terça-feira, 20 de outubro de 2015

PAS550. Execução

Às nove menos cinco, Farnum saiu do escritório, conduzindo Benson, manietado. À frente iam Harlan e Fronval, armados com as suas espingardas.
Desde a porta aos degraus do patíbulo, os lavradores formavam alas. Por detrás e no outro lado do patíbulo aglomeravam-se muitos habitantes da cidade e pessoas de família dos lavradores.
O único criador de gado presente era Lewis Cole.
O reverendo Michel ajustou o seu caminhar pelo passo de Benson. Este mantinha-se mais sereno do que Farnum supusera.
Lívido, o rosto banhado em suor, mantinha a cabeça erguida, sem olhar para ninguém. Esperaria ele que no último momento, os criadores de gado atacassem num galope veloz, cortando a corda, montando-o num cavalo, e levando-a para a liberdade e a vida...?
Harlan e Fronval subiram os degraus e foram postar-se um de cada lado da plataforma.
O alcaide, Doc Adams, subiu também. Além de alcaide era também o médico legista...
Harlan veio para atar os tornozelos de Benson. Colocou-lhe o nó corrediço em torno do pescoço, e afastou-se.
Farnum perguntou:
— Quer fazer alguma declaração, Mack Benson?
Tremeu o queixo do sentenciado. Fitava Lewis Cole, que estava na primeira fila... Depois fitou o xerife.
— Nunca fui delator, xerife... e agora já é tarde para me transformar em denunciante. Acabemos com isto, xerife!
Benson era um assassino sem consciência, sem escrúpulos, e, contudo, tinha a sua própria lei: não denunciar…
O pastor Michel traçou no ar o sinal da cruz, invocando:
— Com a tua infinita misericórdia, Senhor, acolhe a alma, do teu servo...
Todas as cabeças se inclinaram. Só a de Mack Benson permaneceu bem erguida... aberta debaixo dos seus pés a ratoeira que o suspenderia no vazio.
Blies Harlan veio colocar o negro capuz sobre a cabeça do justiçado.
Stone Farnum afastou-se da alavanca...
Uma espingarda crepitou e saltaram estilhas sobre a cabeça de Farnum, fazendo gemer o poste lateral onde um, segundo antes se apoiava.
O mulherio gritou... Os lavradores correram... Rex Fronval saltou da plataforma para o solo e ao querer levantar-se soltou uma imprecação, largou a velha espingarda e agarrou-se ao tornozelo, que torceu ao saltar.
Ninguém sabia donde tinham disparado. Perguntou Harlan:
— Quem disparou?
Stone Farnum, de revólver na mão, observava em redor. Sabia que aquele primeiro tiro lhe fora destinado... e que haveria um segundo mais certeiro.
Olhou para fios armazéns, pois já antes tinha pensado que se os criadores de gado estivessem escondidos seria nalgum daqueles armazéns.
Viu um homem sair projetado do armazém de Pulvis, a gritar, segurando diante do peito uma espingarda ainda fumegante. Girou no ar indo chocar com a cabeça e os ombros contra um carro, rebolando depois no solo.
Era Marty Munroe.
Bliss Harlan saltou do estrado, correndo para o lugar onde tinha caído Munroe.
Farnum permaneceu no patíbulo, pois era sua obrigação esperar que Doc Adams declarasse que «a Justiça tinha sido cumprida e o sentenciado havia entregado a alma ao Criador».
Fronval continuava a vociferar, segurando o tornozelo. A dentadura estava também no chão...
Lewis Cole e Harlan chegaram junto de Munroe.
Eram nove e sete minutos quando Doc Adams declarou que Mack Benson já estava morto. Só então Farnum desceu do patíbulo, seguindo Doc Adams até junto do corpo estendido. O alcaide médico ajoelhou ao pé de Marty Munroe, apalpou-o, e disse depois:
— Tem o pescoço partido. Morto... Partiu a cabeça nos varais deste carro.
Alguns indivíduos queriam entrar no armazém. Harlan empurrava-os com a espingarda, advertindo:
— O assunto é com o xerife.
Stone Farnum entrou no armazém e subiu a escada vertical. Harlan, que o seguia, gritou:
— É Nancy Cole! Está atada! Mesmo à beirinha...
Nancy parecia estar suspensa no espaço, segura pelo braço de Lewis em torno dos seus ombros. Harlan disse:
— Ouve, Stone... Volta à terra, caramba. Ela só quer falar contigo, chefe.
— O que não quero é contar as coisas duas vezes disso Nancy, sorrindo.
E a terminar, foi dizendo:
— Não pude impedir que disparasse o primeiro tiro. O que eu podia fazer apenas, uma vez que ele estava 'de costas, era rastejar como um verme. Conclui que tinha falhado, porque vociferou furiosamente. Apontou pela segunda vez, mas muito lentamente, com muito cuidado. Eu estava já detrás dele... Dobrei os joelhos e empurrei-o com os dois pés... Foi projetado para fora. Não me apertes mais, Lewis... Desata-me já, homem...
Farnurn desatou a corda que apertava os pulsos esfolados de Nancy. Pegou-lhe nas duas mãos, sacudindo-as com força.
— Obrigado, rapariga. E quanto a ti, Lewis, temos do ser amigos... Mas para ser amigos, não voltes a arranjar quebra-cabeças à excelente mulher que Deus te deu. E faz sempre o que ela disser, Lewis.
— Sim, senhor Farnum — concordou Lewis Cole, respeitosamente, pela primeira vez na sua vida.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

