segunda-feira, 31 de maio de 2021
domingo, 30 de maio de 2021
sábado, 29 de maio de 2021
sexta-feira, 28 de maio de 2021
quinta-feira, 27 de maio de 2021
quarta-feira, 26 de maio de 2021
terça-feira, 25 de maio de 2021
BIS009.10 Rapto de duas mulheres com trágico desfecho
A atmosfera estava carregada de fumo que saía dos cachimbos ou cigarros que os três homens fumavam. Ali se tinham reunido pelo ódio que os irmanava contra o jovem impetuoso e destemido, de seu tão recente conhecimento, mas que introduzindo-se nas suas vidas a todos os vencera. A eles, que sempre se haviam considerado invulneráveis, a todos demonstrando a mais forte superioridade, ferindo ou matando a seu belo prazer.
— Deu cabo de todos os meus planos e tornou impossível a minha vida nesta região — dizia Snell, deitado na cama, ainda malferido, com todo o ódio que aquela inação lhe concentrara nas veias. — Os mesmos que me deram o cargo de «sheriff» e nele me sustentaram durante tanto tempo, voltaram-me as costas ao ver-me caído por terra. Juntei-me a ti, Buck, mal me posso mexer. Prefiro isso, a ser considerado um traste inútil.
segunda-feira, 24 de maio de 2021
BIS009.09 Um bandido regenera-se, outro leva uma lição com os punhos
--Mas é o grandalhão que comprou o meu «Raio»! — exclamou Buck, rindo tranquilamente, ao reconhecer o homem que de maneira tão brusca e inesperada entrava em cena. — Diga, meu amigo, que tal lhe pareceu o animal? Não é uma linda estampa? O que não está bem, é isso de falar tão duramente aos meus borreguinhos! Dê-lhes uma explicação, para que se não aborreçam.
— As únicas explicações que tenho para os seus assassinos, são em onças de chumbo e braçadas de corda.
— Ah! ah! ah! — riu o bandido. — É teso e cabeçudo! Ah! ah! Gosto de ti amigo!
domingo, 23 de maio de 2021
BIS009.08 Uma mulher incendeia o baile de gala do «rodeo»
Grande número de candeeiros de petróleo, pendura. dos de arames e de postes, iluminavam a pista ao meio da qual, num alto coreto, cerca de vinte músicos atacavam os instrumentos arrancando-lhes as notas alegres de uma alegre música que urna imensidade de pares procurava dançar.
— Com você, Rob, — dizia mister Kinney que, rodeado pelo rapaz e pelos seus dois inseparáveis colegas, mantinha-se um pouco afastado — fiz uma aquisição muito melhor do que supunha.
— Que quer dizer com isso? — perguntou Rob, um tanto intrigado, pois a afirmação surgira a meio de uma conversa sem importância e que nada tinha a ver com seus méritos.
sábado, 22 de maio de 2021
BIS009.07 O grande «rodeo» de Sunshine
A praça, em frente da estação, estava coalhada de gente. Em Sunshine não devia ter ficado viva alma. Todos haviam ido assistir aos concursos equestres, esperados com ansiedade. Contando com os forasteiros, mais de duas mil pessoas deviam andar pelas ruas.
A multidão ruidosa, era uma massa incolor que se destacava vivamente no recinto das festas. As camisas alacres dos cow-boys confundiam-se com os vestidos vistosos das raparigas, as mantas coloridas dos índios e os grandes chapéus mexicanos.
Numa das tribunas reservadas para os rancheiros mais ricos, cujas equipas de trabalho participavam dos concursos, via-se Ketty Power rodeada de Ana e sua filha Pam. Aquela fingia interessar-se por quanto se passava na arena, quando na verdade mais não fazia que procurar ansiosamente com a vista, a arrogante figura de Rob, por cuja sorte estivera a rezar no seu quarto, pedindo ao Céu que o fizesse sair indemne da luta de morte que ia travar com Sam Lou.
sexta-feira, 21 de maio de 2021
BIS009.06 As confissões de um bandoleiro
Os dois homens procuravam ocultar a surpresa recebida, porque nem a um nem a outro lhe passara pela cabeça encontrarem-se em tais circunstâncias.
Rob com o revólver de Sam na mão, não podia furtar-se a ponderar a ironia do destino que lhe proporcionara a oportunidade de, por ditas vezes, desarmar sem luta o famoso «Gun-man», tido como o melhor e mais rápido atirador de todo o Arizona.
Durante Muitos anos vencera o concurso realizado anualmente nas Testas da cidade, nas quais podia sempre tomar parte, graças à amnistia temporária concedida pelas autoridades.
quinta-feira, 20 de maio de 2021
BIS009.05 Mil dólares por um cavalo devidamente ajaezado
A cidade estava engalanada com cartazes, bandeiras e lâmpadas a cores, que quase formavam um teto sobre a rua principal, caindo de cordas e arames que, esticados de janela para janela, a atravessam.
Pelos passeios, transitava uma heterogénea multidão, entre a qual sobressaíam as mantas de índios e mexicanos, com os seus desenhos garridos, as camisas dos «cow-boys» e as negras andainas dos comerciantes e jogadores.
Pela larga rua poeirenta, circulava toda a espécie de veículos enfeitados e alegóricos, conduzidos uns por ricaços comerciantes, banqueiros e fazendeiros, outros por famílias alegres que acudiam à cidade, dispostos a divertir-se.
quarta-feira, 19 de maio de 2021
BIS009.04 O despertar da paixão
Quando Ketty viu Rob desaparecer por detrás da porta, disposto a enfrentar a morte, sentiu invadi-la uma estranha sensação até ali desconhecida; fez um enorme esforço para conter o impulso de correr atrás dele, para impedir a luta, e, quando se dominou, sentiu-se desfalecer.
Teve de apoiar-se ao balcão e reagir com todas as suas forças, a fim de não desmaiar pela primeira vez na sua vida. O chão parecia fugir-lhe sob os pés, e a casa andava à roda, numa tão vertiginosa correria, que parecia prestes a desmoronar-se. Quando Ketty viu Rob desaparecer por detrás da porta, disposto a enfrentar a morte, sentiu invadi-la uma estranha sensação até ali desconhecida; fez um enorme esforço para conter o impulso de correr atrás dele, para impedir a luta, e, quando se dominou, sentiu-se desfalecer.
terça-feira, 18 de maio de 2021
BIS009.03 Um emprego e uma desforra para o xerife
Ketty olhava, angustiada, para os quatro homens, pensando como era possível falarem de empregos e de gosto pelo trabalho, quando, daí a minutos, o mais jovem deles jogaria a vida em frente do «Sheriff», que se sabia ter sido um «Gun-man» e que, apesar do seu importante cargo, continuava a sê-lo, valendo-se dele para gozar da impunidade. Ia defrontar-se com um homem que por si só já era perigoso, mas...
Que aconteceria se, saindo vitorioso, o ferisse ou matasse? Não se podia esquecer que aquele homem, por absurdo que parecesse, era o «sheriff» e, portanto, quem atentasse contra ele, atentava contra a autoridade. Como se em Rob se ocultassem os mesmos pensamentos e preocupações, não tardou dizer a Kinney:
— Mas não julga que esta luta, qualquer que seja o resultado, me impossibilitará de tomar conta do lugar que me destina?
— Ah, meu querido rapaz! Essa é uma das razões por que lhe ofereço o emprego! Você fica investido duma autoridade que, não podendo imiscuir-se na do «sheriff», também está fora do alcance dele, e se lhe pode equiparar. Farei a sua nomeação antes de sair aquela porta, para enfrentar esse lobo com pele de cordeiro! Deste modo, ambos terão de respeitar a autoridade conferida a um pelo município de Sunshine, em representação do Governo do Arizona, e a outro por mim, em representação de Washington.
segunda-feira, 17 de maio de 2021
BIS009.02 Uma sova no xerife valentão
Um numeroso grupo de curiosos acorreu a rodear a diligência, quando esta parou em frente da estação, na cidade de Sunshine.
O chefe do posto saiu apressurado do escritório, pois alguém o avisara de que o carro chegava conduzido por um desconhecido, trazendo o cocheiro aparentemente morto.
Com um salto de felino, Rob saltou da boleia para vir abrir a portinhola do carro e ajudar a descer Ketty Power, que lhe sorriu, agradecida.
—O cocheiro morreu? Que aconteceu? Onde está o vigia? — com esta enfiada de perguntas, veio até junto deles um homem que pareceria muito alto, se não fosse colocar-se ao lado de Rob —. Quem é você?
— Irra, meu amigo! — respondeu o rapaz, mais lenta e arrastadamente que nunca, pensou Ketty —. Se não fecha a torneira, preciso duma eternidade para responder a todas as suas perguntas!
domingo, 16 de maio de 2021
BIS009.01 Uma sombra sob a diligência
Este esquadrinhava o horizonte, em lodos os sentidos, desconfiado duma armadilha, dada a presença do obstáculo que os impedia de seguir a sua marcha. A diligência parou junto do tronco, entre o praguejar do cocheiro e o ruído dos travões.
—Maldito trabalho! — grunhiu Jim, atirando a espingarda para cima das bagagens empilhadas no tejadilho do carro, com um colérico encolher de ombros —. Vamos deitar fora esse tronco, Tom; não podemos oferecer resistência, levando como passageiros a menina Power, a sua criada preta e esse trio de adiposos comerciantes, que, se ouvissem um tiro, logo se meteriam debaixo dos bancos.
sábado, 15 de maio de 2021
BIS009.00 Trágico desenlace
Este é mais um livro de Tex Taylor com o saboroso sabor do Oeste selvagem. O pistoleiro valente, o bandido simpático, o bandido execrável, o xerife corrupto, o capataz traiçoeiro apaixonado pela patroa e diálogos onde se prenunciam novas amizades. Depois, há uma deliciosa descrição do rodeo onde se cruzam heróis e vilões em feitos incríveis.
