domingo, 30 de abril de 2017

PAS742. Quando alguém quer partir

Cristy descia do seu quarto, quando ouviu a voz de seu pai no escritório.
— Com todos os diabos, Mike Morgan! Que mosca te picou? Queres dizer-me, de uma vez, porque desejas abandonar o rancho?
Abandonar o rancho! Cristy perdeu a respiração, e sentiu-se invadir por um susto tremendo. Mike queria ir-se embora!
A voz dele chegou-lhe fria, calma:
— Necessito de me ir embora, é tudo. Chegou-me a vontade de mudar de ares.
A resposta de Joyce fez corar as faces de sua filha. Porém, já estava com a mão no puxador da porta. E entrou sem bater.
Seu pai fazia frente, com o rosto congestionado pela indignação e pelo desconcerto, a um pálido e impassível Mike. Os dois olharam-na, ao ouvi-la entrar. E Cristy julgou ver algo de estranho nas pupilas do vaqueiro.
—Que é que estou a ouvir? Mike Morgan? Que queres deixar-nos? — inquiriu.
— Assim é, menina Cristy.
Cristy protestou:
—Porém... porém isso é absurdo! Precisamente agora...
Mordeu os lábios, perturbando-se ao compreender que havia estado a pontoe de deixar escapar. Seu pai franziu a testa, olhou-os e rouquejou:
— Acaba de entrar e de dar-me a notícia. E aí o tens, especado, sem me dar explicação nenhuma. Vê lá tu se lha podes conseguir.
— Não há nenhuma, patrão, além do que lhe disse. Cansei-me de estar aqui, é tudo.
— Olha para mim, Mike Morgan. Estás a mentir e todos sabemos. Tu tens outro motivo e eu quero conhecê-lo, agora mesmo.
A veemência da jovem fez franzir ainda mais a testa de seu pai e pôs urna expressão de amargura nos lábios de Mike.
— Pode ser que eu seja tão embusteiro como cobarde, menina Cristy — disse calmamente.
Ela mordeu os lábios, fazendo-se vermelha até à raiz dos cabelos.
— Então... então é por minha culpa... Mas já te pedi perdão!
— Não... não é por isso.
— Sai, Cristy. Deixa-nos sós e não pares a escutar do outro lado da porta.
— Oh! Papá!
— Sai, Cristy.
Turbada, ofendida, temerosa, a jovem hesitou uns momentos, olhou suplicante e compungida o impassível Mike e depois obedeceu, mordendo os lábios.
Ao ficarem sós, Joyce adotou um tom mais brando.
— Vamos a ver, rapaz, se posso tirar-te da cabeça essa ideia absurda. Dizes que queres marchar hoje mesmo, sabendo bem que ainda não estás em condições de galopar. E dás uma explicação absurda. Que tal se virarmos as cartas com as pintas para cima?
— Eu já as pus.
— Não me faças rebentar de novo com a tua casmurrice. Sabemos que não é verdade. Vamos... é por Cristy? Sê sincero.
— Por ela também.
— Hum! Já o suspeitava. Não te consideras digno da minha filha... Bem, rapaz, deixa que Cristy e eu decidamos o que consideramos mais conveniente. Admito que até há pouco tempo os dois não tínhamos de ti um conceito lá muito bom. No entanto, a tua conduta fez mudar os nossos pontos de vista. Pela minha parte, não quero que deixes o meu serviço. E estou disposto a dividir a autoridade de capataz entre ti e Jim Thornton...
— Sabe que não poderia...
— Como? Hum! Bem, talvez... Porém, aqui sou eu o patrão. E tenho muitas reses, muita terra e muitos vaqueiros e peonagem. Um só capataz não pode abarcar tudo de maneira a sentir-me satisfeito.
—Thornton não o toleraria. Além disso, eu tão-pouco quero esse lugar.
—Porque não? Vê bem, sê razoável, rapaz! Dou-te o cargo por inteiro. Sei que Thornton te vê com maus olhos, desde que Cristy começou a mimar-te demasiado e a demonstrar as suas preferências por ti...
— Deixe-o estar, patrão.
— Com todos os diabos! Estás a tornar tudo muito difícil, filho! Estou a tratar de te meter na moleirinha a ideia de que, se minha filha gosta de ti, não penso opor-me ao vosso casamento, agora que já demonstraste que és capaz de a proteger e também ao rancho. Incluo, se na tua vida passada existe alguma coisa pouco clara... bem, bastaria que, de homem para homem, tudo me contasses agora e me prometesses não reincidir. Mike escutava-o muito pálido e grave. Respondeu com voz clara e aguda:
— Nunca lhe agradecerei bastante as suas palavras, senhor. Porém, daria a sua filha a um assassino?
Joyce sentiu como uma forte cacetada na nuca.
— Um assassino... tu?
Mike assentiu.
— Sim, eu. E não pergunte mais nada. Sua filha, esquecerá facilmente, se é que alguma coisa começou a sentir por mim. E eu não devo aproveitar-me da sua generosidade para causar-lhe um dano irremediável. Dê-me, pois, a minha soldada, e deixe-me partir sem mais perguntas.
Cristy estava no pórtico da casa, entrançando e desentrançando as mãos, com gesto nervoso. Ao ver surgir Mike, cortou-lhe o passo e começou a falar com veemência:
— Mike, eu...
Com um triste sorriso, Mike cortou-lhe a palavra:
— Não diga nada, menina Cristy. Parto agora mesmo.
Cristy perguntou:
—Porquê? Porquê? Preciso de uma explicação. Não podes deixar-me... bem... assim... assim... Não quero que partas, Mike Morgan. Compreendes? Não quero!
Mike pegou-lhe nas mãos, abanando-a.
— Não há outra solução, Cristy Joyce. Nenhuma. Não a mereço, creia. E o melhor que posso fazer por si é afastar-me.
— Mas... porquê... porquê?
Mike respondeu:
— Por muitas coisas. Cada um deve pagar o que faz... e não deve saber mais. Até nunca, Cristy Joyce... jamais a esquecerei.
Inclinou-se bruscamente e beijou-a na testa. Ela fechou os olhos.
Quando os abriu, Mike já caminhava para o estábulo, onde já tinha o cavalo encilhado. Quis chamá-lo, mas um nó apertou-lhe a garganta. Ia-se embora... para sempre. Com um terrível segredo que lhe impedia corresponder ao seu amor... amando-a...
— Oh! Mike! Mike! Que terás feito? — gemeu, tapando a cara com as mãos.

