Roy abriu os olhos e viu a mulher que, soerguida sobre um cotovelo, o fitava, passeando-lhe sobre o peito a ponta de um dedo.
— De modo... — murmurou ele — ... que não foi tudo um sonho...
— Estavas muito bêbedo ontem, não estavas?
— Não há dúvida.
— Roy...
— Que queres, Gabor? A nossa ligação acabou há muito tempo, e não é possível recomeçar.
— Esta noite foi possível.
— Estava embriagado.
— Queres dizer que teria sido diferente, se não estivesses como estavas?
— Completamente diferente... — respondeu ele, sério.
Ela beijou-o, mas Donovan afastou-a de si e, levantando-se, começou a vestir-se, com a atitude de quem fecha de súbito uma porta.
— Estás muito seguro de ti... — disse ela, com uma curva amarga nos lábios.
— Estive doido por tua causa, Gabor. A tal ponto que cheguei a pedir-te que casasses comigo. Mas...
— E que pensavas?... — Interrompeu-o ela, apaixonadamente. — Irmos para um descampado e trabalhar como animais, sem vizinhos, sem a possibilidade dê ver criaturas humanas durante meses inteiros, a não ser índios que podiam atacar-nos a qualquer momento.
— Propunha-te procurar um pedaço de terra com água abundante e boas pastagens, onde houvessem cavalos selvagens que eu pudesse caçar e domar. Propunha-te que me ajudasses a construir um rancho onde crescessem os nossos filhos, que mais se sentiriam orgulhosos do trabalho que nós tivéssemos feito.
Gabor levantou-se, envolvendo-se num roupão.
— Eu não sirvo para isso, Roy... — murmurou, sem se voltar.
— Foi isso o que me disseste. E riste-te dos meus projetos. Mas eu continuo a pensar da mesma maneira... e tu também, ao que vejo. Portanto é inútil insistir sobre o que foi.
Donovan passou os dedos pelos cabelos despenteados e apanhou o chapéu.
Ela sentiu uma brusca sensação de perda. Julgava tê-lo bem seguro nos seus braços, mas ele escapava-se sem que ela pudesse fazer fosse o que fosse para evitar isso.
— Roy, escuta-me!... — gritou. — Tenho algum dinheiro e com ele poderíamos instalar-nos em qualquer parte. Podíamos até, talvez, comprar um pequeno rancho, em algum lugar onde tivéssemos vizinhos e pudéssemos viver de uma maneira civilizada.
Donovan voltou-se, junto da porta.
— Não quero perguntar-te como ganhaste esse dinheiro, Gabor... — disse ele, procurando falar em voz calma. — Também não quero perguntar-te como vieste parar aqui. Simplesmente... eu não sou desses. Além disso pertences ao passado e eu não quero abrir outra vez essa porta. Não a abriria... mesmo que por detrás dela não houvesse o que há.
Abriu a porta e abandonou o quarto, saindo para o corredor... onde quase deu de caras com os Marvin. Arabella ia adiante, e ficou a olhar para ele, com os olhos muito abertos. Depois olhou para a porta por onde ele acabava de sair.
Roy sentiu um desejo desesperado de seguir o olhar dela, mas não o fez. Sabia que Gabor estava ali, tapada com o roupão, sob o qual não havia mais roupa, e imaginava qual devia ser o seu próprio aspeto, depois da fenomenal bebedeira da noite anterior e do que acontecera a seguir.
— Bons-dias... — murmurou.
E afastou-se precipitadamente, sentindo que a sua espantosa dor de cabeça se lhe fixava agora no peito, torturante, como se fosse sufocá-lo.
— Roy !... — chamou ainda Gabor. Mas ele continuou a caminhar sem voltar a cabeça.
Passava por uma porta quando dela surgiu um comprido braço, que o agarrou e o puxou com força irresistível.
— Rapaz, rapaz!... — exclamou Tyler, encostado à porta que acabava de fechar e abanando a cabeça, com um ar de censura.
— De onde diabo saíste tu?... — perguntou Roy, demasiadamente espantado para se zangar.
