terça-feira, 31 de março de 2015

PAS451. A morte por encomenda

Abriu os batentes e saiu para a exterior. O pó acumulava-se no solo. Alguns cavalos afastavam as moscas com a cauda. Uma mulher apareceu a correr vinda de uma das casas, deu uma volta e entrou de novo em casa, lançando um olhar apreensivo a Logan. Não se via ninguém rua acima. Rua abaixo, alguns homens estavam parados nos passeios, falando entre si, e calaram-se quando o viram aparecer.
Esboçando um sorriso, Logan desceu para a rua, metendo as botas na espessa camada de pó que amortecia o ruído das pegadas do gado, quando atravessava a povoação. Olhou para o saloon de Mortimer, e viu um homem que desceu para a rua calmamente.
Logan não se sentia nervoso. Não era aquela a primeira vez que se enfrentava com outro homem. Não sentia nenhuma apreensão quanto ao resultado, como nunca o sentira anteriormente. Na realidade, Vance Logan tinha fama de bom atirador. A sua reputação era tão má, quanto a sua pontaria era boa. Agora não havia muita gente em Dodge que se sentisse feliz ao pensar que ele podia sair vivo daquele duelo. Por isso, o xerife Smith estava decidido a dar-lhe um prazo para abandonar a cidade, se vencesse...
Avançou calmamente sob o sol. Thomas vinha também devagar ao seu encontra. A rua principal tinha sido cenário de muitos duelos, mas nem por isso deixava de carregar-se de eletricidade, cada vez que dois homens se dispunham a resolver a tiro as suas questões.
Questões...

Vance Logan sabia que entre ele e Thomas não havia nenhuma. Três dias antes não se conheciam. Thomas tinha chegado com um rebanho de gado texano e um grupo de rapazes valentes e nervosos. Não era a primeira vez que vinha a Dodge. E isso é que o perdia. No ano anterior ele matara um jogador batoteiro, que era irmão de outro jogador que dirigia um dos saloons de Dodge. Era um homem esperto e prudente. Por isso procurara Vance Logan oferecendo-lhe quinhentos dólares se matasse «Blinky» Thomas, de maneira que ninguém tivesse nada a objetar.
Logan aceitou. Aceitou, porque o seu ofício era matar por conta de outros. Mas ele não escolhera esse ofício, como não escolhera nascer numa cabana miserável nos subúrbios de Saint Louis, filho de uma das mulheres que deambulavam pelas ruas e sabe-se lá de que amante casual...
Chegou em frente do hotel. Através dos vidros olhavam-no rostos tensos. Viu um de mulher, branco e muito formoso, numa das janelas do andar superior. Havia um homem com ela. Tinha-os visto duas ou três vezes desde que chegaram a Saint Louis dois dias antes. Mas não teve tempo para se ocupar deles.
Agora tinha um assunto mais importante a resolver. Smith aproximou-se dele e falhou-lhe:
— Cuidado, Logan. Tenho muita vontade de te ver pendurado numa corda.
Aguentando o olhar e endurecendo o sorriso. Vance respondeu-lhe:
— Descanse, Smith. Já sabe que eu luto sempre com limpeza.
— Sei muitas coisas de ti. Vai-te.
O outro homem não teria tolerado a ofensa. Mas, além de ser o xerife, Smith era um dos poucos homens demasiado velozes para Vance Logan. Na realidade, o pistoleiro sentia certo respeito para com o homem que pacificara Abilene e Dodge.
Thomas estava quase à distância de tiro. Era um homem alto, magro, forte, moreno, de quase cinquenta anos. Era também um bom atirador, mas não chegava à categoria de Logan. Era um homem honrado, com muito a perder além da vida. Logan nunca teve nada que arriscar, exceto a pele. E não tinha por ele grande estima.
Tinha sido uma discussão rápida, parva, mas real. Muito habilmente provocada. O texano não a pôde evitar, embora soubesse a fama de Logan e compreendeu que caíra numa cilada. Agora tinha que lutar e morrer.
Tinha deitado o chapéu um pouco sobre os olhos, que mantinha semicerrados e vigilantes. Em cada um dos movimentos notava-se a sua tensão. Parou a cinquenta jardas de Logan e aproximou as mãos das coronhas dos revólveres. Logan tinha a mão perto da coronha do seu. Sabia que os olhos frios de Smith não se afastavam dele e o menor erro significaria a corda..., ou morrer abatido a tiro, se o preferisse.
Avançou mais cinco passos. Já estava à distância de bom tiro. Ergueu a voz.
— Quando quiser, Thomas.
A sua voz pareceu esbofetear o ganadeiro. Sacudiu-se, e as suas mãos agarraram-se com decisão às armas. O homem suspeitava que ia morrer, mas morria dando a cara...
Logan esperou até ver o ganadeiro tirar as armas dos coldres. Então sacou o seu com a velocidade nele proverbial e disparou dois tiros sucessivos, quase sem levantar a arma da anca.
Tinha calculado perfeitamente todos os detalhes do duelo, inclusivamente as reações do seu adversário. Disparou a sangue-frio, deliberadamente para matar. E matou.
Mas não sem pagar o seu tributo de sangue. Era um risco inevitável quando não se podia disparar com vantagem. Sentiu o choque da bala no lado direito quando, viu estremecer violentamente Thomas. O projétil produziu-lhe uma sensação de queimadura. E essa dor obrigou-o a dobrar-se e agarrar instintivamente com a mão esquerda o ponto ferido, enquanto o ganadeiro caía no solo, a pouco e pouco, largando as suas, já inúteis, armas.
 Fora tudo rápido... Ganhara quinhentos dólares, mas à custa de um balázio cuja gravidade ainda não podia saber.

Sem comentários:

Enviar um comentário