quinta-feira, 21 de junho de 2018

BUF167.07 Banco aberto só para o bandido

—É verdade, sim! — acusou Carmen, terminantemente. — Ele poderá negá-lo, mas o seu retrato está em imensos jornais e cartazes de pedidos de captura. É Tom «El Toro», o mais selvagem dos bandidos do Texas. Não tens nada a recear dele, porque é pior que tu e tem mais que ocultar!
Para mostrar o desprezo que sentia pelo pai, voltou-lhe as costas. Juan Rode manteve-se silencioso. Jim aproximou-se dele, estendendo-lhe a mão.
— Tenho muito orgulho em conhecê-lo, Tom — disse. — Tenho ouvido falar imenso de si, como calcula.
Juan não tocou na mão que o outro lhe estendia. Não fez, aliás, qualquer movimento.
—Deixe-se de cumprimentos, rapaz — replicou. —Afaste-se da minha filha, ou, de contrário, ficará realmente a saber quem eu sou.
Jim protestou:
— Mas eu pretendo casar-me com ela! As minhas intenções são sérias. Logo que tivéssemos o dinheiro... E vamos tê-lo, muito em breve, porque...
Carmen interrompeu-o, raivosamente:
— Cala-te, Jim! Não fales dos nossos assuntos!
Galluro corou, enquanto Juan Rode sorria...
— Estão, então, à espera de dinheiro... — comentou. — Compreendo. No entanto, acho difícil que o consigam, uma vez que Carmen tem de seguir viagem!...
Carmen apressou-se a negar:
—É inútil, pai. Não irei contigo a lado nenhum. Só se me levares à força! A isso que tencionas fazer?
Sorrindo, altivamente, acrescentou:
— Não te aconselho. Fugiria, ao menor descuido teu. O melhor que tens a fazer é sair daqui!
A atitude de Juan Rode modificou-se, radicalmente, passando de enérgica e autoritária a conformada.
— Muito bem. Não quero levar-te à força... mas também não sairei de Tucson. Gosto deste hotel e vou alugar aqui um quarto.
Carmen encolheu os ombros.
— Pretendes vigiar-me, não é verdade? Não me importo. E não procures comover-me com as tuas condescendências. Não és nada para mim. Absolutamente nada!
Juan Rode sorriu, resignadamente.
— Já ganhei alguma coisa, Carmen. Até agora, era teu inimigo...
Sem mais uma palavra, abriu a porta e saiu do quarto. Carmen manteve-se imóvel, muito alterada, forcejando para evitar que as lágrimas lhe saltassem dos olhos. Jim Galluro exclamou, ainda admirado:
— Tom «El Toro»! Mas, Carmen, esse homem é um ás! Com a sua ajuda, poderíamos vir a ser donos do mundo! Por que não nos unimos a ele?
—Deixa-o em paz! Não quero nem vê-lo! Falemos antes de Robert Joyce. Está tudo preparado. Esta tarde, vou sair com ele e, à noite, tudo estará concluído, espero.
— Como queiras, preciosa. Mas é pena...
Robert Joyce, que descuidava bastante o trabalho no Banco, desde que conhecera Carmen, chegou ao hotel «Santa Cruz» ao entardecer, perguntando ao empregado:
— A menina Rode está no quarto?
— Está sim, senhor.
— Quer fazer o favor de a avisar de que estou aqui?
Juan Rode, que se encontrava sentado num cadeirão do vestíbulo, levantou-se, devagar. O empregado tinha desaparecido, para ir informar Carmen. Juan dirigiu-se a Joyce, interpelando-o:
— Bonita pequena, a menina Rode. Você teve bom gosto, jovem.
Joyce olhou-o, com uma expressão de desagrado, replicando, asperamente:
— Faça o favor de não falar dessa maneira da menina Rode, ou terei de lhe partir a cara!
Juan Rode sorriu, enigmaticamente, perguntando:
— Que direito tem você de me falar assim?
— Acontece que serei seu noivo, muito em breve. E a menina Rode não é pessoa para servir de conversa a tipos como você!
Juan Rode desculpou-se, quase amavelmente:
— Perdoe-me, jovem. Pensei que se tratasse de um divertimento para si. Eu...
— Você não passa de um imbecil! Espero que um dia, nesta cidade, uma mulher decente não seja obrigada a viver lado a lado com tipos como você. Aviso-o de que, se pensa...
— Não penso nada, jovem — interrompeu Juan. —Acontece, apenas, que não costumamos considerar... da melhor maneira, as raparigas que se instalam, sozinhas, num hotel,..
Joyce replicou, orgulhosamente:
— Ela está à espera do pai, senhor! E espero, dentro de muito pouco tempo, ser eu o homem que a protegerá, com todos os direitos, da maledicência de homens da sua classe e mentalidade...
Juan faz uma ligeira vénia e afastou-se, sem retorquir. Tinha ouvido os passos da filha na escada e achou preferível passar para a sala de refeições. Dali, pôde ver, sem ser visto, como Robert Joyce recebia Carmen, com um sorriso emocionado.
Ela estava resplandecente. Robert deu-lhe o braço e saíram do hotel. Juan voltou ao vestíbulo. O empregado, a quem ele já dera ótimas gorjetas, acolheu-o com um sorriso obsequioso.
— Bonito par — comentou Rode. — Dá gosto ver os jovens felizes. Quem é ele?
O empregado respondeu, prontamente:
—É Robert Joyce, o filho do banqueiro de Tucson. Um excelente rapaz, senhor. O mais distinto da cidade! E está doido por essa jovem, que ninguém conhece. O pai devia ter cuidado...
Juan Rode murmurou, assaltado por uma suspeita:
— O filho do banqueiro!...
Saiu imediatamente para a rua. Carmen e Joyce afastavam-se, conversando animadamente. Quando estava a observá-los, Juan viu Jim Galluro sair de uma taberna. Jim vira passar os dois jovens. Ao abandonar a taberna, sorria, trocista. E foi a sorrir que se dirigiu para o hotel, recolhendo ao quarto. Uma vez ali, dedicou-se a um trabalho estranho num homem: coser. Com grandes pontos, coseu algo à camisa. Um pequeno coldre de revólver, de pele fina, uma obra de arte dos índios «navajos».
— Suave e ligeira — monologou — mas aguenta perfeitamente o peso de uma arma de calibre trinta e oito...
Coseu-o a uma das partes laterais da camisa, um pouca acima da cintura. Meteu nele o revólver e vestiu o casaco, para ver como ficava o conjunto. Não se percebia o volume da arma, o que muito o satisfez.
— Excelente! — comentou. — Fácil e rápido de sacar...
Experimentou, várias vezes, para mecanizar os mínimos. gestos. Uma hora mais tarde, Carmen batia-lhe à porta do quarto.
— Tudo bem, preciosa? — perguntou Jim.
— Tudo. Insiste em apresentar-me ao pai. Disse-lhe que estou na disposição de fechar o negócio com o velho proprietário da casa amarela.
Jim tinha o casaco vestido e não falou à companheira da arma que se escondia debaixo dele. Pelo contrário, apontou para a arma, onde não se via o coldre habitual, e disse-lhe, com voz segura:
— Como vês, nada de armas! Tal como tu queres, Carmen.
Ela sorriu.
— Não precisarás delas, Jim. E é muito melhor assim.
Ela fez um gesto de concordância, perguntando:
-- Viste o teu pai?
— Não. Deve andar por aí, a beber. Suponho que um homem como ele deve beber como uma esponja. Seja como for, teremos cuidado.
Já tinha anoitecido, quando Carmen saiu do hotel. Ia só. Dirigiu-se para casa dos Joyce, que viviam no próprio edifício do Banco, com entrada pelo lado posterior. A jovem bateu à porta e logo uma criada negra a abriu.
— Queria falar com Robert Joyce — pediu Carmen.
— Queira entrar, menina...
— Não, obrigado. Chame-o, por favor. Diga-lhe que a menina Rode quer falar com ele.
A criada encolheu os ombros e desapareceu. Poucos momentos mais tarde, surgia Robert Joyce, muito nervoso.
— Carmen! Decidiste-te, finalmente! Vem. O meu pai está na biblioteca. Tenho-lhe falado tanto de ti que...
Carmen agarrou-lhe o braço, suplicante.
— Não, Bob! Agora, não. Preciso que me faças um favor. O velho, o dono da casa amarela, é um indivíduo esquisito, como sabes. Apareceu-me há pouco no hotel. Quer vender-me a casa, mas deverei entregar-lhe os mil dólares combinados, agora! Agora mesmo, porque se vai embora de Tucson!
Joyce murmurou, com estranheza:
— A estas horas? Vamos falar com ele. Dir-lhe-ei que amanhã...
— É inútil, Bob — interrompeu a jovem. — Esse velho é um louco! Garantiu-me que, se não lhe pagar agora, não me venderá a casa. E perco uma ótima oportunidade.
Bob, suplico-te... Tu tens as chaves do Banco, faz-me o favor de me deixares levantar o dinheiro! Não posso deixar passar esta ocasião!
— Terei de dizer a meu pai o que se passa, porque...
— Não, Bob, não o faças! Que iria ele pensar de mim? Que sou uma excêntrica!
Com voz suave, convincente, prosseguiu:
— Bem sabes como é... Os pais pensam sempre que nada é suficientemente bom para os filhos! Ele- não compreenderá que a culpa é, apenas, do tolo do velho. Não deixará de pensar que sou uma menina caprichosa... e eu não quero deixá-lo mal impressionado. De resto, que te custa? Assino o cheque, naturalmente, e tudo está conforme. Ao fim e ao cabo, tu é que és o dono do Banco e não acredito que me recuses a primeira coisa que te peço...
Robert Joyce sorriu, convencido.
— Vamos arranjar tudo, Carmen! — afirmou decidido. — Tenho aqui as chaves. Não percamos mais tempo!
Tomou o braço da jovem e, unidos, deram a volta ao edifício. Robert abriu a porta principal, dando-se ares de importância.
— Não acenderemos as luzes — resolveu — para não alarmarmos ninguém, evitando o aparecimento de curiosos. Podemos tratar de tudo com a claridade que entra pelas janelas e com a luz do escritório, que fica sempre acesa.
Entraram no Banco. Nas sombras do largo portal, moveu-se alguém, um homem, que estivera encostado a uma das colunas, protegendo-se com ela.
Era Jim Galluro. Murmurou, com um sorriso sardónico:
— A porta aberta! Nunca tive um Banco aberto, só para mim...
Bateu no revólver, escondido no coldre cosido à camisa. Certo de que ninguém o via, avançou para a porta. «Não percamos tempo», pensou. «O cofre já deve estar aberto!»
Empunhou o revólver e adiantou-se para a porta.

Sem comentários:

Enviar um comentário