sábado, 29 de abril de 2017

ss

PAS741. Uma jovem suspira pelo cobarde

Quando entrou no dormitório, quase toda a gente se encontrava deitada e muitos já dormiam. Contra o que era costume das outras vezes, alguns dos seus companheiros saudaram-no de maneira diferente. O próprio Thornton falou-lhe como a um igual.
— Demoraste-te muito, Mike. Algum tropeço?
—Nenhum, Jim. Tudo correu bem.
— Pois muito meu alegro.
Sim, tinha mudado um pouco a atitude dos seus camaradas para .com ele.
Estendeu-se na sua tarimba, depois de tirar o jaleco e as botas e entrecruzou as mãos debaixo da cabeça, ficando quieto de boca para cima. Ainda mudaria mais, quando soubessem o que ocorrera naquela tarde. Provavelmente, começariam então a pensar... todos. Como  estaria magicando o xerife Bracken..
Bracken, que tinha sido xerife em Topeka... e ainda se recordava dia sua cara.
Muito (antes ide nascer o sol, 0 pátio do rancho. estava cheio de animação e de bulício. Os homens tiravam os cavalos dos estábulos, davam-lhes de beber, apertavam-lhes as cilhas, vistoriavam as alfaias de trabalho, colocavam sobre as pernas as proteções de ca-lda , iam .até à cozinha em busca de uma  tigela de café negro, falavam aos gritos... enfim, toda a gama de ações que se repetia, 4nvariávelmente, todas as segundas-feiras de manhã.
Cristy tinha-se lançado fora do leito quando os primeiros gritos alegres soaram com o dealbar do dia, frio e cinzento. Foi encostar o rosto ao vidro da sua janela. E o primeiro homem que viu foi Mike Morgan, caminhando para a cavalariça.
Mike Morgan... Os seus sentimentos para com ele tinham-se modificado um pouco, depois de ouvir as notícias que Jim Thornton trouxera a seu pai. De maneira que tinha sido capaz de amedrontar aquele assassino do Dogan, de revólver em punho, e depois tinha--lhe dado uma tareia soberana, ainda que este pormenor só pudesse ser sabido por conjeturas.
Sentiu uma agradável emoção e ao mesmo tempo um ligeiro desassossego. Mike Morgan tinha respondido bem ao aguilhão dos insultos. Não era um cobarde, então... tê-lo-ia feito por ela?
Estivera pensando muito no assunto antes de adormecer. E agora apressou-se a lavar-se e a vestir-se, enquanto cantarolava, excitada.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

PAS740. Um cobarde cansado de o ser

Mike ia pela rua devagar, como abstraído nos seus pensamentos. Porém, não o estava tanto que não reparasse em duas coisas de sumo interesse. A primeira, a presença do xerife Bracken diante do armazém de Steele, enrolando calmamente um cigarro e olhando na sua direção. A segunda, o tipo que, apenas o viu. se apressou a entrar no «Prairie Saloon»
Quando os batentes do mesmo se abriram, dando passagem a Dogan, toda a rua se pôs em movimento. Enquanto os homens se aprestavam a assistir à iminente peleja, as mulheres apressaram-se a chamar seus filhos e a meterem-se em suas casas, receando o que ia passar-se.
Mike seguiu o seu caminho no mesmo passo. Não pareceu ter visto Dogan. Sem embargo, o seu rosto parecia agora mais velho e os olhos afundavam-se-lhe nas órbitas.
Dogan saiu para a rua com gesto fanfarrão, ajustando o cinturão e deixando logo a mão direita junto à coronha do revólver. A ninguém cabia a menor dúvida acerca das suas intenções. Tinha todo o rosto tumefacto, com grandes marcas dos punhos de Mike. E brilhavam de ódio os seus olhos inchados.
Quando Mike se encontrava a uns quarenta metros dele, levantou a voz em tom agressivo:
—Eh! Tu, porco! Chegou o momen...
O que então sucedeu dificilmente seria esquecido  por aqueles que puderam presenciá-lo.
Todos esperavam um duelo à maneira clássica do Oeste, ou uma nova retirada de Mike Morgan, pois, a falar verdade, muitos poucos confiavam que aceitasse o claro desafio. O que ninguém pôde prever, nem mesmo Bracken, foi o que aconteceu.
A mão direita de Mike desceu para a sua arma com tal velocidade que ninguém pôde seguir-lhe os movimentos. A distância era tal que ninguém, a não ser um magnífico atirador, teria iniciado a ela um duelo a tiro. O mesmo Dogan, que não atirava mal, pensava aguardar a clássica distância dos vinte e cinco a trinta metros.
Quando quis puxar do revólver, os seus movimentos tornaram-se ridiculamente lentos em comparação com os de Mike. Soou um estalido e todos viram brotar urna chama alaranjada da arma de Mike e o revólver que Dogan começava a tocar saltou velozmente do coldre, enquanto o pistoleiro retirava a mão instintivamente, com gesto dolorido. Um momento depois, a arma, avariada pelo choque da bala contra o tambor e o gatilho, caía no pó do caminho.
Desarmado, com a mão entumecida, Dogan enfiou uma série de pragas e juramentos soezes, enquanto a cara se lhe punha cinzenta. Segundo o estabelecido na lei do Oeste, ninguém podia impedir Mike de dar novo tiro e meter uma bala na cabeça do adversário.
Mike continuou a avançar no meio de um silêncio sepulcral. A sua mão empunhava firmemente o revólver, apontando ao cada vez mais nervoso Dogan. Este começou a mover os pés, a passar a língua pelos lábios subitamente ressequidos.
A tensão tornou-se insuportável. Homens, mulheres e crianças aguardavam o tiro inevitável com a alma em suspenso. O próprio Bracken, com o sobrolho franzido, tirou um cigarro e deu um passo, baixando a mão até ao cinto.
Mike não tinha nenhuma pressa, ao que parecia. Calmamente, chegou a dez passos de Dogan, a seis, a cinco, a quatro...
O pistoleiro estava lívido e encolhido, com os olhos a saírem-lhe das órbitas. Tinha-se-lhe secado a garganta e o pomo-de-adão movia-se-lhe espasmodicamente. Nem sequer podia falar, porque era a única pessoa em condições de ver bem os olhos de Mike, o pusilânime. E o olhar daquelas pupilas tinha-o deixado gelado até à medula dos ossos.
Quando Mike chegou a três passos de Dogan levantou lentamente o revólver. Uma mulher tapou a cara com as mãos. Outra gemeu. Um homem gritou roucamente:
— Deus, vai fazê-lo!...
A destra de Bracken caiu pesadamente sobre a coronha da sua arma.
Mike deu outros dois passos, mantendo fixo o olhar sobre os olhos de Dogan, cuja fronte estava pulada de suor frio. Depois...
Depois levantou o revólver velozmente.
Uma mulher guinchou.
O cano da arma caiu sobre o rosto de Dogan, partindo-lhe o nariz e os lábios com um ruído seco;
O pistoleiro vacilou, gritando quaisquer palavras ininteligíveis. E levantou ambas as mãos, para proteger o destroçado rosto.
O cano do revólver chocou de novo, violentamente, com a sua cara. E Dogan tombou, como um saco deixado cair de golpe, ficando feito num farrapo sobre o solo, a cara convertida numa massa de carne sanguinolenta e sangrando copiosamente. Porém vivo.
Foi como se levantassem de repente uma imensa lousa. Soaram vozes, murmúrios, rumor de homens movendo-se. O revólver de Bracken caiu no seu coldre, enquanto o xerife esboçava um sorriso duro e pensativo. As mulheres respiraram com alívio e toda a gente olhou Mike Morgan de uma maneira muito diferente.
Impassível, tendo deitado apenas uma olhadela ao castigado assassino, Mike guardou o revólver e passou ao lado do caído Dogan, seguindo o seu caminho com a mesma tranquilidade, sem olhar para ninguém de maneira especial, com um duro sorriso à flor dos lábios.
Sabia que Bracken estivera a ponto de intervir e que não o deixaria afastar-se, mesmo assim, sem mais nem menos. Não moveu, pois, um músculo, quando o xerife desceu do passeio e se aproximou pausadamente. Os dois homens enfrentaram-se no meio da rua, renovando-se a expectação geral.  
— Foi um bom trabalho, Morgan.
— O senhor acreditou que eu ia matá-lo a sangue-frio.
— Confesso que sim... por um momento. O senhor é um atirador de primeira ordem.
— Defendo-me.
— Já vi.  E pergunto-me como as gentes daqui chegaram a pensar que o senhor era um cobarde.
— Às vezes, até os cobardes se cansam de o ser.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