PAS549. Emboscada ao xerife

Em casa de Joan Winter, Nancy esperava. Não pensava em Lewis, mas sim em Marty Munroe. Ela conhecia-o bem. Sem o ver, sem saber onde estava, era capaz de adivinhar qual o pensamento que obcecava Marty.
Matar o único homem que se havia atrevido a bater-lhe...
E Marty não era homem para atacar de frente. Tinha a certeza de que àquela hora estava a preparar uma emboscada. Qual e onde?
Sentada junto de uma janela, via nascer um novo dia. A sua atenção ia apenas para a casa de Marty Munroe. E viu-o sair, fechando a porta, rebrilhando a espingarda que levava na mão direita.
Pouco depois passou a uns vinte passos dela, ocultando-se nas sombras. Dominou a tentação de disparar contra ele. Seria um assassínio e perderia por isso a sua liberdade. Teria de esperar até que não coubessem dúvidas sobre as intenções de Marty.
Seguiu-o, quando Marty entrou por uma das ruas laterais. Ali havia apenas silos, celeiros e estábulos, cujas frentes davam para a praça principal, num dos lados da qual estava a prisão e o escritório do xerife.
Viu entrar Marty num barracão que pertencia a Jim Purvis, barracão utilizado como armazém.
Escondida entre os sacos de farinha, Nancy viu Munroe subir a escada vertical que conduzia ao sobrado. Ouviu gemer as tábuas debaixo dos pés de Marty.
E comprendeu.
Dali, Marty podia ver completamente a forca. Disparar contra Farnum ser-lhe-ia fácil, e, aproveitando o nervosismo provocado pela execução, era quase certo que ninguém conseguiria descobrir o local donde procedia o tiro que matasse o xerife.
Marty poderia escapar e de novo faltariam provas contra ele.
Pensou em ir avisar Farnum. Mas não podia considerar-se um crime o facto de estar com uma espingarda no armazém de Purvis. Talvez fosse difícil a Marty explicar o que fazia ali, mas bastava-lhe negar-se a dar explicações. E não havia provas suficientes que justificassem a sua prisão.
Não lhe restava senão um recurso: tinha de subir lá acima e esconder-se até que Marty se dispusesse a disparar. Então, sim, podia ela matá-lo.
Foi subindo a escada lentamente, e assomou a cabeça. Marty não se via. Certamente estava sentado entre os sacos, junto da janela que dominava a praça. Conseguiu, sem ruído, chegar ao sobrado. E foi então que o viu. Por detrás dela, sorria sardonicamente.
E ao mesmo tempo, golpeou-a na cabeça com o cano da espingarda. Ela caiu num abismo de trevas.
O Sol brilhava com intensidade, quando voltou a si. Entrando pela janela do armazém o sol batia-lhe em cheio no rosto. Sentia uma forte dor de cabeça.
Ouviu a voz de Marty:
— Levaste tempo a despertar, rapariga.
Estava caída de costas, atados os tornozelos, os pulsos e os cotovelos. Retorcendo-se, conseguiu rastejar até ficar sentada a um canto.
No outro lado, de espingarda na mão, Marty fitava-a.
— Tinhas encontrado, por fim, uma maneira de te livrares de mim, não? Mas isso vai-te custar a vida, porque não quero que haja testemunhas. Tencionava gastar apenas um cartucho, mas agora serão dois. Um para o xerife e o outro para ti.
Ela procurava libertar-se, mas compreendeu que era inútil qualquer esforço. Marty tivera tempo de sobra para a prender solidamente. Era-lhe impossível libertar-se, mesmo que possuísse a força do xerife Farnum.
— Que horas são? — perguntou Nancy com ansiedade.
— É a minha hora.
Marty não demonstrava o menor nervosismo. Tinha a certeza de que iria acabar com o xerife de Noland...
— Não querias perder Alma. Por isso odeias Farnum... e também porque te bateu.
— Pelas duas coisas, sim. Vou matá-lo por essas duas coisas.
— Foste sempre um, cobarde, Marty...
Ele olhava através de duas tábuas da janela. Voltou-se, lívido:
— Nancy, cala-te. Se voltas a falar abro-te a cabeça à coronhada.
Não dispararia contra ela, porque o estampido atrairia gente. Teria, entretanto, de esperar em silêncio a morte— e sem poder avisar o xerife, que, ao acompanhar Benson ao patíbulo, caminhava também, sem o saber, para a morte.
 