E a história… que mais se pode exigir deste conteúdo?
Um valente põe um tronco na estrada para fazer parar a diligência e, depois de esta retomar a marcha, sem ninguém dar por ele, ocupa um lugar por baixo da mesma sofrendo a bom sofrer com os solavancos, poeirada e…
… Há um assalto à diligência. Em momento decisivo, ele avança, desarma os bandidos e segue com os outros passageiros para a cidade depois de um diálogo divertido com o chefe dos bandidos. Começa aqui uma estranha amizade entre estes dois homens que culmina no arrependimento do bandido e na sua ajuda no combate aos malfeitores. Mas foi tardio o seu arrependimento e acabou por ser abatido ao lado da mulher que amava. Um trágico desenlace…
sexta-feira, 14 de maio de 2021
6BL045.09 Duelo fatal: um homem resgata a sua honra
Quando Carter se encontrava a cerca de cinquenta metros do "Hopalong's", oscilaram os batentes e uma figura bem conhecida de Carter desceu do passeio à poeirenta calçada. Respirou fundo, olhando para todos os lados; como se quisesse gravar nas retinas quando o rodeava, e que era digno de ser contemplado. Quando qualquer pessoa se enfrenta com a morte, ainda que, interiormente, confie na vitória, acha tudo maravilhoso e considera que perdeu muitas coisas que mereciam ser vistas ou desfrutadas com melhores olhos.
Hopalong Smith sorriu, brevemente, quando viu avançar Carter Maxine pelo meio da rua. Ampliou o seu sorriso, ou seria, apenas, um trejeito?, quando pensou que, muito em breve, algo vermelho e quente brilharia ao sol.
Na rua, silêncio.
No ar, eletricidade.
No ambiente, tensão.
Um duelo nobre, de poder a poder, frente a frente, é algo que sempre desperta a atenção. Algo selvático que cativa. E algo muito humano, que sempre proporciona qualquer desenlace. Quarenta metros... Trinta... Os dois homens ficaram imóveis, contemplando-se, mutuamente, estudando os menores gestos e reações do outro. Avançaram um pouco mais. Vinte metros...
— Carter...
— Sim?
— Tiveste tempo de pensar.
Carter riu, breve, silenciosamente.
— E verdade, Hopalong. Meditei muito.
— E então?
— Nunca sentiste uma obsessão? — inquiriu, por seu turno, Carter.
— Assim tão estúpida, nunca.
— Bem...A estupidez é muito relativa, não te parece?
— De acordo, Carter. Adiante.
As duas figuras ficaram tensas, como se os seus músculos, as fibras que os constituíam, fossem de aço. Nada mais havia a dizer. Daí para a frente, a última palavra correspondia aos revólveres.
Por um instante, suspenderam-se todas as respirações. Grupos de curiosos, hipnotizados, tinham os olhos fixos naqueles dois homens que se iam matar. Tudo parecia morto. Tudo se assemelhava a uma visão de pesadelo. Tudo, exceto os corações de Carter Maxine e Hopalong Smith, que galopavam, furiosamente, nos seus peitos. Bastavam uns escassos décimos de segundo para que o Destino dissesse a última palavra. Desse uma ordem sem apelo, sem contestação. Uma ordem superior, a que não poderiam opor-se as vontades humanas. Seria o destino, sim. Depois, algo vermelho e quente brilharia ao sol...
— Adiante, Carter — repetiu Hopalong.
Suspendeu-se o próprio tempo; contiveram-se, uma vez mais, os alentos, os gestos dos espectadores. Duas mãos rápidas, duas mãos de pistoleiros experientes, desceram para os respetivos coldres; para as encurvadas coronhas dos revólveres.
Brilharam, simultaneamente, os canos das armas. Depois, duas detonações. Com um intervalo que nenhum instrumento de medida de tempo poderia precisar. Dois fogachos descoloridos, levemente amarelecidos. Por fim, o terceiro. Fora do revólver de Carter Maxine que ele brotara.
Todos viram Hopalong Smith dobrar-se para a frente. Observaram as contrações do seu rosto, ensombrecido pela dor. Caiu de joelhos, por fim, com extrema lentidão. No peitilho da camisa, duas grandes manchas roxas. Manchas que brilhavam ao sol. Depois, com uma última contração, tombou de bruços.
Os olhares dos espectadores, atónitos, voltaram-se para Carter Maxine. E um incontido rumor de surpresa brotou de todos os peitos. Carter Maxine tentava avançar para onde estava caído Hopallong Smith, no centro da rua, um tudo-nada distante do seu estabelecimento. Maxine cambaleava; estava lívido. O revólver escapou-se-lhe de entre os dedos. E a mão que o segurava foi levada ao ventre, perfurado pelo único projétil disparado por Hopalong Smith.
Carter ainda conseguiu dar dois vacilantes passos. Depois dobrou-se, tragicamente, ficando de bruços sobre o pó.
Foi então que, na rua, apagado, profundo, dilacerante, se ouviu um soluço, e uma figura feminina se precipitou para Carter Maxine. Jane Meeker, angustiada, com a garganta apertada pelo medo, pela dor, rasos os seus olhos de lágrimas, inclinou-se para Carter.
— James — sussurrou, enquanto acariciava a testa do pistoleiro, humedecendo as mãos com o frio suor que a banhava.
Carter, com as pupilas quase veladas já, olhou Jane e tentou sorrir, não conseguindo mais do que um trejeito.
— Não...Não devias ter vindo, Jane... Não é agradável, compreendes? Não sei..., mas, no último instante, tive o pressentimento de que isto tinha de acabar assim, querida...
A mulher mordeu os lábios, com força.
— Não é possível, James...Nao é possível: — quase gritou. — Não posso acreditar... James ... James.
Carter Maxine fechara os olhos; bruscamente, a vida havia-se-lhe truncado. Morrera, talvez com a consciência tranquila. Com a sua morte, redimira um mau momento da sua existência.
Jane Meeker sentiu-se, de súbito, vazia. Olhava, sem compreender, aturdida pela dor, aquele cadáver, ainda quente. Não notou que os curiosos se iam aproximando, formando um círculo em seu redor e do corpo sem vida de Carter Maxine. Sombras silenciosas que se projetavam sobre o pó; olhos muito abertos, ávidos do espetáculo que se lhes oferecia. Não tinham esperado aquele final, a aparição daquela mulher de alma angustiada pelo sofrimento.
— Jane...
A mulher notou um sopro quente no rosto; pareceu reagir, ao escutar a voz de Jake Duncan. Olhou-o; estava diante dela, em pé, muito pálido.
— Sinto-o, Jane...
Um brilho de loucura ganhou vida nos olhos da mulher. Desfigurou-a, por completo, tornando - a numa Jane diferente.
— Sente, agora, remorsos, senhor Duncan? —inquiriu, secamente.
Jake humedeceu os lábios.
— Não. Não é isso, Jane — respondeu o jovem pistoleiro, serenamente. — Eu sinto-o de verdade. E não podia impedir que Carter fizesse o que fez era o seu destino.
— É verdade. Desculpe-me, senhor Duncan.
E ficou ali, abraçada ao cadáver, como ausente de quanto a rodeava. Tinham-na, também, morto. Não é fácil que uma mulher se resigne, se mantenha serena, quando, aos trinta e cinco anos, chegou a sentir a primeira ilusão da sua vida; o primeiro amor. E o perdia, selvaticamente.
Jake Duncan, em silêncio, separou-se dela. Era melhor deixá-la só naquele momento. Com uma estranha expressão no rosto, Jake entrou no quarto de Diana. A jovem pestanejou, um tanto assustada.
— Já..., já estou pronta, Jake — disse, retrocedendo um passo. — Não..., não me disseste ainda o que vais fazer. Pela minha parte, o ter ficado sem trabalho...
Jake agarrou-a por um pulso. E puxou-a, até que o corpo feminino ficou colado ao seu. Depois, inclinou-se, beijando-a, suavemente, nos lábios. Diana arquejava quando ele a soltou.
— Não te sabia tão... impulsivo, Jake. — sussurrou a jovem. — Pareceste-me, inclusive, frio, demasiado calmo.
Jake riu, trocista.
— Na realidade, não me foi possível dedicar-me a ti, até agora. Mas tudo mudará, de futuro.
Puxou-a de novo a si, beijando-a pela segunda vez.
— Disseste que estavas pronta? — inquiriu, depois.
— S... sim... — respondeu Diana, com os olhos muito abertos.
— Nesse caso, vamos. Não quero perder a diligência.
— Ainda não sei para onde vamos, Jake— protestou, debilmente, Diana.
— Achas que isso tem alguma importância?
Diana fechou os olhos e, a seguir, começou a sorrir.
— Nenhuma, Jake — sussurrou.
— Então, não percamos mais tempo.
— Espera.
Jake fitou-a, surpreendido. Diana colara-se a ele e, antes de o beijar, sussurrou:
— Tão-pouco creio que tenha muita importância o facto de perdermos a diligência. Não te parece, Jake?
Jake Duncan achou que ela tinha razão. Qualquer coisa estava bem, desde que Diana estivesse ao seu lado. Era algo fresco, juvenil, maravilhosamente cheio de vida e... amor. O momento só foi turvado pela recordação de Jane Meeker e de algo vermelho e quente que brilhara ao sol...
FIM
quinta-feira, 13 de maio de 2021
6BL045.08 Preocupações de mulheres apaixonadas
Jake Duncan sorriu, tranquilo.
Fitou Diana e soube que a jovem não mentia.
Diana...