PAS739. Insultos difíceis de engolir

Mike deteve-se diante da entrada do «saloon». Saíam ruídos de música desafinada, risos de mulher demasiado altos e risotas masculinas. Ali dentro a gente parecia divertir-se. Se entrava, era quase seguro que de pronto teria uma questão com Dogan ou qualquer outro bêbado desordeiro. Na maior parte os vaqueiros dos outros ranchos haviam deixado de meter-se com ele, tratando-o com certa indiferença desdenhosa. Conhecia-se a sua boa pontaria e sabiam-se as suas façanhas que salvaram o gado do rancho. Isso travava muito o desprezo daqueles homens por um que recusava sistematicamente lutar, ainda que fosse provocado. De qualquer modo, não podia dizer que contasse com muitos amigos, fora três ou quatro dos seus próprios companheiros. E não queria causar-lhes dissabores.
Seguiu o seu caminho e abriu os batentes da taberna de Harris. Era o local mais sossegado da povoação e dava-se bem com o seu dono.
Havia pouco mais de uma dezena de clientes, entre eles dois ou três dos seus companheiros e vários vaqueiros dos ranchos vizinhos. Quase todos bebiam ou jogavam na companhia de batoteiros profissionais e gente da população. Ali não havia mulheres. Como o conheciam, apenas recebeu uns olhares e dois ou três cumprimentos indiferentes ou desdenhosos. Preferia assim. Acercou-se do balcão e cumprimentou o taberneiro.
— Olá!, John. Dê-me um trago.
— Olá! Mike. Chegaste um pouco tarde.
— Não tinha pressa.
Era o que costumavam dizer... Mais ou menos, as mesmas frases todos os sábados. O taberneiro serviu-lhe de beber e Mike saboreou um gole, enrolando epois, destramente, um cigarro. Mike perguntou:
— Muitas novidades por aqui esta semana?
— A mulher de Curly Farow teve uma filha na quinta-feira. Boa bezerrinha... E um mexicano, recém--chegado, deu uma boa navalhada a Tom Willard, quando ontem disputavam por uma jogada de «poker».
— Que aconteceu ao mexicano?
— Está preso.
Durante os quine minutos seguintes, Mike não fez outra coisa que fumar e beber a curtos sorvos, enquanto contemplava os demais com os olhos semicerrados e o chapéu deitado para a nuca. Observando-o, dir-se-ia que não olhava para ninguém, mas para dentro de si, ou para uma distância insondável. Também se notava, na sua descuidada atitude, certa instintiva tensão, cheia de energia contida.
Mais tarde, vozes ásperas soaram na rua. Mike passou a língua pelos lábios e ficou com o rosto sombrio. Porém, antes que pudesse fazer outra coisa, os batentes abriram-se com violência, dando passagem a três homens.
Vinha à frente um tipo alto, forte, moreno, de compridos bigodes pretos, olhos raiados de sangue e pálpebras empapuçadas. Trazia o revólver colocado baixo e mexia nele com ar fanfarrão. Deteve-se sobre as pernas bem abertas e passeou o olhar pela sala, onde a sua aparição tinha provocado certa tensão e olhares de esguelha a Mike.
Depois, aparentando não ver este, avançou com passo pesado até ao balcão e foi encostar-se ali, a uns dois metros do silencioso vaqueiro. Os seus dois companheiros imitaram-no, olhando Mike também de esguelha, com um sorriso desdenhoso.
Este voltou-se para colocar o seu copo sobre o balcão. Um bom observador teria captado o aperto dos seus lábios.
— Quanto devo, John? — inquiriu.
— Vinte e cinco cêntimos.
Dogan levantou a sua voz áspera, detendo o taberneiro:
— Deixa essa rata, John, e serve-nos, a nós, homens, um trago.
O seu insulto fez calar toda a gente. O taberneiro olhou Mike de soslaio.
Este apenas acusou o insulto com um cerrar de olhos. Lançou um dólar sobre o balcão e disse seco:
— Paga-te, John.
— Já disse que me sirvas primeiro. — Dogan voltou-se, para olhar Mike com desdém agressivo. — Esse  porco sujo com sangue de negro pode esperar que eu me permita pagar e sair.
— Maldito seja! — um dos vaqueiros do «Círculo Cross» que estavam ali não pôde aguentar mais, e saltou, derrubando a cadeira, com os olhos chamejantes. — Já me fartei de passar vergonha por tua culpa, Mike Morgan! E tu, Dogan, olha para cá! Nem todos os homens do «Círculo Cross» temos tão pouca coragem como esse. Se queres zaragata, aqui me tens!
Os outros dois vaqueiros do «Círculo Cross» levantaram-se também, agressivos e carrancudos. Dogan pôs-se em guarda e também os seus dois companheiros. Ninguém parecia reparar em Mike, de tal forma era. considerado coisa desprezível.
— Já vejo que és um galito de combate, Biggert — «grunhiu» Dogan. — Porém, não deverias dar a cara por um reles tipo desprezível como esse vosso companheiro. De qualquer modo, se queres barulho, adiante...
— Será melhor que ambos deixeis as mãos quietas.
A suave e fria ordem de Mike obrigou todos a olharem-no. Dogan pestanejou, perplexo. E também alguns outros. Porque na mão direita do vaqueiro se achava firmemente empunhado um revólver.
— Tem cinco balas — continuou no mesmo tom. —E uma só é bastante para acabar com um assassino bêbado. É melhor que levantes as tuas mãos, Dogan e não me obrigues a puxar o gatilho.
No brusco silêncio da sala, Dogan soltou um violento palavrão.
— Se pensas que porque me colheste de surpresa...
O tiro estalou com fortes ecos. Dogan deu um pulo ao sentir a queimadura da bala sobre o lóbulo da orelha,
— Talvez já tenhas ouvido falar da minha pontaria. Não me obrigues a demonstrá-la.
Pouco a pouco, as mãos de Dogan levantaram-se. E também as dos seus companheiros. Estavam mais desconcertados que assustados pela inesperada reação de quem até então se havia mostrado tão pouco belicoso. Mike voltou a dizer ao taberneiro:
— Paga-te, John.
Em silêncio, o taberneiro obedeceu. Sem deixar de apontar ao trio de corridos assassinos, Mike recebeu o troco e guardou-o. Depois caminhou para a porta. Olhou então o vaqueiro que momentos antes estalara de nojo.
— Tens o sangue demasiado quente, Don — disse--lhe com calma. — Quando fores dar uma ajuda a um companheiro, assegura-te primeiro se ele na verdade o necessita.
O outro mastigou em seco, suspenso do que Mike dizia. E antes que ele ou alguém desse palavra, Mike saiu do local.

domingo, 16 de abril de 2017

PAS738. Shivery!