domingo, 18 de outubro de 2015

PAS548. O homem com a marca do diabo

Farnum voltou ao «saloon». Viu, então, que Andy Kinder estava derrotado e Ned Linton triunfante.
— Que há, Ned? — perguntou Farnum.
— A obstrução à Justiça acarreta uma forte condenação, não é verdade, xerife?
— Claro. Uns cinco anos, pelo menos — exagerou Farnum.
— Era isso que eu estava a dizer a Andy. Fala, Andy.
— Bem, Knox veio pedir-me que deixasse aberto o «saloon» depois da meia-noite. Não sei o que estão a cozinhar, mas eles estarão aqui antes da madrugada. — E Kinder encheu um copo com a mão a tremer, bebendo-o antes de acrescentar: — Parece-me que lhe preparam uma cilada e que o senhor não poderá contar com ninguém.
— Já sei isso há muito tempo, Andy.
Saíram. Na rua, Farnum comentou:
— Suponho que os criadores de gado não acreditam que os lavradores se atreverão a linchar Benson. De outro modo teriam atacado já.
No templo dos lavradores as luzes estavam acesas, mas agora, em vez das vozes agudas das mulheres, ouviam-se baixos e tenores. O hino era bonito: «Minha pequena ermida no vale».
Tirando o chapéu, entrou seguido por Linton. O pregador Korvin marcava o compasso com a mão. O cântico estava no final e Ned Linton entoou as palavras românticas:
«Oh, vem comigo à ermida do bosque,
Oh, vem comigo ao lugar da minha infância,
À pequena ermida do vale».
Havia uns quarenta cantores, cujas carabinas e espingardas de dois canos estavam inclinadas contra as paredes do templo. Um jovem lavrador tocava o órgão, apoiando pesadamente os grossos dedos nas teclas.
E Clay Korvin tinha qualquer coisa de convicção fanática na comprida face tenebrosa, como guerreiro prestes a triunfar.
Stone Farnum avançou lentamente pelo corredor. Os lavradores iam voltando a cabeça ao ouvir os seus passos. Korvin juntou as espessas sobrancelhas, furioso, e gritou:
— Está a manchar o templo do Senhor! Vá-se embora!
Voltando-lhe as costas, Farnum ficou virado para os lavradores. Na primeira fila viu Elmer Leroy, o pai do rapaz assassinado. Os seus outros três filhos alinhavam-se do mais velho ao mais novo, à sua direita.
— O senhor traz a marca do Diabo! — gritou Korvin. — O senhor e o seu futuro genro! Não tem nada que fazer aqui.
— E mesmo que o Diabo me marcasse não posso entrar no seu templo, Korvin?
Elmer Leroy interveio:
— Deixe-o falar, pregador. Está no seu direito, e para qualquer pecador não há melhor lugar que um templo.
Uma dezena de vozes entoou:
— Amen.
— Diga depressa o que tem a dizer e vá-se embora! — ordenou Korvin.
Farnum contemplou em silêncio as filas de rostos curtidos, obstinados, daquela gente que trazia um propósito definido. Boa gente habitualmente, estavam agora desesperados e eram capazes de tudo.
— Em primeiro lugar devo dizer-lhes que eu represento a Lei. E suponho que a Lei tem diferentes significados, pois todos os homens são diferentes. Consta-me que a Lei nem sempre foi aplicada com honestidade, sem sempre foi aplicada com justiça, mas os senhores podem verificar isto: desde que estão em Noland County, pode alguém dizer, sem faltar à verdade, que eu não apliquei a Lei honestamente e com justiça?
Não esperava resposta e prosseguiu:
— Acho estranho ver armas de fogo no templo do Senhor. Recordo-me de ter lido no colégio alguma coisa sobre os peregrinos que iam rezar ao templo, levando as suas armas, para se protegerem dos índios; mas que eu saiba, não há índios nesta região.
— Já falou bastante, Farnum! — gritou Korvin. — Nós procuraremos que a Justiça seja aplicada, e o senhor não irá impedi-lo com palavras.
De pé, Elmer Leroy advertiu:
— Esse homem ainda não acabou de falar, pregador.
Korvin perdia terreno, pensou Farnum, pois teve de convidar:
— Pode falar, Farnum.
— Já me chegou aos ouvidos o que se propõem fazer. E ao ver as vossas armas de fogo neste templo, verifico que o que ouvi é verdade. Tenho por isso de vos lembrar que não podem tirar Benson da prisão sem me matar primeiro a mim e a Bliss Harlan. E isto transformar-vos-ia em assassinos. Estiveram já no meu gabinete. Sabem que as escadas são estreitas e dois homens esperando em cima matarão muitos de vós. As vossas famílias necessitam de cada um de vós. E a minha necessita também de mim.
— O Senhor está connosco, a nosso lado! — exclamou Korvin.
— Por favor, Korvin; não invoque a despropósito O que é misericordioso para com todos, pregadores e pecadores. O Senhor não pode nunca estar ao lado de quem mate contra a Lei. Tenho ouvido comentar sujamente que sendo Marty Munroe um criador de gado e desejando ele libertar Benson, eu o permitiria porque Munroe vai casar com minha filha. Isso é uma suja mentira. Se Munroe tentar qualquer coisa, mato-o, como matarei qualquer outro que tente contra a Lei que eu represento.
— Tinha de dizer isso — grasnou Korvin. — Mas eu digo-vos que se a Justiça há-de cumprir-se, nós nos encarregaremos de fazer justiça.
Continuando voltado para os lavradores e sem olhar para o fanático puritano, Farnum declarou:
— Benson foi capturado por mim e Harlan. Foi julgado e condenado a morrer na forca amanhã às nove da manhã. Eu prometo-vos que assim acontecerá. Mas qualquer acto de violência da vossa parte colocar-vos-ia fora da Lei e serieis castigados por tentar fazer uma coisa que será feita poucas horas depois legalmente. Muitos de vós votaram por mim. Fizestes isso porque confiáveis em mim, de outro modo não me teríeis elegido. Agora só vos peço uma coisa: confiem em mim.
Dando um passo em frente, parou diante de Elmer Leroy.
— Compreendo quais sejam os seus sentimentos, porque tenho um filho em Denver, de dezanove anos — a mesma idade que tinha Young Leroy. É de toda a justiça que Mack Benson pague com a forca o que fez; mas, é justo condenar vários de vós a morrer por coisa nenhuma?
Solenemente, como se naquele momento caísse em si, disse Leroy:
— Não, não é justo que mais alguém morra, além de Mack Benson.
Korvin bateu com as mãos no rebordo do púlpito:
— Já que falamos de Justiça: É justo que deixemos livres os que pagaram a Benson para matar?
Esta era a pergunta que Farnum receava. Replicou:
— Quando tiver provas contra aquele ou aqueles que pagaram, serão presos e julgados, mas isto não tem agora nada que ver com o que se propunham realizar os que estão aqui reunidos. Deixem que Mack Benson morra na hora marcada segundo determina a Lei.
— Não tinha mais nada a dizer. Saiu do templo, e, na rua, Linton disse:
— Falou-lhes acertadamente, Stone. Se Korvin não voltar a envenená-los...
— Korvin julga-se justo, a seu modo. E aí é que está o mal.
Chegaram ao hotel e Linton despediu-se Farnum continuou a marchar em direcção ao bloco de pedra e troncas, alto e negro, que era o edifício da Lei.

sábado, 17 de outubro de 2015

PAS547. Um pedaço de chapa metálica

O sol ocultou-se por detrás das nuvens e um trovão reboou ao longe.
Dirigindo-se ao seu escritório, Stone Farnum contemplou a estrela que usava ao peito. Apenas um pedaço de chapa metálica...
Significava aquilo alguma coisa? Um pedaço de chapa...
E por debaixo um coração, que não podia bater como o dos outros mortais. Porque pertencia a um homem que era apenas xerife.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Encontro com «O Xerife»


Passeava-me pelo Coisas, na rotina diária: pesquisar por «Búfalo», depois «Bisonte», às vezes «Cow-boy»...
E nesse dia algo apareceu: um livro da Bisonte com uma belíssima capa, a um preço exorbitante para «Comprar Já». Apesar do preço não hesitei. Este livro, um Peter Debry, autor famoso na área do policial, merece o que pedem por ele tão raro ele é. Vou introduzir o texto que segue na sua referência no blog e, para tramar os especuladores, vou disponibilizá-lo para download.