Como a vida era estranha. Trinta anos de calma e ali estava Diana. Parecia que a conhecia desde sempre. Diana era formosa, jovem, feminina...O que um homem tranquilo, seguro do que quer, espera.
— Não acontecerá nada, pequena. Isto é: só o que está escrito.
— Não me importa o que possa suceder a esses dois homens. Referia-me a...
— Quando eu disse que nada aconteceria, falava a meu respeito. Mais sossegada?
— Não sei, Jake. Outra das coisas que me põe nervosa é ter em meu poder mais de duzentos mil dólares. Confias assim tanto em mim, Jake? Conhecemo-nos ontem e...
— Tens a certeza, pequena?
— Eu já não tenho a certeza de nada... Beija-me, Jake. Quero, pelo menos, sentir a realidade...
Inadvertidamente, enquanto a beijava, Jake olhou a rua. O sol começava a aquecer. E, dentro de poucos minutos, aquele mesmo sol faria brilhar algo vermelho e quente... A sua atenção, de súbito, foi canalizada para a diligência da linha Lamesa - Sanderson, que chegava nesse instante. E um estremecimento percorreu-o da cabeça aos pés, ao ver descer uma mulher loura, ainda nova, bonita, de corpo esbelto.
— Que foi, Jake? — inquiriu Diana, percebendo a sua alteração.
— Essa mulher, Diana... Meu Deus..., porque está aqui?
— Conhece-la?
— Sim. E cheguei a admirá-la. Nestes momentos, creio que a minha admiração é total.
— É Jane Meeker, a mulher de que me falaste?
— Exatamente, Diana. E ainda bem que me compreendes.
Diana, curiosa, acercou-se também da janela e pôde contemplar Jane, que parecia desconcertada e nervosa. Olhava, indecisa, em redor, como se não soubesse que caminho tomar. A jovem conhecia a história completa, que o próprio Jake lhe contara.
— Deve querer muito a esse Carter.
— Sim. Até logo, pequena.
Diana olhou Jake. Depois, fitou a rua. O sol ia já muito alto. Terminado o espetáculo da chegada da diligência, os habitantes do povoado recordaram, era já voz corrente, o que ocorreria ao cabo de poucos minutos, e a rua começou a ficar deserta, enquanto os mais curiosos e atrevidos procuravam posições cómodas para assistir ao duelo que iria ter lugar.
A jovem não tentou deter Jake, que abandonou o quarto e desceu as escadas que levavam ao vestíbulo do hotel. Antes de alcançar a rua, verificou, rapidamente, as cargas dos revólveres. Não confiava demasiado naquele Hopalong Smith, apesar de Carter insistir que ele lutaria nobremente. Saiu, por fim, e ficou imóvel, na alpendrada, pestanejando.
A pouca distância, Jane Meeker continuava sem saber o que fazer. Jane respirou fundo e começou a andar para o edifício de paragem das diligências. Jane viu-o, ainda a razoável distância, e precipitou-se, ansiosamente, para o rapaz.
— Senhor Duncan...
Jake sorriu, tranquilo, tentando infundir confiança a Jane.
— Acalme-se, Jane. Porque veio?
A mulher pestanejou, sem saber que responder. Foi o próprio Jake quem tentou encontrar a resposta.
— Não confiava em mim?
Jane humedeceu os lábios.
— Não é isso...Não é bem isso, senhor Duncan—murmurou, olhando-o, fixamente. — Talvez tivesse a estúpida pretensão de, estando mais perto, evitar qualquer perigo a....James.
— A Carter.
Ali, sob o escaldante sol, pareceu mais velha a Jake do que, dias atrás, em Lamesa, sob o prateado luar. Pensou, rapidamente, que a lua dissimulava muitos defeitos e, por isso, era a preferida dos poetas. E, ao sabê-la mais velha, Jake sentiu ainda maior compaixão.
— Conhece... — começou a dizer Jane.
— Sim, mas não se preocupe, Jane. Apesar de tudo, Carter merece uma oportunidade. Pela minha parte, concedo-lha. Não tanto por ele, mas sim por si.
— Mas..., quem é o senhor? Sabe uma coisa? A sua atitude desconcertou-me. Posso dizer-lhe que estou aqui por causa do medo que me provocou a sua...generosidade. Nunca julguei possível que um pistoleiro fosse como o senhor... E eu amo Carter. Amo-o de verdade, compreende?
— Bem o sei, Jane. E lamento dizer-lhe que não pude cumprir a minha palavra. No entanto, asseguro-lhe que Carter fez o mesmo que eu, no seu caso, teria feito. Seria, realmente, maravilhoso que ele conseguisse o seu objetivo.
— Continuo sem o perceber, senhor Duncan.
— Carter quer devolver o dinheiro. Deseja oferecer-lhe algo digno, Jane. Ainda que essa missão me corresponda, não posso opor-me. Por outro lado, temo defraudá-la, comunicando-lhe que sou apenas um pistoleiro a soldo da Union Pacific.
Jane empalideceu, visivelmente, o que tornou ainda mais patentes as ligeiríssimas rugas do seu pescoço, muito branco.
— Então..., o senhor procurava Carter...
— Eu procurava quatro homens, Jane.
— Mas Carter estava entre eles, e eu pu-lo na sua pista.
— É verdade, mas não deve atormentar-se. Tê-los-ia encontrado na mesma, compreende?
Jake mordiscou o lábio inferior, quando viu resvalar algumas lágrimas pelas faces de Jane Meeker.
— Meu Deus... — murmurou a mulher.
Mas Jake deixara já de prestar-lhe atenção. A rua, aparentemente, ficara deserta. Apenas existia nela sol. Sol e pó. Também silêncio. E tensão. Um homem, lentamente, avançava pela ponta sul do povoado, onde se situava o "Hopalong's". Um homem sozinho; uma mera silhueta, abrasada pelo sol; uma sombra projetada no pó da rua.
— Carter... — quase soluçou Jane. — Mas… Não pensa fazer nada, senhor Duncan? Deter esta loucura...
Jake olhou-a, fixamente.
— Não posso fazer nada, Jane. Isto é: poderia, por exemplo, matar Hopalong Smith e recuperar os últimos cem mil dólares. Mas, em tal caso, Carter sentir-se-ia defraudado, compreende? Quer fazê-lo ele. E a sua ação é a de um verdadeiro homem. Repito que só o faz por si, Jane.
A mulher, não podendo dominar as lágrimas que lhe corriam pelas faces, retorquiu:
— Creio compreendê-lo, senhor Duncan. Deveria estar-lhe agradecida, não é verdade?
— Não pense nisso, Jane. Você recorda-me a... minha mãe. E desculpe: talvez a ofenda...
— De modo nenhum, Jake. Sei que já não sou nenhuma criança, senhor Duncan. Mas gostaria de ser feliz. Creio tê-lo merecido.
— De acordo, Jane. Vamos?
— Acha que terei valor para contemplar o duelo?
— Deve tê-lo.
— Sim.... Na realidade, nunca me faltou a coragem. Talvez porque nunca tive nada a perder. No entanto, agora... Agora, senhor Duncan, posso perder tudo.
Jake Duncan sentiu uma espécie de pontada no peito. Na realidade, as coisas não deviam ter acontecido assim. Ele esperava encontrar-se com quatro pistoleiros, sem escrúpulos e sucedera, em parte, precisamente o contrário. E havia ainda a agravante do problema daquela mulher, de Jane Meeker, jovem, valorosa..., como a senhora Katy Duncan. Katy Duncan esperara, durante três anos, Elmer Duncan; aguardara, pacientemente, que o marido cumprisse a pena a que fora condenado...
Duncan encaixou as mandíbulas. Pois bem. Cada qual é senhor de se enfrentar com os seus próprios problemas. Portanto, Jane podia estar, perfeitamente, junto de Carter Maxine. Jake empurrou-a, suavemente, obrigando-a a avançar para a ponta sul do povoado.
quarta-feira, 12 de maio de 2021
6BL045.07 A grande limpeza
— Que esperavas, Bronson? Conheces muito mal Carter. Ele não cometeria a estupidez de enfrentar-se, ao mesmo tempo, com vocês os dois.
Bronson apertou os finos lábios. Os seus olhos, claros, pousaram nos de Hopalong.
— Juntos, poderemos defender-nos melhor. A posição de Carter, agora, é superior à nossa.
— De qualquer modo, não penso mover-me ... ainda. E confesso que me agradará ver como mordes o pó. Rua, Bronson!
O bandido, mortalmente pálido, retrocedeu um passo, com o olhar fixo no cano do revólver que Hopalong puxara.
— Lá para fora, Bronson: Não quero tiros aqui dentro. Devo olhar pelo negócio, compreendes?
Bronson e o pistoleiro pareciam pregados no chão. E o primeiro pensava numa solução melhor do que aquela de sair, estupidamente, à rua, com todas as possibilidades de receber um balázio na cabeça, mal pisasse o passeio. No entanto, Hopalong Smith começava a impacientar-se. E, pela expressão do seu rosto, Bronson compreendeu que não hesitaria em disparar.
— De acordo, Hopalong. Vamos sair. Mas recordar uma coisa: tenho mais dois homens no povoado e, se sair desta, virei buscar-te.
— Eu deveria matar-te já, Bronson. Mas em algo somos distintos. Talvez regresses com os teus homens. Eu fico à tua espera.
Bronson Cutting saltara, inesperadamente, para o passeio. Oscilaram, com violência, os batentes, e, na rua, ressoou um tiro de espingarda. A bala, disparada por Ballinger, que se protegera numa das colunas da alpendrada, assobiou por cima da cabeça de Bronson. O segundo tiro do velho, que se sentia com sangue renovado nas veias, foi mais certeiro. Lager, o pistoleiro, foi alcançado num ombro. E, rodopiando, caiu no passeio de madeira, com um surdo baque. No entanto, apertando os dentes, conseguira "sacar" e disparar contra Ballinger. O chumbo arrancou esquirolas de madeira à coluna.
