sábado, 19 de agosto de 2017

BUF015. CAP VII. Fogo no rancho

Lube «Relâmpago», as pernas abertas em compasso, esperava no meio da rua, de olhar atento, a aparição de Hubert.
Pensava nos dois mil dólares que receberia de Burnet e Grieser «pelos serviços prestados». Ele era muito rápido com o revólver, mas tanto tinha ouvido falar do seu rival, que julgou mais certo e oportuno recorrer a uma vigarice para nada arriscar. Depois de tudo, o próprio Hubert tinha assinado a sua sentença de morte ao penetrar no recinto onde se efetuava o baile dominical. Tinha seguido os dois irmãos desde que saíram do rancho, após a refeição, acompanhados de uma pequena escolta. Tinha previsto desafiá-lo de homem para homem, mas as circunstâncias tinham-se posto a seu favor, e não ia ser tão tonto que as desperdiçasse.
Era um assassínio. Sabia-o. Hubert estava indefeso. Que sensação lhe produziria, antes de morrer, aperceber-se de que os seus revólveres não tinham munições? Riu, admirando-se da sua astúcia.
Naquele instante, viu sair Hubert pela porta, e seguiu os seus movimentos. Deteve-se no passeio e examinou o ponto onde ele se encontrava. Agora passava à calçada, andando, com os polegares metidos no cinturão. Já estava no centro, e voltava-se até se colocar de frente. Lube calculou a distância. Umas vinte jardas. Decidiu antecipar-se a Hubert e deu um passo, logo outro. O homem do Este pôs-se também a andar. As vinte jardas reduziram-se a quinze. Lube observou o rosto que, transcorridos uns minutos, ficaria desfigurado pela palidez da morte. Não pôde evitar um leve estremecimento ao ver que lhe faltava expressão. Parecia uma máscara. A ele também lhe tinham dito que a sua cara tão-pouco dizia alguma coisa antes de disparar contra alguém. Era a firme resolução de matar a única sensação capaz de atarantar, daquela forma, os músculos, até dar o aspeto da dureza do granito.
A distância era agora de quinze jardas. Por que se moviam tão lentamente? Teria jurado que há horas que se aproximavam um do outro. Dispararia quando tivesse Hubert a umas dez jardas. Onde lhe meteria a bala? Na cabeça ou no peito? Tanto fazia num sítio como no outro. Procuraria que tivesse uns segundos de vida. Isso era o suficiente para ele descobrir o engano em que tinha caído, e a raiva que se apoderaria dele paralisar-lhe-ia o coração!...
Doze jardas, onze... Agora! Pôs os dedos na culatra, tirou o «Colt». Tudo nuns escassos décimos de segundo e com os olhos cravados nos de Hubert. Mas, de repente, das mãos deste brotou uma chama e soou um estampido.
Lube «Relâmpago» sentiu uma convulsão, ao mesmo tempo que algo parecido com uma agulha, aquecida ao rubro, lhe atravessava a garganta. Não, aquilo não era verdade, não podia estar certo. As pistolas de Hubert não tinham munições. Que se passava? Por que não lhe obedecia o dedo que roçava o gatilho? Tinha de apertar! Uma só vez, e o pesadelo acabaria.
Mas, de súbito, sentiu-se sem forças. Deu um tombo, um líquido quente corria-lhe pelo peito. Olhou até abaixo. Era vermelho! Vermelho de sangue!
Abriu a boca, ao descobrir que aos seus pulmões lhe faltava ar. Estava sufocando. Seria aquilo a morte?
Então, ouviu uma voz que lhe pareceu vir dum lugar longínquo, a milhas e milhas donde ele se encontrava.
— Tenho sempre a precaução de observar as minhas armas antes de bater-me com alguém, Lube! Não tiveste sorte. Boa viagem.
As palavras ressoaram aos seus ouvidos. «Boa viagem». Mas onde? Viu que tudo se cobria de trevas e submergiu-se nelas.
Antes de tocar no solo, Lube «Relâmpago» era cadáver.
Victória e Campbell falavam enquanto iam passeando pelo rancho, naquela tarde de segunda¬-feira.
— Quero pedir-te um conselho, David. — Sobre quê?
— Tom Henderson propôs-me ontem que me case com ele.
O advogado teve um estremecimento, detendo-se. Victória também quedou imóvel, e perguntou:
— Que achas que eu deva fazer? Não me atrevo a resolver por mim mesma.
— Eu creio que a resposta mais sincera — respondeu John, contendo dolorosamente a sua emoção — será esta: se gostas dele, aceita-o.