O Xerife
Stone Farlum era xerife em Noland, povoação do Oeste minada por um grave conflito entre lavradores e criadores de gado. Estes reivindicavam a posse das terras que utilizavam como pastagens e que o Governo tinha atribuído aos lavradores.
Em consequência deste conflito de interesses, alguém contratou o assassino Mack Benson para fazer a vida negra aos lavradores o qual acabou por matar o jovem Leroy, sendo condenado à forca.
As pessoas tinham confiança no xerife, mas o facto de a sua filha Alma estar noiva de Marty Munroe, o mais feroz dos criadores de gado, granjeou-lhe a desconfiança do outro grupo.
Esta novela descreve praticamente o último dia de vida de Benson entre o momento em que os lavradores conspiram para o linchar e o da sua execução no meio da qual Marty tenta abater Farnum por este poder ter provas para o incriminar. Uma mulher acaba por ter um papel decisivo e tudo se resolve com a sua ajuda.
A capa deste livro é muito sugestiva. Ela mostra uma entrega de arma ao prisioneiro, operada por uma rapariga bonita enquanto o xerife finge que não vê. Não se pense que as coisas se passaram assim. Para saber como a arma chegou a Benson e o papel que a menina teve é preciso ler «O Xerife»

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

BUF099. Cinco homens para matar

 
(Coleção Búfalo, nº 99)
 
 
Conrad Dilon, residente em Ilinois, foi declarado herdeiro universal de Jess Dilon, recebendo dinheiro, rancho, gado e outros bens do seu falecido tio. Partiu, acompanhado do seu filho Alam para o Oeste para tomar posse da herança.
Mas esta era cobiçada. Aliás, o seu tio tinha sido assassinado para alguém poder apoderar-se dos bens. A chegada de Conrad e do filho a Danton, em pleno coração do Oeste, não foi saudada por todos.
Conrad estabeleceu-se, mas em breve caiu numa emboscada e o filho, demasiado pequeno, foi obrigado a fugir. Cresceu, sempre com a ideia de vingança a motivá-lo, aprendeu a utilizar armas, lutou pelo Sul na Guerra da Secessão e, um dia, acompanhado pelo amigo Jeff e pela inseparável viola deste, voltou a Danton onde consumou a vingança. Estava escrito que aí encontraria também a felicidade…
Eis um livro de mais um autor português - Gilfred S. – e que, devido a essa particularidade, aqui disponibilizamos por inteiro.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

BUF097. Rápidos no gatilho

 
(Coleção Búfalo, nº 97)
 
Nick Brandell, um ex-agente federal, bem conhecido pela sua honestidade e valentia, também gostava de beber e, depois de passar três dias a beber, chegou ao local onde tinha deixado o cavalo e reparou que alguém lho tinha levado, deixando no entanto a sua sela noutro cavalo que coxeava um pouco.
Intrigado decidiu-se a procurar o seu cavalo ao qual estava bem afeiçoado. Assim, partiu à aventura.
Este livro do sr. Edward Goodman é um pouco intragável. O texto é maçudo com pouca graça. A narrativa é pouco credível.


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

PAS546. Na hora de salvar Lizzy

Fred deteve o galope do malhado e observou s altos penhascos, em todas as direções.
Nada. A quietação da paisagem agreste só era perturbada pelos pássaros que voavam de árvore em árvore.
Amanhecia e todo a Natureza parecia preparar-se para a chegada do sol. Fred sentia uma sensação opressiva, como se aquele silêncio augurasse algum mal; era como se qualquer coisa de ameaçador, de invisível e de sinistro, pairasse no ar tranquilo da manhã que nascia.
Fred roçou as esporas pelos flancos do cavalo, e este galgou em poucos minutos o íngreme declive que conduzia ao anfiteatro onde se erguiam as barracas dos bandidos.
Aí a montada do jovem estacou e, agitando a cabeça, soltou um relincho estranho. Sob os raios do sol nascente, a terra cheirava a pólvora e a sangue.
Um negro pressentimento invadiu Fred.
— Lizzy!... — exclamou.
Nem um único dos homens de Wallace tinha escapado à carnificina. Estavam estendidos por terra e a maioria deles empunhava ainda as armas.
Fred desmontou de um salto e correu para a barraca de Wallace. Ia como doído, os dentes cerrados, crispados os punhos, os olhos brilhantes.
Empurrou a porta e entrou, como um ciclone. Na barraca não havia o menor sinal de vida. Tudo estava em silêncio, como morto. Uma cadeira estava caída }unto da mesa.
—Lizzy!
Agora foi um grito rouco, o que saiu da garganta do rapaz.
Compreendia tudo! Rudyard e outra parte do seu bando tinham estado ali durante a noite, aproveitando a ausência de Wallace e dos homens que o tinham acompanhado a Skinnoy, e acabara com o resto do bando, raptando Lizzy.
Era um plano digno do cérebro tortuoso de Rudyard.
De súbito, um palpa dobrado, que estava caído sob a mesa, chamou a atenção de Fred, que se apressou a apanhá-lo e a ler o seu conteúdo:
Umas quantas linhas, escritas nervosamente, diziam:
«Os homens ide Rudyard Boles estão a atacar-nos. Cercaram-nos. Cada vez se aproximam mais. O fim é Inevitável. Meu Deus! Antes queria morrer!... Salva-me, Fred!».
A curta mensagem não tinha assinatura, o que indicava que Lizzy acabara de escrevê-lo pouco antes de cair nas mãos dos homens de Rudyard. Só tivera tempo para dobrar o papel e atirá-lo para o chão.
Por um tremendo esforço de vontade, Fred conseguiu serenar. Até àquele momento não compreendera ainda o que Lizzy significava na sua vida. E ela deixava-lhe aquela mensagem de angústia o de desespero!
O jovem começou a pensar com fria serenidade. Sentia-se disposto a tudo para salvar Lizzy das mãos de Boles, sem se importar com e número de inimigos que tivesse de enfrentar.
Salvaria Lizzy custasse io que custasse, tal como havia prometido ao pai dela, à beira da morte. Mas essa não era a única razão. Fred sentia que estava apaixonado pela rapariga, que a amava com todo o ímpeto da sua natureza fogosa e selvagem.
Salvá-la-ia!
Para conseguir isso a única solução estava em conseguir entrar para a quadrilha de Rudyard mas isto não consistia num obstáculo demasiadamente grave. Nenhum dos homens de Boles o conhecia.
Apresentar-se-ia a Boles como um istoleiro e aceitá-lo-iam. Aceitá-lo-iam fosse como fosse. Ele poria em jogo a sua imaginação fértil.
E então...