O pai de Fanny, rápido, seguro, retorquiu ao fogo do adversário. E Lager, com o ventre perfurado por duas balas, viu terminada a sua vida de crimes. Depois, quando se apagavam os ecos do segundo tiro, soou, na rua, uma voz estentórica:
— Bronson!
O bandido, furioso, apertado contra a coluna frontal à de Ballinger, voltou a cabeça. E distinguiu Carter Maxine e Jake Duncan. Bronson e Carter dispararam quase simultaneamente, falhando ambos. No entanto, a bala de Carter obrigou Bronson a descobrir-se em relação a Ballinger, que, trémulo, com os dentes apertados, fixo o olhar nas costas do outro, não perdoou.
Ressoou um grito de dor, e Bronson Cutting, com o rosto contraído, arqueou-se e caiu de joelhos. Não obstante, surpreendendo Jake e Carter, deu uma veloz meia volta e disparou contra Ballinger, que se descobrira, estupidamente, seguro da sua vitória. Alcançado no estômago, o velho deu uns passos em frente, dobrado pela cintura, lívido, tentando, com ambas as mãos, suster a hemorragia.
Bronson Cutting deixou-se cair de bruços no passeio e soltou uma rouca gargalhada. Voltou a atirar contra Ballinger, que se precipitava para ele. A segunda bala alcançou Ballinger num ombro e fê-lo girar, bruscamente, sobre si mesmo. O velho perdeu o equilíbrio, tropeçou no cadáver de Lager e rolou pelos degraus de madeira. Ficou imóvel, no pó da rua, sujeitando, ainda, o estômago e tentando localizar Bronson Cutting que, estendido no passeio, fazia desesperados esforços para disparar contra Carter. Conseguiu levantar o revólver, mas demasiado tarde.
Jake Duncan viu-se obrigado a atirar, já que Carter se dirigia, naquele momento, para Ballinger, julgando que Bronson não poderia voltar a usar a arma. O mais jovem dos ladrões morreu, entre surpreso e furioso. Onde diabos estariam os seus homens? Por que razão aquele maldito cúmplice de Carter se encontrava ali?
Jake acercou-se dele e virou-o com a bota, comprovando que estava morto. Aproximou-se, depois, de Carter, que se inclinava para Ballinger. Um silêncio pesado estendia-se por toda a rua. Os clientes do "Hopalong's", já sem precauções, apareciam à janela e à porta, contemplando o grupo formado por Jake, Carter e Ballinger.
Carter olhou o "saloon", querendo comprovar a atitude de Hopalong. Este nao se dera a ver.
— Amanhã..., Hopalong cumprirá a sua palavra. E veremos qual de nós tem direito a sobreviver. No pior dos casos, fica você, Duncan. Hopalong é o último dos quatro, compreende?
Jake Duncan meditou um instante. A sua obrigação era, na realidade, fazer com que. Hopalong devolvesse o dinheiro. Mas..., tinham decorrido já cinco meses. Que importavam umas horas mais?
— Está bem, Carter. Terá a sua oportunidade completa.
— Obrigado, rapaz. Sinto enorme desejo de ver isto tudo acabado. Podemos levar Ballinger para o seu rancho e tentar recuperar o dinheiro de Bronson.
— Está bem. Vamos.
Entre os dois, carregaram com Ballinger, que respirava com dificuldade. Nas comissuras d o s seus lábios, iam crescendo dois fios de sangue.
— Fanny...Fanny...
Os dois amigos olharam Ballinger, a quem tinham deixado já no carro.
— Perdoa, pequena.... Eu...
Suavemente, apenas com um leve estertor, Ballinger deixou cair a cabeça para o lado e ficou imóvel, morto. Carter não despegou os lábios. Dirigiu-se para a boleia do carro e esperou que Jake fizesse o mesmo. Depois, tocou, levemente, a mula, e o veículo começou a rolar em direção ao rancho de Ballinger.
terça-feira, 11 de maio de 2021
6BL045.06 Concentração de pistoleiros
— Jake…, que aconteceu? Temi o pior e...
— Tranquiliza-te, pequena — sorriu Jake. — Na realidade, ainda não aconteceu nada.
Abriu a porta e, nesse preciso instante, uma pequenita chama rasgou a escuridão reinante, ao mesmo tempo que se ouvia um estrondo enorme. Ao primeiro tiro seguiram-se outros, e Jake, que sentira a deslocação do ar, provocada pela bala, lançou-se sobre Diana, derrubando-a.
Depois, soltando a mala dos cem mil dólares, rolou sobre si mesmo e "sacou" o revólver direito, fazendo fogo. Afogado, raivoso, ouviu-se um grito de dor.
Jake semicerrou os olhos, sorrindo. Fitou Diana e disse, num sussurro:
— Vai buscar o candeeiro do teu quarto e acende-o.
A jovem tardou um par de minutos a reaparecer. Com mão trémula, estendeu-lhe o globo de vidro. Jake recebeu-o e, aproximando-se, cautelosamente, da porta, lançou o candeeiro para o meio do quarto.
O petróleo derramou-se pelo chão de madeira, iluminando tudo. Ouviram-se grunhidos de ira, e uma sombra projetou-se no vão da porta.
Jake apertou o gatilho do revólver e o estampido foi seguido por um grito de dor. A parte superior do corpo de um homem, com uma bala no peito, tombou para o corredor. O sujeito estava morto antes de tocar no chão.
Entretanto, as chamas continuavam a projetar a sua vacilante luz, e Jake, colado à umbreira, olhou para dentro do quarto. Unia bala arrancou esquírolas de madeira a escassos centímetros da sua cabeça. E o jovem, surpreendentemente, saltou para o interior do quarto em vez de o fazer para o corredor.
Foi Jake o primeiro a disparar, alcançando o novo adversário no ventre. Ouviu-se um gemido de dor, e a bala disparada pelo sobrevivente dos dois homens, que esperavam Jake, cravou-se no tecto. O tipo, dobrado pelo meio, ainda quis inclinar-se para o revólver que lhe escapara dos dedos. Mas novo tiro de Jake, positivamente à queima-roupa, acabou com todas as suas pretensões.
Tranquilo, sorrindo, recarregando o revólver, Jake voltou ao corredor. Diana, trémula, precipitou-se para ele, abraçando-o estreitamente. Jake recolheu a mala do dinheiro e seguiu Diana até ao quarto desta, não sem antes se ver na necessidade de explicar ao dono do hotel, mas muito por alto, o que ocorrera.
— Há cem mil dólares nesta mala, Diana. Se me acontecer alguma coisa, entrega-os a Carter Maxine, o homem de cabelo louro que, esta manhã, foi raptado da diligência. E se também a ele algo ocorrer, procura o xerife e diz-lhe que esse dinheiro, e duzentos mil dólares mais, pertencem à Union Pacific. O xerife que converse com Hopalong Smith e Bronson Cutting.
— Hopalong Smith ...? Isso significa...
— Que, se eu tiver sorte, ficarás sem trabalho, pequena. Não esquecerás o que te pedi?
— Não Jake, mas...
— Perfeito, pequena. Até logo.
***
Carter Maxine desmontou, lentamente, e, depois de comprovar o bom funcionamento dos revólveres, entrou no "Hopalong's". Era ainda cedo, e havia poucos clientes. Carter passeou um olhar em redor, e as suas pupilas detiveram-se no rosto de um sujeito que, numa mesa, se dedicava a uma paciência com cartas. Sem pressas, avançou para o homem, que não se moveu nem levantou a cabeça quando Carter parou diante dele e se limitou a dizer:
— Senta-te, Carter.
— Não pareces muito surpreendido, Hopalong — afirmou Carter, fazendo o que o outro lhe dizia.
— Surpreendi-me a seu devido tempo. Bronson esteve cá. Procura um tipo qualquer. Pensas, de verdade, recuperar todo o dinheiro? Eu não tomei parte em nada, Carter. Foi Bronson quem disparou sobre ti. Nós, julgando-te morto, seguimos o nosso caminho. Não terias feito o mesmo?
— Talvez. De qualquer modo, Hopalong, de ti só quero os cem mil dólares. E estou disposto a lutar para os conseguir. Encontrei uma ajuda inesperada e...
— Bem sei. E esse pistoleiro que ia contigo na diligência, não é verdade?
— Vejo que Bronson se abriu contigo. Esse pistoleiro, no entanto, não é o que Bronson crê, nem o que eu julgava. Está a soldo da Union Pacific...E eu só pretendo antecipar-me a ele na recuperação dos trezentos mil dólares que roubamos.
— Não achas que te tornaste demasiado ambicioso? Devias pedir apenas a parte que te compete.
— Nao me percebeste, Hopalong. Eu penso devolver todo o dinheiro.
— Sim? Mas que te aconteceu, homem?
Carter meneou a cabeça. A imagem de Jane dançou diante dos seus olhos, doce, suplicante.
— Nao o entenderias, Hopalong. Trata-se de uma mulher. E prometi-me que só a terei quando devolver o dinheiro. Quero ser um homem honrado.
— Queres ser um homem honrado, hem? Sabes algo de Ballinger? Ele também o queria ser, recordas? E não o conseguiu. Teve de fugir daqui. Bem, a história é um pouco longa e não posso perder mais tempo. Começaram a chegar os clientes e há muito que fazer. Fica por cá esta noite, Carter. A casa convida-te. Apesar de tudo, não esqueço que fomos amigos. Sabes o que queria Bronson? Que nos aliássemos para acabar contigo e com esse pistoleiro. Disse-lhe que sabia defender-me sozinho. Cuspi-lhe no rosto e expulsei-o. Ele converteu-se num bicho, realmente, perigoso.
