quarta-feira, 20 de novembro de 2019

COL012.10 A pista final


Gertie Baron, depositou no fundo da gaveta o negro trajo de homem, o chapéu também negro e o lenço da mesma cor. Os seus olhos, frios e duros, olharam em redor receosos. Não havia ninguém na sala. Ouviu-se uma porta bater, dentro da vivenda, fechando-se com força.
Na expressão de Gertie houve receio, terror. Fechou a gaveta, procurando dissimular o tremor agitado das suas mãos. Em seguida, soaram fortes pancadas na porta de casa.
Lívida, olhou-se ao espelho, ao passar na sua frente, e tratou de recompor o rosto, para evitar que fosse tão visível o pânico que pela primeira vez a embargava. A situação era demasiado delicada para temer o pior.
Procurando mostrar serenidade, avançou pelo corredor até a porta da frente de sua casa, reparada do destroço da noite anterior. As pancadas repetiram-se.
Gertie Baron a «Dama», como todos a conheciam em Santa Fé, abriu a porta.
No umbral 'apareceu Zane Preston de revólver em punho. Uma convulsa expressão de terror deformou as belas feições de Gertie.
—Você! — gritou, angustiada, recuando e tratando de fechar a porta.
Mas Zane antecipou-se à sua ação e deu um encontrão na porta com o peso dos seus ombros, atirando contra a parede a jovem, e penetrou na vivenda, olhando para todos os cantos, de revólver engatilhado.
—Voltei, Gertie. Voltei pela «Dama Negra».
—Meu Deus, não!
—Já me esperava, Gertie? Ou julgava-me morto?
—Não, Preston. Não é fácil matarem-no. — falava temerosa, num fio de voz. O frio pânico refletido nos seus verdes olhos, aumentava. —Que vai acontecer agora? Vai entregar-me à Justiça?
—Sei a verdade, Gertie. Vou demonstrá-lo perante todos. Estava certo de que aqui dentro se ocultava a chave do mistério, o fim de todo este horrível assunto... e assim é. Imagino o que Parrish deve ter descoberto, e eu também devia tê-lo visto antes, depois de me ter mostrado o que me mostrou. Uns simples cabelos, eram a chave de todo este mistério, Gertie... Vai deixar-me passar sem opor resistência?
— Não tenho outro remédio, Zane. Preferia que nunca o tivesse descoberto, mas isso já é inevitável. Não era justo que pagasse as culpas dos outros. Zane olhou-a duramente.
—Gertie, uma coisa—perguntou, com suavidade. —Quando suspeitou que Bob era a «Dama Negra»?
—Suspeitei logo, porque ele sempre tem tido facilidade para se disfarçar de mulher. Hoje tive a certeza, porque esta noite não pude dormir, e o ouvi sair de casa a altas horas, e não consegui dormir até que voltou. Então esperei, para revistar o seu quarto. E acabo de encontrar as roupas negras, a cabeleira loira que utilizava para fazer-se passar por mim.
—Ê um grande actor —disse Zane. —E um, grande monstro sem entranhas, Gertie. Eu jamais suspeitei que fosse um homem, e muito menos ainda que fosse Bob Baron. Mas quando julguei, reconhecer a sua voz, fingindo ser mulher, no local do desastre desta última diligência, recordei a cor-recção quase feminina das suas feições, a sua bem feita figura. E o absurdo é que como é que uma mulher que tanto escondesse o seu ser, deixasse ver urna cabeleira loira inconfundível.
—Que vai fazer agora, Preston?
— Entregá-lo à Lei... ou matá-lo. Não há outro remédio, Gertie...
Nesse instante, soou um tiro. Uma bala silvou no corredor, alcançando a umbreira da porta, Zane desviou-se instintivamente para o lado, e empurrou Gertie para outro para não a alcançarem. Um riso diabólico veio do fundo do corredor em seguida ao estampido da detonação.
—Não me apanhas, Preston! —disse a voz aguda, vibrante, de Bob Baron, «A Dama Negra». —Antes cairás tu! E Gertie! São os únicos que sabem a verdade, matarei os dois, e ninguém me descobrirá!
Um novo disparo soou no corredor. Zane, adivinhando a intenção daquele louco perigoso, aquele assassino em potência, tratou de o evitar. Mas não chegou a tempo.
A «Dama do Trebol» estremeceu, sacudida pela mordidela do chumbo, uma mancha vermelha estendeu-se sobre o seu seio, e a dor deformou o seu belo rosto, ao mesmo tempo que soltava um gemido de angústia.
—Cobarde! —rugiu Zane Prestou.
E cegou. Começou a 'avançar pelo corredor, enquanto Gertie Baron, se retorcia, lacerada pela violenta dor da grave ferida. Zune começou a mover-se em direção da confusa figura que estava ao fundo do corredor, que era Bob Baron, o assassino sádico e desapiedado.
Um projétil veio em sua direção. Milagrosamente não chegou a tocar-lhe. Prestou continuou a avançar. Os seus olhos frios estavam fixos na figura do assassino, que agora começava a recuar, impressionado sem dúvida pela presença terrível de Zane, convertido em Némesis implacável.
Disparou mais uma vez, e também algo de sobrenatural pareceu proteger o temerário aventureiro. A bala roçou os seus cabelos, sem lhe tocar. Continuou a avançar. Um louco terror apoderou--se de Bob que começou. a correr até às cortinas que separavam a sala de jogo, agora solitária e sombria.