— Entrei com os Marvin e acabava de despedir-me, dispondo-me a entrar no quarto, quando te vi aparecer. Não podias tê-lo feito em momento mais opor-tufo!
Roy atirou o chapéu para cima de uma das camas dirigiu-se para o lavatório, tirando a camisa.
— Assim parece... — disse, tentando dar à sua voz um tom de indiferença. — Onde está Frank?
— Não é difícil imaginá-lo.
— Sim... Não quer perder tempo, segundo parece... — comentou Roy, começando a ensaboar-se.
— Não, evidentemente. Mas... sabes que horas são?
— Não.
— Meio-dia.
— Diabo! Estava a suspirar por um pouco de café.
-- Só depois do almoço. Estão à nossa espera, e por isso vim ver se te encontrava.
— Elihu?
— O convite é de Ally. Não podemos negar-nos.
— Vai tu e diz que não me encontraste. Não estou com disposição para isso.
— Talvez seja melhor... — concordou Tyler, com uma gravidade pouco habitual nele. — Meteste-te nalgum sarilho?
— Não... Porquê?
— Parece que essa Gabor se entende com Herbert Coe. Receio que ele não leve a coisa a bem, quando souber onde passaste a noite.
— Pois que vá para o diabo respondeu Roy, a quem aquela notícia não interessava.
— Pois que vá... — concordou Tyler, com um sorriso fugitivo. — Onde nos veremos, depois do almoço?
— Acho que vou voltar ao rancho. Não quero estragar-te a tarde.
— Não me parece que te tenhas divertido muito... — comentou o rapagão, suavemente.
— Não ias sair?
Tyler estendeu as mãos, encolhendo a cabeça.
— Bem, bem... — disse. — Não estava a fazer-te perguntas.
— Um bom sistema. Não fazendo perguntas evitam-se determinadas respostas.
— Desagradáveis?
Roy acabou de barbear-se e meteu a cabeça no lavatório.
— Bem, vou andando... — ouviu ele dizer o amigo, entre o barulho da água. — Mas virei buscar-te.
Quando Donovan acabou de se enxugar, Tyler já tinha saído.
Penteado, acabava de vestir a camisa e estendia a mão para o cinturão, quando ouviu bater à porta.
— Quem é?... — perguntou, apoiando a mão sobre a coronha do revólver mais próximo.
— Marvin... — disse a voz do ganadeiro.
— Entre... — respondeu Roy, apanhando o cinturão e afivelando-o, ao mesmo tempo que se descontraía. As pancadas na porta tinham-no surpreendido. Não podia descuidar-se ante a possibilidade de urna visita inesperada de Herbert Coe.
Daniel Marvin entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.
— Não há dúvida de que melhorou bastante o seu aspeto, desde há bocado... — sorriu. — Pode dispensar-me uns instantes?
— Com certeza. Quer fazer-me o favor de se sentar?
Depois de um momento de hesitação, o ganadeiro sentou-se na única cadeira que havia no quarto, onde quase todo o espaço disponível estava ocupado pelas três camas colocadas da melhor maneira possível.
Roy foi sentar-se aos pés de uma das camas, e aceitou o tabaco que Marvin lhe oferecia.
— Gostaria que me falasse do que está a acontecer... — disse o ganadeiro, quando acenderam os cigarros.
Donovan sentia-se ainda um tanto atordoado, e não soube entender a que era que o ganadeiro queria referir-se.
— O que está a acontecer?... — repetiu. — Não percebo o que quer dizer.
— Entende, Roy. Você teve uma altercação com dois homens de Herbert Coe, porque eles se tinham permitido ser insolentes com minha filha, e sei agora que lutou com o próprio Coe. Porquê?
— Quem lho disse?
— Minha filha.
— Então... não compreendo...
— As explicações que ela me deu são bastante confusas.
— Receio bem não poder esclarecê-lo. Castiguei Joe e Nick porque estavam a incomodar «miss» Arabella e eu não podia consentir isso, visto que a acompanhava.
— E Coe?
— Perseguia sua filha, não sei porquê, e eu interpus-me.