— Ë esse o caso, David! Não sei se gosto dele. Ignoro o sentimento que deve existir numa pessoa a respeito de outra, quando existe amor. Tu que estás enamorado, o que sentes?
Campbell notou que o sangue lhe afluía à cara. — Pois... assim que a modos... um desejo imenso de abraçar a mulher que amo.
— E que mais?
— Pois... também sinto que ela para mim representa o que de melhor existe no Mundo e que desejaria passar o resto da minha vida junto dela...
— Nada mais?
— Bem, há, mais coisas... enfim... — Campbell titubeou e depois explodiu: — Sentes algo parecido com isto por esse tal Tom?...
Victória gaguejou, e disse:
— Não sei, David.
John suspirou, murmurando:
— Então teremos que ver o que tens no sítio do coração.
— Não te enfades...
— Eu enfado-me? Por que pensas tal coisa? Ao fim e ao cabo, tanto se me dá que seja o Tom, o Joe, o Peter...
— Ë então o mesmo!... És um bom irmão!... Valeu bem a pena pedir-te conselho! — comentou a jovem, aborrecida.
Campbel não prestava já atenção a Victória. Tinha os olhos fixos num ginete que se aproximava com a velocidade de uma seta.
Em poucos segundos chegou ao pé deles. Com voz entrecortada, o cowboy exclamou:
— Deitaram fogo à grande pradaria!... Uma grande área está já em chamas... necessitamos de mais homens... Está tudo desorientado...
Campbell adotou imediatamente uma decisão.
— Avisa Parker, Victória!... Que reúna todos os homens que puder! Que deixe dez com vocês, e o resto que nos venha ajudar!... Nós vamos andando à frente!
Vinte e cinco minutos mais tarde, o advogado contemplava a indescritível e selvagem beleza de um vasto sector da pradaria em chamas. Era o que correspondia aos pastos de inverno. O fogo detinha-se lá longe onde a erva primaveril constituía a melhor barreira para a localização do incêndio.
Conforme avançavam, cavalgando os fogosos cavalos, chegava a seus ouvidos o ruído produzido por milhares de patas entrechocando-se com a terra.
— Além, ao Norte! — gritou o cowboy que precedia Johnny.
Este olhou na direção assinalada e descobriu uma massa pardacenta que fugia com uma rapidez impressionante. Era a loucura do fogo. As reses afastavam-se das labaredas, mas ao cabo de uma milha as chamas envolviam-nas fechando-lhes a fuga, vendo-se obrigadas a trocar o caminho, num desesperado intento para escapar ao terrível braseiro.
Os vaqueiros, fazendo titânicos esforços e verdadeiros alardes de equilibristas, procuravam, infrutuosamente, levar os animais pelo único sítio livre.
Campbell não possuía experiência alguma naquelas lides de gado, e tinha de limitar-se a acompanhar os homens de Hubert nas galopadas, serpenteando por entre a gigantesca fogueira.
Um cowboy teve um segundo de vacilação quando o gado que fugia se voltou bruscamente; e antes que pudesse pôr-se a salvo, as reses enlouquecidas cobriram-no como uma onda do mar embravecido. Ao passar o último bovino, apenas ficou, numa extensão de vários metros, uns pedaços de roupa e coiro, cobertos de sangue enegrecido, e ossos dificilmente identificáveis.
Por fim, chegaram Parker e onze homens. Só então se conseguiu conduzir as cabeças-guias do rebanho pelo estreito desfiladeiro, em cujos lados crescia o fogo. Mesmo assim, ainda foram necessários denodados esforços para se conseguir que os animais cessassem a sua endiabrada correria.
Já a noite ia bastante avançada quando os vaqueiros, silenciosos, cansados, com o rosto manchado de cinza, puderam sentar-se e contemplar o incêndio que lá longe, no horizonte, ia perdendo a intensidade ao' esgotarem-se os pastos secos de inverno.
Victória observava pela janela do seu quarto o pôr-do-sol. As colinas próximas à casa, banhadas por uma auréola encarnada, e as silhuetas dos altos pinheiros sobre um fundo branco, eram parte de um quadro que ela amava como se fizesse parte do seu ser.
Voltou-se, e lentamente acercou-se da cómoda. Em frente do espelho manteve-se imóvel, em atitude pensativa. Ao cabo de uns minutos abriu uma caixa donde extraiu um pequeno cofre. Do interior deste, tirou uma carta amarrotada. Quantas vezes a tinha lido, desde que a recebera dias antes? Não o sabia, mas eram muitas.
