segunda-feira, 25 de junho de 2018

BUF167.11 Preparação do golpe definitivo

— Que horas são? Um dos homens levantou a cabeça, olhando para o relógio colocado por cima das prateleiras das bebidas.
— És um comodista, Jim — retorquiu. — Tens o relógio na tua frente. Porque não olhas para ele?
Jim Galluro olhou torvamente para o homem que tinha replicado, após o que o agarrou pela camisa, dizendo-lhe, por entre os dentes:
— Que te importa como sou? Perguntei que horas são, apenas. E tu deves responder-me, sem comentários!
— São dez horas — interveio outro indivíduo. — Acalma-te, Jim. Não deixes que os nervos nos levem a discussões ou disputas, agora.
— Ora! Eu não estou nervoso. Não posso é com a impertinência desse tipo.
Estavam cinco homens com Jim Galluro, sentados em redor de uma mesa. Dois deles estavam entretidos a jogar às cartas. Era indubitável que estavam todos nervosos, incluindo Jim Galluro.
Permaneceram silenciosos. De vez em quando, Jim olhava para o relógio. As onze, pôs as mãos no tampo da mesa e murmurou:
—Vamos rever tudo, rapazes. É necessário que cada um tenha bem presente o papel que lhe cabe. Eu bato à porta da casa e vocês ficam colocados de um e outro lado. Quando abrirem...
— Entramos os seis, Jim. É o mais sensato.
— Prefiro que não haja improvisações. Eu elimino a pessoa que abrir a porta. Na casa, vivem os Joyce pai e filho, a senhora Joyce e uma criada. Deve ser a criada quem abre a porta. Quando estivermos dentro de casa, espalhar-nos-emos. É preciso evitar qualquer grito e, naturalmente, os tiros.
Passando a língua pelos lábios, na antecipação do «prazer» que lhe estava reservado, um dos homens sussurrou:
— Usaremos os punhais...
— Idiota! Precisamos deles vivos! Vocês dois ficam com a senhora Joyce. O pai e o filho abrirão o Banco e o cofre, sem oferecerem resistência, sabendo que ela está em nosso poder. Todos os outros, iremos com os Joyce ao dinheiro. Será um roubo sem falhas. Na realidade, nem sequer será um roubo... vão-nos entregar o dinheiro do cofre, todo o dinheiro que lá estiver. Depois, ocupar-me-ei do «menino bonito», do filho do banqueiro. Vou dar-lhe o que merece! — concluiu, com voz ameaçadora.
— Como? Nem tiros, nem punhais, disseste...
— Antes... Quando tivermos o dinheiro, será diferente. Acho preferível ninguém ficar vivo, para não podermos ser identificados, mais tarde. Perceberam? Não podemos entrar no Banco com as caras tapadas. Podíamos ser vistos por alguém. Teremos de atuar com calma, de rostos descobertos e sem armas. Os Joyce deverão abrir voluntariamente a porta do Banco e o cofre... na aparência. Naturalmente, jamais se esqueceriam das nossas caras. Assim...
— Obrigá-los-emos a esquecer-nos, para sempre. E que faremos, quando tivermos o dinheiro?
Jim Galluro sorriu, antes de responder, com firmeza:
— O dinheiro tê-lo-ei «eu», rapazes, não se esqueçam! O dinheiro é meu. Cada um de vocês receberá determinada quantia e isso é tudo. Depois, eu vou buscar a minha pequena e desapareço, com ela. Vocês os cinco...
Descaradamente, um dos homens concluiu a frase:
— Nós já teremos feito tudo.
Jim emendou, com suavidade:
— Não. Faltará, ainda, um pequeno pormenor. Depois de eu sair do hotel e da cidade, vocês terão de liquidar um homem que se encontra no hotel. Trata-se de um homem muito perigoso, mas que não vos dará trabalho, visto que estará amarrado de pés e mãos e amordaçado.
Os homens riram-se.
— Bem... se é só isso!...
Jim acrescentou, orgulhosamente:
— Assim mesmo! Organizei tudo com o maior cuidado. Tudo se fará como eu quero e sairá como lhes disse!
E Jim Galluro pensou, fechando os olhos: «Terei o dinheiro... e Carmen. Tom «El Toro» não voltará a mostrar-se arrogante. Só é pena não poder cobrar, também, a recompensa.» Mas isso seria pedir demasiado e Jim reconhecia-o. Já era bastante bom saber que, quando ele e a jovem saíssem de Tucson, um daqueles homens atravessaria o coração de Juan Rode, com uma punhalada certeira. «Que pena não poder estar lá, para assistir», pensou.
*
Em Tucson, as ruas costumavam estar muito concorridas, à noite. Como todas as cidades fronteiriças, abundavam as diversões. A música, as canções, as gargalhadas, as pragas e os tiros constituíam os sons habituais da cidade, depois das horas de jantar.
Carmen Rode habituara-se a tais ruídos. No entanto, naquela noite, os nervos crispavam-se-lhe, ao ouvi-los. Sentara-se numa cadeira, olhando para a cama onde seu pai se encontrava. Juan não se movia. Várias vezes a jovem se acercara dele, para verificar se respirava.
— Aquele bruto do Jim não devia tê-lo agredido com tanta força...
Sentia-se dominada por um estranho estado de espírito. Quando Jim lhe propusera a representação da comédia que lhe permitiria atacar Juan pelas costas, a ideia encantara-a. «— bem pensado, Jim!», exclamara. — «Ele está desejoso de que eu o beije, de que me mostre carinhosa, como uma boa filha. Como vai ser divertido enganá-lo, facilitando o teu ataque! Para mim, será como vingar um pouco a morte de minha mãe. Depois, quando ele despertar, rir-me-ei dele!»