Zane seguiu-o, imperturbável, empunhando com fúria o revólver. Atrás de si, Gertie gritou:
— Não vá! Matá-lo-á! Não vá, Preston!
Zane alcançou as cortinas. Estas foram perfuradas por dois tiros sucessivos. Preston riu e penetrou na sala.
A pistola de Baron estava descarregada se não errara a conta dos disparos feitos. Assim era, quando Baron agachado junto à mesa da roleta, tentou disparar de novo, bateu o percutor em falso.
Zane riu cruelmente e avançou rápido para ele. Baron atirou-lhe por sua vez a arma vazia. A arma apanhou o braço de Zane. Mas o jovem continuou para a frente. Baron tratou de fugir, fiado na rapidez das suas pernas. Saltou para cima do tablado, apelando para a sua agilidade física.
Mas a de Zane era superior à sua e animava-o ainda uma fria cólera vingativa. Correu como uma flecha atrás dele, saltou por cima do varandim do pequeno tablado alcançando-o ali mesmo.
Agarrou Bob Baron pelo peito da camisa, e voltou-lhe a cara e disparou o punho direito contra o rosto, volteando-o como um boneco. Baron tratou de defender-se com o pesado corpo lançando Preston contra as cadeiras, que tombaram ruidosamente.
De novo Bob saltou o varandim do tablado, para a sala. Zane refez-se, saltando espetacularmente atrás dele apanhando-o no ar caindo ambos em cima da mesa da roleta que se partiu em pedaços devido ao duplo peso, e ambos rolaram para o chão, fortemente agarrados.
Baron deitou as mãos ao rosto de Zane, procurando afanosamente os olhos para tirar-lhos selvaticamente. Zane apertando os dentes disparou os joelhos no peito de Bob. Este voou pelos ares como uma bola, e ao cair de novo, Zane esperou-o tenso, disparando os seus punhos de forma impressionante contra a sua barriga. Ao dobrar-se acertou-lhe um soco no meio do rosto que o fez recuar até às cortinas que se soltaram fazendo cair o espelho próximo sobre a cabeça de Bob.
Zane, impassível continuou o castigo. Ambos os punhos choveram vezes sem conta contra o rosto, não reparando nos pequenos pedaços de vidro que lhe cortavam as mãos em diversos sítios. Quando terminou, o rosto de Bob Baron era uma massa sangrenta e horrível, apenas com vida suficiente para esperar que o conduzissem à forca qualquer dia.
— Bonita tareia, Zane — disse, uma voz nas suas costas.
Voltou-se. Ali estava John Powers Dano, de negro e grave como sempre com as mãos assentes nos flancos sorrindo indolente ante a cena. Ao olhá-lo Zane com assombro, o «pistoleiro» explicou, pacatamente:
—Vigiava com os meus homens os arredores de Santa Fé, no caminho de Albuquerque. E vi regressar esses canalhas, fizemos-lhes uma emboscada, de que por desgraça se livrou essa rata, porque abandonou os seus homens antes de alcançar a povoação, tomando outro caminho... Mas os meus homens deram boa conta da quadrilha de Baron...
—E como veio ter aqui, Dano? — perguntou Zane divertido. — Sabia que era ele a suspeita mulher loira?
—Não. Eu julgava, como você, que era Gertie Baron. Quando cheguei lá fora, acabavam de dar-se os tiros. Vi Gertie lá fora. Agora, Sophie está a tratá-la. As mulheres resolvem melhor essas coisas do que nós. Disse-me o que sucedia e corri atrás de si para lhe dar uma ajuda se fizesse falta, Preston. Mas vejo que não fiz falta. Segui o final da luta, e por Deus isso é que foi bater, mas essa sanguessuga merecia-o. Espero que resista até ao dia de lhe adornarem o pescoço com uma certa gravata.
Zane riu entre dentes.
—Isso espero eu também, Dano. Que fez com a quadrilha de Baron? Liquidou-os a todos?
—A quase todos. Alguns saíram com vida, e estão nas mãos do «sheriff» já. Ê possível que a Lei me agradeça por ter-lhe sido útil esta vez.
—Agradece, não tenha dúvida.
—Ê a você a quem mais têm de agradecer.
—E Gertie? — perguntou Zane, mudando a conversa. —Salvar-se-á?
—Sophie crê que sim. E ela não costuma enganar-se.
— Menos mal. —Preston sorriu satisfeito. — Butch Yarbough é bom rapaz, ela é melhor que muitos pensam, e merecem um pouco de felicidade.
—Casamenteiro também? —riu Dano. —Não lhe falta nada, Zane.
—Creio que me falta: o mais importante.
—Qual?
—Casar-me meu amigo. E o mal é que creio que desta vez me pescam. Sinto cansaço desta vida, Dano. É possível que me case, no fim de tudo. Há uma pequena que merece, demónio. E sem adiantar-se mais, encaminhou-se para a saída.
Dano entretanto, dirigiu-se ao inerte Bob Baron, e levantando-o do chão, quase com asco, disse rindo:
—Vamos, filhinho. O «sheriff» e o governador militar estão desejando terem uma certa conversa contigo, antes de te levarem ao patíbulo. Por Satanás que quando encontro tipos como tu, chego a pensar que John Powers Dano é um anjo de liberdade... Que é como quem diz!
E arrastou-o, coma urna peça inútil a caminho da saída.

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