— E isso é tudo?
— Tudo o que eu sei, pelo menos.
— Permite-me uma pergunta um tanto... delicada?
— Sim, com certeza.
— Você não procura deliberadamente provocar Coe, por algum motivo relacionado com Arabella?
Roy olhou-o, espantado.
— Não.
— Não foi por isso que passou a noite com a mulher que se supõe ser amante desse homem?... — insistiu Marvin.
— Claro que não ! Quem esteve a insinuar-lhe essas Ideias absurdas?
O ganadeiro levantou-se. Não parecia muito satisfeito.
— Não me ajudou muito... mas de qualquer forma, obrigado.
Roy compreendeu que ele não o acreditava.
— Garanto-lhe — começou, acaloradamente. Mas não soube como continuar sem se alongar em explicações que não vinham a propósito.
— Até logo... — disse Marvin, enganando-se sobre o motivo daquela interrupção.
Saiu antes que o rapaz se tivesse decidido a fazer--lhe confidências.
— Ora... — resmungou Roy, irritado consigo mesmo — ...que acredite o que lhe der na gana.
Naquele mesmo instante tomou a decisão de não voltar ao «Shoe» antes da manhã seguinte e só para recolher as suas coisas e despedir-se.
— De modo... — murmurou ele — ... que não foi tudo um sonho...
— Estavas muito bêbedo ontem, não estavas?
— Não há dúvida.
— Roy...
— Que queres, Gabor? A nossa ligação acabou há muito tempo, e não é possível recomeçar.
— Esta noite foi possível.
— Estava embriagado.
— Queres dizer que teria sido diferente, se não estivesses como estavas?
— Completamente diferente... — respondeu ele, sério.
Ela beijou-o, mas Donovan afastou-a de si e, levantando-se, começou a vestir-se, com a atitude de quem fecha de súbito uma porta.
— Estás muito seguro de ti... — disse ela, com uma curva amarga nos lábios.
— Estive doido por tua causa, Gabor. A tal ponto que cheguei a pedir-te que casasses comigo. Mas...
— E que pensavas?... — Interrompeu-o ela, apaixonadamente. — Irmos para um descampado e trabalhar como animais, sem vizinhos, sem a possibilidade dê ver criaturas humanas durante meses inteiros, a não ser índios que podiam atacar-nos a qualquer momento.
— Propunha-te procurar um pedaço de terra com água abundante e boas pastagens, onde houvessem cavalos selvagens que eu pudesse caçar e domar. Propunha-te que me ajudasses a construir um rancho onde crescessem os nossos filhos, que mais se sentiriam orgulhosos do trabalho que nós tivéssemos feito.
Gabor levantou-se, envolvendo-se num roupão.
— Eu não sirvo para isso, Roy... — murmurou, sem se voltar.
— Foi isso o que me disseste. E riste-te dos meus projetos. Mas eu continuo a pensar da mesma maneira... e tu também, ao que vejo. Portanto é inútil insistir sobre o que foi.
Donovan passou os dedos pelos cabelos despenteados e apanhou o chapéu.
Ela sentiu uma brusca sensação de perda. Julgava tê-lo bem seguro nos seus braços, mas ele escapava-se sem que ela pudesse fazer fosse o que fosse para evitar isso.
— Roy, escuta-me!... — gritou. — Tenho algum dinheiro e com ele poderíamos instalar-nos em qualquer parte. Podíamos até, talvez, comprar um pequeno rancho, em algum lugar onde tivéssemos vizinhos e pudéssemos viver de uma maneira civilizada.
Donovan voltou-se, junto da porta.
— Não quero perguntar-te como ganhaste esse dinheiro, Gabor... — disse ele, procurando falar em voz calma. — Também não quero perguntar-te como vieste parar aqui. Simplesmente... eu não sou desses. Além disso pertences ao passado e eu não quero abrir outra vez essa porta. Não a abriria... mesmo que por detrás dela não houvesse o que há.
