quinta-feira, 8 de junho de 2017

PAS757. Embocada traiçoeira

O bosque era extenso e estava suficientemente afastado de «A Encantada» para que os tiros não se ouvissem no rancho. Jarvis Hamilton perguntou à. rapariga:
— É por aqui?
— Sim, Jarvis, mas não lutes com esse homem terrível. É melhor que...
Emudeceu, porque se ouvia claramente o barulho produzido por um machado a cortar lenha. Jarvis parou o carro. Atrás de umas moitas, um homem alto e forte estava a partir um tronco. Junto dele encontrava-se um carro.
Jarvis Hamilton saltou para o solo. O lenhador, que se virara para ele, sorria abertamente.
— Olá! A linda lourinha outra vez! Mudaste de ideias e vens procurar-me?
Soltou uma gargalhada grosseira, enquanto se endireitava, sem largar o machado. Jarvis Hamilton parara na clareira formada pelo caminho. Atrás ficava o tílburi e, nele, Margie Donovan, agora deveras assustada, nervosa, a morder com os dentes a beira do leque.
— Venha cá, para lhe ensinar como se deve tratar uma dama, amigo — disse Jarvis.
O lenhador voltou a rir e, depois de afastar uns arbustos, saiu para a clareira. Era corpulento e de aspeto brutal. A sua única arma era o machado, que ainda empunhava.
— Não vem muito elegante para dar lições dessa espécie, senhor Hamilton...
— Conhece-me?
— Sim, sei quem é. Um tipo rico que se esconde atrás dos seus homens e a quem uma bonita rapariga tem de visitar, porque tem medo de deitar o nariz fora de casa!
Hamilton empalideceu um pouco. A sua voz enrouqueceu mais.
— Bem, agora não me protege ninguém...
— Não? O seu revólver! Eu não tenho armas.
— Tem o machado. Deite-o para longe e eu deixarei o revólver.
— Quer lutar com os punhos, hem?... Acho bem. Gosto de amachucar um pouco a gente rica, sou invejoso. Fora com o machado!
Atirou-o com força e foi cravar-se numa árvore. O cabo ficou um instante a vibrar. Jarvis Hamilton desapertou a fivela do cinturão e deixou-o cair no chão, a seus pés. Depois, avançou dois passos para o lenhador.
— Agora estamos iguais — disse.
O lenhador retrocedeu os mesmos passos que Jarvis avançara. Ria sem cessar.
— Você é um pobre imbecil, Hamilton — disse de súbito. — Olhe para os lados!
Jarvis Hamilton olhou com rapidez, e parou e apertou as mãos até cravar as unhas nas palmas.
Três homens haviam saído pelo lado direito e dois pelo esquerdo. As árvores grossas tinham-nos mantido ocultos até àquele momento. Os cinco empunhavam revólveres e avançavam devagar, com as armas firmemente apontadas.
O lenhador continuava a rir. Parecia que aquela emboscada o divertia muito.
— E diziam que era um tipo difícil de caçar!
— Cala-te! — gritou um dos pistoleiros. — Sentimos muito, senhor Hamilton, mas vamos matá-lo imediatamente. }"J um encargo e nós somos gente séria. Espero que compreenda... Menina, vire a cabeça!
Margie parecia convertida em pedra e molhava os lábios com a ponta da língua. Hamilton não a podia ver, pois estava de costas para ela.
— Espero que lhes reste um pouco de decência —disse Hamilton, sem a menor comoção na voz. — Deixem retirar-se esta menina.
— O encargo que temos é de o matar. Ela não tem nada a ver com isto; pode-se ir embora quando quiser. Não se mexa, Hamilton. Se nos faz falhar a pontaria, será pior para si, sofrerá mais... para morrer na mesma. Esteja bem quieto e facilitar-nos-á a tarefa, em seu próprio benefício.
Os cinco homens aproximaram-se mais. Rodeavam a sua vítima. Os cinco revólveres apontavam a Hamilton.
Margie observava a cena, como fascinada. Começou a pôr-se em pé, enquanto tapava a boca com as mãos. Olhava fixamente para Hamilton. Murmurou:
— Tão alto e simpático... é pena que o derrubem a tiro. Uma verdadeira pena...
Jarvis Hamilton deu uma volta sobre si mesmo, para examinar friamente os cinco assassinos que continuavam a aproximar-se devagar. Sorriu ao de leve ao fitar Margie. A rapariga repetiu:
—Que penal...
O dono de «A Encantada» ficou quieto, rígido, diante do homem que falara e que parecia comandar o grupo de assassinos. Olhava-o fixamente e o homem pestanejou, inquieto. Fitaram-se uns instantes.
De repente, o assassino gritou:
— Fogo!
Cinco revólveres troaram ao mesmo tempo. Jarvis Hamilton caiu de chofre no solo. Apenas um dos homens que tinham disparado notou que caíra um instante antes de eles apertarem os gatilhos. Os outros riam, enquanto Jarvis rolava pelo chão. O homem que adivinhara que nenhuma bala se alojara no corpo de Hamilton, gritou:
— Atirem outra vez! Não lhe acertámos!
Jarvis Hamilton deixou de rebolar. Em milésimos de segundo, pôs-se de joelhos, velozmente. Já, de novo, os cinco revólveres o procuravam, mas era um pouco tarde. Jarvis conseguira recuperar o seu, o que atirara ao solo para enfrentar o lenhador, e disparou enquanto acabava de se levantar e saltava para diante.