Tinha-a gravada na mente, e sentia uma emoção nova de cada vez que os seus olhos percorriam as apertadas linhas escritas com um pulso nervoso.
«Querida Victória:
Vacilei imenso antes de tomar a iniciativa de dirigir-te estas letras. Há umas horas nunca o pensara fazer, considerando isso uma ideia triste e absurda; agora, o coração diz-me que é o meu dever. Esta transformação talvez tivesse ocorrido por ter falado com um homem. Ele trouxe-me a paz de espírito e devolveu-me a fé em mim mesmo. A minha vida não foi o que vos contei nas minhas cartas anteriores. Enganei-os. Fui um jogador, um homem sem moral nem escrúpulos. Fiz muitas coisas malfeitas. E a minha dor é não poder repará-las, já que não tenho tempo para isso. Morrerei amanhã ao amanhecer. Condenaram-me como culpado de assassínio. Da mesma forma que te confessei o anterior, digo-te que não matei ninguém. As provas estão contra mim, e reconheço que se me tenho encontrado no lugar de um dos do júri, teria procedido como eles fizeram. Não lhes guardo rancor. E é tudo, Victória, ou quase tudo.
O homem a quem devo ânimo para escrever estas linhas chama-se John Campbell e é sócio da firma de advogados que se encarregou da minha defesa. Ele não interveio na causa por achar-se longe de Tuscaloosa, mas ao inteirar-se da condenação visitou-me e ACREDITOU EM MIM. Disse que fará o possível para reabilitar o meu nome. Não sei se o conseguirá. Pedi-lhe para que vos escrevesse comunicando a minha morte por doença, mas, depois de ter ficado só, pensei que deveis conhecer a verdade. Dirijo-te a ti a carta para que sejas tu a decidir se o nosso pai deve inteirar-se ou não do sucedido. Adotei esta precaução por ter em conta o seu estado de saúde, o qual, pelas tuas notícias, deve ser grave.
Já nada me resta para dizer. Só lamento não ter a oportunidade de vos abraçar. Que Deus os proteja.»
Em baixo, a assinatura de «David».
Tinha chorado muito no dia em que recebera a carta. As suas esperanças de recuperar o irmão perdido, com tudo o que isso representava, desvaneciam-se. Burnet e Grieser conseguiriam por fim desalojá-los daquela terra que um Hubert tinha convertido em fonte de riqueza, daquele solo que amava tanto.
Não disse nada a seu pai. A trágica notícia precipitaria a sua morte. David tinha dito que os seus negócios o reteriam uns meses no Este. Havia muito tempo para esperar. Entretanto, seu pai ficou felicíssimo pensando que o ente querido ia regressar. Só isso lhe deu forças para subsistir. Não, era impossível contar-lhe a verdade. Nunca! Preferia guardar em si, como um segredo de morte que lhe dilacerava as entranhas, a chegada daquela carta.
No cofre também estava um telegrama, que o pai recebera, procedente de Kansas. Que estranha sensação a dominou quando ele lhe disse que o seu irmão chegaria na próxima diligência a Rockville?! Teve de fazer um enorme esforço para que o seu rosto não a traísse. E mais tarde encerrou-se no quarto e tratou de pôr em ordem os seus pensamentos.
Quem era aquele homem que se fazia passar por David Hubert? Um impostor à caça de uma herança? Foi o que primeiro lhe ocorreu, mas logo surgiram argumentos que rebateram tal hipótese.
O indivíduo em questão tinha de estar integrado na história dos Hubert, da tragédia remota que destroçou o seu lar. Também conheceria as circunstâncias que rodeavam a morte de David, e a sua correspondência familiar. Nesse caso, não seria um segredo para ele que o rancho estava à mercê de um bando de foragidos e que a sua probabilidade de perder a vida aumentava, se punha os pés em Rockville.
Como um raio de luz que cruzasse rapidamente as suas ideias, lembrou-se do que lhe havia escrito o seu irmão acerca do homem que TINHA ACREDITADO nele. Como se chamava? Leu a carta. John Campbell, advogado em Tuscaloosa.
«Disse que fará o possível por reabilitar o meu nome». «Pedi-lhe que vos escreva comunicando a minha morte por doença, mas depois de ter ficado só, pensei que devíeis conhecer a verdade». Seria o próprio John Campbell?
Decidiu que, quem quer que fosse, lhe seguiria o jogo até desmascará-lo.