Hazel retirou-se para o seu quarto. Sentia-se tão feliz, como se tudo tivesse acabado e vivesse num mundo diferente, onde não existissem os Heston, nem o ódio e a mentira tivessem conspurcado o seu nome.
Amava King com todas as veras da sua alma. A seu lado sentia-se com uma segurança que nunca tivera, e parecia-lhe que nada de mal lhe poderia acontecer estando junto dele. Contemplou os estrelas a piscarem lá do alto, como se pretendessem anunciar-lhe que tudo mudara, animando-a a continuar aquelas relações, nas quais estaria a sua salvação. Tinha a certeza de que King também a amava.
Em várias ocasiões pressentira nos seus lábios uma declaração desse amor, mas ela procurou sempre evitá-la. Mas a partir desse momento, nunca mais o faria. Queria ouvi-lo dizer que a amava e partiriam para o Sul, longe dos ódios de Nova Salomão.
Na vila, notava-se, uma estranha atividade. Via-se - um grupo, cada vez mais numeroso, reunir-se em volta dos estábulos. Eram vaqueiros e cavaleiros desempregados, e rancheiros dos arredores. A todos o álcool subira à cabeça e sentiam-se ferozes, dispostos a qualquer bar-" baridade, pedindo sangue.
Um deles exclamava:
— Não somos homens, se consentirmos que essa perdida se misture com as mulheres decentes. É preciso dar-lhe um corretivo.
Um bêbado gritou:
—Shivaree! (1).
Esta palavra troou como uma granada em suas mentes desvairadas e, como um eco, gritavam todos:
—Shivaree!
—Vamos dar-lhe uma lição que não esquecerá facilmente — ordenou o que capitaneava o grupa.
Avançaram pela estrada, agitando paus e cordas. Os seus cérebros toldados pelo álcool transformavam em heroicidade o que não passava duma triste façanha de bêbados. Um do grupo exibia uma tesoura para lhe cortar os cabelos, e outro um molho de penas besuntadas com breu, com as quais recobririam a cabeça da jovem depois do corte efetuado. Riam à gargalhada, divertidos com o que iam fazer, sentindo-se os heróis da terra. No' dia seguinte, tinham a certeza, toda a gente tos admiraria, pelo seu feito. Os seus semblantes iam contraídos de' fúria e as mãos crispadas. Tinham o dever de vingar insulto sofrido.
Foram avançando até à barraca da rapariga. Sabiam que a encontrariam em casa, e sozinha.
Sentiram-se ainda mais fortes e decididos, ao verem àquela frágil barraca isolada no meio do campo. Mas o chefe do grupo parou, levantando, as mãos.
— É preciso avançarmos em silêncio, para a apanhar de surpresa. Podia fugir-nos.
Com cuidado, dirigiram-se para ali, cercando a barraca. Naquele momento, Hazel, ainda vestida, recostava-se no leito, sonhando com o amor de King e parecendo-lhe possível ser feliz.
Os vaqueiros pararam em redor da casa, sorrindo com ferocidade ante a façanha que iam cometer.
O chefe do grupo ergueu o braço, e deixou-o cair em seguida.
Em volta da barraca, produziu-se um estrepitoso escândalo. Os assaltantes batiam com paus em latas vazias, . outros estalavam com os chicotes e alguns batiam com pedras e paus nas portas e paredes da barraca, gritando desaforadamente. O chefe deu o exemplo, chamando com voz potente:
—Hazel que saia! Hazel que saia!
Dentro de casa, a rapariga pôs-se de pé, aterrada. Aquele barulho não pressagiava nada de bom, e receava que alguma coisa pior se lhe seguisse. Do quarto contíguo o pai perguntou:
— Que aconteceu, Hazel? Que é isto?
A rapariga, cada vez mais assustada, tentou acalmá-lo:
— Não é nada, papá; houve festa na vila, e devem estar alegres.
Mas o escândalo e o barulho aumentavam cada vez com mais força. As pancadas nas paredes e nas latas vazias iam aumentando: A rapariga ouvia chamarem pelo seu nome, e tapou os ouvidos, desesperada.
Mas os que estavam do lado de fora não tiveram paciência para esperar mais tempo e rebentaram com uma janela. Depois saltaram para dentro de casa à procura de Hazel. 
— Que saia essa perdida! Vamos fazê-la dançar como merece!
A rapariga, vendo as sombras que lhe invadiam a casa, correu para junto de seu pai, em busca de proteção. Mas os vaqueiros seguiram-na até ali. Rindo brutalmente, lançaram-se sobre ela. Hazel abraçou-se ao pai, gritando desesperada, enquanto as lágrimas lhe inundavam as faces:
— Fora daqui! Deixem-me tranquila!
Mas tudo foi em vão. Apoderaram-se dela. Sentiu várias mãos puxarem-lhe pelo vestido; agarraram-lhe os braços arrastando-a dali. O velho, sem compreender o que se passava, exclamou:
— Hazel! Minha querida filha!
Tentou levantar-se ao ver que a arrastavam levando-a dali, e os vaqueiros, bêbados e sedentos de sangue atiraram-no ao chão, sem a menor complacência.
Aos empurrões, agarrando-a com força, arrastaram a rapariga para o campo. Alguns acenderam archotes e o seu tétrico esplendor iluminou a cena. Empurrada por várias mãos, com o vestido em desordem e os cabelos revoltos, Hazel caiu no solo, enquanto se aproximavam o chefe do grupo empunhando um chicote e um outro que exibia uma tesoura. — Como castigo da tua imundícia exclamou o vaqueiro— vamos cortar-te o cabelo, e depois cobrimos--te a cabeça com penas.
Levantou o chicote para a açoitar, mas nesse previso instante soou um tiro, e viu-se o vaqueiro agitar os punhos no ar e cair, como fulminado por um raio. Não tiveram tempo de se recompor da surpresa.
Quase em seguida ouviu-se o tropel dum cavalo e um grito penetrante, um grito de que todos os veteranos da guerra se recordavam. Tinham-no ouvido quando os guerrilheiros do Texas iniciavam uma das suas alucinantes cargas.
Um cavaleiro, de revólver em punho, avançava a todo o galope para eles, debruçado sobre o pescoço da sua montada.
King Lorringer também não pudera conciliar o sono. Aqueles momentos em que pudera estreitar a rapariga: contra o seu coração estavam demasiado presentes na sua mente, e preferiu dar um passeio a cavalo.
Depois dum bom galope, encaminhou-se para a barraca da jovem, para contemplar, à luz da Lua, o lugar onde ela vivia e se encontrava naqueles momentos.
Viu o grupo dos assaltantes com os archotes e calculou, embora em parte, o que estava acontecendo.
Ao aproximar-se a toda a brida, ergueu o revólver, fazendo fogo por duas vezes sobre a multidão. Depois esporeou o cavalo lançando-o sobre o grupo dos assaltantes.
Estes apavoraram-se. Era muito grande, depois da morte de Jack, o prestígio daquele homem e já matara um dos seus companheiros.
As balas sibilaram em volta das suas cabeças, enquanto outro do grupo caía ferido, gritando com dores. O cavalo atropelou dois ou três deles, e os restantes não tiveram coragem para esperar pelo que se avizinhava.
Soltando archotes, paus e tudo quanto levavam nas mãos, deitaram a correr, ficando somente o homem da tesoura junto de Hazel.
A Lua nova dava um claro e brilhante esplendor àquela cena e o assaltante viu como o cavaleiro corria para ele. Aterrado, gritou:
—Não! Não!
Mas King não se deteve a pensar. Premiu o gatilho, até esgotar o tambor. O homem da tesoura recebeu as três balas no corpo, estremecendo a cada tiro, e por fim caiu no solo, sem soltar a ferramenta com que imaginara troçar da rapariga.
King evolucionou com o cavalo como se procurasse novos adversários, mas todos os componentes do «charivari» tinham fugido apavorados, em direção a Nova Salomão.
Lorringer apeou-se, agarrou a rapariga pelos ombros e levantou-a. Ela contemplou-o, ainda aterrada, King perguntou:
— Estás bem agora, Hazel?
Ela assentiu, fitando-o apaixonadamente. Tinha-a salvo. Em silêncio, ficaram juntos por um momento. King mantinha-a nos seus braços. Parecia-lhe que ela ia entregar-se aos carinhos que sentia no seu coração, mas naquele momento Hazel exclamou:
—Meu pai!
Desprendeu-se do jovem e deitou a correr para casa. King acendeu um candeeiro que encontrou no quarto da rapariga, e viram o velho Morrison, estendido no chão, com os braços em cruz e os olhos sem vida, fixos no teto.
(1) Corrupção da palavra charivari, como que no Oeste se designava o escândalo e o barulho.
 

