segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PAS805. A adorada impossível

Charmion Graham meditara um longo momento antes de decidir-se a aparecer.
Lyon Carmichael saltou em pé, abandonando o rebordo onde se sentara. Tirou lentamente o amplo chapéu que colocou sobre as costas e disse solenemente:
— A tua palavra aprazível e firme tem estado sempre no meu coração., raiozinho de sol. Não deves erguer-te nem ofender-te, Charmion, mas sim escutar-me com a mesma indiferença com que a alta, aparecendo para todos, é contemplada com adoração. E quando regresses à tua região continuarás sendo a imagem que ilumina a minha solidão, raiozinho de Sol que ilumina as trevas, a louçã rosa que invade os meus sentidos, ainda nos instantes mais sangrentos do combate. E não desaparecerás, Charmion... Continua brilhando a estrela, mesmo quando o pirilampo na terra a adora...
Charmion Grabant perguntou mentalmente como era possível que o selvagem, que nos combates arrepiava os seus próprios aliados, o homem dos olhos de prata, pudesse falar tão timidamente, embora com ousadas declarações…
Um espírito primitivo, havia dito Clem Bogart, a quem era preciso tratar com simplicidade. E fê-lo ao dizer:
— Não combaterás mais com Harry, se queres que enquanto continue aqui possamos falar de... do que seja. E, além disso, poderias ter vindo muito antes, já que... o capitão Bogart me transmitiu a tua mensagem. Mas deve ficar bem entendido Lyon Carmichael, que eu... não posso, ainda, acomodar-me ao teu estranho modo de falar, porque na minha zona quando um homem... Enfim, eu aprecio-te, Lyon. Queres provar uns doces que eu. preparei? São saborosos., porque...
Retrocedeu assustada... Lyon aplicara um rude soco no peito e serenando-se, disse:
— Já passou o meu impulso, raiozito de Sol. Foi que, ouvindo-te, concebi tanta esperança que senti desejos de afundar o meu, alento .na doce carícia das tuas mãos. Já passou, Charmion.
— Muito te agradeço, Lyon. Por um instante fizeste--me medo. Não deves ser tão impulsivo. Prometes-me?
— Prometo.
— E agora diz-me: — Ela sorriu maliciosa, embora com o peito arfando ansiosamente, porque se sentia em perigo e se repreendia interiormente por aquele homem lhe agradar — É certo que uma rainha apache é tua escrava?
— Foi paixão que me atraiu e que se esfumou como o fumo do vulcão na luz pura do céu. Mas tu vives já para sempre, e comigo a tua imagem morrerá, quando o ferro inimigo me. vencer. Nenhuma, outra imagem vive no meu coração e cada vez que inclino a fronte para procurar repousar, meu pensamento lateja como o meu coração, repetindo sem cessar as mesmas palavras...
Charmion Graham, avançando, perguntou trémula:
— Que palavras alteram o teu sono, Lyon?
Com fervor, amarrotando. entre as suas mãos o chapéu, ele disse:
— Toda a formosura do Universo reside na minha adorada impossível. Ela é doce tormento inextinguível. Ela é Charmion, o meu raiozinho de sol. Charmion, minha amada. Charmion...
A mãozinha fragrante pousou nos lábios de Lyon. Calava-o ou consentia? Lyon dobrou o joelho e com a respiração entrecortada beijou a mão direita de Charmion, mantendo-a depois contra a sua face.
— A tua felicidade far-me-á feliz, Charmion. Mas... sai do meu território se outro homem há-de possuir-te por esposa. Já não seria Lyon Carmichael, o que de joelhos beija a tua mão, mas sim aquele que os apaches continuam a chamar «Lua Escarlate», o Bronco Navajo, o que mataria... antes de se matar.
Novamente de pé, Lyon Carmichael perdeu todo o seu selvagismo. Algo incrível lhe produzia um êxtase de intenso, embora fugaz deleite.
Contra o seu peito, a cálida pressão de um busto ansioso e contra os seus lábios a fresca e breve pressão de uns lábios... E continuou com os olhos fechados, trémulo, alucinado...
Ouviu, como entre as brumas radiantes de um sonho maravilhoso: «Obstáculos que eu... não posso vencer».
A mão direita, sempre firme, tremeu, quando ela, colocando a sua mãozinha na dele, acrescentou:
— E agora, pelo Santo Céu! Fazes ou não honra aos meus doces?

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