Abriu a porta e abandonou o quarto, saindo para o corredor... onde quase deu de caras com os Marvin. Arabella ia adiante, e ficou a olhar para ele, com os olhos muito abertos. Depois olhou para a porta por onde ele acabava de sair.
Roy sentiu um desejo desesperado de seguir o olhar dela, mas não o fez. Sabia que Gabor estava ali, tapada com o roupão, sob o qual não havia mais roupa, e imaginava qual devia ser o seu próprio aspeto, depois da fenomenal bebedeira da noite anterior e do que acontecera a seguir.
— Bons-dias... — murmurou.
E afastou-se precipitadamente, sentindo que a sua espantosa dor de cabeça se lhe fixava agora no peito, torturante, como se fosse sufocá-lo.
— Roy !... — chamou ainda Gabor. Mas ele continuou a caminhar sem voltar a cabeça.
Passava por uma porta quando dela surgiu um comprido braço, que o agarrou e o puxou com força irresistível.
— Rapaz, rapaz!... — exclamou Tyler, encostado à porta que acabava de fechar e abanando a cabeça, com um ar de censura.
— De onde diabo saíste tu?... — perguntou Roy, demasiadamente espantado para se zangar.
— Entrei com os Marvin e acabava de despedir-me, dispondo-me a entrar no quarto, quando te vi aparecer. Não podias tê-lo feito em momento mais opor-tufo!
Roy atirou o chapéu para cima de uma das camas dirigiu-se para o lavatório, tirando a camisa.
— Assim parece... — disse, tentando dar à sua voz um tom de indiferença. — Onde está Frank?
— Não é difícil imaginá-lo.
— Sim... Não quer perder tempo, segundo parece... — comentou Roy, começando a ensaboar-se.
— Não, evidentemente. Mas... sabes que horas são?
— Não.
— Meio-dia.
— Diabo! Estava a suspirar por um pouco de café.
-- Só depois do almoço. Estão à nossa espera, e por isso vim ver se te encontrava.
— Elihu?
— O convite é de Ally. Não podemos negar-nos.
— Vai tu e diz que não me encontraste. Não estou com disposição para isso.
— Talvez seja melhor... — concordou Tyler, com uma gravidade pouco habitual nele. — Meteste-te nalgum sarilho?
— Não... Porquê?
— Parece que essa Gabor se entende com Herbert Coe. Receio que ele não leve a coisa a bem, quando souber onde passaste a noite.
— Pois que vá para o diabo respondeu Roy, a quem aquela notícia não interessava.
— Pois que vá... — concordou Tyler, com um sorriso fugitivo. — Onde nos veremos, depois do almoço?
— Acho que vou voltar ao rancho. Não quero estragar-te a tarde.
— Não me parece que te tenhas divertido muito... — comentou o rapagão, suavemente.
— Não ias sair?
Tyler estendeu as mãos, encolhendo a cabeça.
— Bem, bem... — disse. — Não estava a fazer-te perguntas.
— Um bom sistema. Não fazendo perguntas evitam-se determinadas respostas.
— Desagradáveis?
Roy acabou de barbear-se e meteu a cabeça no lavatório.
— Bem, vou andando... — ouviu ele dizer o amigo, entre o barulho da água. — Mas virei buscar-te.
Quando Donovan acabou de se enxugar, Tyler já tinha saído.
Penteado, acabava de vestir a camisa e estendia a mão para o cinturão, quando ouviu bater à porta.
— Quem é?... — perguntou, apoiando a mão sobre a coronha do revólver mais próximo.
— Marvin... — disse a voz do ganadeiro.
— Entre... — respondeu Roy, apanhando o cinturão e afivelando-o, ao mesmo tempo que se descontraía. As pancadas na porta tinham-no surpreendido. Não podia descuidar-se ante a possibilidade de urna visita inesperada de Herbert Coe.
Daniel Marvin entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.
— Não há dúvida de que melhorou bastante o seu aspeto, desde há bocado... — sorriu. — Pode dispensar-me uns instantes?
— Com certeza. Quer fazer-me o favor de se sentar?
