Tu fizeste-me isto, a «mim»! A «Grand Fox»-... Onde está o meu revólver?
— Achei conveniente para a minha segurança despojar-te dele, temporariamente, pelo menos.
O ódio tornou-se ainda mais venenoso nos olhos do homem.
— O meu revólver? Tiraste-me o meu revólver? Quem és tu? Estás louco ou és idiota se fizeste isso e não me meteste depois uma bala na cabeça!
— Assim é. Ou estou louco ou sou idiota. –
«Grand Fox» quis estender o braço correspondente ao seu ombro ferido, mas mordeu os lábios para reprimir um grito de dor.
— Vês? — gritou novamente —. Tenho o braço inutilizado e não poderia suster um revólver, o revólver que me tiraste! Ainda estás a tempo de acabar comigo, tu, menino bonito, quem quer que sejas!
Evelyn estava horrorizada e voltou-se para o seu marido.
— Tex, manda-o calar! É um homem horrível!
Tex Glendin murmurou apenas, como se a menção daquele nome tudo explicasse:
— É «Grand Fox», o pistoleiro...
O homenzinho pôs-se de pé.
— Ainda estás a tempo — repetiu — porque o meu ombro ficará bom dentro de poucos dias, e então... então, estarás condenado!... Tão certo como este sol que nos alumia!
Assim o cria também o nosso jovem e amaldiçoou-se em pensamento, sentindo-se incapaz de reprimir o suor frio que começava a brotar-lhe da fronte. Evelyn olhou-o com cega confiança.
— Porque não lhe dizes que é ele quem está louco? Querer matar-te, a ti!
Disse-o como se uma minhoca quisesse derrubar um deus do pedestal em que estivesse colocado. O suor secou-se por si próprio na testa de Barry, e este foi capaz, então, de sorrir.
— Não, ele não é louco. De todas as formas, esperarei que o seu ombro se cure.
As mãos de Evelyn apertaram o braço do seu pretenso irmão.
— Queres dizer... que talvez ele te possa matar?
— Porque te preocupas? O destino dos homens já está traçado de antemão. Pelo menos, sempre o ouvi dizer assim.
Ela olhava-o agora com ardente inquietação.
— Milo!... Oh, Milo, escuta! — murmurou — Tex e eu vamo-nos embora. E tu aqui, só...
— Que queres dizer?
— Que poderás, então, seguir o meu conselho — riu o homenzinho, perversamente —. Ela compreende agora qual é a situação.
— Vou devolver-te o revólver — manifestou Barry, afastando-se em busca da arma.
Deu com ela e encaminhou-se para o pistoleiro. Evelyn impediu-lhe a passagem.
— Não, Milo, não! Esse homem dá-me medo!
— Não sejas tonta, Evelyn. Deixa-me passar.
Ela voltou-se novamente para o seu marido.
— Por que não fazes qualquer coisa? —disse —. Avisa o xerife, para que o encarcere. Poderá fazê-lo se explicas como atacaram o meu irmão.
— É inútil, querida — murmurou Tex, vergonhosamente —. Um homem assim não pode ser retido na prisão da povoação.
Barry entregou o revólver a «Grand Fox».
— Queres pô-lo aqui, no coldre? — pediu o homenzinho com um sorriso desagradável.
Barry assim o fez
—. Vês, como aí fica bem?... Está no seu sítio. 'É um revólver muito bem domesticado. Obedece-me e salta para a minha mão quando eu lho ordeno.
— Está bem. Agora vá-se embora.
— Pensaste-o bem, rapaz?
— Sim. Vá-se embora.
— Depois não digas que não te aconselhei bem. Tal como um pai aconselha o seu filho.
— Vá-se embora. Depressa.
— Perfeitamente. Estás condenado a partir deste momento. Já o sabes, meu rapaz.
Evelyn abraçou-se, tremendo, ao irmão.
— Oh, Milo, Milo!
«Grand Fox» que já se havia afastado uns passos, voltou-se para eles.
— Minha querida senhora — disse —. Ouvi-a dirigir-se várias vezes a esse menino bonito tratando-o por Milo.
— Sim, e depois?
— Supõe que é seu irmão, Milo Kerigan,, não é assim?
— Sim, Milo Kerigan. É ele — afirmou Evelyn, orgulhosamente.
— Milo Kerigan... Talvez o seja. Mas eu não estaria muito certo.
— E você não o poderá matar nunca, nunca!
— Outra coisa de que eu não tenho a certeza. Adeus, minha senhora —. E dirigindo-se a Barry —: A ti não te digo adeus, mas sim até breve.
Barry não respondeu. Com os lábios cerrados, foi testemunha da marcha do seu terrível inimigo. Pensava quanto melhor teria sido que Evelyn tivesse demorado a sua vinda àquele lugar um par de minutos. Só um par de minutos, talvez decisivos para ele e para ela, para a vida ou para a morte de ambos!

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