E assim chegou o dia em que teve de enfrentar-se com o impostor. Não se atreveu a esperá-lo no passeio, e quase se escondeu na porta duma casa próxima. Viu-o descer da diligência, reconhecendo-o logo porque os outros viajantes eram de mais idade. E, então, por uma misteriosa atração, acreditou ver o verdadeiro David Hubert, e seus olhos encheram-se de lágrimas. Ele estava de costas olhando Ellen Austin, confundindo-a com ela. Chamou-o. Ao voltar-se e ao contemplar o seu rosto, pediu aos céus que fosse um homem bom. E a sua oração tinha sido atendida! Não podia ser outro senão John Campbell, de Tuscaloosa. Tinha-o demonstrado, pondo-se à frente dos rapazes para impedir o desvio do rio Negro. E acima de tudo, tinha saído airosamente das duas provas a que o submeteu sugerindo-lhe que ficasse, que não fosse ao encontro do perigo. A última vez dissera-lhe que gostava de Rockville para a não entristecer. Campbell só havia ido ao rancho para evitar a catástrofe que pairava sobre este. Era um espírito nobre e generoso, a quem a história de David certamente deveria ter impressionado bastante. Nos seus íntimos, teriam ficado, até, verdadeiros amigos!
Agora, frente ao espelho que refletia a sua imagem, com a carta tantas vezes lida, na mão, assustava-se do sentimento que lhe inspirava o impostor. Amava-o. Estava apaixonada por ele, e era inútil negá-lo. Tudo aquilo que Campbell lhe havia dito, há umas horas, sobre o que sentia um ser que ama, compreendia-o nesse instante. Mas o advogado gostava de outra mulher! Tinha-o confessado, balbuciando, abrindo a sua alma, tal como se essa mulher não lhe correspondesse a tamanha estima.
Bem. De qualquer forma gozaria de uma pequena felicidade, ainda que fosse curta, até tudo se legalizar. Mas como conseguiria John que as coisas se arrumassem? Burnet e Grieser tinham iniciado o seu último ataque, brutal, impiedoso. Talvez Campbell fracassasse, perdendo a vida na luta. Então, nada mais restaria para salvar.
Que felicidade a inundara no dia anterior, quando dançavam juntos. Como gostaria que ele a estreitasse mais nos seus braços! Ser ela, naquele instante, a mulher que ele dizia amar.
De súbito, a porta do quarto abriu-se.
Victória, surpreendida, escondeu a mão que sustinha a carta de David, retendo-a atrás das costas, ao mesmo tempo que se voltava.
No umbral achava-se Whiters, um dos cowboys.
— Não sabe que é costume bater à porta antes de entrar?
— Perdoe-me, menina... 2 que o seu pai acaba de ter um ataque...
A jovem entreabriu os lábios, olhando Whiters com ricto angustioso.
— Papá! — exclamou. E saiu a correr do quarto.
Whiters afastou-se para a deixar passar e então reparou que um papel caía no solo.
Olhou para baixo vendo a jovem que se perdia nas escadas, em direção ao quarto do enfermo, abaixou-se e apanhou o que já distinguira como uma carta.
Leu-a avidamente, crescendo o seu assombro à medida que avançava. Ao terminar, ficou pensativo uns segundos. Pouco a pouco um sorriso astuto foi substituindo a expressão de perplexidade. Guardou o documento no bolso traseiro das calças, e saiu do quarto.
Já fora do edifício, encaminhou-se para as cavalariças, selou o cavalo e pouco depois partia do rancho a trote rápido, seguindo o atalho do Norte.
Ao passar, minutos depois, pelo Vale das Sombras, soou um estampido de espingarda, e uma bala sibilou a três passos do ginete. O vaqueiro deteve o seu cavalo e ao voltar a cabeça para o lugar donde procedia o aviso, viu um homem sobre uma rocha que lhe apontava uma «Winchester».
— Sou Whiters! — exclamou.
— Isso vejo eu! Do rancho Hubert!... Há meia hora que estou aqui à caça, ilustre viajante!...
— Quero falar com Burnet e Grieser!
— Não queres mais nada, meu cara de asno? É melhor que te vejam de corpo presente... com alguns balázios na barrigal... Onde estão os cães que te acompanham?
Whiters estremeceu e replicou imediatamente.
— Juro-te que venho só!... Não é nenhuma vigarice!... Trago uma mensagem importante para os teus chefes!
O outro pareceu meditar na justificação, e por fim decidiu aceitá-la.
— Está bem!... Levanta os braços e, pela tua cabeça, não penses em baixá-los!... Segue adiante até ao olmo da direita!... Eu seguir-te-ei, cá atrás!... Se tentas alguma das tuas!... — deixou a ameaça em meio, o que era suficientemente expressivo.
Whiters largou as rédeas e roçou com as esporas os flancos do seu cavalo, deixando-o ir a passo.
