Campbell esperou Victória ao pé da escada que conduzia aos aposentos superiores, onde se encontravam os quartos de dormir; e quando chegou aos seus ouvidos um «frou-frou» muito característico e levantou a cabeça, ficou maravilhado vendo a jovem descer.
Ela tinha trazido um vestido branco, vaporoso, decotado. O cabelo, prendera-o na nuca. Parecia a imperatriz duma corte europeia.
Ao chegar junto do advogado, fez uma reverência de esquisita feminilidade, e disse:
— O cavalheiro saberá desculpar o meu atraso?
Campbell fechou os olhos num esforço para arrancar da sua mente as imagens que nela se forjavam.
— Estás doente, David?
— Não, querida. Estou perfeitamente bem. melhor sairmos já.
Tom, como havia anunciado, esperava-os à entrada do recinto, e resplandeceu de orgulho ao saber-se encarregado da mais gentil beleza do baile. Todo ele era saltinhos, interrogações e afirmações, não parando por um segundo de manifestar as suas ideias que ele próprio contestava.
Campbell leu com atenção um grande cartaz afixado numa das paredes do vestíbulo. Era um edital do xerife. Ninguém podia permanecer no recinto de baile levando armas.
O que noutro tempo tinha sido escritório, era agora utilizado como arsenal. Um homem de aspeto cansado aceitou o cinturão do advogado, entregando-lhe uma senha com um número.
Pouco tempo depois, dois homens acercaram-se do que guardava as pistolas, e houve um olhar de inteligência entre eles.
— Está por aí com a sua irmã — indicou o cansado.
— E as armas? — perguntou um dos recém¬-chegados.
— Naquela prateleira da direita.
— Traz! — desviou o olhar para o companheiro e disse-lhe: — Tu, vai lá dentro e assegura-te de que ninguém se aproxima. Eu farei o trabalho.
Quando se apoderou dos «Colts» de Campbell, fez girar os cilindros e foi tirando os projéteis das suas câmaras, até as deixar sem munições. Colocou os «45» como estavam e entregou o cinturão ao encarregado da sua guarda. Ambos sorriram.
No local do baile, Tom Henderson era o cidadão mais feliz de Rockville. Dançava como se o tivessem advertido que o solo estava cheio de ovos, tal era o excessivo zelo em colocar os pés seguindo o compasso da valsa que interpretavam num piano e num violino. O seu par, Victória Hubert, deixava-se conduzir com inefável encanto, o que contrariava enormemente Campbell. Para desgraça sua, dançava com uma rapariguinha horrivelmente faladora.
— Oh!... Que alto que é, senhor Hubert!... Ah, ah!... O meu nariz chega-lhe ao pescoço...
O advogado limitava-se a sorrir protocolarmente, desejando, de toda a sua alma, o final daquele suplício.
— Estou convencida de que o senhor não é desses homens que passam a vida no «saloon». Novo sorriso.
— E quando desejar uma esposa, aposto que a arranjará... Ah, ah!..., dá-me vergonha dizer, senhor Hubert!...
Campbell invejava até ao mais profundo do seu coração a sorte daquele fantoche que rodeava com os seus braços a cintura frágil de Victória. A voz aflautada da rapariguinha feria-lhe os tímpanos.
— Pois vou-lhe dizer, senhor Hubert. Estou convencida de que a arranjará entre as mulheres de pequena estatura! Ah, ah!... Como eu...
A valsa terminou e Campbell separou-se da rapariga, como um raio. Acompanhou-a às cadeiras que havia junto da parede, sem prestar atenção ao que dizia, olhando Victória que se aproximava com Tom. Apenas os encontrou a seu lado, dirigiu-se logo à filha de Jonathan Hubert. — Victória, a próxima é nossa...
— Mas... mas... Hem ?!... — articulou Henderson.
A reduzida orquestra atacou uma polca e John enlaçou Victória pela cintura, deixando Tom assombrado.
— Danças muito bem, David.
— É uma coisa corrente. Sempre levei uma existência um pouco tristonha.
— Pois não parece. És o melhor bailarino da comarca.
— Se continuas a troçar de mim, levo-te a casa.
Transcorreram uns segundos de silêncio. Mas daí a algum tempo, e inesperadamente, Victória perguntou com interesse:
Quantas noivas já tiveste, David? Campbell foi surpreendido.
—Podes crer que não sei o que compreendes por noivas!
— Refiro-me ao número de namoros..., mas de verdade!
— Oh!... Apenas um.
— E ainda lhe queres?
— Sim... bastante.
— Por isso desejas partir. Para te encontrares com ela.