Agora, porém, Carmen não sentia o menor desejo de se rir. Olhando para o pai, receava que lhe faltassem as forças e o valor para o enfrentar, quando ele recuperasse os sentidos.
— Naquele dia... — murmurou. — A morte de minha mãe foi, de facto, um acidente. Uma fatalidade. Uma desgraça que arrastou muitas outras atrás de si... A verdade é que nem o avô nem os outros se portaram bem com o meu pai. Ele estava furioso e...
De quantas pessoas se encontravam naquele escritório, ela era a que meu pai mais amava. Como poderia desejar a sua morte? Nunca quisera admitir aquela verdade e aquele momento, pensou, não era o mais oportuno para o fazer.
— Será melhor não pensar no assunto. Não me convém ter hesitações.
Foi até à janela, para ver a gente que passava na rua, fazendo barulho. Aquela cidade era terrível.
—Uma cidade cheia de bandidos e de bêbedos...
Por momentos, sentiu vergonha e pena de si própria, mas logo se animou.
— Não. Também aqui há pessoas boas e decentes, honradas e leais, como Robert Joyce...
Robert Joyce, que ia ser assaltado e roubado, dentro de pouco tempo.
— Jim prometeu-me que lhe respeitará a vida. Pobre Bob! Como se iludiu comigo...
Disse-o com amargura, voltando-se para a cama. Estremeceu, ao ver que o pai abrira os olhos e olhava para ela. Permaneceu imóvel, durante alguns segundos. Por fim, disse:
— Tens a cabeça muito dura, pai. Nunca pensei que despertasses tão cedo! Lamento, mas vou ter de te amordaçar.
Juan Rode replicou, secamente:
— Não te incomodes, que não tenciono começar a gritar, pedindo socorro. Em primeiro lugar, porque em Tucson ninguém acode, quando alguém pede auxílio. E, depois, porque seria ridículo virem encontrar-me amarrado como um salpicão vigiado pela minha própria filha.
Carmen, que já agarrara num comprido lenço de pescoço, não chegou a completar o gesto de amordaçar Juan.
— Se me prometes que...
— Prometo-te tudo o que quiseres, Carmen — interrompeu Juan, com voz cansada. — Não posso negar coisa nenhuma à minha encantadora e carinhosa filha.... Suponho que saberás o que estás a fazer. Eu feri mortalmente a tua mãe, por mero acidente, mas tu estás a colaborar no meu assassínio!
Carmen sentiu-se invadida por um frio estranho. Fez um esforço para serenar o espírito.
— Ninguém te vai assassinar, pai. Queremos, apenas, evitar que voltes a estragar os nossos planos. Logo que tivermos o dinheiro...
—És uma criança tonta, Carmen. Quando tiverem o dinheiro, Jim tratará da minha morte. Assim como matará Bob Joyce, porque um homem como Jim jamais esquece ou perdoa uma humilhação.
Carmen encolheu os ombros. Não estava disposta a acreditar em nenhuma daquelas afirmações.
— Podes dizer o que quiseres. É certo que tu procederias assim, mas Jim não é como tu, felizmente!
Juan Rode ficou calado, por momentos. Ao vê-lo a remexer-se, na cama, Carmen advertiu-o:
— Não te movas! Não tentes o quer que seja!
Com a voz embargada pela tristeza e pela ansiedade, Juan perguntou:
— Diz-me uma coisa, filha. Há pouco, quando me beijaste... Isto é apenas curiosidade da minha parte, mas dizem que os laços que unem pais e filhos são fortes.... Fala-se no instinto, na voz do sangue... Quando me abraçaste, para que Jim me pudesse agredir impunemente, experimentaste alguma emoção?
Carmen replicou, raivosamente:
— Prefiro não falar em patetices dessas, pai!
— Bom... sempre me consolo com o facto de me chamares pai, de vez em quando...
— Muitas poucas vezes te chamarei assim. Tenho esperanças de não te voltar a ver! Não me encontrarás.
Juan suspirou, concordando:
— Certamente que não, Carmen. Não te poderei encontrar, porque já não pertencerei ao número dos vivos.
Ao ver o gesto de descrença da jovem, acrescentou:
— Como é que Jim pensa roubar o Banco? Não acredito que Bob aceda ao seu pedido de voltar a abrir o cofre... Que método vai empregar?
— Isso não te interessa.
— Mais assassínios. Não percebes o que está para acontecer, filha? Liquidarão toda a família Joyce, terrível pensar que... que tu és o motivo que leva Jim Galluro a fazer tudo isto!
— Recordo-te, pai, que não és a pessoa mais indicada para me dar lições de moral...
Fixando os olhos nos da filha, Juan pediu:
— Diz-me apenas uma coisa e não te maçarei mais. Queres o dinheiro do Banco cinicamente para poderes fugir de mim?
— Sim!
— Eu tenho mais dinheiro do que todo o que possa haver no Banco, filha. E é todo para ti.
— Não o quero! É dinheiro roubado. O fruto dos assaltos de Tom «El Toro»!
— Percebo. Preferes ser tu a roubá-lo... Sabes que Galluro matará Bob Joyce, esse simpático rapaz cujo crime foi enamorar-se de ti?
— Jim não vai matar ninguém. E basta de conversa.
Voltou as costas ao pai. Este murmurou:
— Antes assim... Da maneira que me tratas, cheguei a recear que me matasses, filha!

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