Depois de um momento de hesitação, o ganadeiro sentou-se na única cadeira que havia no quarto, onde quase todo o espaço disponível estava ocupado pelas três camas colocadas da melhor maneira possível.
Roy foi sentar-se aos pés de uma das camas, e aceitou o tabaco que Marvin lhe oferecia.
— Gostaria que me falasse do que está a acontecer... — disse o ganadeiro, quando acenderam os cigarros.
Donovan sentia-se ainda um tanto atordoado, e não soube entender a que era que o ganadeiro queria referir-se.
— O que está a acontecer?... — repetiu. — Não percebo o que quer dizer.
— Entende, Roy. Você teve uma altercação com dois homens de Herbert Coe, porque eles se tinham permitido ser insolentes com minha filha, e sei agora que lutou com o próprio Coe. Porquê?
— Quem lho disse?
— Minha filha.
— Então... não compreendo...
— As explicações que ela me deu são bastante confusas.
— Receio bem não poder esclarecê-lo. Castiguei Joe e Nick porque estavam a incomodar «miss» Arabella e eu não podia consentir isso, visto que a acompanhava.
— E Coe?
— Perseguia sua filha, não sei porquê, e eu interpus-me.
— E isso é tudo?
— Tudo o que eu sei, pelo menos.
— Permite-me uma pergunta um tanto... delicada?
— Sim, com certeza.
— Você não procura deliberadamente provocar Coe, por algum motivo relacionado com Arabella?
Roy olhou-o, espantado.
— Não.
— Não foi por isso que passou a noite com a mulher que se supõe ser amante desse homem?... — insistiu Marvin.
— Claro que não ! Quem esteve a insinuar-lhe essas Ideias absurdas?
O ganadeiro levantou-se. Não parecia muito satisfeito.
— Não me ajudou muito... mas de qualquer forma, obrigado.
Roy compreendeu que ele não o acreditava.
— Garanto-lhe — começou, acaloradamente. Mas não soube como continuar sem se alongar em explicações que não vinham a propósito.
— Até logo... — disse Marvin, enganando-se sobre o motivo daquela interrupção.
Saiu antes que o rapaz se tivesse decidido a fazer--lhe confidências.
— Ora... — resmungou Roy, irritado consigo mesmo — ...que acredite o que lhe der na gana.
Naquele mesmo instante tomou a decisão de não voltar ao «Shoe» antes da manhã seguinte e só para recolher as suas coisas e despedir-se.
Não tendo encontrado maneira de se despedir de Tyler, Roy acabou por se deixar arrastar ao baile, embora não tivesse qualquer desejo de festas e muito menos de ver Arabella Marvin nos braços de outro.
Aquela reunião social realizava-se num velho e grande barracão de madeira, à entrada da povoação, e como ali acorria a grande maioria da juventude da terra, bem como muitas pessoas das famílias das raparigas, havia muita gente.
A música era proporcionada por um piano, um violino e uma concertina, e dançava-se animadamente.
— Que te parece? perguntou Jay, sorrindo.
— Muito animado.
— Que entusiasmo, rapaz — troçou o amigo. — Vê-se que estavas morto por vir.
— Escuta, Jay... porque não me deixas em paz? Ou vou ter de convidar-te a dançar?
Tyler soltou uma alegre gargalhada.
— Faríamos um bonito par, não te parece? Ponho um lenço no braço e faço de rapariga. Depois trocamos.
— Vai para o diabo!
— Está bem, homem, está bem.
— Olha... Não é aquele o teu adorado tormento? Porque não lhe pedes para dançar contigo?
— Fá-lo-ia, se me prometesses que não te ias embora.
— Mas...
— Escuta, companheiro. Frank encarregou-me de te trazer aqui, porque de contrário iria ele ter connosco. Achas bem estragar-lhe o idílio recém-iniciado?
— Porque é que pensas que eu preciso de ama-seca?
— Sabes perfeitamente isso. Já não é segredo para ninguém que deste uma tareia a Coe, e além disso há o caso de Joe e de Nick. Ele há-de procurar-te, por força, e não aparecerá sozinho. Beasley, pelo menos, há-de estar com ele.