— Sempre o foi.
— Sim... Sabe-lo melhor do que nós — sorriu Hopalong. — Bem... aceitas o meu convite? Teremos tempo para falar. E tentarei convencer-te...
— Não poderás fazê-lo, Hopalong. Quanto a Ballinger, encontrá-lo-ei em qualquer lado. Que foi feito de Fanny?
— Uma história feia, rapaz. Esse Bronson... qualquer dia darei cabo dele, Carter. Palavra. Agora, tenho de deixar-te. O negócio reclama-me. É um grande negócio, Carter. Dos trinta mil dólares que empreguei para o levantar, já recuperei quase tudo. Se te mostrares inteligente, talvez possamos chegar a um acordo.
— Não haverá nenhum acordo, Hopalong.
— Tomas as coisas demasiado a sério, Carter — Hopalong sorria, enquanto se levantava. —Esperavas que eu me comovesse com a tua história de amor e devolvesse o dinheiro?
— Não sou estúpido a esse ponto, Hopalong. Por agora, só me resta acrescentar uma coisa: amanhã., antes do meio-dia, virei buscar os cem mil dólares. Espera-me onde quiseres.
Hopalong Smith empalideceu, ligeiramente.
— Está bem, Carter. De qualquer modo, nas horas que faltam, pensa. Reconheço que, desses trezentos mil, uma parte é tua. Mas é absurdo o que pretendes.
— Não vim discutir isso, Hopalong... — Interrompeu-se, olhando os batentes do " saloon".
Hopalong seguiu o seu olhar e sorriu:
— Urna visita pouco grata, hem, Carter? —comentou em voz baixa.
Carter nada disse. Só se moveu, ligeiramente, permitindo maior liberdade de movimentos à sua mão direita. Sorrindo cinicamente, fixo o olhar em Carter, Bronson Cutting avançava para a mesa. Ao seu lado, indiferente, com um cigarro entre os dedos da mão direita, caminhava um pistoleiro.
— Continuas a ser um tipo de recursos, Carter. Nunca julguei que pudesses escapar da cabana. Que aconteceu, homem?
Carter, impassível, sem se mover da cadeira, olhou os dois recém-chegados.
— Felizmente, existe gente melhor do que nós. E não te incomodes em voltar lá acima. Só encontrarias cinzas e... mortos.
A palidez de Bronson nada de bom pressagiava. E Carter, de súbito, compreendeu tudo. Começou a rir baixinho, trocista.
— O dinheiro estava lá escondido, hem? E muito mais de cem mil dólares, não? Porque não te dedicaste a algo de maior segurança, Bronson? Hopalong, por exemplo...
— Vai-te, Carter — ordenou, friamente, o dono do "saloon".
— Não queres tiroteio aqui, não é isso?
— Exato. Vão para a rua.
Carter olhou Bronson e o seu pistoleiro. Estavam ambos tensos, com as respetivas mãos em posição mais do que significativas.
— Chegou o momento, Bronson — sorriu Carter, apoiando as mãos na mesa, como se fosse a levantar-se.
O seu cérebro, naqueles momentos, era como uma fria máquina de calcular. Recordava, perfeitamente, o sucedido havia alguns meses. E chegava à conclusão de que não podia confiar em Bronson, uma luta com ele não seria nobre. E, por outro lado, o pistoleiro também interviria. A sua reação, por isso, foi rápida, violenta, de todo inesperada.
Com as mãos, lançou a mesa contra Bronson e o pistoleiro. O movimento apanhou os homens desprevenidos e tirou-lhes todas as possibilidades de "sacar". Sem hesitações, Carter correu para a janela que dava para a rua. E atravessou-a de um salto, quando já no interior do "saloon" se sucediam os disparos.
Sentiu, no ombro direito, uma dor aguda, como se o tivessem queimado com um ferro em brasa. No entanto, conseguiu alcançar o passeio de madeira e rolar até à rua.
Puxou o revólver e fez dois tiros contra a janela, na qual aparecera o pistoleiro que acompanhava Bronson. Riu, silenciosamente, ao ouvir o grito do outro, que se apressou a esconder-se. Depois, com cautela, começou a arrastar-se pela poeirenta rua, sempre colado ao passeio. E ficou num ponto mais ou menos equidistante dos batentes e da janela. A situação parecia ter mudado bastante.
Tocou o ombro e olhou a mão. Estava manchada de sangue, mas o ferimento não devia passar de um simples arranhão. Apercebeu-se, depois, de que a rua, subitamente, ficara mergulhada no maior silêncio, e que grande parte das luzes se apagava. Carter não viu a sombra que cruzava a rua. Mas ouviu os passos e voltou-se.
— Olá, Duncan. Espero que me tenha perdoado.
Jake Duncan parou junto dele, olhando o "saloon".
— Porque o fez?
— Enganei-me, rapaz. Pensei que poderia enfrentar-me sozinho, com Bronson e com Hopalong. Quanto a Ballinger...
— Ballinger não passa de um farrapo. E não deve preocupar-nos. Tenho, em meu poder, os seus cem mil dólares.
— Hopalong disse-me que Ballinger desaparecera...Bem, aí dentro estão Bronson e um dos seus pistoleiros. Faltam mais dois.
— Tão-pouco devemos temê-los.
— Creio que compreendo, Duncan — murmurou Carter. — Estou a ser derrotado em toda a linha. Esperava conseguir, sozinho, recuperar esse dinheiro.
— Ainda pode sair-se bem, Carter.
— Sim. Temos, frente a nós, dois homens. Portanto, as mesmas probabilidades de vencer.
— Esquece Hopalong Smith.
— Não, não esqueço ninguém. Hopalong não fará o jogo de Bronson. E, se se dispuser a lutar, fá-lo-á de frente. Outra coisa, Duncan. O dinheiro de Bronson está na cabana. Suponho que o tivesse escondido nalguma tábua do soalho, resta a possibilidade de o couro da mala o ter protegido.
— Ótimo, Carter. Celebro que Jane não se tivesse enganado a seu respeito. Eu confiei inteiramente nela.
— Sim... E difícil não confiar em Jane. E não sei até que ponto ela saiu beneficiada, enamorando-se de mim. Nunca fui bom. E tenho um medo horrível de que as coisas, agora, saiam mal...
Naquele instante, aos ouvidos de Carter e Jake chegaram os gemidos das rodas de um carro, que avançava, lentamente, na sua direção. A claridade da lua permitiu distinguir o homem que o conduzia. E antes que Jake e Carter tivessem tempo de surpreender-se, o condutor parava o carro e saltava da boleia. Depois, devagar, arrastando uma espingarda, aproximou-se deles.
— Olá, Ballinger — sorriu Carter, friamente. — Não estás muito bem conservado, hem?
— Não troces, Carter. Na realidade, recordei-te muitas vezes. Devia ter feito caso das tuas palavras e dar cabo de Bronson. Mas ainda estou a tempo de o fazer...Não pude ver chorar Fanny. Ela sempre se mostrara forte, mas não lhe foi possível resistir por mais tempo.
— Está bem, Ballinger. Baixe-se. Podem vê-lo lá de dentro.
O velho não se moveu. Limitou-se a perguntar:
— Bronson está no "saloon"?
— Sim — respondeu Jake.
— Obrigado.
Quando Ballinger ia a dirigir-se para o "saIoon", Jake agarrou-o por um braço, puxando com força. O homem ficou de joelhos no chão, olhando, aparvalhado, Jake.
— E estúpido expor-se a uma bala, compreende?
— Bronson destroçou a minha vida. Bem... Juro que penso mais em Fanny do que em mim. Ela dizia, constantemente, que seria feliz se eu tivesse voltado, de mãos vazias, quando terminou a guerra. No Texas, havia muitas oportunidades honradas para um homem... Talvez não me acredites, Carter, mas comecei a odiar este dinheiro, desde o momento em que Bronson disparou sobre ti ... —Pusera-se, de novo, em pé, e acrescentou, resoluto: — Vou entrar naquele "saloon".
Dessa vez, Jake nada disse nem fez para o reter. E foi Carter quem perguntou:
— Estás seguro de que isso é o melhor, Al?
— Não sei. Mas preciso de matar Bronson.
Começou a andar, junto do passeio, em direção aos degraus de madeira que levavam aos batentes do "saloon". O silêncio era total, tanto na rua como no estabelecimento.
domingo, 9 de maio de 2021
6BL045.05 Fazer o que um homem devia ter feito
— Que quer?
— Apenas um cavalo. Pagá-lo-ei, naturalmente. Perdi-me e preciso de chegar ao povoado.
— Está bem. Entre. Preparar-lhe-ei um pouco de café.
— Obrigado, senhora.
Por uma porta entreaberta, assomou o rosto de um garoto.
— Volta para a cama, Bronson.
Jake surpreendeu-se. Haveria alguma relação entre aquela humilde gente e o bandido que tentara liquidar Carter?
— Desculpe o incómodo que estou a dar-lhe, minha senhora. Não queria...
— Não se preocupe. Eu precisava de vender o único cavalo que possuo, para comprar outras coisas mais necessárias.
— Duzentos dólares estão bem, senhora...?
— Chamo-me Fanny. E só esperava cem.
— Fanny Ballinger? — inquiriu Jake, sem poder conter, por mais tempo, a sua curiosidade. —Vive sozinha?
— É como se vivesse — respondeu a jovem, duramente.
— Gostaria de falar com Al Ballinger. Onde poderei encontrá-lo?
— Quer falar com o meu pai? Está bem. Siga--me.