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

PAS545. Não se nasce bandido

Ao lado de Fred, à sombra de uma alta escarpa, estaviam Trent, Gilbert e outro homem conhecido no bando sob o nome Knife Tom. Era um rapaz simpático que, tal como Gilbient e Trent, depressa tinha conquistado a amizade de Fred. Nem para dormir se separava  da sua faca de monte, e era daí que lhe vinha a sua alcunha.
Fumavam os quatro. Naquele momento, era o veterano Trent quem falava:
— Repito-te, Fred, que não é de estranhar a atitude de Wallace. Adora at filha, e isso é natural. Todos os rapazes novos do bando estão avisados por ele para que não se aproximem de Lizzy. O nosso chefe é desconfiado por natureza, e tem razão para sê-lo. A vida tratou-o duramente. E não creias que ele é um tipo mau. Viste o que mandou fazer a Hobbs, por tentar atraiçoar-te. Conheço Wallace desde há muitos anos. Se queres, Fred, contar-te-ei a história dele. Todos os rapazes a conhecem.
— Fala, Trent Interessa-me tudo quanto diga respeito ao chefe.
Trent expeliu uma fumaça e começou:
— Wallace era dono de um rancho nas margens do Pecos. Vivia feliz, quando começou a guerra. Depois... O seu rancho foi atacado pelos guerrilheiros. A mulher dele morreu, e Lizzy só por um verdadeiro milagre se salvou. Tudo aconteceu por culpa desse malvado do Rudyard Bolesi, a quem e inferno confunda. Rudy era sargento dos exércitos do Norte, mas depois dedicou-se à rapina em grande escala e reuniu sob as suas ordens um bando de tipos como ele, com os quais continuou a dedicar-se ao crime e banditismo..
«Quando acabou a guerra... — continuou Trent-, depois de um breve intervalem — Wallace era capitão do Exército Confederado, que tinha sido vencido. Pata se vingar do seu mortal inimigo, lançou-se também pelos caminhos do crime, acompanhado, por um bando de homens que tinham combatido a seu lado. Eu, Gilbert e alguns mais pertencemos a esse grupo. Nós, Fr d, embora te custe a acreditar, nunca assassinámos criaturas inocentes. Roubamos para sobreviver, porque já não temos lugar entre as pessoas honradas. Tanto Wallace como nós, visto que fizemos causa comum com ele, só desejamos acabar com Rudyard Boles e com a sua quadrilha e depois partir para as pradarias do Wyoming, onde o Governo concede terras a todos os que queiram trabalhar e tornar produtiva aquela enorme região. Agora, Fred, só falta dizer-te que Rudyard Boles e o seu bando de assassinos atiram para cima de nós as culpas dos seus crimes.
Fred mal disfarçava o seu assombro.
Assim, Wallace Connway não era um bandido vulgar! Das palavras de Trent concluía-se que ele tinha sido um homem honrado e um soldado valente. E aquilo modificava o aspeto das coisas. Fred era inimigo de todos os patifes, e se não conseguia dar o castigo merecido ao assassino de Betsy, por não poder encontrá-lo, ajudaria Wallace na sua justa vingança contra Rudyard Roles.
A partir daquele momento a conversa entre os quatro homens enveredou por caminhos diferentes. Ficaram fumando e conversando; até que chegou a hora de irem comer.
 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

