terça-feira, 24 de abril de 2018

CLF043.12 Os perseguidores passam por Dumas

Rotos, esqueléticos, cheios de suor e de pó, com os olhos brilhantes, os três homens chamaram a atenção imediatamente.
Os olhares dos homens e mulheres que circulavam de um lado para outro, fixaram-se num deles, talvez o que acusava mais o desgaste da viagem.
Alto como uma arvore, forte e poderoso, parecia agora a estampa viva da derrota. As suas roupas vaqueiras tinham rasgões por toda a parte. E tanto estas como o chapéu estavam cheios de pó.
O cabelo, ainda que não se distinguisse à primeira vista, era negro, e os olhos cor de âmbar.
O nariz aquilino, o queixo pontiagudo, e a boca grande, cruel.
Apesar do seu cansaço, o cavaleiro cavalgava direito sobre a sela, e as armas, contrastando com o negrume que o envolvia, estavam limpas e brilhantes.
As mesmas características ofereciam os seus companheiros. O que ia à sua esquerda chamava-se Dick Sulivan. Era de estatura normal, magro por natureza.
O rosto amarelo, de pómulos salientes, e os olhos pequenos e vivazes. Aparentava uns trinta anos, mas tinha apenas vinte e um. A sua boca era grande, e o sorriso fácil, mas naquele momento, só pensava no homem que os contratara e que podia já não estar naquele povoado, como acontecera noutros sítios. Andavam atrás de um fantasma. Tal como o primeiro, levava dois «Colt» 45 e na sela uma «Winchester».
Finalmente, o terceiro, Jack Pearce, tinha uns trinta e cinco anos. Nos seus bons tempos, fora um homem relativamente gordo, e que agora podia comparar-se com um pau de fio. Olhos verdes, como os de um gato, dentes perfeitos, o queixo quadrado. Nunca costumava sorrir. Um só «Colt», também de calibre 45, junto da «Evans» 30-30 que levava na sela, eram todo o seu armamento.
O trio continuou, rua acima, direito ao «saloon» de Aurora. Eles não a conheciam, mas havia ali um «saloon» e eles iam la para tirar o pó da garganta ressequida, sem querer parar enquanto a curiosidade que havia a sua volta não se dissipasse.
Se Jimmy os tivesse visto... a pólvora teria voltado a correr em Dumas. Mas ele já não estava ali, mas a umas quantas milhas mais abaixo, direito a Bronte, onde estava um homem chamado Joe Milton.
Nada disso sabia Chet Parris, no momento de desmontar, nem quando, junto a Pearce e Sullivan, se encostou ao balcão, pedindo «whisky». Lorna e Marisa estavam ali, assim como uns quantos clientes que, mais do que para beber, iam recrear-se a ver Aurora. A sua beleza incessante e felina atraia-os como moscas ao mel.
Nenhuma delas gostou da presença daqueles três, e muito menos quando eles pediram bebidas. Não acreditavam que eles tivessem dinheiro para pagar sequer um copo de água. Lorna subiu as escadas e dez minutos depois aparecia, acompanhada por Aurora.
Parris lançou um assobio prolongado que se ouviu em todo o local. A sua intenção era chama-la, mas conteve-se ao ver que não era só ela quem se aproximava, mas que a acompanhava uma chamativa morena.
Pearce e Sullivan voltaram-se, e os olhos de ambos reluziram. Quem era aquela formosa mulher? E ao formular a pergunta mentalmente, Parris pestanejou, ao ver que ela se detinha diante dele.
— Queres tomar algo, encanto? — perguntou.
— Tens com que pagar?
Parris franziu o cenho enquanto Sullivan e Pearce se olhavam sem notar que Lorna se aproximava pelo outro lado.
— Que pode isso importar-te a ti? — replicou por fim.
A jovem sorriu.
— Nada, forasteiros. Nada, salvo que este «saloon» é meu.
Os três riram sonoramente.
— Não está mal — acrescentou Pearce. — Assim beberemos de graça.
As três mulheres permaneceram silenciosas, até que Aurora fez um movimento de cabeça, chamando o «barman».
— Paguem adiantado. De contrario, não há bebida.
— Mas...
E Parris deu um passo em frente.
— Deixe essa mulher, forasteiro. Pague, que ela tem razão.
Parris voltou-se como uma víbora. Ele teria jurado que não vira aquele homem, quando entrou. E agora... não o conhecia, mas apesar da tranquilidade da sua voz, Chet Parris compreendeu que ele era sumamente perigoso. E tal como um dia Jimmy catalogara Davison, também ele agora o fazia. E pensou nos prós e contras. Era um só homem, e para os três não oferecia serias dificuldades apesar de ser perigoso. Mas ele não estava ali para lutar, mas para algo bem diferente. Ia em busca de «Procura Sarilhos» Jimmy, e não queria cair antes de o encontrar. Portanto, Parris acabou por sorrir.
— Pode beber o que quiser — convidou a Davison. — Tenho para pagar isto e muito mais.
Davison aproximou-se, mas alerta.
— «Whisky» — disse simplesmente.
Minutos mais tarde, ainda que os dois desconfiassem um do outro, a conversa generalizou-se e não só entre eles e as mulheres, mas também entre alguns clientes. Insensivelmente Parris foi levando a conversa para onde lhe interessava. Apurou o ouvido ao ouvir falar em Jimmy.
— Diz que partiu? — perguntou, dando as suas palavras um tom que enganou todos, menos Aurora, que compreendia agora a intenção do trio.
E a culpa de tudo era devido a intervenção de Davison.