Roy ia responder quando viu Arabella Marvin, que parecia vir ao seu encontro.
— Como te atrasaste tanto?... — perguntou ela, animadamente. -- Pensei que nunca mais chegavas!
Demasiado aturdido para saber o que dizer ou fazer, ficou a olhá-la, pasmado.
-- Vamos. Esta é a nossa dança. Lembras-te?
Meio empurrado por Jay, Roy encontrou-se com a jovem nos braços antes de ter saído do seu pasmo.
Dançaram em silêncio, e antes de terem trocado uma só palavra, cessou a música.
— Faz calor aqui...--murmurou Arabella, sem olhar para ele. — Queres que vamos dar um passeio?
Roy conduziu-a para fora e caminharam um ao lado do outro, afastando-se da povoação.
— Obrigada por não ter contado a verdade a meu pai, Roy... disse ela em voz baixa, quando o silêncio começava a tornar-se insustentável.
Ele parou subitamente.
— Eu contei-lhe a verdade.
— Tu...
— Impedi que esse Coe te agarrasse e voltaria a lazer o mesmo, se fosse preciso. Mas não sei o que há no fundo deste assunto.
Ela levantou vivamente a cabeça.
— Que estás a imaginar?... — perguntou, com os olhos fulgurantes e a voz alterada.
-- Que havia eu de imaginar, e porquê?
— Porque... — Ela pareceu hesitar, e bruscamente mudou de tom.— Herbert Coe tem andado a perseguir-me e, despeitado, jurou que eu havia de ser dele, custasse o que custasse. Toda a gente o sabe, menos meu pai. Não quero que ele o saiba porque então enfrentar-se-ia com esse assassino, e morreria às mãos dele.
Cresciam árvores à beira do caminho. Roy encostou-se a uma delas, enrolando um cigarro. Por instantes a chama do fósforo iluminou as suas feições corretas e enérgicas.
— Sinto dececioná-la... — disse ele resolutamente, desejando acabar de uma vez com aquele equívoco. — Não sabia que essa mulher, Gabor, tivesse alguma espécie de relações com Herbert Coe. Conhecia-a de muito antes. Houve mesmo uma altura em que estive apaixonado por ela.
Arabella baixou a cabeça.
— É muito bonita... — murmurou.
— Sim, é.
Houve um longo silêncio.
— Mas já nada significa para mim... — continuou Roy, embora não soubesse porque dizia aquilo. — Há um ano pedi-lhe que se casasse comigo, e não quis. Não lhe agradava a ideia de se converter em pioneira. Não era o que é agora, mas pelos vistos já tinha inclinação para sê-lo. Só agora o compreendo.
— Porquê... então?... — perguntou a rapariga, com um fio de voz, sem ousar completar a pergunta.
Elihu tinha-nos feito beber Jerez para festejar o compromisso de Ally e de Frank... e depois, no Fox Case, brindámos mais do que a conta. Eu estava embriagado.
O silêncio prolongou-se mais.
— Será melhor voltarmos... — disse Roy, por fim.
Voltaram para o barracão onde se realizava o baile, sem trocarem uma só palavra mais. Arabella afastou-se do seu companheiro logo que chegaram, e daí por diante evitou olhar para ele.
Roy pensou então que não fizera qualquer promessa a Tyler, e foi-se embora.
Aquela reunião social realizava-se num velho e grande barracão de madeira, à entrada da povoação, e como ali acorria a grande maioria da juventude da terra, bem como muitas pessoas das famílias das raparigas, havia muita gente.
A música era proporcionada por um piano, um violino e uma concertina, e dançava-se animadamente.
— Que te parece? perguntou Jay, sorrindo.
— Muito animado.
— Que entusiasmo, rapaz — troçou o amigo. — Vê-se que estavas morto por vir.
— Escuta, Jay... porque não me deixas em paz? Ou vou ter de convidar-te a dançar?
Tyler soltou uma alegre gargalhada.
— Faríamos um bonito par, não te parece? Ponho um lenço no braço e faço de rapariga. Depois trocamos.
— Vai para o diabo!