Um tanto desconcertado, Jake seguiu Fanny até um dos quartos. E não foi necessário entrar para saber o que se passava. O cheiro a uísque, a suor e a porcaria era, por demais, elucidativo. Sem pronunciar palavra, com os lábios apertados, Fanny afastou-se para um lado, convidando-o a entrar.
Al Ballinger estava estendido numa mísera enxerga, com as roupas sujas, cheias de pó. Torpemente, sentou-se, olhando os dois jovens.
— Porque o fizeste, Fanny? — perguntou, por fim, com voz rouca.
— Estou farta de tudo, pai — repôs, secamente, Fanny. — Esta situação a nada conduz. E gostaria de enfrentar-me, por uma vez, cara a cara, com o futuro.
— Como?
Antes que Fanny respondesse, Jake deu um passo em direção ao velho e disse:
— Devolvendo cem mil dólares. Prestando contas pelo que fez, há cinco meses, na Union Pacific.
— Eu já não tenho esse dinheiro — retorquiu Al, olhando, estupidamente, Jake.
— Mentes!
Pai e filha olharam-se, fixamente. E foi o velho quem, perturbado, pousou o olhar no chão.
— Como queiras, Fanny. Eu... Esse dinheiro era para ti e para o pequeno. Só havia que esperar um tempo prudente para que tudo corresse melhor.
— Nada poderia melhorar, pai. Vou entregar o dinheiro a este homem, e rezarei para que ele mate Bronson. Só então poderemos começar de novo, como há cinco anos.
— Não, Fanny, não. Nessa altura, ainda não tinha nascido o teu filho.
A rapariga, muito pálida, deu meia volta e abandonou o quarto. Ballinger fechou os punhos com força.
— Devia tê-lo matado... devia tê-lo matado ... Ele é um monstro... Carter tinha razão. Pobre Carter.
— Carter não morreu. Está aqui, em Rockdale — disse Jake. — Mas, se não se importa, gostaria de ouvir toda a história.
— Há muito pouco que contar. Quando chegámos a Rockdale, recebi o primeiro golpe ao inteirar-me de que Fanny tinha um filho de Bronson. Tudo acontecera antes que ele, Hopalong e eu decidíssemos lutar com os Confederados. Depois, pensámos que não poderíamos regressar de mãos vazias ... Bem... disse que Carter não morreu? Alegro-me. Carter é melhor do que nós. Teria procedido com Fanny de maneira diferente de Bronson. Ele desprezou-a, e eu tive de esconder-me. A minha vida e os cem mil dólares corriam perigo. Ocorreu-me a ideia de fingir que fugira com o dinheiro. Enterrei-o, e escondi-me, à espera de uma oportunidade para matar Bronson.
— Tem estado sempre aqui? Não me parece muito homem, Ballinger.
— Esperava a minha oportunidade — defendeu--se, torpemente, Al. — Quando conseguisse matar Bronson, iria para muito longe, com Fanny e o garoto.
— E Hopalong Smith?
— Esse sabe defender-se, compreende? Bronson não se atreve com ele. Montou um "saloon", em Rockdale, e o negócio vai de vento em popa ... —Ballinger baixou a cabeça. E, depois de uma ligeira pausa, inquiriu: — Que pensa fazer comigo?
— Nada, Ballinger, dir-lhe-ei uma coisa: Bronson Cutting está no povoado. Um homem compreenderia o que deve fazer. E já não é só por si, Ballinger. Pense um pouco na sua filha,
Jake Duncan voltou-lhe as costas sem nenhum temor. Aquele homem estava aniquilado pelo medo e pelo uísque. Junto de um poço, Fanny manejava uma pá. Abriu um buraco e, pouco depois, mostrava a Jake uma mala. A mala onde Al escondera os cem mil dólares.
— Isto pesava-me demasiado — murmurou. —Diga-me, senhor: chegou aqui por casualidade?
— Juro que cheguei, Fanny.
— Está bem. Apesar de tudo, só posso agradecer-lhe.
— Eu nada fiz por si, Fanny. E oxalá tivesse chegado há mais tempo.
— Não se preocupe comigo. Dizem que as adversidades endurecem. Deve ser verdade. Creio que estou insensível a tudo.
Contrariando o que dissera, cobriu o rosto com as mãos e, chorando convulsivamente, correu para casa.
Só passado algum tempo Jake a seguiu. Fanny sentava-se numa cadeira e, atrás dela, trémulo, vacilante, estava Al. Um Al que, sem palavras, se limitava a estender, quase a medo, a mão, para os revoltos cabelos da filha.
Jake, em silêncio, deixou os duzentos dólares que oferecera pelo cavalo, em cima da mesa. Depois, sem olhar Ballinger, voltou a sair, encaminhando-se para o estábulo. Aparelhou o cavalo, prendeu a mala do dinheiro ao arção da sela, e regressou ao pátio. Ao passar diante da porta da casa, viu que Ballinger se acercava dele.
— Ouça... creio que tem razão… E já encontrei a melhor solução para o meu problema e, também, para o de Fanny. Não devíamos tê-la dececionado tão brutalmente. Pelo menos, eu não o devia ter feito. Agora, só espero que ela me perdoe...
Ballinger permaneceu, uns instantes, como cravado no chão, vendo Jake afastar-se. Depois, lentamente, voltou a casa, aproximando-se da filha.
— Fanny... Bronson Cutting está no povoado.
— Nao vás, pai. Ele matar-te-á.
— Talvez.
O velho dirigiu-se para um canto da casa, recolhendo uma espingarda. Comprovou se estava carregada e disse:
— Devo ir, Fanny. Era isso que faria um homem. O que um homem teria feito há muito tempo. Deixei que nos humilhassem demasiado. Mas estou farto, Fanny. Foi muito o que sofreste.
— Pai...
Ballinger pareceu não a ouvir. Com os ombros arqueados, encaminhou-se para a saída.
sábado, 8 de maio de 2021
6BL045.04 Um pistoleiro que gostava de resolver os seus problemas
Jake Duncan apertou os lábios. Devia deixar de pensar, estar atento a quanto o rodeava. E a pensar nada solucionaria. Nem a pensar nem a tentar decifrar o porquê dos factos.
Encontrou um lugar para prender o cavalo, que tranquilizou com uma palmada no pescoço. Depois, continuou a subir, prudentemente, devagar.
De súbito, um ruido, bem seu conhecido, chegou-lhe aos ouvidos. Escondeu-se atrás de uma rocha, com o revólver empunhado, e viu passar quatro homens, quatro cavaleiros que desciam, confiadamente, sem se preocupar em ocultar os rostos.
No entanto, Jake não pôde identificar nenhum. Além de não os conhecer, o entardecer apenas lhe permitia distinguir quatro silhuetas. Os homens afastaram-se, e Jake respirou, aliviado. Aquilo era dar-lhe facilidades... no caso de eles ainda não terem liquidado Carter.
Minutos mais tarde, coroava a rochosa colina. E sorriu, trocista, ao ver as costas de um homem. Uma boa oportunidade...
A dois metros dele, Jake saltou. Ressoou, apagadamente, um grito de surpresa, que se estrangulou quando as mãos de Jake rodearam o pescoço do outro. Depois, o seu joelho cravou-se nos rins do pistoleiro, obrigando-o a arquear-se, violentamente. Soltou-lhe o pescoço e golpeou-o na nuca, com força, deixando o adversário de joelhos, sem saber, ainda, o que lhe acontecia. E o bandido só começou a compreender quando Jake o obrigou a voltar e o pisou, ao mesmo tempo que lhe apontava o revólver.
— Quantos homens estão no acampamento? Espero que compreendas que não posso perder tempo.
— Apenas um — resmungou o facínora.
— E Carter?
— Também está... Mas não o deves reconhecer.
Aquilo devia ter produzido imensa graça ao pistoleiro, pois riu, estupidamente. Jake fê-lo calar, batendo-lhe com o cano do revólver na boca. O seu gemido nem sequer foi percetível, já que, com nova coronhada na cabeça, o jovem lhe fez perder os sentidos.
Jake olhou para cima, onde continuava o mesmo silêncio, a mesma solidão. Recomeçou a andar e, pouco depois, via uma tosca cabana, metida entre as rochas. Por uma janela, aberta na parede lateral, saia a luz de um candeeiro.
Cautelosamente, aproximou-se da rústica construção e espreitou pela janela. Sorriu, ao ver um homem que fumava, tranquilamente, um cigarro, e parecia absorto em pensamentos que Jake gostaria de conhecer. Que diabos poderia pensar um homem como aquele?
Num canto, estendido de bruços, estava Carter. Não era possível saber se respirava ou não. Jake baixou-se e agarrou uma pedra. Depois, serenamente, atirou-a contra o candeeiro. O barulho sobressaltou o pistoleiro, que se levantou bruscamente, olhando a chama que alastrava pela mesa, sobre a qual estava uma garrafa de uísque. Resoluto, e passado o primeiro momento de surpresa, caminhou para a porta, que abriu.
— Quem...?
Enquanto começava a falar, "sacou" o revólver, com o que apenas conseguiu tranquilizar a consciência de Jake Duncan. O jovem, sem a menor hesitação, fez três disparos contra o pistoleiro, que foi projetado para trás. Quando tocou no solo, estava morto.
Jake saltou por cima do cadáver e correu para Carter Maxine. Pelas axilas, arrastou-o para o exterior. Deixou-o em terra e regressou à cabana, em busca da garrafa de uísque. Despejou considerável porção dela boca de Carter, ao mesmo tempo que chamava por ele e lhe dava suaves palmadas no rosto.
Maxine começou a reagir, e as suas negras pupilas giraram em redor, tentando compreender o que sucedia. A camisa, que em tempos pertencera ao pai de Jane Meeker, estava manchada de sangue, do sangue que, em abundância, lhe jorrara do nariz e da boca.