PAS544. Um anjo no meio da quadrilha

Wallace começou a andar e ele seguiu-o em silêncio, ao mesmo tempo que voltava a carregar o revólver que ainda conservava na mão. Tinha assistido à última cena sem pronunciar uma só palavra.
Caminharam por entre as barracas — sólidas construções de troncos bem ligados — até chegarem a uma que, de aspeto, parecia mais confortável do que as outras. Era também maior.
— Um momento, Fred... — disse Wallace, detendo-se à porta. — Chamas-te realmente Fred Cameron?
— Sim.
— Hum!'
— Que quer dizer esse «hum»? Não me acreditas?
— Porque não havia de acreditar-te? Mas acredito também que fizeste uma solene tolice dando o teu verdadeiro nome diante de toda a gente e contando os motivos que te traziam aqui. O assassino de tua irmã pode muito bem ser um dos meus homens. Tu não o conheces, mas ele agora conhece-te, depois do que tu disseste. Não receias que, antes de deixar que tu o descubras, ele te meta um par de balas na cabeça. Depois... quem é capaz de saber quem foi o autor da proeza? — Wallace sorriu ironicamente. — No bando há mais de dez homens que correspondem a essa discrição.
— Além disso, segundo me disse o velha capataz do nosso rancho, esse patife tem uma cicatriz num ombro... Clara que não posso pôr-me a olhar, um a um, os ombros de todos os rapazes.
— Evidentemente. Enfim, deixemos que o tempo decida. Agora, rapaz, quero mostrar-te o meu palácio. Entra. Depois levar-te-ei à barraca de Stephen, que será a tua a partir de agora.
Empurrou a porta e Fred entrou atrás dele, depois de ter enfiado no coldre o revólver que acabava de carregar. Encontrou-se num compartimento amplo, com uma chaminé em frente da porta. O mobiliário reduzia-se a meia dúzia de cadeiras, uma mesa e uma espécie de tosca biblioteca onde se viam muitos volumes de diferentes tamanhos. Duas portas abriam para esse compartimento, uma de cada lado. A servir de reposteiro viam-se duas mantas mexicanas, de colorido intenso.
Fred notou tudo isto num relance, em muito menos tempo do que o necessário para descrever os pormenores. Os seus olhos foram imediatamente atraídos por alguma coisa que valia mais do que todas as barracas juntais, incluindo o Tesoura Nacional da União.
Esse «alguma coisa» era uma mulher. E que mulher!
Estava sentada à mesa e lia atentamente um livro encadernado. Quando os dois homens entraram, ela levantou a cabeça.
Fred, ao ver, os olhos dela cravados nos seus, sentiu que lhe zumbiam os ouvidos. Estaria a sonhar? A triste experiência da noite anterior fez que ele levasse a mão ao ombro esquerdo, esperando receber outra patada como a que tinha recebido.
Mas não. Aquela mulher, aquela rapariga, porque não devia ter ainda vinte anos era perfeitamente viva e real. De um loiro cendrado, tinha os olhos azuis e puros como o céu de ums tarde de Primavera, um rosto ovalado, lábios vermelhos...
Fred pigarreou e Wallace disse, sorrindo:
— Fred, esta é Lizzy, minha filha. 
Fred engoliu em seco. A filha do Wallace Connway! E porique- não? Não existe nenhuma lei que proíba aos bandidos terem filhas bonitas, coimo qualquer outro homem. 
— Lizzy, este é Fred Cameron, o novo lugar-tenente do nosso grupo. Ouviste dois tiros? Fred liquidou esse bruto do Stephen, num abrir e fechar de olhos.
A rapariga pôs-se de pé, abandonando o livro sobre a mesa. Tinha uma silhueta esbelta, talvez um pouco magra. Vestia uma blusa e uma saia comprida.
Inclinando-se ligeiramente, a jovem fitou os seus belos olhos, que pareciam velados por uma expressão de tristeza, nos olhos cinzentos de Fred.
— Tenho prazer em conhecê-lo, Fred... Se é bom, como o meu pai, pode contar com a minha amizade. Se não é, considere-me sua inimiga.
Fred recuperou finalmente o luso dia fala.
— Não creio que seja realmente bom, Lizzy... mas tudo o que valho, e é bem pouco, fica ao seu serviço desde agora.
Ela sorriu:
— Obrigada, Fred.
Naquele momento, o rapaz pensou que a barraca se tinha desmoronado sobre o seu ombro esquerdo, no ponto onde poisou com força a mão de Wallace.
-- Com todos os diabos, Fred! Sabes que conseguiste fazer sorrir a minha filha? Julgava que ela tinha perdido essa possibilidade, meu rapaz...
De súbito a face de Wallace endureceu, como se um mau pensamento lhe atravessasse o espírito. E disse em voz rude.
— Esquecia-me dizer-te que te trouxe aqui para que visses minha filha. Vês como ela é. Tu és um rapaz novo e simpático... Sabes o que eu quero dizer com isto?
Fred tinha franzido o sobrolho:
— Não, em verdade...
— Eu te explico, amigo. Minha filha é tudo o que eu tenho no mundo. Não permitirei que nenhum homem lente conquistá-la com intenções... Bem, tu sabes o que aconteceu com a tua pobre irmã. É preciso que a história se não repita... Minha filha é sagrada, Fred. Imagina o que eu seria capaz de fazer se aliguem tentasse... Foi para te dizer isto que te trouxe aqui. Agora podes ir-te embora, amigo.
Fred compreendeu e fez um aceno de cabeça.
— Eu sou um homem, Wallace... — disse ele.
E saiu da barraca.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

PAS543. O prémio de um jogo de cartas

Contexto da passagem: O grupo de perseguidores foi capturado pelo bando de Bowles e John Peters, guiados por Nick que tinha ganho a sua confiança. Mabel foi objeto de jogo entre John Peters e Nick que ganhou o direito ao primeiro contato com a jovem…