As suas simples palavras, a sua atitude junto ao balcão, teriam servido para provocar um conflito sangrento. E apesar de ter três inimigos contra, e um deles precisamente o que não afastava os olhos dela, tinha feito marcha atras. Por quê?
E agora, que continuava a pensar, ficou tensa ao ouvir o vaqueiro falar muito mais quando disse o nome de Jimmy. Mais nervosa ainda, escutou a pergunta do forasteiro.
Claro que se Jimmy alcançasse Bronte, o perigo para ele seria nulo! E quase teve vontade de lhe dar a verdadeira direção. A pergunta estava ainda no ar, quando Aurora acabou com estes pensamentos. E a encarregada de responder foi Lorna, encostada a Pearce, enquanto Marisa, sentada sobre o balcão, balanceava as suas maravilhosas pernas.
— Sim — respondeu então. — Jimmy partiu daqui ontem noite...
E a pergunta surgiu como um disparo, da boca de Sullivan.
— E para onde, pode saber-se, encanto?
Parris teria querido fulmina-lo, e Sullivan compreendeu que tinha cometido um deslize quando, repentinamente, tudo ficou em silencio.
Aurora olhava para Parris, sustendo-lhe o olhar, desafiando-o. Marisa já não movia as pernas. Os seus olhos estavam fixos em Davison, enquanto Lorna largara o braço de Pearce, e os olhava atentamente.
E foi precisamente Aurora quem respondeu:
— Creio que terá que averiguá-lo você, forasteiro — disse geladamente.
Parris, como resposta, riu alegremente. Meteu a mão num bolso e tirou um saco cheio de notas. Depositou cem dólares em cima do balcão.
— Isto é para que continuem a beber — e depois, dirigindo-se aos seus homens: — Vamos, esse porco leva-nos poucas horas de vantagem.
Aurora levou as duas mãos ao peito, enquanto os seus olhos adquiriam tons infernais. Mas nada mais. Davison agarrou-a pelos pulsos, e procurou por todos os meios aguentar aquele olhar de aço.
— Mas, que atrevi...
— Nenhum, patroa — replicou Davison, interrompendo-a. — Mas são três e matá-la-iam facilmente. Deixe-os, eles vão à procura de Jimmy.
E Davison largou-lhe os pulsos. Esta tirou as mãos do peito e Lorna e Marisa respiraram ao ver que ela não trazia nenhuma arena. E como elas, todos os vaqueiros que estavam ao balcão.
A nenhum teria agradado morrer pelo capricho de uma mulher enamorada. Parris tinha já passado os batentes, quando Aurora falou a Davison:
— Quanto queres por ires atras deles? — perguntou.
O jogador não se alterou. Esperava aquela pergunta.
— Nada, patroa. Isso é assunto de Jimmy. Não é que lhe guarde rancor pela tareia que me deu. Simplesmente, no Oeste cada um mata as suas próprias pulgas, se não é o próprio interessado que pede ajuda. Por outro lado, ele é.… simplesmente «Procura Sarilhos» Jimmy! Um nome que é uma lenda em todo o Oeste. Esses malandros por mais que façam não poderão com ele.
Aurora não replicou aquelas palavras. Davison tinha razão, mas não para ela, mulher enamorada. Com um suspiro, deu meia volta e afastou-se. Marisa alcançou-a junto da escada. — Nós as mulheres, somos todas umas tontas. Depois de nos enganarem, continuamos tao enamoradas como sempre.
Aurora deteve-se e olhou-a.
—Que sabes tu disso, Marisa! Que sabes tu de dores, vergonhas e... «Procura Sarilhos» Jimmy!
E deixando-a boquiaberta, Aurora começou a subir rapidamente a escada. Uma vez no seu quarto, estendeu-se no leito e cravou os olhos no tecto. Os seus pensamentos percorreram muitos caminhos, todos cheios de espinhos e sangue para ela.
E depois, Aurora, sorriu de maneira indefinível, e desejou de toda a sua alma que Jimmy encontrasse Joe Milton.
E, entretanto, Parris fez o mesmo que em muitos outros lugares, durante aquela perseguição que durava há semanas. Uma vez na rua, juntamente com os seus homens, pegou nas rédeas do cavalo e procurou uma cavalariça onde lhe pudessem vender ou alugar cavalos frescos. Não se atreveu a perguntar a nenhum homem, já que não sabia como eles pensariam a respeito de Jimmy, caso a conversa sustida dentro do «saloon» com Aurora tivesse passado para a rua.
— Que vá para o diabo, essa mexicana!
E ao dizer isto, Parris decidira já, mentalmente, voltar, logo que acabasse com Jimmy.
Estavam uns rapazes a brincar na rua, e Parris aproximou-se de um deles, levando na boca um dos seus melhores sorrisos. Fez-lhe um sinal, e o miúdo imobilizou-se, olhando-o com evidentes mostras de desconfiança.
— Queres ganhar um dólar?
Os olhos do rapaz brilharam.
— Que a preciso fazer? — perguntou o rapazito desviando-se dos companheiros.
E Parris riu-se, antes de dar a resposta.
— Só tens que dizer-me onde se vendem cavalos. Como vês, os nossos nem em pé se aguentam.
— Dá-me o dólar, forasteiro, — e Parris assim fez o que o rapaz indicou. — Não é nada difícil. Basta ir a minha casa, que fica a saída. O papa tem bons cavalos.
E Parris foi com de. Durante mais de meta hora, esteve a escolher no amplo curral que havia por detrás da casa, discutindo o preço com o velho James Tracy, avô do rapaz, pois o pai estava em casa de um amigo. Finalmente, fechou o negócio, e os três empreenderam a marcha, procurando as problemáticas marcas que deixaram os cascos do cavalo de Jimmy.

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