quarta-feira, 7 de junho de 2017

PAS756. Visita à lagoa

A meio da tarde, o tílburi conduzido por Margie entrava em «A Encantada». Um homem avisou Hamilton.
— Chefe, a menina Cooper.
Hamilton corou um pouco ao notar o sorriso do homem. Mas nem por isso se apressou menos a sair do seu gabinete. Margie, muito bonita, talvez naquele dia mais bonita do que nunca, sorriu-lhe, sem descer do veículo.
— Jarvis! — chamou, agitando a mão. — Não desço. Prometeste que hoje me levarias a ver a lagoa?...
Jarvis Hamilton assentiu.
— Eu cumpro sempre as minhas promessas. Iremos à lagoa.
Ao olhar de soslaio, viu que Sanchez falava rapidamente com dois homens, que correram para a cavalariça.
«O velho vai pôr dois homens na lagoa. Cuida de mim como uma galinha dos seus pintainhos...»
Aproximou-se do carro. Então, reparou que Margie estava só.
— A Carolina não veio contigo?
— Não. Tinha trabalho, um vestido para acabar. Ficou a ajudar Leonora. Eu vim, apesar de tudo... devia ter ficado com elas, bem sabes, mas.,.
— Tinhas de ver a lagoa — concluiu Hamilton, saltando para o banco e empunhando as rédeas.
Margie olhou-o com malícia e agitou o leque com ar ameaçador.
— Não sejas mau, Jarvis. Tinha de te ver a ti. E já que tu não vais muito a Green River, tenho eu de cá vir.
Hamilton sorriu e agitou as rédeas. O tílburi pôs-se em andamento. Quando se afastaram da casa, Margie começou a demonstrar certo nervosismo. Falava sem cessar, como sempre; mas, às vezes, parecia esconder uma das mãos, que procurava manter debaixo da capa que vestia. Por fim, Hamilton deu por isso.
— Que tens? Acho-te um pouco estranha... Que tens nessa mão?
— Na mão? Oh, nada, Jarvis, não tenho nada!
Mas escondeu-a mais. Hamilton esticou as rédeas e parou o veículo.
— Não gosto que me escondas nada, nem sequer uma das tuas lindas mãos. Vejamo-la! — exigiu.
Agarrou a rapariga pelo braço. Ela gritou, mas teve de tirar a mão.
Tinha no pulso uma marca avermelhada, como uma roçadura, e parte da manga do vestido estava rota, rasgada. De súbito, ela começou a chorar baixinho.
— Margie! Que te aconteceu? Fala, por favor... Que foi?
— Não é nada, não me fez nada, consegui fugir! Leonora tinha razão ao dizer-me que não devia vir sozinha, mas eu não podia adivinhar que esse horrível homem ia...
— Não divagues, diz-me de uma vez o que aconteceu! De que homem falas?
— Não quero que te preocupes, Jarvis, não quero que faças nada. Esquece isto!
Agora chorava com mais força. Jarvis Hamilton empalidecera, ao mesmo tempo que apertava as mãos.
— Não posso esquecer! Que aconteceu?
Margie engoliu as lágrimas. Estava muito bonita, com as suas belas faces molhadas de pranto.
— Bem... ele estava no bosque do caminho, pouco antes do teu rancho, a cortar lenha. Pôs-se diante do carro e obrigou-me a parar. Disse que havia dias que me via passar, que eu era muito bonita, que descesse para lhe fazer um bocado de companhia. Assustei-me e quis seguir, mas agarrou-me pelo braço e rasgou-me o vestido. Era um homem horrível! Parecia doido. Não sei como consegui soltar-me e...
Jarvis Hamilton semicerrou os olhos. As suas compridas mãos apertaram as rédeas e agitou-as com fúria por cima do cavalo.
— Jarvis, não vás lá! É um bandido!
— Pequena, todos sabem em Green River que és a minha namorada. Vou dar uma lição a esse canalha que se atreveu a incomodar-te.
Fez girar o carro com violência, soltou um grito que pareceu assustar muito o cavalo e este lançou-se a galope. Entretanto, os homens do rancho galopavam para a lagoa, a fim de protegerem o seu chefe. Margie Donovan, segurando o chapéu que o vento tentava arrancar-lhe da cabeça, sorria suavemente. Ia a pensar:
«É encantador! Bastou que lhe começasse a contar a história para imediatamente correr para lá!...»

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