Johnny preferiu iludir a resposta. Na continuação da nova pausa, Victória perguntou:
— É bonita?
— Maravilhosamente formosa.
— E ela ama-te?
— Não. Não me pode amar.
— Porquê? Tu não estás nada mal. Deve ser uma rapariga tonta, dessas que só pensam nelas mesmas.
Campbell tossiu e respondeu:
— Bem, creio que não estás a ser justa para ela. — Vocês os homens, têm um grande defeito! Não sabem distinguir...
— Por favor — atalhou Johnny — não pretendas pregar-me um sermão, querida. O meu último par leu-me o futuro... sem ser na palma da mão. Já tenho, portanto, bastante em que pensar...
Naquele momento, o advogado sentiu que lhe davam umas pancaditas nas costas. Voltou a cabeça, sem deixar de dançar e viu um homem de espesso bigode que lhe dizia:
— É a minha vez, companheiro.
— Lamento, companheiro! — exclamou em resposta, dando igual trato.
Rodopiou com Victória, mas o outro segurou-o fortemente pelo ombro. Então, desprendeu-se da jovem, e enfrentou o desconhecido.
— Por que não é bom rapaz e nos deixa circular? — sugeriu Campbell em tom conciliador. Todos temos direito de dançar!
— Ninguém o discute. Traga a sua dama e mova as pernas até cair de cansaço.
— É o que penso fazer com esta pequena tão simpática.
— Terá que arranjar outra. Esta menina é propriedade particular.
— Gosto dela, companheiro!
O rosto de Campbell endureceu.
— Vamos embora, David — interveio Victória, principiando a andar.
O homem que procurava arranjar sarilho embargou-lhe o passo, colocando-se à sua frente. — Vamos, beldade. Vai ver...
Não terminou a frase porque o punho do advogado fechou-lhe a boca, fazendo-o voar alguns metros até cair estrepitosamente no chão.
— David! — exclamou a jovem, refugiando-se de encontro ao peito varonil do advogado.
Campbell sentiu o palpitar do coração amado e esteve quase a apertá-la mais contra o seu peito. Neste momento, o promotor daquele incidente voltava à posição vertical.
A música 'tinha cessado e os curiosos acercavam-se para não perder um detalhe da iminente peleja.
Campbell apartou de si Victória, dispondo-se a deixar fora de combate o estúpido rival. Entretanto, este, ficou imóvel, sorrindo, fazendo festas na cara dorida, ao mesmo tempo que dizia:
— Há alguma coisa melhor do que os punhos para decidir esta questão, não lhe parece? — e sem receber resposta do defensor da rapariga, acrescentou: — Escolha as suas armas. Estarei a quinze passos acima da porta, no centro da rua. Se dentro de dez minutos não tiver saído, entrarei por aqui dentro e nem vinte editais do xerife
me impedirão de o matar como a um cão sarnoso!
— Não terá necessidade de entrar nem de esperar pelo fim desse prazo, canalha! — replicou o advogado, com os dentes cerrados.
— Para a próxima vez já não viverá para me impedir de dançar com a mulher que eu queira.
— Não haverá próxima vez para si! — assegurou Campbell — Vá para a rua e assente fortemente os pés no solo. Em seguida, sairei.
O outro riu com sarcasmo e andou para a porta.
Então, Victória olhou Campbell com o rosto pálido de medo.
— Não, David!... Não vás! ...Esse homem é Lube «Relâmpago»!... Está ao serviço do Burnet!
— Não consegui evitá-lo.
— Mas matar-te-á!
— Logo veremos a quem recolhem na rua.
Henderson introduziu a sua cabeça entre eles.
— Não pense sequer em sair, senhor Hubert!... Hem?!... É Lube «Relâmpago»... Eu vi-o disparar há uns dias, não é verdade?... Atravessou cinco vezes uma moeda de cinco cêntimos pelo mesmo buraco... Sabe?
— Obrigado, Tom, pelas informações.
— Não, David! — gemeu Victória, pretendendo retê-lo.
Campbell coçou a cara, e disse:
— É necessário, querida. Tu sabe-lo tão bem como eu. Se fugisse, o rancho dos Hubert ficaria à mercê desses foragidos. Não podemos permitir uma arrogância como a desse tipo.
— Mas se tu morres!...
— Terei o maior cuidado! — Campbell apertou¬-lhe as mãos, retirando-se imediatamente em direção o vestíbulo.
Exibiu ao homem que guardava as armas a senha que lhe havia dado à entrada.
O encarregado meteu-se no antigo escritório e regressou com elas.