Minutos mais tarde era introduzido, com um empurrão, no rancho, dos inimigos de Hubert.
Burnet e Grieser receberam-no numa sala em que havia uma mesa e várias cadeiras. A sentinela que o conduzira deu aos seus patrões a explicação da presença do outro.
— Com que então uma mensagem, não é? —riu Burnet„ olhando Whiters. — Suponho que será do velho Hubert. Talvez uma rendição incondicional?
O cowboy sorriu vaidosamente, recuperando a sua serenidade, e baixou os braços com lentidão.
— Levanta-os! — gritou-lhe o que o vigiava.
— No seu lugar, senhor Burnet, mandaria calar este parlapatão...
— Eu já te...
— Quieto, Jeff ! — atalhou Grieser. E logo disse a Whiters: — Estás borracho ou estás doido?
— Nem uma coisa nem outra. Transformei-me num homem de negócios! Venho propor-lhes um que bastante lhes interessa.
— Sobre o rancho Hubert? — inquiriu Grieser. Whiters assentiu sem deixar de sorrir.
— Sai, Jeff ! Espera lá fora! — ordenou Burnet. O bandido retirou-se mastigando algumas palavras; e então inquiriu Grieser:
— Em que consiste esse negócio?
Whiters deu uns passos pelo aposento com ar de superioridade, ao mesmo tempo que falava.
— Tenho seguido, dia a dia, os vossos esforços para se apoderarem da grande pradaria. O único obstáculo que têm é o que lhes oferece os seus próprios donos. Tudo ia bem, há uns meses, para os senhores. Só tinham que esperar que o velho morresse e isso levaria pouco tempo. Mas, de repente, surgiu o filho de Jonatham Hubert.
— Ouve! — interrompeu-o Burnet, com um frio olhar. — Se viestes para nos contar uma história que sabemos de cor, fazemos-te pagar caro o tempo que perdemos a escutar-te!
— David Hubert foi o tipo que deitou por terra o vosso plano — prosseguiu Whiters com jactância. — Quanto dariam para se ver livres dele ?
Houve um silêncio. Burnet e Grieser olharam-se e logo o primeiro respondeu:
— A Lube «Relâmpago» oferecemos dois mil dólares!
O cow-boy soltou uma gargalhada.
—E o que é que foi feito de Lube? Era o seu atirador mais rápido, e o jovem Hubert fulminou-o sem pestanejar. Vamos, senhores, esse homem vale mais!
— Digamos três mil! — falou Grieser.
— E porque não quatro mil? É o que necessito para me pôr a andar daqui para fora. Sinto a nostalgia da Califórnia.
— Está bem — aceitou Burnet. — Terás os teus quatro mil. Vais matá-lo pelas costas?
— Ainda não terminei. Falta outra oferta. Esta é ainda mais interessante. Quanto dão pela desaparição simultânea de Jonathan Hubert e do filho?
Os dois desalmados franziram o cenho.
— Terás mais quatro mil! — exclamou Burnet. — Mas com mil diabos, fala ou arranco-te a pele às tiras!
— Que garantia oferecem de que cumprirão a vossa palavra?
Grieser trocou outro olhar com o seu sócio, foi buscar uma chave, abriu um pequeno cofre que havia sobre a mesa e do seu interior extraiu um monte de notas que estendeu a Whiters dizendo:
— Metade agora, e a outra metade quando terminares o trabalho.
— E dois quilos de chumbo se nos enganas! — terminou Burnet.
— Prepare a outra parte, porque o meu trabalho termina agora! — Whiters guardou o monte de notas, puxou pela carta que tinha encontrado no quarto de Victória Hubert e acrescentou: — Aqui têm o que pagaram!
Burnet recebeu a carta, um pouco perplexo. E Grieser acercou-se dele. Leram-na com as cabeças juntas, fazendo várias interrupções.
— Como veem — disse alegremente Whiters, — David Hubert é um impostor... — e quando terminavam a leitura comentou: — Não está mal, pois não?
— Não, não está mal! — articulou Grieser, como um eco.
— Reconhecerão, portanto, que esta notícia vale os oito mil.
Transcorreu um minuto de silêncio.
— Dá-lhe o que falta, Henry! — murmurou Burnet, com voz glacial.
— Claro, claro que sim! — Grieser sorriu e abriu de novo o cofre. Ao tirar a mão, segurava uma «Derringer».
— Não! — exclamou Whiters, com os olhos fora das órbitas.
Mas nesse instante o assassino fez fogo e o cow-boy tombou sem vida.

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