— Beba um pouco, Carter — disse Jake, aproximando o gargalo dos tumefactos lábios do homem.
Carter bebeu, avidamente, e, depois, fechou os olhos. Permaneceu uns instantes silencioso, imóvel, respirando, pausadamente. Por fim, perguntou:
— Quem é você?
— Chamo-me Jake Duncan. Está em condições de descer?
— Talvez...
Jake ajudou-o e, lentamente, começaram a afastar-se da cabana. A prudente distância, pararam, e Jake deixou Carter em terra, com as costas apoiadas numa rocha. Sentou-se diante dele e começou a fazer um cigarro. Por fim, perguntou:
— Recorda uma mulher chamada Jane Meeker? Pois ela procurou-me e contou-me uma história a seu respeito. Que o haviam atacado nas Montanhas Rochosas, ferido gravemente e roubado a pequena fortuna que amealhara... Essa história é falsa.
Carter Maxine permaneceu inalterável. Limitou-se a cravar as pupilas nas de Jake.
— Com efeito, é falsa. Mas que tem a ver Jane com a sua presença aqui?
— Prefiro falar da sua história, Carter. Talvez eu possa, no que diz respeito à última parte, aclarar alguns pontos.... Há, aproximadamente, cinco meses, quatro homens apoderaram-se de uns trezentos mil dólares pertencentes à Union Pacific. Foi relativamente fácil a operação, e esses quatro homens fugiram, deixando, nas suas costas, dois cadáveres. Como era de esperar, internaram-se pelas Montanhas Rochosas. E teriam escapado, se eu não me tivesse criado entre elas. Quando os segui, não tardei a encontrar uma pista de sangue.
— A minha — afirmou, serenamente, Carter.
— Alegro-me por querer colaborar, Carter. Temi que você não fosse digno de Jane. A rapariga impressionou-me, sabe? Ela estava disposta a gastar os seus últimos trezentos dólares para alugar os serviços de um pistoleiro que o protegesse.
Carter pestanejou. E disse, sorrindo:
— Foi ela a única coisa de bom que a vida me ofereceu até agora. Jane fez-me pensar muito. E arrepiar caminho. Quando saí de Lamesa, estava decidido a recuperar o dinheiro e a devolvê-lo à Union Pacific. E o menos que posso fazer por ela, nao acha? E pode ter a certeza de que me entregaria, também, às autoridades. Demonstrando que nao matei ninguém, a minha pena nao seria muito grande. E Jane esperar-me-ia.
Jake olhou, fixamente, o homem, cujas pupilas cintilavam na escuridão. Carter respirava com força, e tinha a testa e o rosto húmidos de suor.
— Acredito em si, Carter. E, agora, iremos ver os seus amigos.
— Amigos...0s seus nomes são: AI Ballinger, Hopalong Smith e Bronson Cutting. Foi este último quem disparou contra mim, obrigando os outros a abandonar-me, julgando-me morto. Esta manhã, quando me viu, a sua surpresa foi enorme. Quanto aos dois primeiros, suponho que também viverão por aqui, mas não se devem dedicar a assaltar diligências. Queriam viver tranquilos, compreende?
— Não lhe parece estranho o facto de Bronson não o ter matado?
— Ele pretendia saber se eu atuava sozinho ou não. Vê o meu rosto? Resisti bastante antes de confessar que, efetivamente, contava com um cúmplice para recuperar o dinheiro. E, agora, tenho-o, de certo modo: é você.
— Disse a Bronson que eu era seu cúmplice?
— Espero que me perdoe — sorriu, irônica - mente, Carter. — Eu estava à beira do desfaleci -mento e Bronson daria cabo de mim. Tentei, desesperadamente, encontrar uma solução. Recordei-o, sem saber porquê. Sabe que, quando o vi subir para a diligência, pensei que você deveria ser um péssimo inimigo?
Jake, dissimulando, a custo, a sua ira, recordou os quatro cavaleiros que vira cerca de uma hora antes. Procurá-lo-iam em Rockdale e, o que era pior, já não poderia lutar nas sombras. Uma maldita casualidade aquela, mas que deveria ser resolvida como lhe agradava: em luta franca, aberta.
— Está bem, Carter — resmungou, por fim. — Encontrámos já Bronson Cutting… E os outros?
— Não sei. Estava convencido de que encontraria Bronson casado com Fanny, a filha de Al Ballinger, e este com o casal. Quanto a Hopalong...
— Creio saber onde o encontrar. Recorda a jovem que viajava connosco? E cantora, e disse que fora contratada para o "Hopalong's". Não me parece simples coincidência. Vamos, Carter. Ajudá-lo--ei. Tenho o cavalo lá em baixo.
Inclinou-se para ele, tentando levantá-lo. E só se apercebeu das intenções de Maxine quando o seu punho direito lhe bateu na boca do estômago. Com a respiração cortada, dobrou-se pelos joelhos. E um novo golpe, no queixo, enviou-o para o mundo dos sonhos.
— Sinto-o — suspirou Carter. — E oxalá me compreendas, rapaz. O assunto só a mim diz respeito. Além disso, apenas pretendo evitar-te aborrecimentos. Gostaria de triunfar sozinho. Teria mais mérito, sabes?
sexta-feira, 7 de maio de 2021
6BL045.03 Assalto à diligência com inesperado reencontro
Diana Haskell olhou o homem que lhe estendia a mão para a ajudar a entrar na diligência. E sentiu ruborizar-se imenso. Ela conhecia aquele homem, esperava-o, pelo menos. Aguardara, durante vinte e dois anos, um homem como Jake Duncan.
— Sim, obrigada.
Jake subiu atrás dela, observando os cabelos muito negros, brilhantes. E recordando os olhos azuis, a boca pequena, os lábios carnudos...
Sentou-se ao lado de Diana e, distraidamente, passeou um olhar pelos restantes passageiros. Num canto; à janela, estava Carter Maxine, a quem identificou como sendo o tal Barclay de Jane.
A diligência arrancou, com enorme estrépito, e, durante os primeiros quilómetros, ninguém abriu a boca. A viagem seria longa é teriam tempo de sobra para tragar pó e gastar saliva.
— Vai ao "rodeo"? — perguntou Diana, tempos depois, com um cativante sorriso.
— Desconhecia a sua existência. Onde se realiza?
— Em Rockdale. Começará dentro de quinze dias.
— Lamento, mas os meus assuntos devem resolver-se antes disso. De qualquer modo, não sabia que também participavam mulheres nos "rodeos".
— E uma maneira muito elegante de perguntar o que vou fazer a Rockdale. Eu só sei cantar. E fá-lo-ei no "Hopalong's". Um contrato curto, mas vantajoso.
Embrenharam-se na conversa, chegando, facilmente, à conclusão de que pareciam destinados um ao outro. E foram dois disparos que interromperam aquele já idílio de gestos, olhares e palavras. O rochoso desfiladeiro por onde, naqueles momentos, circulava a diligência, devolveu, multiplicados, estrondosos, os ecos dos tiros. Ao mesmo tempo, mais apagados, soaram os do ajudante do cocheiro, a que se juntou o estridente relincho de um cavalo.
Ainda os passageiros não tinham recuperado o equilíbrio, uns sobre os outros, em consequência da brusca travagem, e já uma porta se abria, violentamente, e aparecia o cano de um revólver, empunhado por um tipo mascarado. Depois, repetiu--se a operação com a segunda porta.
Entretanto, outros homens mantinham em respeito o condutor e o ajudante, protegendo, também, os que ameaçavam os passageiros.
— Não se assustem. Nada acontecerá. Quem é Thomas Moffat?
Os passageiros entreolharam-se, silenciosos. Jake apertava a Mão de Diana, que estava, positivamente, em cima dele, trémula de medo.
— Ninguém se chama Moffat? — insistiu o pistoleiro. — E uma pena, senhores. Terão de descer e suportar algumas moléstias. Moffat leva trinta mil dólares na carteira. E nós só queremos o dinheiro.
Os passageiros continuavam a olhar-se, silenciosos. Jake viu que Carter se mantinha sereno, tranquilo. E também se apercebeu de que um dos homens, com aspeto de comerciante, começava a suar, copiosamente, e a empalidecer. Não era necessário ser muito esperto para deduzir quem era Moffat.
— Está bem. Sou eu. — gritou, de súbito, o homem. — E dar-lhes-ei...
Não empunhava a carteira, mas sim um "Colt". No entanto, não chegou a concluir a frase, nem teve tempo de apertar o gatilho. A diligência encheu-se, repentinamente, de estampidos e de um irritante cheiro a pólvora.
Muitos pares de olhos viram cair Moffat, com o peito ensanguentado. E ficou coma cabeça no colo de outro dos passageiros, que parecia uma estátua, imóvel, petrificado. Um dos pistoleiros entrou na diligência, recolhendo a carteira que pertencera a Moffat. Abriu-a, rapidamente, comprovando se, na realidade, levava o dinheiro. Depois, lançou-a a outro tipo que a recolheu com a mão esquerda.
— Desculpem o incómodo, senhores. Quanto a esse imbecil, poderia estar ainda vivo.
-- Vamos — disse outro dos salteadores, acercando-se da diligência. — Não podemos perder mais tem...
Era impossível não notar a súbita expressão de incredulidade que apareceu nos olhos do bandido. Ficou, uns instantes, imóvel, com os olhos fixos em Carter Maxine, que, pelo seu lado, ficara tenso, ainda que as suas negras pupilas dissimulassem melhor quanto lhe ia na alma. Soou um sussurro, através do lenço que cobria o rosto do pistoleiro:
— Carter... — aproximou-se, apontando-lhe a pistola. — Carter — repetiu, em tom mais alto. —Vamos, desce daí. Não ouviste? Desce!