 
— Nick — implorou. — Não posso crer que te tenhas transformado num monstro. Tem dó de mim!....
O rapaz aproximou-se dela, depôs o candeeiro no chão, de modo que os iluminasse bem, e contemplou-a longamente. A jovem começou a chorar, primeiro baixinho, depois convulsivamente.
— Mabel, tu desprezaste o meu amor honesto. Troçaste de mim...
— Não é verdade! — soluçou ela. — Nunca trocei de ti. Desprezava-te porque eras um jogador incorrigível — debulhou-se em pranto, enquanto tartamudeava: — Até agora jogaste aos dados a minha honra..
— Não foi aos dados, foi às cartas. E ganhei, como vês!
Fitou-a apaixonadamente:
— Sim, joguei e fui inexcedível em batota! Nunca esperei algum dia bendizer essa minha habilidade. Agora, juro-te, Mabel querida, que nunca mais pegarei numa carta ou num dado!
Mabel ficou desconcertada. Uma esperança raiou no seu espírito atormentado. Estendeu-lhe os pulsos amarrados e implorou:
— Nick! Desamarra-me e deixa-me fugir! Suplico-te!
Hunter sorriu e assentiu com a cabeça.
— Nick! — sussurrou ela, docemente. -- Foge connosco! Liberta também o Murray, que é teu verdadeiro amigo... e Hopkins, para que não tenhas remorsos de o deixar nas garras destes malvados... Faz isso Nick! Faz... pelo amor que disseste ter por mim!
Nick sorria, sorria sempre. Mas não se dispunha a cortar os laços que a prendiam. Em vez disso, continuava a contemplar o rosto adorado, com uma devoção que quase a incomodava, pelo que tinha de doentia. E de súbito mergulhou os lábios nos da jovem, beijando-a apaixonadamente, na boca, nos olhos, na fronte, no pescoço...
No primeiro instante, Mabel sentiu-se subjugada pelo cálido amor do rapaz, mas depois, à medida que ele prolongava as ternas carícias, foi-se sentindo em perigo e lograda nos seus anseios de libertação:
— Nick! Por alma da tua mãe, liberta-me... — suplicou, quase a chorar de novo.
— Amo-te tanto, Mabel! Humilhaste-me muito e precisas de ser castigada... Eles também, especialmente Hopkins... Humilhá-lo-ei! Queres que vá arriscar a vida para libertar esse patife que me esmurrou impiedosamente? E mesmo Frank, que me bateu à tua frente? Fá-lo-ei por ti! Dá-me um beijo, Mabel! Dei-te agora cem beijos e não correspondeste uma única vez...
Continuava a sorrir-lhe e acariciar-lhe a face. Um sorriso nervoso, esquisito, desfigurado por um dia extenuante, em que tivera de fazer um esforço prodigioso para captar a confiança dos bandidos e sustentar um jogo de vida ou de morte... As palavras saíam-lhe atabalhoadas, e com um sentido que a rapariga não podia compreender em toda a extensão.
De súbito, Mabel teve a impressão de que ele estivera apenas a divertir-se à sua custa. Que tonta fora em pensar que pudera seduzir um rapaz como Nick, que na véspera andara aos tiros com ela! Que pudera persuadi-lo a arriscar a vida para a salvar, a ela e aos homens que o tinham espancado! E pedia-lhe agora para o beijar!...
Nick curvara-se para receber o beijo que rogara. Num assomo de revolta, Mabel mordeu-lhe a mão que a afagava. Mordeu-a até lhe enterrar os dentes na carne e gotejar sangue. Devia ter-lhe causado uma dor intensa, mas Nick limitou-se a olhar para os sinais dos dentinhos marcados na palma e no dorso da destra e a comentar, com um desconcertante sorriso enternecido:
— É capaz de ficar cicatriz... Talvez um dia beijes a mão que mordeste agora, queridinha...
Empunhou a faca, enquanto ela virava a cara para o lado oposto e começava a chorar baixinho. Ele prosseguiu, como se monologasse:
— Mas tens razão... Já levei longe de mais este teu suplício — e havia na sua voz uma inflexão de amargura que fez interromper o novo pranto da jovem. — Perdoa-me, adorada... Quero que saibas que te amo acima de tudo na vida!
A lâmina da faca brilhou sobre o peito dela e, por uma fração de segundo, Mabel julgou que ele tinha endoidecido e que ia matá-la. Mas num só golpe, cortou-lhe a corda que lhe unia os pulsos. Depois golpeou a corda que lhe prendia os pés e à cama.
Mabel parecia maravilhada. Ainda lhe parecia um sonho ver-se desamarrada e Nick a tratá-la com carinho e sem aquela paixão que a atemorizava.
— Agora fica aqui sossegadinha, enquanto eu v ver se consigo libertar Frank e Hopkins — disse-1 entregando-lhe o revólver que trouxera.
— Mas... é verdade que... vais salvar-nos a todos, Nick? — tartamudeou a pequena, ainda mal poden acreditar no curso dos acontecimentos.
— Vou pelo menos tentá-lo — e afagou-lhe a ponta do queixo. — Vale a pena arriscar-me só para te ver essa expressão radiosa... Ouve: a cabana onde eles estão aprisionados tem um guarda. Não sei se haverá outros por aí... É perigoso e posso não me sair bem. Por isso te dou o revólver. Foge como puderes, se houver azar! Não consintas em cair viva em poder deles... Depois, não haveria mais um Nick para jogar pela tua honra...
Ela rodeou-lhe o pescoço com os seus braços trementes e sussurrou-lhe, comovida:
— Juro-te que se te matarem, eles não me apanharão viva. Matarei quantos puder e a última bala será para mim!
Ofereceu-lhe os lábios e Nick conheceu o sabor do primeiro beijo de amor dado por Mabel Burn. O jovem Hunter saiu da cabana com uma vontade indómita de revolver toda a aldeia dos bandidos, se preciso fosse, para salvar os seus patrícios, acedendo assim ao desejo da sua amada e conquistando-lhe a admiração.

domingo, 4 de outubro de 2015

PAS542. Reencontro em desprezível companhia

— Olá, pai! Como vai isso? — saudou o jovem.
— Prenderam-te, meu rapaz? — observou Ray Hunter. --- John Peter, esse mancebo é meu filho! Mas como diabo te encontras aqui? Como deste connosco?
— Tenho vindo a seguir Franklin Murray e Don Hopkins que juraram recapturar John Peter. Com receava que o pai apanhasse por tabela, abalei atrás deles!...
— Onde estão esses cães? — atroou John Peter. — Grisson, liberta esse rapaz. Vais guiar-me até eles, Hunter!
— Da melhor vontade, John Peter. Com duas condições — replicou o ruivo, estendendo as mãos para Grisson para que o libertasse.
— Não aceito condições. Mas di-las, que talvez sejam razoáveis...
— A primeira é autorizar-me a entrar no vosso bando. A segunda é poupar a rapariga que vem com eles e com quem tenho umas velhas contas a ajustar.
John Peter riu-se, enquanto fazia sinal a um salteador para lhe trazerem a montada.
— Quanto à primeira condição, acho que é aceitável. Aqui não sou propriamente o chefe, mas Bowles fará o que eu disser — proferiu o bandido. — Quanto à segunda... depende da pequena. Se me agradar, tende paciência, mas não a cedo... Vamos embora rapaz! Quer queiras, quer não...
De boa ou má vontade, Nick Hunter pôs-se na dianteira de um numeroso grupo de meliantes, tendo com guarda de honra o pai (bastante preocupado) e John Peter (antegozando uma desforra cruel).

sábado, 3 de outubro de 2015

PAS541. Só, diante da fogueira

Contexto da passagem: Afinal, Nick voltou a encontrar Franklin, Don e Mabel. Don deu-lhe uma sova e deixou-o a dormir, mas Franklin protegeu-o e venceu Don. Agora é o rescaldo…

 
Niek Hunter, que acordara naquele momento, ficou admirado de ver o adversário numa posição muito semelhante. Murray ajudou Hopkins a levantar-se:
— Fica entendido, de uma vez para sempre, que o chefe sou eu! -- proferiu sentenciosamente o jovem «cow-boy». — Quem não quiser que me deixe em paz!
Hopkins aceitou a imposição com filosofia:
— Apanhaste-me cansado e não estou com disposição de discutir contigo, rapaz. Está bem, és o chefe. Mas se metes este tipo no nosso grupo, saio eu.
Mas Nick Hunter estava com pouca vontade de conviver com eles. Pela segunda vez no espaço de dois dias, Mabel Burn tinha-o visto sair derrotado. Sentia-se envergonhado, e mais do que isso, moído de pancada e acabrunhado.
Sem uma palavra, ergueu-se e encaminhou-se a passo lento e pesado para o riacho que distava poucos metros do acampamento. Aí lavou a cara cheia de equimoses, dessedentou-se, colheu lenha para a fogueira, e voltou.
Franklin deu-lhe as boas-noites e fez sinal aos amigos para se retirarem. Obedeceram, sem comentários, e sem saudar o flagelado «cow-boy». Nick Hunter ficou só, diante da sua fogueira, cujas labaredas pareciam dançar, ao sabor da aragem.
Derrotado, desprezado pela rapariga que continuava a amar, incompreendido e desmoralizado pela própria sorte e pela do pai, o ruivo ficou longo tempo imóvel, com os olhos fitos nas chamas irrequietas.
Sentindo grande vontade de beber, despejou a garrafa de «whisky» que Franklin lhe tinha deixado. Meio embriagado, deitou-se e adormeceu pesadamente.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