A sua bala traspassou a cabeça de um dos homens, e com tal força que o atirou contra uma árvore. Jarvis Hamilton movia-se como uma centelha. O impulso levou-o até fora da clareira. Soaram quatro tiros e as balas assobiaram por entre as moitas e perderam-se ao longe. Nenhum dos pistoleiros, pois todos estavam preparados para disparar contra um homem desarmado e quieto, teve serenidade para apontar com cuidado. Jarvis Hamilton caiu dentro de uma moita, revolveu-se entre os ramos e disparou duas vezes, acionando o percutor da arma
com o polegar. Dois disparos quase seguidos e dois dos pistoleiros caíram no centro da clareira.
Os dois que restavam em pé entreolharam-se e, sem dizer nada, correram para as árvores, a fim de se protegerem. O falso lenhador, que deixara de rir havia um bocado, agarrou o machado, ainda cravado num tronco, e puxou-o para o arrancar. Depois virou-se com rapidez e atirou-o contra a moita.
Não foi dali, porém, mas sim de um lado, junto do tronco de um grosso carvalho, que brotou o disparo. O lenhador inclinou-se, devagar, com urna mancha verem-lha na camisa, no sítio do coração. O pequeno orifício pareceu alargar, à medida que o sangue se espalhava. Jarvis Hamilton transformara-se no homem cruel e tremendamente perigoso, com um revólver na mão, que ele não queria ser. Os seus olhos não exprimiam nada. Os seus lábios tinham-se convertido numa linha fina, enquanto a sua mão direita acionava o revólver com precisão espantosa, como se fosse uma máquina.
Margie deixara-se cair no banco do carro. Dali viu Jarvis Hamilton, 'depois de derrubar o lenhador, correr pela clareira para atrair os dois homens que restavam. Os pistoleiros espreitaram dos seus esconderijos, apenas o indispensável para dispararem contra o homem que corria para eles e se oferecia como alvo aos seus disparos.
Járvis disparou, sem parar, e um deles rugiu quando a bala, roçando a árvore que o protegia, lhe esfacelou a cabeça. O outro atirou doidamente e depois começou a correr desesperado. Jarvis Hamilton tinha uma única bala no revólver, sabia-o, mas não hesitou em o chamar.
— Esqueces-te de uma coisa!
O homem parou e virou-se de frente. Fitou Jarvis com ódio e com medo, ao mesmo tempo. Proferiu um insulto soez. A seguir, tentou disparar, mas nem sequer chegou a acabar de premir o gatilho, porque a última bala de Jarvis Hamilton atravessou-lhe o coração e derrubou-o de costas.
O dono de «A Encantada» ficou uns instantes quieto, a olhar a última das suas vítimas. Depois começou a recarregar o revólver, que ainda fumegava. Margie saltou então para o solo e correu para ele.
— Jarvis! Oh, Jarvis, foi por minha culpa, pois fui eu que te fiz vir aqui! Podiam ter-te matado, e com certeza o teriam feito se não fosses o homem mais extraordinário que jamais conheci! Estás... estás zangado comigo, Jarvis?
A rapariga esperou, a tremer. Teria adivinhado que fora ela quem o conduzira àquela ratoeira?
Mas Jarvis sorriu, com as feições menos tensas.
— Pequena, tu não tens a culpa de nada. Esses tipos utilizaram-te para que me trouxesses, mas tu não tens culpa. Mandaram primeiro essa besta, para que te incomodasse, apenas para conseguirem que eu saísse do rancho e me pudessem ter à sua disposição.
Margie lançou-se-lhe nos braços. Enquanto Jarvis a abraçava, comovido, ela sorria e pensava:
«Leonora não se poderá queixar de mim, pois nem sequer ela teria feito melhor. Ela, coitada, nunca poderia dominar deste modo um homem como Jarvis...»
Ao longe, ouvia-se tropel de cascos de cavalos. Margie estremeceu, mas Jarvis apressou-se a sossegá-la.
— Não há perigo. Devem ser os meus homens, que ouviram o tiroteio. Acalma-te. Já passou tudo.
Conduziu-a para o carro. Quando os dois estavam já no banco e Jarvis pegava nas rédeas, Sanchez, com vários homens de «A Encantada», apareceu no caminho. Sanchez soltou um grito.
— Graças a Deus, Jarvis! Ouvimos os tiros e receámos que...
— Eh, vejam isto! — disse um dos cavaleiros.
Vários galoparam até à clareira e contaram os cadáveres caídos entre as árvores.
— Seis tipos!
— Uma boa emboscada, ao que parece observou o velho capataz. — Como te meteste nela, chefe?
— Isso não importa agora. Manda um homem à povoação dizer ao xerife que venha tomar conta deles — respondeu Jarvis. — E deixa de olhar desse modo a menina Cooper; ela nada tem a ver com isto.
— É possível — murmurou o velho. — Os tipos que mataste eram forasteiros; agora parece que os trazem de fora... Demónio, se ao menos um deles tivesse ficado vivo, arrancar-lhe-ia à pancada o nome do canalha que os contratou!
— Sossega, agora isso não interessa. Bem vês que a sorte está do meu lado.
— Mas desta vez tiveste de te esforçar muito para te salvares, Jarvis. Seis pistoleiros num sitio, como este! Ainda não consigo compreender como pudeste vencê-los.

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