domingo, 1 de março de 2015

PAS438. O fim de um sonho

Benedito Holper passeava pelo quarto, nervoso. Nos olhos percebia-se o estado de desolação em que a sua alma se encontrava mergulhada.
O prazo para pagar a quantia que devia a Alexandre Hunt expirava no dia seguinte, e não tinha, nem por sombras, o dinheiro suficiente. Já conhecia, por experiência alheia, a intransigência de Hunt, que, com o apoio do xerife, se apoderaria do respetivo rancho, sem atender os seus rogos.
A perda daquele terreno que, com esforço, lograra converter numa herdade próspera produzira-lhe o mesmo efeito da amputação de um membro do corpo. Sonhara que seu filho Johnny, ao fazer-se homem, teria um risonho porvir, sem necessidade de lutar denodadamente como ele e sua mulher o tinham feito. Sempre saboreara o instante em que lhe diria, indicando-lhe o rancho:
— Meu filho, isto é o fruto do meu trabalho. Tudo te pertence. Continua a trabalhar com afã para que prossiga a prosperidade.
Em vez disso e por culpa daquele canalha e do roubo das reses de que era continuamente vítima por parle dos ladrões de gado, este sonho desvanecera-se e teria de deixar aquele vale maravilhoso, que prometia transformar-se, em prazo não muito longínquo, numa cidade próspera e acolhedora. Sim, o Vale de Pluck desenvolvera-se, convertendo-se numa povoação alegre e turbulenta, onde a Lei era apenas uma coisa fictícia, impondo-se quem fosse mais forte e mais rápido a «sacar» a pistola.
Teria de comunicar aos quatro vaqueiros que formavam a sua equipa que estavam despedidos. Sentia pena de se separar daqueles fiéis rapazes, que considerava como pessoas de família e que no decurso daqueles anos felizes tinham trabalhado juntos, com ardor, sem que surgisse qualquer discussão.
Ouviu a ruído de cascos de cavalos que se aproximavam do rancho, não tendo dúvidas sobre quem eram os que chegavam. Através da janela, viu que se apeavam Hunt, seu filho, Harrison e mais dois vaqueiros.
Abriu a porta e os cinco homens entraram.
— Olá, Holper!
O rancheiro respondeu com um movimento de cabeça, enquanto crispava os punhos com força para conter a indignação de que estava possuído e que aumentava à vista daquelas aves de rapina.
— Venho receber o empréstimo que te fiz — disse o rancheiro friamente.

— Hunt, não tenho o dinheiro suficiente. Peço-te que me concedas um adiamento. Dentro de dois meses poderei vender gado e reunir essa quantia.
Hunt mexeu a cabeça negativamente e o seu duro olhar cravou-se no rosto do interlocutor.
— Não. Um contrato é um contrato e tem de se cumprir.
— É que...
— Sinto muito — interrompeu o poderoso rancheiro. — Embora o lamente, virei amanhã com o xerife e abandonarás esta casa.
 E, dando meia volta, saiu, seguido dos seus homens. Benedito Holper olhou com ódio os que se afastavam, e uma multidão de pensamentos se lhe amontoavam no cérebro. Com um enérgico movimento, tentou desprezá-los. Não, seria uma loucura querer fazer frente ao xerife e seus comissários, pois não tardaria a cair crivado de balas.
Se fosse sozinho não se importaria. Preferia morrer a ver-se despojado de forma iníqua do que lhe pertencia. Mas existiam sua mulher e Johnny, que tinha apenas cinco anos. E, se o matassem, ficariam desamparados. Por isso transigira a ausentar-se do vale.

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