PAS540. Um caminho mergulhado nas trevas

— Posso acompanhar-te, Frank?
Antes que o jovem cowboy respondesse, Don Hopkins pôs-se de pé e aproximou-se dos dois rapazes, trovejando:
— Voa falar-lhe a sério, Franklin Murray. Não respondo pede que possa acontecer com este patife aqui. Só nos causaria embaraços...
— Calma, Hopkins — recomendou Murray. Vamos resolver o caso democraticamente, por votos. Você vota contra, não é verdade? E a Mabel ?
Ainda mais uma vez, Don Hopkins se interpôs a qualquer réplica:
— Evidentemente que voto contra, como qualquer pessoa de bem. Queria que desejasse a companhia do filho de um foragido?
Nick olhou ansiosamente para a rapariga, como se da sua boca saísse a decisão suprema,
— Mabel — rouquejou. — Nós mão temos culpa alo que os nossos pais fizeram. Sou tão vítima como tu.
— Não — acudiu o implacável Don. — O pai dela já expiou a falta. E o teu pode ter sido o assassino do dela!
Instantaneamente, um revólver surgiu na dextra do ruivo e a vida de Hopkins correu perigo durante um segundo.
— Nick! — exclamaram ao mesmo tempo Mabel e Franklin.
Hunter conteve-se. Pôs-se de pé de revólver em punho, e disse:
— Quero saber qual é o teu voto, Mabel!
— Assim, de revólver em punho? — ironizou Murray. — Bonita maneira de conseguir votos...
— A Mabel bem sabe que eu seria incapaz de lhe fazer mal — proferiu o ruivo, guardando a arma.
Os três homens fitaram a rapariga com curiosidade. Nick, com mais da que isso. Ansiedade, mesmo. A adolescente respondeu tão baixo que mal se ouvia:
— Acho melhor voltares para Hill City, Nick.
Se o ruivo empalideceu, a luz das chamas não permitiu verificá-lo. Mas baixou a cabeça, e, sem dizer mais nada, afastou-se. Montou a cavalo e desapareceu, num galope curto.
Hopkins respirou fundo. Comentou qualquer coisa em surdina. Franklin Murray aconselhou:
— Bem, agora vão descansar. Ficarei ou de guarda até às duas da madrugada.
Mabel e Hopkins enrolaram-se nas respetivas mantas. Antes de adormecer, Don Hopkins proferiu:
— Afinal, você não chegou a votar, Frank. Ainda gostava de saber qual seria a sua vontade...
O «cow-boy» reencheu de tabaco o pequeno cachimbo. Respondeu vagamente:
— O mais sensato seria votar contra… Sim, nunca se sabe o que ele faria no primeiro encontro com o pai e John Peter... Votaria contra, evidentemente.
Ergueu-se e as chamas iluminaram a sua nobre figura.
— Mas não recusaria a companhia dele lá por ser filho de quem é. Você, Hopkins, foi muito duro para ele e deixar-me-ia embaraçado se Nick tivesse disparado...
— Ah! -- resmungou Don, voltando-se para o outro lado. — Se não fosse você ele não teria saído vivo daqui. Oxalá esse fedelho não torne a ficar ao alcance das minhas manápulas...
Poucos minutos depois ressonava, rivalizando com os mil e um ruídos desagradáveis da campina.
Ao invés, Mabel tardou a conciliar o sono. A imagem do jovem vizinho, a retirar-se meio vergado ao peso de uma negativa sua, não lhe saía do pensamento. Misturava-se com a do cadáver dia pai, numa obsessão macabra, que lhe causava insónia.
Fitou a figura imóvel de Franklin Murray, que parecia observar um ponto distante: o caminho, mergulhado nas trevas, que Nick seguira. Soergueu-se para olhar também. E viu, como Franklin, que a uma escassa milha de distância, uma fogueira rivalizava com a deles, num sinal de vida que fazia palpitar o seu coração virgem...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

PAS539. Haverá barreiras para o amor?

— Doutor Mathews, como está Ralph Hopkins? — começou por perguntar Nick Hunter, filho do guarda que se deixou corromper.
— Morreu — respondeu o médico.
E ao ver o ar transtornada do mancebo, comentou:
— O teu pai teve sorte. Hopkins esclareceu, uma hora antes de morrer, que foi John Peter quem o alvejou.
Nick respirou mais aliviado. Inquiriu:
— Vi passar Mabel Burn na companhia de Franklin Murray e de Don Hopkins. Sabe onde iam?
— Mabel convenceu-os a acompanhá-los na caça a Peter John — esporeou o cavalo, concluindo: — Lastimo o que aconteceu ao idiota de teu pai. Vê o que faz a ambição. Desgraçou-se. E tu tem juízo, rapaz!
Desapareceu numa nuvem de pó. Nick Hunter ficou pensativo.
Mabel, a rapariga que amava acima de tudo ia empenhada numa perseguição implacável, exposta a mil e um perigos! Uma criança envolvida numa luta feroz de homens...
Não o preocupava tanto a companhia de Franklin Murray, que sabia ser um rapaz leal e aliás apaixonado pela noiva, nem de Hopkins, um homenzarrão também de confiança que quase podia ser avô da jovem. O que o atormentava era a ideia do possível choque entre os perseguidores e os foragidos — dela e do pai. Um tiro, de um lado ou doutro poderia destruir uma vida e o seu mais caro sonho de amor... Seria sempre uma barreira a separá-los, mesmo que ela sobrevivesse, se entre eles houvesse a sombra de um crime...
E decidiu-se. Não levou mais de três minutos a armar-se e a meter num saco um pão e um bocado de carne assada. Montou na veloz égua e partiu a toda a velocidade pelo caminho trilhado pela rapariga amada e seus companheiros de armas.