John segurou o pesado cinturão e colocou-o acima das cadeiras passando a correia pelas presilhas, ao mesmo tempo que cravava os olhos na porta por onde havia de sair para chegar à rua.
Ela tinha trazido um vestido branco, vaporoso, decotado. O cabelo, prendera-o na nuca. Parecia a imperatriz duma corte europeia.
Ao chegar junto do advogado, fez uma reverência de esquisita feminilidade, e disse:
— O cavalheiro saberá desculpar o meu atraso?
Campbell fechou os olhos num esforço para arrancar da sua mente as imagens que nela se forjavam.
— Estás doente, David?
— Não, querida. Estou perfeitamente bem. melhor sairmos já.
Tom, como havia anunciado, esperava-os à entrada do recinto, e resplandeceu de orgulho ao saber-se encarregado da mais gentil beleza do baile. Todo ele era saltinhos, interrogações e afirmações, não parando por um segundo de manifestar as suas ideias que ele próprio contestava.
Campbell leu com atenção um grande cartaz afixado numa das paredes do vestíbulo. Era um edital do xerife. Ninguém podia permanecer no recinto de baile levando armas.
O que noutro tempo tinha sido escritório, era agora utilizado como arsenal. Um homem de aspeto cansado aceitou o cinturão do advogado, entregando-lhe uma senha com um número.
Pouco tempo depois, dois homens acercaram-se do que guardava as pistolas, e houve um olhar de inteligência entre eles.
— Está por aí com a sua irmã — indicou o cansado.
— E as armas? — perguntou um dos recém¬-chegados.
— Naquela prateleira da direita.
— Traz! — desviou o olhar para o companheiro e disse-lhe: — Tu, vai lá dentro e assegura-te de que ninguém se aproxima. Eu farei o trabalho.
Quando se apoderou dos «Colts» de Campbell, fez girar os cilindros e foi tirando os projéteis das suas câmaras, até as deixar sem munições. Colocou os «45» como estavam e entregou o cinturão ao encarregado da sua guarda. Ambos sorriram.
No local do baile, Tom Henderson era o cidadão mais feliz de Rockville. Dançava como se o tivessem advertido que o solo estava cheio de ovos, tal era o excessivo zelo em colocar os pés seguindo o compasso da valsa que interpretavam num piano e num violino. O seu par, Victória Hubert, deixava-se conduzir com inefável encanto, o que contrariava enormemente Campbell. Para desgraça sua, dançava com uma rapariguinha horrivelmente faladora.
— Oh!... Que alto que é, senhor Hubert!... Ah, ah!... O meu nariz chega-lhe ao pescoço...
O advogado limitava-se a sorrir protocolarmente, desejando, de toda a sua alma, o final daquele suplício.
— Estou convencida de que o senhor não é desses homens que passam a vida no «saloon». Novo sorriso.
— E quando desejar uma esposa, aposto que a arranjará... Ah, ah!..., dá-me vergonha dizer, senhor Hubert!...
Campbell invejava até ao mais profundo do seu coração a sorte daquele fantoche que rodeava com os seus braços a cintura frágil de Victória. A voz aflautada da rapariguinha feria-lhe os tímpanos.
— Pois vou-lhe dizer, senhor Hubert. Estou convencida de que a arranjará entre as mulheres de pequena estatura! Ah, ah!... Como eu...
A valsa terminou e Campbell separou-se da rapariga, como um raio. Acompanhou-a às cadeiras que havia junto da parede, sem prestar atenção ao que dizia, olhando Victória que se aproximava com Tom. Apenas os encontrou a seu lado, dirigiu-se logo à filha de Jonathan Hubert. — Victória, a próxima é nossa...
— Mas... mas... Hem ?!... — articulou Henderson.
A reduzida orquestra atacou uma polca e John enlaçou Victória pela cintura, deixando Tom assombrado.
— Danças muito bem, David.
— É uma coisa corrente. Sempre levei uma existência um pouco tristonha.
— Pois não parece. És o melhor bailarino da comarca.
— Se continuas a troçar de mim, levo-te a casa.
Transcorreram uns segundos de silêncio. Mas daí a algum tempo, e inesperadamente, Victória perguntou com interesse:
Quantas noivas já tiveste, David? Campbell foi surpreendido.
—Podes crer que não sei o que compreendes por noivas!
— Refiro-me ao número de namoros..., mas de verdade!
— Oh!... Apenas um.
— E ainda lhe queres?
— Sim... bastante.
— Por isso desejas partir. Para te encontrares com ela.
Johnny preferiu iludir a resposta. Na continuação da nova pausa, Victória perguntou:
— É bonita?
— Maravilhosamente formosa.