sábado, 15 de abril de 2017

PAS737. A mais bela para ir dançar

King parou o cavalo ante a barraca da rapariga. la levá-la na garupa, segundo o costume do Texas. O insulto feito na véspera por aquele Jack dava-lhe maior coragem e desejava desafiar toda a gente, mostrando-se em público com a jovem. Era corrente em toda a parte enfurecerem-se quando um forasteiro vinha cortejar a rapariga mais bonita da terra, mas não era costume insultá-la a ela. Queria ver se depois do que acontecera Jack alguém mais se atrevia a fazer o mesmo.
Apeou-se tirando: o chapéu, e bateu à porta. Esta abriu-se e Hazel, timidamente, apareceu exibindo o vestido novo, e sobre os ombros um xale antigo. O ligeiro decote deixava a descoberto o pescoço bem modelado e mangas curtas, em forma de globo, mostravam os braços bem torneados, parcialmente ocultos em longas luvas.
 King estremeceu. Não havia no mundo mulher tão formosa como aquela. Sorriu inclinando-se:
—Todos vão invejar-me.
Ajudou-a a montar na garupa do cavalo, e partiu a trote. Hazel reclinou-se sobre o seu ombro, fechando os lhos. Era tão feliz, que não queria pensar no que se avizinhava.
 
***
O baile estava no seu apogeu. A decoração era tal como a imaginara a jovem. Todos dançavam alegremente, procurando os seus pares e divertindo-se. As raparigas ostentavam os seus vestidos mais elegantes, e os homens, ataviados com as suas jaquetas, andavam dum lado para o outro, bebendo e conversando.
De repente alguém exclamou:
— Olha quem entra!
Um grupo de raparigas voltou-se para a porta, abrindo a boca de espanto. Todos os restantes olharam par o mesmo sítio, estupefactos, e sem compreenderem co aquilo era possível.
Hazel, timidamente, mas sem baixar a cabeça, entrava na sala, acompanhada por King Lorringer. Um murmúrio de assombro se ergueu à volta dos recém-chegados, como se a sua presença despertasse os mais vivo comentários.
King percorreu com o olhar os grupos que os fitavam, de maneira tal que os obrigou a baixarem a cabeça. Na mente de todos, estava presente o trágico fim de Jack.
A orquestra iniciou os primeiros compassos de «Lorena» e os pares começaram a dançar. King voltou-para a rapariga, prevenindo:
— Vamos dançar?
A rapariga, com um sorriso, aquiesceu. O jovem enlaçou-a pela cintura agarrando-lhe uma das mãos, enquanto ela segurava a saia, para iniciar a antiga valsa sudista, divulgada por todo o país.
Lorringer, enquanto dançava, sentia o corpo da seu par nos braços. Tinha-a tão perto que, com um simples movimento de cabeça, a poderia beijar. Sentia o perfume da sua pele, e os cabelos roçavam-lhe na cara. Entre os dedos, tinha a mão de Hazel. Não, não podia separar-se dela, e teria de lhe falar quanto antes, para que ela fosse sua esposa.
Hazel cerrou os olhos. A música soava placidamente aos seus ouvidos, adormecendo-a e desligando-a da realidade, da dura realidade do seu mundo. Ele estava a seu lado, e sentia-se feliz. Não queria despertar nem separar-se daquele homem. Mas não queria pensar no futuro. Agora notava o que nunca quisera confessar a si própria: amava-o! Era aquela a razão porque se sentia bem a seu lado, porque não o despedira, e porque fora ao baile. Sentia em volta da sua cintura o braço forte do vaqueiro, como se a protegesse. Não tinha medo, nem lhe interessava nada.
Era feliz.
A assistência via-os dançar intrigada. Como era possível, diziam, que ela se atrevesse a expor-se à vergonha pública? Mas o relato do sucedido com Jack fazia-os ser prudentes. Aquele homem era perigoso. Bastava vê-lo para o compreender, e Jack cometera o erra de confiar demasiado em si mesmo.
Todavia, um grupo de vaqueiros que se encontrava junto à mesa, bebendo ponche, pensava de maneira diferente. Sentiam-se ofendidos por aquela rapariga ter ido à festa, e enchiam-nos de coragem os comentários agrestes das outras raparigas, mordidas de inveja.
Um dos vaqueiros, Gilberte, bebera demasiado, e o álcool fazia-o sonhar com grandes empresas e rasgos de valentia. Mordendo a ponta do charuto que fumava, exclamou:
—Vou dizer duas coisas a Hazel.
Sentia-se bastante seguro, porque o jovem vaqueiro do Texas não levava revólver porque, como todos os convidados, teve de o depositar à entrada. Gilberte pôs-se a andar, inchado de vaidade, por se sentir alva de atenções gerais.
Entretanto, Hazel conversava com King, que puxara por um charuto e se dispunha a fumar.
—És a mais linda da festa; por isso todos me olham com inveja — dizia Lorringer à rapariga.
Ela sorria, feliz, sem querer recordar a tragédia da sua vida. De repente foram surpreendidos por um estranho silêncio feito à sua volta. King voltou-se e viu Gilberte que, muito perto e mastigando o charuto, se dispunha a agarrar Hazel ver um braço. King percebeu a tempo a intenção e, antes do vaqueiro intervir, pôs-se à frente, fitando-o com frieza. Depois estendeu a mão e tirou-lhe da boca o charuto que o outro fumava:
— Obrigado, ia pedir-lhe lume...
Chegou o charuto aceso ao seu, sem deixar de olhar para o atónito Gilberte, e depois devolveu-lho.
--Obrigado rapaz. Agora vamos dançar.
Os seus olhos claros contemplavam com dureza o vaqueiro que compreendeu a ameaça, apesar do álcool que lhe turvava a cabeça. Percebeu muito bem que, se tentasse tocar na rapariga, seria um homem morto.
Baixou a cabeça saindo da sala, enquanto Hazel, nos braços de King, se deixava embalar pelas notas da orquestra.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