— Está bem, homem, está bem.
— Olha... Não é aquele o teu adorado tormento? Porque não lhe pedes para dançar contigo?
— Fá-lo-ia, se me prometesses que não te ias embora.
— Mas...
— Escuta, companheiro. Frank encarregou-me de te trazer aqui, porque de contrário iria ele ter connosco. Achas bem estragar-lhe o idílio recém-iniciado?
— Porque é que pensas que eu preciso de ama-seca?
— Sabes perfeitamente isso. Já não é segredo para ninguém que deste uma tareia a Coe, e além disso há o caso de Joe e de Nick. Ele há-de procurar-te, por força, e não aparecerá sozinho. Beasley, pelo menos, há-de estar com ele.
Roy ia responder quando viu Arabella Marvin, que parecia vir ao seu encontro.
— Como te atrasaste tanto?... — perguntou ela, animadamente. -- Pensei que nunca mais chegavas!
Demasiado aturdido para saber o que dizer ou fazer, ficou a olhá-la, pasmado.
-- Vamos. Esta é a nossa dança. Lembras-te?
Meio empurrado por Jay, Roy encontrou-se com a jovem nos braços antes de ter saído do seu pasmo.
Dançaram em silêncio, e antes de terem trocado uma só palavra, cessou a música.
— Faz calor aqui...--murmurou Arabella, sem olhar para ele. — Queres que vamos dar um passeio?
Roy conduziu-a para fora e caminharam um ao lado do outro, afastando-se da povoação.
— Obrigada por não ter contado a verdade a meu pai, Roy... disse ela em voz baixa, quando o silêncio começava a tornar-se insustentável.
Ele parou subitamente.
— Eu contei-lhe a verdade.
— Tu...
— Impedi que esse Coe te agarrasse e voltaria a lazer o mesmo, se fosse preciso. Mas não sei o que há no fundo deste assunto.
Ela levantou vivamente a cabeça.
— Que estás a imaginar?... — perguntou, com os olhos fulgurantes e a voz alterada.
-- Que havia eu de imaginar, e porquê?
— Porque... — Ela pareceu hesitar, e bruscamente mudou de tom.— Herbert Coe tem andado a perseguir-me e, despeitado, jurou que eu havia de ser dele, custasse o que custasse. Toda a gente o sabe, menos meu pai. Não quero que ele o saiba porque então enfrentar-se-ia com esse assassino, e morreria às mãos dele.
Cresciam árvores à beira do caminho. Roy encostou-se a uma delas, enrolando um cigarro. Por instantes a chama do fósforo iluminou as suas feições corretas e enérgicas.
— Sinto dececioná-la... — disse ele resolutamente, desejando acabar de uma vez com aquele equívoco. — Não sabia que essa mulher, Gabor, tivesse alguma espécie de relações com Herbert Coe. Conhecia-a de muito antes. Houve mesmo uma altura em que estive apaixonado por ela.
Arabella baixou a cabeça.
— É muito bonita... — murmurou.
— Sim, é.
Houve um longo silêncio.
— Mas já nada significa para mim... — continuou Roy, embora não soubesse porque dizia aquilo. — Há um ano pedi-lhe que se casasse comigo, e não quis. Não lhe agradava a ideia de se converter em pioneira. Não era o que é agora, mas pelos vistos já tinha inclinação para sê-lo. Só agora o compreendo.
— Porquê... então?... — perguntou a rapariga, com um fio de voz, sem ousar completar a pergunta.
Elihu tinha-nos feito beber Jerez para festejar o compromisso de Ally e de Frank... e depois, no Fox Case, brindámos mais do que a conta. Eu estava embriagado.
O silêncio prolongou-se mais.
— Será melhor voltarmos... — disse Roy, por fim.
Voltaram para o barracão onde se realizava o baile, sem trocarem uma só palavra mais. Arabella afastou-se do seu companheiro logo que chegaram, e daí por diante evitou olhar para ele.
Roy pensou então que não fizera qualquer promessa a Tyler, e foi-se embora.
Sem comentários:
Enviar um comentário