— E ela ama-te?
— Não. Não me pode amar.
— Porquê? Tu não estás nada mal. Deve ser uma rapariga tonta, dessas que só pensam nelas mesmas.
Campbell tossiu e respondeu:
— Bem, creio que não estás a ser justa para ela. — Vocês os homens, têm um grande defeito! Não sabem distinguir...
— Por favor — atalhou Johnny — não pretendas pregar-me um sermão, querida. O meu último par leu-me o futuro... sem ser na palma da mão. Já tenho, portanto, bastante em que pensar...
Naquele momento, o advogado sentiu que lhe davam umas pancaditas nas costas. Voltou a cabeça, sem deixar de dançar e viu um homem de espesso bigode que lhe dizia:
— É a minha vez, companheiro.
— Lamento, companheiro! — exclamou em resposta, dando igual trato.
Rodopiou com Victória, mas o outro segurou-o fortemente pelo ombro. Então, desprendeu-se da jovem, e enfrentou o desconhecido.
— Por que não é bom rapaz e nos deixa circular? — sugeriu Campbell em tom conciliador. Todos temos direito de dançar!
— Ninguém o discute. Traga a sua dama e mova as pernas até cair de cansaço.
— É o que penso fazer com esta pequena tão simpática.
— Terá que arranjar outra. Esta menina é propriedade particular.
— Gosto dela, companheiro!
O rosto de Campbell endureceu.
— Vamos embora, David — interveio Victória, principiando a andar.
O homem que procurava arranjar sarilho embargou-lhe o passo, colocando-se à sua frente. — Vamos, beldade. Vai ver...
Não terminou a frase porque o punho do advogado fechou-lhe a boca, fazendo-o voar alguns metros até cair estrepitosamente no chão.
— David! — exclamou a jovem, refugiando-se de encontro ao peito varonil do advogado.
Campbell sentiu o palpitar do coração amado e esteve quase a apertá-la mais contra o seu peito. Neste momento, o promotor daquele incidente voltava à posição vertical.
A música 'tinha cessado e os curiosos acercavam-se para não perder um detalhe da iminente peleja.
Campbell apartou de si Victória, dispondo-se a deixar fora de combate o estúpido rival. Entretanto, este, ficou imóvel, sorrindo, fazendo festas na cara dorida, ao mesmo tempo que dizia:
— Há alguma coisa melhor do que os punhos para decidir esta questão, não lhe parece? — e sem receber resposta do defensor da rapariga, acrescentou: — Escolha as suas armas. Estarei a quinze passos acima da porta, no centro da rua. Se dentro de dez minutos não tiver saído, entrarei por aqui dentro e nem vinte editais do xerife
me impedirão de o matar como a um cão sarnoso!
— Não terá necessidade de entrar nem de esperar pelo fim desse prazo, canalha! — replicou o advogado, com os dentes cerrados.
— Para a próxima vez já não viverá para me impedir de dançar com a mulher que eu queira.
— Não haverá próxima vez para si! — assegurou Campbell — Vá para a rua e assente fortemente os pés no solo. Em seguida, sairei.
O outro riu com sarcasmo e andou para a porta.
Então, Victória olhou Campbell com o rosto pálido de medo.
— Não, David!... Não vás! ...Esse homem é Lube «Relâmpago»!... Está ao serviço do Burnet!
— Não consegui evitá-lo.
— Mas matar-te-á!
— Logo veremos a quem recolhem na rua.
Henderson introduziu a sua cabeça entre eles.
— Não pense sequer em sair, senhor Hubert!... Hem?!... É Lube «Relâmpago»... Eu vi-o disparar há uns dias, não é verdade?... Atravessou cinco vezes uma moeda de cinco cêntimos pelo mesmo buraco... Sabe?
— Obrigado, Tom, pelas informações.
— Não, David! — gemeu Victória, pretendendo retê-lo.
Campbell coçou a cara, e disse:
— É necessário, querida. Tu sabe-lo tão bem como eu. Se fugisse, o rancho dos Hubert ficaria à mercê desses foragidos. Não podemos permitir uma arrogância como a desse tipo.
— Mas se tu morres!...
— Terei o maior cuidado! — Campbell apertou¬-lhe as mãos, retirando-se imediatamente em direção o vestíbulo.
Exibiu ao homem que guardava as armas a senha que lhe havia dado à entrada.
O encarregado meteu-se no antigo escritório e regressou com elas.
John segurou o pesado cinturão e colocou-o acima das cadeiras passando a correia pelas presilhas, ao mesmo tempo que cravava os olhos na porta por onde havia de sair para chegar à rua.
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