PAS736. Convite para a festa

Hazel, da sua janela, contemplava a vila. Naquela noite realizar-se-ia em Town Hall (1) a festa do quatro do Julho. Antes, também ela as frequentava. Imaginava a sala com as janelas abertas, adornadas com bandeiras. Num topo, haveria um estrado para os músicos, e no outro a mesa onde serviam limonadas e ponche.
As raparigas exibiriam os seus vestidos novos e ririam com alegria, enquanto os jovens iriam convidá-las.
Mas tudo isto passara já para ela. Se ali entrasse, todos a desprezariam rindo-se da sua presença, e ninguém dançaria com ela. Talvez, até, algum bêbado se atrevesse faltar-lhe ao respeito e mais provável era que ninguém o impedisse. Além disso, também não podia ir com os seus vestidos velhos e simples.
Duas lágrimas brilharam nos seus olhos, sentindo ainda mais a desoladora tristeza da sua vida.
De repente, viu King que se aproximava da casa com um grande embrulho debaixo do braço. Parou sorrindo e descobrindo-se.
— Hazel — disse-lhe, quando ela veio ao seu encontro. — Tome isto. É um vestida novo, para a festa de noite.
A rapariga contemplou-o assombrada. Como podia imaginar que ela se misturaria com outras raparigas a desprezariam.? Mas Lorringer continuou:
 --Peço-lhe que me autorize a vir buscá-la às oito horas. Como sou forasteiro, não conheço ninguém e peço que não comprometa as suas danças a não ser comigo.
Inclinou-se outra vez, e partiu a caminho de Nova Salomão. Hazel ficou só, contemplando o pacote que tinha nas mãos. Era uma loucura. Não podia acompanhá-lo à festa. Seria um escândalo e, além disso, não queria sofrer as consequências do seu atrevimento. Olhou novamente para o pacote que ele lhe oferecera.
Para a rapariga, King já era «ele». Mas horrorizava-a aparecer em público e expor-se aos insultos homens. Todavia, como havia de desprezar o jovem? Como recusaria o seu convite?
Quase sem dar por isso, abriu o pacote. O vestido era galante, cintura justa, mangas largas e um ligeiro decote. Em pouco tempo ficaria pronto para o poder levar. Se se atrevesse! Nessa altura, seu pai chamou-a:
--- Que queria o Lorringer?
Ela exclamou, atraiçoando-se:
— Convidou-me para a festa desta noite.
— Deves ir, minha filha — exclamou o velho. — Fazes uma vida muito retraída. .

quinta-feira, 13 de abril de 2017

PAS735. Morte de víbora

King entrou no «saloon» para tomar um copo. Sentia-se em parte triste e em parte de bom humor. Conseguira a intimidade de Hazel e parecia-lhe que tudo corria bem. Todavia, não conseguia afastar do pensamento aquele olhar triste e amargo da jovem.
Não podia negar que estava apaixonado por ela e desejava fazê-la sua esposa. Voltaria para o Sul a incorporar-se na equipa de Matthews. Com o tempo, seria o capataz, e acabaria por ter um rancho próprio. Com ela ao seu lado, nada o impediria.
Hazel todavia acolhia-o com agrado, tratando-o com simpatia, mas dir-se-ia que evitava todas as tentativas do jovem para lhe declarar o seu amor.
«Porquê? — perguntava-se. — Se ela lhe não correspondia, dizia-lho, e estava tudo arrumado. Desde pequeno sabia que os desejos das mulheres, sob este aspeto, eram irrevogáveis».
Sentou-se junto do balcão, e pediu um copo de «whisky». Notou que os clientes da casa vaqueiros, fazendeiros e cavaleiros sem ocupação definida, o olhavam com interesse, cochichando entre si. Não lhes ligou importância. Sentia uma tão grande indiferença por eles como antipatia sentiam por ele. A sua fala nasalada grosseira, o seu aspeto ordinário e os seus modos rudes não se conjugavam facilmente com os hábitos de Estrela Solitária.
De repente, uma voz desagradável cantou, num ordinário arremedo do sotaque do Texas:
«I just come from
 way down in Texas.» (1)
Os restantes, segundo o costume daquele Estado, bateram palmas e desataram à gargalhada. King voltou-se ofendido. Não era seu costume tolerar troças, nem insultos, e estava bem à vista a mofa que aqueles homens estavam fazendo.
No centro do grupo, via-se um cavaleiro corpulento, de cabelo encaracolado e rosto bem barbeado. Tinha chapéu quase caído para os olhos e um revólver ao lado muito baixo, junto da anca.
Acostumado a medir os homens com um simples golpe de vista, pois muitas vezes a sua vida dependera disso, compreendeu tratar-se do pistoleiro local, o orgulho dos vaqueiros e dos cavaleiros da terra. Conteve um sorriso. Talvez ali, no «Estado da erva curta» (2) fosse um virtuoso do revólver, mas no Sul, na terra dos pistoleiros e dos lutadores, não passaria de medíocre
(
O cavaleiro acrescentou então:
— É fácil, à força de falar, convencer toda a gente uma coisa, mesmo que seja mentira.
Outro indagou:
—Que queres dizer com isso, Jack?
O chamado Jack sorriu, olhando com insistência para Lorringer.
— É o sistema de todos os sudistas e dos texanos em particular. Não fazem outra coisa senão, falar, falar da sua valentia, da sua maneira de combater, para impressionar toda a gente e não se notar o medo que têm.
Riram todos, enquanto um cavaleiro acrescentava:
 - Conta-nos o que fizeste combatendo contra Bill Anderson (3).