Havia furor na voz do bandido. Os restantes passageiros permaneciam silenciosos, olhando Car-ter Maxine. Quanto a Jake, surpreendido, não conseguira reagir, compreendendo, por outro lado, que tentar algo, naquela altura, seria um estúpido suicídio.
Carter começou a levantar-se, lentamente, mas puxaram-lhe pelos cabelos e caiu no duro chão, de joelhos, com os olhos rasos de lágrimas, mas sem soltar um queixume. Foi desarmado, num instante, e um dos bandidos perguntou:
— Que fazemos com ele, chefe?
— De momento, interessa-me vivo. Levá-lo-emos connosco.
Uma rápida coronhada mergulhou-o na inconsciência. E, como um fardo, foi atravessado no dorso de um cavalo. Depois, os passageiros ouviram o galope de vários animais, que se afastavam velozmente.
Durante alguns segundos, reinou o maior silêncio no interior da diligência. E quebrou-o um tipo, com aspeto de jogador, que se encarou com Jake, furiosamente.
— O senhor podia ter feito qualquer coisa. É um pistoleiro. Ou será que usa assim os revólveres só por vaidade?
Jake sorriu, semicerrando os olhos. De súbito, a sua mão direita saiu, disparada, em direção ao braço do outro, agarrando-o pelo pulso. O homem gritou e tentou soltar-se, mas já era demasiado tarde. Jake metera os dedos na sua manga, retirando-os com uma "Derringer" entre eles. Ampliou o seu sorriso e disse:
— E preciso muita calma, amigo. Por vezes, os revólveres são perigosos. Estamos de acordo, não?
quinta-feira, 6 de maio de 2021
6BL045.02 Pobre Jane, a querer proteger o homem amado
— James...Não te vás, James — sussurrou Jane, com os olhos azuis rasos de lágrimas. — Esquece tudo e fica comigo. Necessitamo-nos, querido.
— Eu voltarei, Jane. Podes crer que voltarei.
— Nunca te quis falar nisso, mas sei a que se deve a tua partida, James ... ou Carter. Esqueceste que eu e o meu pai te encontrámos, perto do riacho do Lobo?
Carter Maxine empalidecera visivelmente. Durante uns segundos, permaneceu silencioso.
— Não me recordo bem, Jane. Mas o resto está ainda fresco na minha memória. Um homem pode chegar a esquecer um momento da sua vida, mas não o pior, o mais angustioso. Vocês os dois curaram os meus ferimentos — a mão de Carter, de dedos compridos, firmes, subiu até ao lenço negro que levava ao pescoço e que ocultava uma horrível cicatriz. — Depois, contigo ao lado, julguei sonhar, delirar...
— E deliraste..., James. Falavas muito.
— Que dizia, Jane? — perguntou, apertando os braços nus da mulher.
— Magoas-me, querido. E que importa que eu saiba ou imagine a verdade?
— Sinto-o, Jane. Mas parece-me impossível que, conhecendo o meu passado, continues a amar--me...
— Esquecê-lo-emos, James.
— Esquecer o passado? Não é possível. Não creias que tudo se soluciona com o facto de eu passar a chamar-me James em lugar de Carter.
— Nada disso importa. Amo-te, James. Se for necessário, pagaremos, juntos, os teus erros.
— Não, Jane. Eu não viverei tranquilo. Ademais... rogo-te que não insistas. Juro que voltarei. Só tens de confiar um pouco em mim...
Afastou-se, bruscamente, da mulher, e regressou para junto do cavalo. Jane mordeu os lábios, contendo um soluço. Os seus olhos, muito abertos, fitavam, como hipnotizados, aquela silhueta alta, magra; os revólveres, de coronhas brilhantes pelo uso, encurvadas, ameaçadoras...
Carter Maxine, sentindo que uma só palavra de Jane o amarraria para sempre ali, apressou-se a preparar o cavalo. Ele voltaria; claro que sim. Mas, antes... Bronson Cutting pagaria o que fizera.
Lentamente, afastou-se do rancho...
***
Jake Duncan, surpreendido, olhou para o lugar de onde partira a voz que o chamava. Semicerrou os olhos, tentando perscrutar na escuridão reinante. Divisava, apenas, uma silhueta de mulher, uma blusa branca...
— Aproxime-se, por favor. Não quero que ninguém me veja — pediu Jane Meeker, num fio de voz.
Duncan mostrou o seu melhor sorriso.
— Deseja alguma coisa? — perguntou, quando se encontrou frente à mulher.
— Preciso de um homem como o senhor. Um pistoleiro...!
— Quer assassinar o seu marido? — ironizou Jake. — Não sou casada. E, por favor, não empregue esse tom de troça. Eu não quero que mate ninguém. Desejo, apenas, que proteja a vida de um homem.
— Vamos por partes, menina... — Jane disse--lhe o seu nome. — Pareço-lhe, de verdade, um pistoleiro?
Jane sentiu desejos de protestar, desaparecer dali e deixar aquele estúpido presumido. Enganara-se a seu respeito. Mas o sorriso do homem imobilizava-a quase, infundia-lhe segurança, confiança. Quando o vira caminhar, tivera a sensação de contemplar um tigre, de movimentos lentos, mas que poderia ser muito perigoso.
— O senhor é um pistoleiro. E pagar-lhe-ei os seus serviços. Trezentos dólares...
— Não é muito — suspirou Jake —. Começa a dececionar-me, menina Jane...
— E o único dinheiro que tenho. E saiba que o meu pai o poupou, para aumentarmos um pouco o nosso gado. Este dinheiro custou-nos muitos sacrifícios e... Mas a si não lhe importa, não é verdade? — Uma hist6ria muito comovente, menina. Está disposta a dar-me trezentos dólares, o único dinheiro que possui, para eu proteger a vida de um homem... Quem é esse homem?
— Chama-se... chama-se James Barclay.
— Ama-o? Que vai fazer esse Barclay?
Jane mordeu os lábios, hesitante. O homem captou a sua hesitação e insistiu:
— Tem a certeza de que ele merece tal sacrifício?
— Sim. Amamo-nos. Não lhe parece suficiente?
— Claro que sim, menina. E admiro-a. Palavra que admiro. No entanto, talvez esteja um pouco enganada a meu respeito. Digamos que sou um pistoleiro honrado... Não posso aceitar nenhum trabalho que vá contra a Lei. E, ademais, já tenho emprego. Partirei, amanhã, para o sul.
— James também o fará. Creio que seria melhor explicar-lhe tudo, senhor...
— Jake Duncan. Sim, com efeito, será melhor. Talvez possa ajudá-la um pouco.
Jane respirou fundo. E disse:
— James quer vingar-se de três homens. E tem razão para isso. Amealhara uma pequena fortuna e dirigiu-se para o sul, quando esses três homens o atacaram. Foi nas Montanhas Rochosas, em Wolf Creek Pass. Deixaram-no bastante ferido e roubaram-lhe tudo. Casualmente, o meu pai e eu encontrámo-lo... Veio para o nosso rancho, e, durante a convalescença, apaixonámo-nos. Compreende agora?
Jake assentiu com a cabeça. Era fácil de entender. Jane já não era nenhuma garota, rondaria, talvez, os trinta e cinco anos, e aferrara-se, desesperadamente, ao tal Barclay.
— James quer recuperar o dinheiro —prosseguiu ela. — E eu temo que... Não quero que ele morra, senhor Duncan — concluiu, veementemente.
Duncan deixou de sorrir. Olhava, fixamente, Jane, tentando descobrir onde estava a sua mentira.
— Foi essa a história que Barclay lhe contou? Quem são esses três homens? Não me diga que não sabe, pois se Barclay vai procurá-los é porque os conhece...
Interrompeu-se, meneando a cabeça. Não havia necessidade de torturar a mulher antes do momento. Tudo chegaria no instante preciso.
— Responda, Jane. Conhece-os?
Jane pestanejou diante da súbita familiaridade. E disse apenas:
— Um deles chama-se Bronson Cutting. Segundo ouvi dizer a James, vive em Rockdale, povoação para onde ele se dirige.
— Ajudá-la-ei, Jane... Mas não sei até que ponto.
— Não compreendo, senhor Duncan.
— Nem é necessário, Jane. Quando parte Barclay?
— Amanhã. Na diligência Lamesa — Sanderson. Já está curado, mas evita grandes esforços. Por isso não segue a cavalo.
— Como poderei reconhecê-lo?
— Não é... É alto, cabelo louro, com algumas brancas já. Veste de negro.
— É suficiente. Agora, Jane, vá-se embora. Regresse ao seu rancho.
— Bem... tem o dinheiro...
A mão de Jake não permitiu que a mulher concluísse o gesto de levar os dedos ao decote. Surpreendida, Jane pestanejou. Talvez, na realidade, se tivesse enganado acerca de Duncan, apesar de ele ser um pistoleiro. Disso é que não tinha a menor dúvida. Forte, frio, tranquilo, evidenciava a sua dureza em cada gesto; levava os revólveres muito baixos, amarrados às coxas...
— Que... que faz, senhor Duncan?
— Guarde o seu dinheiro, Jane.
— Não quer receber? Mas... quem é o senhor?
— Um pistoleiro. Não foi o que disse? Vá-se embora, Jane.
— Voltaremos a ver-nos?
— Creio bem que sim.
Empurrou-a, suavemente, obrigando-a a partir, sempre colada aos prédios da escura rua, sozinha, com o medo e a inquietação ganhando maior vida no seu cérebro. Porquê aquela atitude de Duncan? Porque dissera não saber até que ponto poderia ajudá-la?
Entretanto, Jake, enrolando um cigarro, sorria. O seu lema era calma. O que não ocorre num ano, acontece em cinco minutos. Suspirou e deixou ouvir, num sussurro:
— Pobre Jane...