— Não tem importância. Eu servia às ordens do major Heston e soubemos que Anderson e os seus guerrilheiros vinham invadir o Kansas. Andámos à procura deles e, por fim, encontrámo-los a comer as sobras do nosso rancho. É o que fazem sempre os texanos. Comer o que nós deixamos.
Uma gargalhada geral coroou as últimas palavras, enquanto Jack cravava os olhos em Lorringer. Este deixou o copo no balcão e voltou-se para o cavaleiro.
—Você julga que nós, os texanos, não fazemos mais do que recolher os despojos que vocês abandonam?
Jack assentiu:
— Você mesmo, Lone Star (4), o demonstrou. Não faz outra coisa senão falar com alguém, com quem nemos negros nem os vagabundos falariam. Mas é natural. Você é igual a ela.
King sorriu, sentindo que o invadia uma fria cólera. Estava bem claro o insulto a Hazel. Aquele homem procurava a luta, e tê-la-ia. Naquele momento, o proprietário do «saloon», um homem corpulento e pacífico, preveniu em voz baixa:
— Não faça caso. Está bêbado e não sabe o que diz.
Mas Lorringer não o escutou.
—Poderia falar mais claro — convidou.
Jack, animado pelo riso dos companheiros, sentia-se alvo da atenção geral, retorquiu:
—Como queira. Não sou homem para falar por meias palavras. O que desejávamos era saber quanto lhe pagam para distrair Hazel.
Lorringer não se alterou aparentemente:
—Continuo sem o compreender.
— Pois não se percebe que a não ser por dinheiro algum homem, um homem de verdade, evidentemente, se entretenha a conversar com Hazel. Esta é a razão minha pergunta, e por isso volto a insistir em saber quanto lhe ofereceram para entreter uma perdida desse tipo. Claro que talvez os texanos tenham por costume fazê-lo. Não se preocupam muito com quem são as mulheres com que falam.
Lorringer contemplava-o com um frio sorriso, ia exasperando o outro, mas que ao mesmo tempo incutia confiança.
— E tudo o que diz não será despeito?
Jack abriu a boca estupefacto.
— Despeito? — repetiu. — Despeito? Não se esqueça de que se eu mesmo tivesse querido...
— Se tivesse querido o quê? — insistiu o jovem. — Você tem o mau costume de deixar as frases em meio. Mas eu acabo-a. Se tivesse querido, sofreria o maior ridículo da sua vida.
Jack, enfurecido, recuou um passo, exclamando ao mesmo tempo que levava a mão ao revólver:
—Essa perdida vai fazê-lo morrer.
--É por essa razão que não se aproxima dela?
Uma cólera surda dominava o jovem, que procurava o meio de matar o seu rival. Queria provocar a luta, unis antes desejava gozar a cólera do seu adversário.
Jack exclamou, empunhando o revólver:
—Basta já de conversa!
Lorringer não se mexeu, mantendo as mãos juntas do corpo, sem afastar os olhos do seu contendor que tirara o revólver do coldre e o apontava ao seu peito.
Lorringer fez de repente um rápido movimento de ombros inclinando-se ligeiramente para a frente e, sem que alguém pudesse ver as suas mãos, na direita reluziu um «Colt», que cuspiu uma bala antes de Jack poder apertar o gatilho. Jack deu um salto como se alguém lhe tivesse batido no peito e cambaleou, tentando manter a pontaria. Lorringer guardou o revólver, mantendo o olhar fixo no adversário, enquanto sorria com a mesma frieza de há pouco.
Jack não pôde suster a arma, que acabou por apontar para o chão, cravando-se ali o projétil. Depois, perdendo as forças, caiu de joelhos, levantou a cabeça, contemplando com assombro o seu rival. Este, sem deixar de sorrir, exclamou:
—No Texas, mata-se o que insulta uma mulher.
Jack compreendeu que ia morrer. A bala roubara-lhe a vida e, então, sentiu um medo horrível pelo Além. Imaginara urna luta fácil, que ele mesmo provocara e encontrava-se moribundo.
—Piedade, piedade — gemeu, caindo no chão.
King voltou-se para o balcão, colocando uma moeda junto do copo de «whisky». Depois, disse para todos os presentes:
— Tomem nota. Insultar as mulheres é próprio de víboras. E as víboras, matam-se.
Ia a retirar-se, quando alguém o deteve:
—Ouça, texano. — O jovem voltou-se e viu um ajudante do xerife avançar para ele. — Tem de vir comigo, para responder pelo assassínio desse homem.
—Assassínio? — repetiu King admirado. — Todos viram ele provocar-me, sem eu dizer nada.
—Isso já não é comigo. Será com o juiz, mas eu prendo-o por assassinar um homem:
King olhou para ele, medindo-o dos pés à cabeça enquanto sorria.
— Você prende-me a mim? Você, sozinho?
Fez-se um pequeno silêncio.
O ajudante da autoridade estremeceu, ao ver aquele sorriso, que precedera a morte de Jack. Depois Lorringer preveniu:
— Contarei até cinco. É o tempo que lhe concedo para sair daqui pelo seu próprio pé. Um... dois... três..,
Não pôde continuar. O agente da autoridade saiu disparado, esquecendo-se até de levar o chapéu.
(1) «Eu venho dali, lá de baixo, do Texas». Canção popular daquela terra. Os texanos acompanham as suas canções populares à viola, batendo as palmas.
(2) Alcunha que no Oeste tem o Estado do Kansas.
(3) Guerrilheiro confederado que serviu às ordens do famoso Quantrell e depois se desligou dele, organizando um grupo sob o seu comando.
(4) Estrela Solitária.
 

quarta-feira, 12 de abril de 2017

PAS734. Abordagem à maneira do Texas

King parou o seu cavalo e olhou para o longe, onde se erguia Nova Salomão. Não era difícil reconhecer a vila, na extensa planície verde e cinzenta.
Acariciou o queixo, perguntando a si próprio o que diria à rapariga. Durante todo o trajeto desde Dodge City, não fizera outra coisa senão pensar nela, sem saber o que iria dizer-lhe.
Agora, esse problema apresentava-se com a maior importância. Não podia chegar ao pé dela e dizer lhe que vinha procurá-la para a tirar da miséria. Aquela rapariga, cujo nome ignorava, podia interpretá-lo mal e ofender-se.
Continuou o seu caminho, procurando uma solução. Só então pensou que tudo aquilo era uma doidice, e que o melhor era regressar a Santo António com a equipa e continuar a trabalhar.
A vila já estava perto. Os lavradores e cavaleiros que ali viviam olharam-no com pouca simpatia. Tudo nele denunciava o Texas; desde a sela do cavalo, até à maneira como usava o chapéu inclinado ao lado. Isto não podia agradar-lhes, visto recordarem muito bem as incursões dos guerrilheiros texanos e, além disso, o quarto regimento do Kansas encontrava-se em Gettyaburg, quando Hood com os homens do Texas tinham leito a sua famosa carga.
King atravessou a povoação dirigindo-se para o hotel onde pensava hospedar-se. Os desempregados da vila, sempre atentos a qualquer novidade, e os comerciantes das proximidades, observaram que um texano entrara em. Nova Salomão. Não eram muitos os forasteiros que ali aportavam e por isso cada um constituía motivo para quebrar a monotonia da vida local.
Uma das raparigas que o contemplavam informou a sua amiga mais íntima que se encontrava ao lado naquele momento:
— Este cavaleiro que acaba de chegar, pertencia à equipa de vaqueiros do Texas que aqui esteve há umas semanas.
A outra abriu os olhos.
— Tens a certeza?
—Evidentemente — fez uma pausa e acrescentou: — Porque terá ele voltado?
Muito alheio aos comentários que o seu regresso provocara, King encaminhou-se para o seu quarto, onde arrumou a bagagem. Estava nervoso e inquieto. Não sabia como havia de entrevistar-se com a jovem, nem o que lhe diria.
Mas, visto encontrar-se na terra, o melhor era ir vê-la quanto antes. Havia de saber convencê-la de que não pretendia ofendê-la.
Por um momento, ficou silencioso, contemplando pela janela a árida paisagem do Kansas, diferente do seu Texas natal. Era curioso como uns olhos verdes, cheios de tristeza, e um sorriso, que iluminava um semblante, podiam gravar-se no coração dum homem.
Pegou no chapéu e saiu para a rua. Notou os olhares de hostilidade que lhe dirigiam alguns dos ociosos e vários vaqueiros, que se reuniram à porta do «saloon».
Nada disto o preocupava. A violência e as lutas andavam sempre em redor dos texanos e eles aceitavam essa situação como uma prova da sua personalidade.
Pôs-se a andar retinindo as esporas, e sem olhar para aqueles que o contemplavam com tanta insistência.
Seguiu pelo mesmo caminho aberto pelas rodas dos carros, e pelas pegadas das manadas que percorriam aquelas terras. No fim, encontraria a barraca da rapariga, e falar-lhe-ia.
Avançou muito tranquilo aparentemente, mas sentindo o coração bater com mais força. Como o receberia ela? Aceitaria as suas desculpas? Nem sequer sabia o seu nome.
De repente, avistou a barraca, solitária, isolada de todas as outras. Parou um momento a contemplá-la. Estaria ela em casa?
Sentia ter feito um disparate. Nada sabia -daquela mulher, e podia muito bem ter noivo ou marido. O seu pai ou os seus irmãos podiam interpretar mal a sua visita.
Mas era já tarde para se arrepender. Ao examinar a barraca, viu a rapariga a trabalhar na terra, com as ferramentas de cabo comprido, utilizadas no Kansas. Sorriu ao vê-la.
Não, francamente, não havia sobre a Terra mulher mais formosa e, pelo que supunha, mais infeliz. Falar com sinceridade, sem subterfúgios, à maneira do Texas.
Hazel parou um momento, para respirar. Estava muito cansada, mas não podia parar. Urgia concluir depressa para começar o trabalho que trouxera da vila.
A rapariga já nada esperava. Aqueles dois anos tinham acabado com todas as suas esperanças, e aos dezanove anos considerava a sua vida acabada. Seria sempre a mesma coisa. Estaria sempre só, completamente só. O seu pai nada sabia, e ela portanto, não podia desabafar com ele. Mas imaginava o seu desespero quando o pai morresse.
Empunhou com mais firmeza a ferramenta e dispôs-se a continuar o trabalho.
De repente, uma voz, de suave entoação, cumprimentou:
— Bons dias, menina.
Surpreendida, voltou-se e viu um cavaleiro que, encostado ao muro que rodeava a sua pequena propriedade, a contemplava sorrindo e com o chapéu na mão. Nem a sua figura, nem o fato eram da região. Além disso. aquela maneira de falar denunciava o sotaque do Texas.
Hazel olhou para ele, aborrecida pelo atrevimento daquele homem. que lhe falava e, então, reconheceu-o. Era aquele vaqueiro galhardo e bem apresentado, que um dia tinha passado com uma equipa em Nova Salomão.
Também ele julgara, como toda a gente, que se lhe podia faltar ao respeito facilmente. O seu rosto entristeceu-se e ia voltar-lhe as costas, quando o cavaleiro disse, em tom sério e amável:
— Menina, permite-me uma palavra?
Aquela maneira de falar não era a de quem pretende cometer uma grosseria. Por isso, esperou que ele continuasse.
King, com o chapéu na mão, rogou:
— Dê-me licença que entre, menina. Falaremos mais à vontade.
Não parecia uma desculpa. Havia uma pronunciada sinceridade nas suas palavras. Não se notava nelas nem súplica, nem simulação. Falava com sinceridade e com hombridade, mas duma maneira simples. Hazel, um pouco intrigada, querendo saber o que ele pretendia, aproximou-se do muro, dizendo:
—Não é preciso entrar. Podemos falar aqui.
Lorringer contemplou-a extasiado. As suas recordações não o enganavam. Era muito formosa e aquela expressão de tristeza parecia vir do mais profundo do seu coração.
Ela, pelo seu lado, analisou-o mais atentamente, embora não quisesse demonstrá-lo. Era bem-parecido e simpático. No seu rosto, curtido pelo sol, notava-se uma expressão de sinceridade e de audácia que, todavia, não ofendia uma mulher.
--- Que deseja? — inquiriu a rapariga.
King sorriu.
— Há uns dias, quando a minha equipa passou por aqui, eu fiz qualquer coisa, involuntariamente, que me pareceu aborrecê-la. Venho apresentar-lhe as minhas desculpas.
Hazel fitou-o, atónita.
—Veio só para isso? Para mais nada?
King assentiu.
— Sim, só por isso. Não gosto de ofender as mulheres, e como não era minha intenção ofendê-la, embora pareça tê-lo feito, quero que me perdoe. E acrescentar, mais uma vez, que não quis ofendê-la. Reconheço todavia que procedi mal.
Hazel não sabia o que havia de responder. Tanta gente a ofendera, rindo depois e contando a façanha a toda a gente! Olhou-o de novo, para se certificar se ele troçava, ou se as suas palavras ocultavam outra intenção. Não lhe parecia. Tanto no seu rosto como na entoação, notava-se a mais completa sinceridade.
— Podia tê-lo dito então — exclamou a rapariga.
Lorringer sorriu:
— Foi-me impossível. Quando nos separámos, a equipa marchou para Dodge City, e até lá não pude libertar-me. Acabo de chegar à vila.
Ninguém podia, portanto, ter-lhe contado o que dela se dizia. Uma profunda gratidão por aquele cavaleiro galante e atrevido nasceu no coração da rapariga. Não a tratavam assim há muito tempo. Fitou-o por um momento e perguntou de novo:
— Mas porque faz isto, se eu sou uma desconhecida para si?
Lorringer encolheu os ombros.
—No Texas, perseguimos a tiro quem ofenda uma mulher. Parece-me, pois, imperdoável fazer urna coisa semelhante.
Hazel baixou a cabeça, para ocultar as lágrimas que lhe afloravam aos olhos. Conteve-as o melhor que pôde e sorriu.
— Não precisava incomodar-se. De qualquer maneira, agradeço-lhe a gentileza.
— E julga que para a ver sorrir não valia a pena atravessar novamente a rota do Texas e expor-me a todos os perigos que ali possa haver? — e, a seguir, acrescentou: — Chamo-me King Lorringer.
— Hazel Morrison.
— Hazel…— repetiu o jovem. — É um nome precioso.
Ela agradeceu o cumprimento e disse:
— Não quero que por minha causa atrase a sua viagem para o Texas.
Lorringer abanou a cabeça.
— Não, não atrasa. Decidi passar aqui algum tempo. Gosto destes sítios e passarei aqui uns dias. — Depois fez uma pausa e acrescentou: — Poderei vir vê-la amanhã?
A rapariga ficou surpreendida, sem saber o que responder. Vê-la? Pretenderia aproximar-se dela como tentara Frank Ruthford? Não, não podia ser, porque acabariam por o assassinar.
Porém, não teve força para recusar em absoluto e exclamou:
—É que eu vivo só e...
King sorriu por sua vez.
— Já não está só. Eu serei seu amigo para tudo quanto precisar.
Levou o chapéu ao peito, e começou a andar em direção à vila, retinindo as esporas. Hazel viu-o partir. Tinha muito medo. Tinha a certeza de que, tarde ou cedo. seria a causa da morte daquele homem. Mas como detê-lo? No dia seguinte, não sairia ao seu encontro e, além disso, procuraria afastá-lo da sua casa.
Era para seu bem, ao fim e ao cabo.

terça-feira, 11 de abril de 2017

BIS052.1. Pela Honra de Hazel

O contato tardio com este livro permite-nos uma revisita ao mesmo e aos bons tempos da Coleção Bisonte.
Hazel era uma jovem muito bonita que trabalhava em casa dos Heston. Ao ser perseguida pelas intenções menos honestas do filho da família onde trabalhava, resistiu e este fez com que uma fama de impúdica a perseguisse obrigando-a a retirar-se para uma cabana onde sofria o ostracismo de toda a cidade.
Um dia tudo mudou.
Um grupo de vaqueiros chegou à cidade, transportando gado, e um deles, King Lorringer, ficou extasiado com a beleza da rapariga. Começa aí um novo período na vida desta o qual não deixou de passar por um ajuste de contas com os seus conterrâneos.
Eis um livro muito interessante de J.Leon, onde fica bem claro o abuso que muitas vezes as relações de servidão permitiam, com uma capa muito vistosa, infelizmente sem assinatura de autor. Vamos recordar algumas passagens.